Levy POV

Se me perguntarem quem é Levy McGarden, as pessoas diriam: uma maga da Fairy Tail.

Se perguntarem com mais detalhes, seria: uma maga com poderes de usar palavras que se incorporam em realidade. Porque Levy ama livros, tanto a ponto de influenciar na sua própria magia.

Poucas pessoas conseguem me acompanhar em uma conversa tão nerd e difícil. Por isso me senti meio estranha e deslocada, sem arranjar pessoas que também gostem dos mesmos assuntos que eu.

Então apareceu Lucy. Que é tão nerd quanto a mim.

A única pessoa com quem posso falar de assuntos difíceis e ler os mesmos livros. Porque os magos que amam tanto punhos e brigas, Lucy ama aprender.

Se tornou alguém com quem posso compartilhar e falar de tudo. Uma amiga com quem tive facilidade de fazer amizade pela sua personalidade boa. Por isso, se tornou uma pessoa muito importante para mim.

Se me perguntarem, por que eu me esforço tanto por alguém? Isso não é estranho?

Não, não é estranho.

As pessoas que não dão valor aos amigos são as estranhas. O normal deveria ser se mover para ajudar os amigos, e não estar com elas apenas quando é conveniente, rir apenas quando está tudo bem.

Eu também quero estar lá quando precisam de mim, compartilhar dificuldades. Isso é o que chamamos de amigos. Não, isso já é chamar de família.

Cocei levemente meus olhos sob os óculos.

Aumentei levemente o fogo que esquentou uma pequena garrafa de vidro, com uma pipeta a usei para colocar algumas gotas de suco de ervas em um líquido fumegante. A cor azul original se tornou laranja.

Com a mão, virei as páginas do livro de couro ao meu lado.

— Droga! -xinguei quando a pilha de papéis caiu.

Toc Toc

— E... Entre! -falei, meio atrapalhada pegando as folhas com pressa.

— Levy, chegamos.

— Erza!

A ruiva sorriu, com um saco nos braços. Entraram ela, Wendy e Charles.

— Gray e Juvia? -os procurei com os olhos.

— Fugiram -a ruiva deu de ombros.

— Levy-san... O que você está fazendo?

Os olhos da Dragon Slayer se moveram por toda a sala, com curiosidade. Principalmente para a minha mesa de experimentos químicos, cheia de tubos e vidros com líquidos coloridos.

— Eu não consegui ficar parada, então estava testando algumas coisas -cocei minha nuca.

— Não andou se esforçando demais, certo? -uma sobrancelha da titânia se ergueu, suspeitando de mim.

— C... Claro que não? -sorri e abanei com as mãos.

Os olhos da mulher me fitaram seriamente.

— Estou falando sério!

— Hum...

— Enfim, Erza! Você me trouxe o que pedi?

As mãos dela seguraram a trouxa e colocou em cima de alguns papeis. Pelo pouco que a bolsa se abriu, o aroma de ervas raras subiu e pude cheirá-las de longe.

— Sim, trouxe todos.

Meus lábios tremeram.

Ela trouxe todos? Em tão pouco tempo? Não foram ao redor de duas semanas?

— Erza... Você dormiu?

— Dormir? Claro que sim, algo como umas três horas por dia? -ela cruzou os braços- E fizemos uma maratona, curar Lucy é prioridade, certo?

— Ah... Hahahaa...

Gray, Juvia... Estou rezando pela alma de vocês. Acho que não foi que vocês fugiram, mas faleceram?

Pude imaginar duas pessoas secas na cama, vítimas da tirania da nossa implacável titânia.

— Tem certeza que com isso... Lucy vai ser curada? -a ruiva perguntou em um tom duvidoso.

A exceed branca voou e cheirou as ervas.

— Parece que tem umas coisas bem poderosas aqui dentro -falou a gata.

— O que exatamente tem aqui? -Wendy também se aproximou curiosa.

— É melhor não saberem -Scarlet sorriu- Tem coisas como...

Ao pensar nos ingredientes, até eu arrepiei.

— Ah! Eu vou preparar a poção agora! -interrompi, pegando abruptamente a sacola.

— ... Certo, eu vou estar lá fora -Erza bocejou- Boa noite...

Ainda é de dia...

— Boa noite! -eu e Wendy falamos ao mesmo tempo.

