Caminhantes

Casulinho de Lucy


Rogue POV

Escutei o som de pássaros lá fora. Quando abri os olhos, a luz penetrante da janela me incomodou.

Mexi levemente os braços e percebi que estou segurando algo quente. Virei o rosto para baixo, me deparando com uma cabeleira loira. O contato pele com pele me fez recordar o que aconteceu ontem.

Posso ver os ligeiros vestígios de marcas vermelhas em seu corpo.

A abracei um pouco mais forte, com medo que fosse apenas uma ilusão.

Cheirei seu perfume corporal e percebi que o meu próprio aroma se misturou com o dela. É um efeito secundário que acontece quando se implanta o mana em alguém. Corei levemente.

— Huh...? Rogue?

Lucy se remexeu e ergueu o rosto atordoado para mim. Ela parecia tão pequena entre meus braços, mas no segundo que vi sua expressão cansada, lembrei que ontem... Eu estava meio imparável...

Fiquei envergonhado, beijei gentilmente seus olhos ainda lacrimejantes.

— Sinto muito, Lucy. Acho que fui um pouco bruto com você.

Falei arrependido.

— Pff... -sua voz límpida continuou alegre- O que você está fazendo?

Beijei sua testa, apertando-a um pouco mais nos meus braços. Ela logo me deu tapinhas.

— Você está me sufocando.

— ... Desculpa.

A liberei um pouco. A fitei um pouco assustado. Fiquei confuso em saber se estava fazendo as coisas direito. Será que ela ficou magoada comigo por tê-la machucado?

Mas os olhos achocolatados continuaram sorrindo para mim. Pela luz do sol, suas bochechas avermelhadas eram tão bonitas. Sem nenhum arrependimento no seu rosto.

Finalmente ela estava olhando para mim. O eu que sou Rogue Cheney.

Acabei sorrindo para ela.

— Eu já disse que acho bonito essa cor de rubi em você? -sua voz sussurrou.

A mão dela se ergueu, acariciando e puxando meu cabelo gentilmente para trás da minha orelha. Me senti embriagado e fechei os olhos de forma preguiçosa.

— Parece que de repente ganhei um gato grande -ela riu.

— ... Nyan?

— Pff... Hahah...

Senti minhas bochechas queimarem levemente, mas sorri. Me sentindo de bom humor.

— Rogue, Rogue!

— Hmm? -incrivelmente ela ainda tem muita energia, huh?

— Sabe, eu... Na verdade escutei por aí que você teve uma vida meio...

— Meio? -me senti sonolento.

— É verdade que você era um playboy!?

— Coff coff coff!?

Despertei abruptamente. O que demônios você está perguntando!?

— Da onde você escutou isso? -a encarei pasmo.

O rosto de Lucy estava cheio de curiosidade e ciumes.

— Então é verdade!?

— ... Hah... -suspirei- Não sei como ficou sabendo disso, mas... Naquela época, Sting me puxou para curar um problema meu.

— Problema?

— Bom, eu estava com uma misantropia meio grave. Mas não consegui me sentir bem com aquelas mulheres, então digamos que não deu muito certo.

— O que!?

Desviei o olhar. Não gosto de me aproximar das pessoas, ou interagir muito. E a culpa era a trauma de infância.

— Eu... -ela gaguejou- Eu não sabia... E ainda assim me aproximei de você...! Se era tão ruim, por que não me disse?

Olhei para seus olhos achocolatados cheio de preocupação. E dei um sorriso. Então beijei sua testa novamente.

— Nunca te rejeitei, Lucy.

Parece que essa doença não funciona com você.

Pelo contrário, fui atraído por ti.

Talvez tenha começado com uma curiosidade, depois, com uma coincidência. Mas nunca senti nojo de Lucy.

— Você é especial -falei.

E se transformou em alguém que preciso na minha vida.

Então me lembrei daquele dia que me confessei enquanto fingi estar sonâmbulo. Dessa vez, eu não precisava fingir. E pude dizer com muita confiança.

