Caminhantes

As Diferenças Não Importam


Levy POV

O cheiro de livros sempre foi algo que amei, com o nariz enterrado neles, folheei absorta.

Existem várias enciclopédias ao meu lado, que consegui sem muito esforço ao pedir para a administração da cidade. Já que recebi um belo passe da Prefeita como pedido de desculpas.

— Baixinha, é hora de sair -a porta tocou.

Espremi os olhos pela luz cegadora que veio atrás de Gajeel.

Balancei a cabeça, ignorando meu cansaço.

— Eu ainda tenho muito o que fazer -respondi, voltando para os papéis iluminados pela lácrima bruxuleante.

Escutei um suspiro e passos.

— Confiscado! -assisti como os documentos foram sumindo da minha frente.

— Gajeel! -me levantei brava.

Mas ele apenas sorriu erguendo o braço, me impedindo de alcançar aqueles papéis balançantes.

— Você diz estar cuidando da Bunny Girl, ficando doente lentamente? -ele debochou de mim- Você está nessa sala já fazem três dias.

É verdade. Me tranquei na sala com os documentos que encontrei nos restos do castelo aonde estava Lu-chan.

Quis ignorar o tempo passando, não desejei saber se era dia ou noite, então fechei as cortinas para não ver o sol. Eu sabia que isso me fazia mal, mesmo assim fingi não saber.

— Você sabe o que significam esses papéis Gajeel?

— Sim, eles significam doença com D maiúsculo para você. Está confiscado -ele respondeu inflexível.

Mordi a língua.

Mas não podia me render. Se os médicos nem os magos, ou o conselho tinha a forma de descobrir qual o problema com Lu-chan, eu tinha a pista. Que infelizmente foi roubado de mim pelo homem à minha frente.

Olhei amargamente para os papéis muito altos para alcançar.

— Te expulsei do hospital e qual a surpresa? -sua sobrancelha se ergueu- Virou uma vampira reclusa agora?

Os olhos deles pousaram na cortina firmemente fechada. Comprimi meus lábios.

— É importante -murmurei.

— Sei, sei. Também é importante tomar sol.

— Mas...!

— Não come, não dorme. Bunny Girl vai ficar super feliz em saber que uma certa baixinha está desmaiada na cama ao lado dela. Vai ser emocionante, que tal?

Abri o queixo sem saber o que responder. De repente Gajeel também ficou mais inteligente?

Então me lembrei, esse homem na minha frente é muito mais astuto que eu acreditei.

— Acha que eu não percebi!? Quando Wendy sumiu, você sabia desde o começo aonde ela estava! Gajeel Redfox, como você ousa!

Ele sorriu mais travesso.

— Todo mundo tem um ou dois segredos.

— Você...! E eu me matando de preocupação!

— Ei, vocês dois -outra voz apareceu na porta.

Lily usando um avental e uma vassoura na mão nos encarou.

— Qual o problema? -o Dragon Slayer ainda me impediu de pegar os papéis.

— Eu acho que vi a Titânia na porta.

Olhei para a cara do moreno ao meu lado, ele retribuiu o olhar. Não demorou muito para escutar uma voz da calamidade.

— LEVY MCGARDEN, EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ!!

Fiquei pasma e em branco.

Gajeel POV

A líder da cidade permitiu nossa estadia em uma cabana de gengibres. Me senti estranho ao ver crianças na rua observando este lado.

— Olha, aquele tio está pelado e de cueca! -a menina apontou.

— Shhh... Minha mãe disse que pessoas assim são perigosas -o menino respondeu.

O stripper arregalou os olhos e se encarou.

— Minhas roupas! -e tentou esconder a cueca azul com suas mãos.

Eu cruzei os braços e me virei para as crianças.

— Que crianças deliciosas para o jantar! -eu sorri ameaçador.

— Corram! -os pivetes vazaram, assustados.

— Você está me escutando!? -uma ruiva bateu no meu braço sem piedade.

— Auch! -franzi as sobrancelhas- Que violência Titânia.

— Violência é o que você vai ver quando quebrar teu nariz em dois! -ela cruzou os braços- Por que vocês estão aqui!?

Seu olhar como se estivesse sido traída, era malvado como um rei demônio.

— Bom, eu tentei encontrar vocês. Mas quem disse que estavam na guilda? Não é minha culpa se foram em uma missão.

Dei de ombros e a ruiva apenas me fuzilou com o olhar.

— Chega Gajeel -a baixinha tocou meu ombro, suspirando- Entrem, vamos conversar.

Hoje, quem bateu na porta foi a Titânia e o stripper. Seguiram a baixinha para dentro.

— Você não vem, stalker? -eu olhei para o canto obscuro.

Uma maga apareceu timidamente e se aproximou.

— É muito grave o que aconteceu com a rival do amor? -ela sussurrou.

— Um pouco, eu não tenho certeza -sorri- Mas ela vai ficar bem.

— Com... Como você tem certeza?

— Porque nós vamos cuidar dela.

Ela me encarou desconfiada e entrou pela porta.

A sala tem dois sofás e uma poltrona, tudo em um design de biscoitos gigantes.

— Relatório -a ruiva perguntou, sentada na poltrona. Tão intimidante quanto uma chefe gângster.

— Fui atrás da Lu-chan -a baixinha sentou ao meu lado- E encontramos com um parque infestado de ursinhos assassinos. Todos controlados por magia.