Suspirei. Remexendo nas coisas da bolsa. De verdade, parece que eles trouxeram tudo...

— Aconteceu algo? -perguntei para a garota que ficou para trás.

— ... Levy-san, tem algo que posso ajudar?

Ela me encarou timidamente.

— Não, pode deixar que eu faço isso -sorri para ela.

Mesmo assim, Wendy se sentou em uma cadeira, olhando fixamente.

Mas não me incomodei. Minhas especialidade é ter alta concentração quando faço algo. Então peguei algumas ervas e joguei em um pote de madeira, mexendo com um socador, os amassando.

— Wendy -a gata se aproximou da menina- Está na hora.

— Levy-san. Tem algo que eu gostaria de perguntar.

Pesei as ervas e murmurei:

— Hmm?

— Eu estou errada em querer que Lucy-san volte?

Minha mão estremeu levemente. Peguei um pote com óleo de um peixe raro que Erza trouxe em sua bolsa.

— O que você quer dizer com isso? -perguntei gentilmente.

— Quando Lucy-san sofreu, enquanto eu sabia de tudo, não pude fazer nada -sua voz tremeu- Mas quando ela foi atrás da sua própria felicidade, eu não queria que ela saísse da guilda, mesmo sabendo que isso é muito doloroso para ela.

Misturei os ingredientes, abaixei o fogo e a encarei.

— Me diga Levy-san. Você acha que Lucy-san pôde ser feliz depois que se afastou de nós?

Lembrei como a Lucy que esqueceu de tudo, estava sorrindo plenamente, sem nada impedindo-a. E então comparei com a Lucy que chorou dolorosamente porque Natsu estava com outra mulher. Quando ela se remoía de culpa pela Mira.

Mordi meus lábios. Está bem fazer ela se lembrar da dor?

Olhei para o vidro cheio de líquido fumegante.

— Pensei em honestamente apoiar as decisões da Lucy-san -os olhos da Dragon Slayer se marejaram- Mas na verdade, uma parte de mim insiste em dizer que não quero que ela vá embora para sempre.

Congelei levemente.

Tem uma coisa que não pensei. Cada guilda tem sua própria vida a se seguir, nunca faltando missões na tabela de anúncios. Não podemos ter o luxo de visitar um ao outro como se fôssemos vizinhos. Se Lu-chan continuar fora daqui, então ver ela seria quase impossível.

Mas se ela ainda acreditar que é uma maga da Fairy Tail, ela não voltaria?

Esse pensamento ousado surgiu em mim.

Lembrei em como passei tanto tempo na biblioteca com Lucy, como conversamos sobre diversas coisas. Como ela me apoiou diversas vezes e fizemos teorias loucas virando a noite. A forma em que nos juntamos e bebemos, rindo, nos enchendo de salgados e doces.

Lu-chan é a minha melhor amiga. Eu queria que continuássemos a ter esses momentos que só ela entendia.

Essa realização passou por mim pela primeira vez.

A possibilidade de perder alguém tão importante.

— Levy-san?

Abri minha boca. Mas agora, o meu interior também ficou turbulento e confuso. Ao encarar os olhos da menina, lembrei que eu sou a mais velha. Então respirei fundo e sorri tranquila.

— Não está errado Wendy, é normal.

— O que tenho que fazer para parar de me arrepender? -ela perguntou.

— Wendy... -a gata levantou a pata e a acariciou.

Nesse segundo, me descobri tendo os mesmos sentimentos de Wendy. Sim, como eu posso deixar de me sentir arrependida de não conseguir proteger o coração de Lu-chan? Como eu posso parar esse pensamento de querer que ela volte, mesmo sabendo que aqui ela poderia continuar sofrendo?

Eu não sabia.

— A culpa não é sua -pude responder apenas.

Mas dentro de mim, uma hesitação se corrompeu.

Gajeel POV

Me sentei no banco do jardim da guilda e escondi o rosto na minha palma.

Laxus Dreyar! Esse estúpido!

Lembrei de como ele estava machucado pela gravação da lácrima.

— Tsk.

Estalei com a língua. Um idiota! Eu achei que ele era inteligente, mas se transformou em um cara burro! A estupidez da Bunny Girl é contagiosa?