— Lucy, eu te amo.

— Também te amo, Rogue.

Sua resposta veio na mesma hora.

Fechei meus olhos, satisfeito. As manhãs também podem começar assim, tão bonitas. E é por sua causa.

Sting POV

Amanheceu e aqueles dois estão no quarto até agora.

Hmmm... Se bem que foi meio barulhento ontem. Meus ouvidos de Dragon Slayer escutaram tudo, sabe?

Dei um sorriso.

Resolvi passar por lá. O sol está no alto e eu com fome. Sim, sim. Está na hora de importunar meu bom irmão.

Na frente da porta do quarto fechado, tinha um exceed verde olhando para a maçaneta. Lector estava do lado dele.

— O que houve Frosch? -me aproximei e acariciei suas orelhas.

— Rogue e fada-san ainda não acordaram.

— Hum... -segurei meu queixo.

Dei um chute, escancarando a porta.

— BOOOOM DIA! -gritei de bom humor.

— KYAAAAA!? -a voz de uma certa maga celestial ecoou.

A primeira coisa que aconteceu foi o Dragon Slayer das Sombras virar o rosto para mim. Deitado na cama, cobrindo a blondie ao lado dele.

As sobrancelhas do homem franziram. E eu empinei o nariz com as mãos na cintura.

— O dia já começou! Os pássaros cantam, as flores desabrocham e manhãs como esse, Sting Eucliffe passa fome!

— Ha... -Rogue suspirou, se levantando da cama.

Ele ainda está nu, então pude ver todos seus músculos. Bom, eu o conheço há muito tempo, e quantas vezes eu e ele não tomamos banho em fontes termais antes? Não existe vergonha entre nós!

Nesse segundo comecei a me sentir enjoado. Tampei meu nariz com as duas mãos.

— QUE DEMÔNIOS!? -gritei.

O quarto estava com um cheiro espesso de hormônios que me nauseou. Fiquei tonto e meu nariz sensível de Dragon Slayer pinicou.

— Aaaah, não vomite no quarto dos outros! -Rogue já vestiu uma calça e camisa, logo me empurrou para fora.

Antes de sairmos, o mago das sombras se virou para o casulo de edredom na cama e disse:

— Já volto.

A montanha na cama não respondeu. E Rogue fechou a porta.

— Bleeeerg -quase vomitei, mas engoli de novo.

— Haa... Você não tem um pingo de noção básica? -Rogue beliscou as sobrancelhas.

— Eu? Claro que tenho!

— Ou consciência de respeito pela privacidade pessoal?

— Roguinho, meu lindo Roguinho -passei o braço nos seus ombros- Somos irmãos, do que temos que ficar com vergonha?

Ele bateu a mão na própria testa.

Qual o problema?

— Sting-kun, acho que não foi uma boa ideia vir agora -Lector falou.

— Rogue! -Frosch ergueu as patinhas, pedindo colo.

Claro que o mago das sombras se abaixou e o pegou.

— Rogue, Rogue. Estou com fome, sabe? E você sempre acorda mais cedo que eu, mas dessa vez eu fui obrigado a te acordar.

Ele me encarou com descrença estampada.

— E mais uma coisa, eu nos inscrevi para uma missão, só nós. É a volta dos Dragões Gêmeos.

— O quê? Por que sempre me arrastam para alguma missão sem nem me consultar?

— Vamos, sim? Por favor?

Ele suspirou pela milésima vez. Dei um sorriso. O coração mole de Rogue é o melhor!

Lucy POV

Espiei pelo cobertor. Tudo estava em silêncio. Senti minhas bochechas esquentarem. Me arrastei para pegar minhas roupas jogadas no chão e tentei me vestir, com dor em todo o corpo.

Engoli seco. Como é que até nessas horas eu sou tão inferior? Rogue se levantou como se fosse nada e eu aqui me arrastando como uma lagarta. Consegui pelo menos pegar a calcinha e a camisa, abotoando mais ou menos.

Olhei para meu braço, tem algumas marcas vermelhas. Fiquei mais envergonhada ainda. Escondi meu rosto nas mãos com um grito silencioso. Lembrei como os olhos vermelhos me encararam como uma fera sussurrando no meu ouvido:

"Não vou te deixar escapar"

Rolei emocionada na cama. Igual uma louca. Soquei o travesseiro até ele ser esmagado.

Ai meu deus. O que eu fiz!?

Ontem estava cheia de confiança e até me despi na frente dele!! Lucy!? Que Lucy!? Quem sou eu!?

— Ugh... -rolei tanto que senti uma dor aguda na minha cintura e congelei.

Fiquei em posição de quatro, meio morta e dolorida, massageando lentamente minha costela.

Quando a dor passou um pouco, me sentei e respirei fundo, batendo nas minhas bochechas.

— Realmente, o que eu estou fazendo?

Olhei para baixo e abri o decote. Hmm... Ontem estava muito escuro para ver, mas o que apareceu aqui?

Bem entre meus seios tinha um desenho de dragão preto. Senti minhas bochechas queimarem.

Cutuquei a imagem, e meu coração estremeceu levemente. O mana de Rogue fluiu quente, mostrando dominação dentro de mim. Mas assim como o dono, ele também foi gentil.

Dei um sorriso.

Enquanto fiquei rindo igual uma idiota, a porta se abriu.

— Lucy... -Rogue apareceu com uma bandeja em uma mão- O que você está fazendo?

— Estava olhando para o meu contrato.

— Que contrato? -ele fechou a porta, se aproximou e botou a bandeja na cama.

— Esse aqui -apontei para o meu coração- Não parece um contrato?

— Lucy... -ele suspirou- Eu não sou seu dono.

— Mesmo que eu tenha botado minha vida em jogo? Oh Mestre, como pôde ser tão cruel comigo?

— Coff... -ele tossiu e desviou o olhar.

— Pff... Hehehe...

— Deixa isso, como você está se sentindo? -seus olhos foram levemente para a colcha que está escondendo meu estômago.

— Eu? Acho que estou bem, por quê? -ergui as sobrancelhas.

— Bom... -suas orelhas ficaram mais vermelhas- Me parece meio... Inchado.

O vi levantar a minha coberta, revelando a eu só de camisa.

— Rogue, seu tarado -escondi os seios com o braço e fiz beicinho.

— Coff coff! Não brinque, Lucy! Aqui, ainda está doendo? -ele tocou no meu estômago com a ponta dos dedos.

— Ok, está mesmo inchado -tive que concordar quando vi a protuberância no meu corpo. Franzi as sobrancelhas pela leve dor.

Na verdade, não sabia que eu poderia inchar por causa de uma noite com um homem. Encarei para o Dragon Slayer com ressentimento.

— Rogue, seu bruto.

— ... -as pupilas dele tremeram- Eu sinto muito.

Ao assistir seus ombros caírem arrependidos, não pude deixar de sorrir e ergui meus braços para abraçar seu pescoço.

— Lucy? -seu corpo congelou, mas logo ele me abraçou de volta.

Apertei mais, esfregando minha bochecha no seu ombro. É duro e desconfortável. Pelo menos essa foi a sensação superficial. A verdade é que me senti protegida e embalada.

— Por que você é tão bom para mim? -sussurrei.

Ele afastou um pouco e sorriu, me dando um beijo na minha pálpebra.

— Porque você é importante para mim.

Fiquei atordoada com seu sorriso, acabei soltando-o. Rogue se distanciou e pegou um prato de sopa fumegante da bandeja que trouxe. Agora que observo bem, além da sopa, tem um prato de mamão cortado em cubos.

— Aqui, cuidado que está quente.

Olhei para a colher perto dos meus lábios. Simplesmente o comi.

Está delicioso! Rogue, você cozinha tão bem!

— Espera, por que você está me alimentando? -franzi as sobrancelhas enquanto ele assoprou a segunda colherada.

— Por que não posso?

Rogue, seu sorriso é uma trapaça!