Então uma mão encostou no meu ombro por trás.

— Gajeel.

— O quê!? -gritei mal humorado para a pessoa.

Arregalei meus olhos ao me deparar com uma baixinha. Ela ficou em choque por ter gritado com ela, bastante surpresa.

Oh desgraça.

Abri meus lábios, então os fechei. Passei minha mão no rosto, frustrado.

— O gato comeu a sua língua, baixinha? Está pálida, como um ratinho amedrontado -dei uma risada.

As sobrancelhas dela se ergueram mais e então seu rosto avermelhou.

— V... Você me assustou! -ficou furiosa- Te chamei várias vezes, não me escutou?

— Ehm... -cocei o ouvido com o dedo mindinho- Talvez?

— Se me escutou, por que não respondeu!?

Encostei os braços nas costas do banco de madeira, para aproximar o meu sorriso dela.

— Estou mais curioso em saber por que você estava me procurando? -ergui o dedo, enrolando a ponta no cabelo azul dela- Por acaso você quer... Algo de mim?

Sorri, provocando-a. O rosto dela ficou mais vermelho.

— E... Eu... -as bochechas dela inflaram, então desviou o olhar, brava- Na verdade sim.

— Ooh... E o que seria isso? -tombei a cabeça para o lado.

Ela me ergueu uma poção. O líquido meio grosso, circulando entre branco e azul celeste foi muito chamativo.

— Eu terminei.

Encarei para o frasco. Então o rosto de Levy entrou em certo conflito.

— Mas a verdade é que não sei se isso é correto.

— O que não é correto?

— ... Lu-chan finalmente esqueceu sobre tudo o que a fazia sofrer, comecei a me perguntar se deveria ser melhor ela nunca se lembrar.

Ah, então era isso.

— Baixinha -a chamei e os olhos castanhos me encararam, dei um sorriso de canto- Superar os arrependimentos e as dificuldades faz parte de uma conquista. Rejeitar a dor, também é rejeitar as vitórias da vida.

Os olhos dela agrandaram.

— E junto com isso, também é negar a felicidade que vem com ela.

— A felicidade...?

— Sim. Porque nesse mesmo segundo, Bunny Girl está vivendo uma mentira. A felicidade que ela recebe, como pode ser verdadeira à base de um mundo falso?

Os olhos dela marejaram.

— Em vez de viver assim, penso que devemos fazer nossas escolhas com nossas próprias mãos, afinal, a vida é só uma. A Bunny Girl de agora, não pôde escolher nada.

— Eu... O que eu pensei? Que tipo de ilusão estúpida tive? -ela murmurou, descrente. As lágrimas caindo.

Abri os meus braços, com um sorriso e a trouxe para o meu ombro.

— Eu... Eu... -sua voz engasgou- A verdade é que fui egoísta, eu só não queria me separar da minha melhor amiga. Menti dizendo que isso era o melhor para ela.

— Sim, eu sei -sorri- É difícil para todo mundo.

— Quase fiz algo horrível...

— Você poderia apenas ter mentido que a receita deu errado, mas você escolheu fazer a poção mesmo assim. Não importando o que seu coração disse.

Ela soluçou.

— Como amiga dela, devemos respeitar suas escolhas. Vai ser um pouco doloroso no começo, mas tem que se lembrar, que foi isso que ela quis.

A cabeleira azul balançou levemente, assentindo.

— Então... -falei.

De repente, pensei em Laxus Dreyar. Foi como se as palavras que eu disse agora, voltassem para mim. Mordi meu maxilar.

Respeite seus desejos, as suas escolhas.

Raiozinho estúpido.

Bunny Girl estúpida.

— Gajeel? -ela sussurrou.

— Então... -até eu me senti meio amargo- Na próxima vez, você tem que estar preparada para se despedir dela.

Acariciei seu cabelo. Os dedos dela apertaram minha camisa.

— Você quer que eu entregue a poção?

— ... Sim... -sua voz tremeu- Eu ainda penso... Estou com medo que eu mude de ideia.

Peguei o frasco da sua mão.

— Vai ficar tudo bem, baixinha.

Sorri. Escondendo bem no meu interior a lembrança do rosto ensanguentado de um loiro.

Ah Bunny Girl, sua estupidez é contagiosa. E eu me adoeci com ela.