— Agora abra a boca, Lucy.

E comi mais uma colherada. Ele fez isso tão calmamente que pareceu super natural, como se tivéssemos feito isso várias vezes.

... Ser mimada por Rogue não é ruim...

Mas quanto mais ele me tratou bem, mais a culpa me corroeu por dentro. Pouco a pouco. A cada gentileza que ele me mostrou, foi como uma pequena pedra se amontoando nos meus ombros.

Logo, o fundo do prato começou a aparecer e ele pegou a tigela de mamões.

Respirei fundo, confrontando-o.

— ... Você não está magoado comigo? -puxei a coberta, para esconder o meu rosto, igual a uma covarde.

Estou com medo. Mas isso não sai da minha mente, então tinha que perguntar.

— Não está bravo por ter te chamado de... Natsu...?

Rogue é tão bom comigo, mas quantas vezes mostrou que estava chateado? Aquela vez me assustei muito, ele quase foi engolido pela escuridão. Parece que esse homem tem essa mania de esconder os seus sentimentos, então pode estar fingindo sorrir e na verdade estar muito magoado por dentro...

Fiquei com tanto medo, meu coração bateu apressado que fechei os olhos e virei um casulo novamente.

Passou um segundo, esperando sua resposta e estremeci de ansiedade.

— Lucy -ele chamou.

Me encolhi mais.

Rogue, o que eu fiz com você...

Me lembrei da sua aparência obscura e triste.

É imperdoável.

— Lucy? -sua voz ficou mais perto.

Teimei em não sair.

— Lucy... -sua voz escondeu um riso leve- Por que você está parecendo uma lagarta na toca?

Arregalei meus olhos.

— O QUÊ!? -enfiei a cabeça para fora da colcha.

— Aqui, agora coma isso.

Um garfo com pedaço de mamão espetado foi estendido para mim. Fiquei atônita. Com os meus lábios abrindo e fechando.

— V... Você escutou o que eu falei!?

— Sim -ele continuou a me oferecer comida, persistente.

— E não acha nada sobre isso?

— Lucy... Quem é a pessoa que você ama?

— ... É você...

— Então isso é o suficiente para mim.

Simples assim.

Olhei para o seu rosto, falando que me perdoaria, não importando o quando eu o machucasse. Meu coração tremeu, abalado.

Você está bem com isso?

De repente senti que ele era bom demais para mim.

E era impossível. É impossível não me apaixonar por ele.

— Não fique mais se escondendo por causa disso. Você não pode mais se comportar como uma lagarta.

— Quem é uma lagarta!? -fiquei furiosa, mas aceitei a fruta estendida e a comi.

— Exatamente por isso -respondeu de bom humor.

— O... Quê?

— Você é uma borboleta.

Pisquei confusa, os olhos cor de rubi brilharam para mim.

— Você é uma linda borboleta, Lucy.

Meu coração bateu rápido e meu rosto esquentou.

— S... Seu trapaceiro!

Desde quando Rogue virou alguém assim? Ele era tão bom em elogiar?

Quando percebi, até os mamões acabaram.

Com o estômago cheio, me senti sonolenta. Ele então se aproximou e deu um beijo no meu rosto.

— Lucy, eu vou sair com o Sting agora.

— Com o Sting? -fiquei mais cansada. Ele me ajudou a deitar.

— Sim, uma missão rápida com ele e os exceeds.

— Oh... Não se machuque, Rogue... -segurei sua mão.

— Vou voltar à noite.

Assenti com a cabeça.

— Nesse momento, devemos fugir?

Arregalei meus olhos.

Espera, ele disse fugir? O quê?

Ele ergueu meus dedos até os lábios, dando um beijo suave. A expressão meio sorridente dele me fez duvidar se escutei certo.

— Para um lugar secreto.

— Aonde?

— Eu tenho misantropia. Então, comprei uma casa que ninguém conhece. Nem mesmo Sting. As vezes vou lá.

Pisquei surpresa.

— Você viria comigo?