— Não, vocês sabem que chegou uma intimação do conselho na guilda? -o stripper tentou empurrar a stalker grudada no seu braço- Que burrice foi essa de se intrometer na missão dos outros.

— Ahh -falei, como se lembrasse de algo- Lily teve uma premonição.

— O que!? -todos viraram seus olhos para mim.

— Coff -da cozinha, o exceed tossiu.

— É uma peculiaridade de alguns exceeds -expliquei- Como eu confio plenamente no meu companheiro, viemos para cá.

Suas expressões inacreditáveis ficaram sem palavras.

— Coff coff -veio mais uma tosse da cozinha.

A baixinha me encarou de olhos arregalados e sorri com significados. A minha lácrima de comunicação é um segredo, ok?

— Ok, isso foi inesperado -Titânia murmurou.

— Juvia pensa que é incrível. Igual como Juvia conheceu Gray-sama!

— Coff... Ok Juvia, agora pode se afastar um pouco?

— Gray-sama, assim como visões e premonições estão escritos no DNA dos exceeds, Juvia também... Com Gray-sama... -seu rosto ficou mais vermelho.

— O.... O que? -o mago do gelo ficou meio pasmo.

— Gasp -parece que a cozinha estava meio fria para o gato fazer tanto barulho.

— Entendi -a ruiva assentiu seriamente com a cabeça.

Eu já disse que meus poderes de blefe estão subindo de nível?

A baixinha me encarou de forma mais espantosa ainda. Ela sabe que estou mentindo, sorri mostrando meus caninos.

— No momento, as coisas ficaram meio feias e a Bunny Girl não consegue acordar -falei- Estávamos cuidando dela, mas alguém estava quase entrando em coma junto. Então simplesmente deixamos tudo nas mãos dos médicos.

A azulada ficou vermelha.

— Descobriram o que aconteceu com ela? Por que não pode acordar? -a ruiva perguntou.

— Isso... Estamos pesquisando -a baixinha murmurou- Alguém roubou meus documentos de pesquisa.

Seus olhos me julgaram e eu dei de ombros.

— Documentos? -o stripper perguntou.

— Gray... Antes disso, pode usar algumas roupas? Está começando a me irritar -a azulada do meu lado beliscou as sobrancelhas.

— Aah!! -ele entrou em choque e correu para um quarto.

— Espera por mim, Gray-sama! -e a stalker foi fazer a coisa que ela melhor sabe fazer. Stalkear.

— Eles não mudam, Gehee -eu ri.

Erza suspirou.

— Mas são confiáveis o suficiente. Nossa missão acabou ontem em um sucesso. Tirando os dois prédios afogados. Foi uma pena que o inimigo era uma mulher e isso acionou as... defesas ciumentas de Juvia.

— Oh... -fiz uma compreensão tácita, junto com Levy.

— Aliás, sobre o que é esses documentos?

A baixinha olhou levemente para mim, assinto com a cabeça e ela se aproximou da ruiva com um sussurro. Pude escutar bem por causa da minha boa audição de Dragon Slayer.

— Existe um laboratório secreto abaixo do parque.

— Laboratório?

— Sim. Gajeel, por favor.

Ela ergueu a mão e a contra gosto entreguei os papéis confiscados de antes.

— Eles estavam pesquisando uma forma de implantar magia em pessoas comuns.

As sobrancelhas de Erza franziram.

— Isso... -a ruiva murmurou, olhando para os papéis e sua pele ficou pálida, surpresa- Crianças!? Eles são monstros?

Raiva passou pelo seu rosto, assombrada.

— O que vocês estão falando? -Gray se aproximou, já com roupas.

Ele se sentou junto com a stalker e o encaramos.

— Olhe você mesmo -Titânia jogou os papéis nas mãos o mago do gelo.

Quanto mais os olhos do homem passavam pelas linhas, mas sua cara expressava horror.

— Que demônios! -ele jogou o documento na mesa de centro.

— As pessoas estão cada vez mais doentes -Titânia grasnou, revoltada.

— Isso... É bastante desumano -a stalker também disse descrente.

— Isso explica o mistério do parque. Mas o problema era a segunda pesquisa paralela desse laboratório -disse a baixinha.

Encostei as costas no sofá e fechei os olhos. Essas coisas são mesmo chatas e cansativas. As vezes, me lembrava da época em que fiz coisas ruins, então quando me senti revoltado com pessoas que fazem coisas horríveis, me senti meio irônico.

Esse era o poder de ter companheiros?

— Qual é a outra pesquisa? -perguntou a ruiva.

— Essa -ela pegou um papel do bolo que segurava.

"Teste Psicológico dos Magos"

Tinha um nome curioso que dava uma premonição sinistra. E como se confirmasse, o texto abaixo era igualmente doente.

"A razão que os magos são diferente das pessoas sem mana, talvez seja por conta de uma frequência cerebral para exercer comandos mágicos. Isso foi comprovado na cobaia número cinquenta e sete. É algo natural que se desenvolve no corpo ao ter um núcleo mágico.

Ainda em período de testes. Averiguando ainda, se isso também se aplica em humanos com implantes mágicos. Se for um sucesso, o implante também será uma revolução.

Iniciando com as cobaias quarenta e quatro e a trinta e nove, a sala de observação foi enchida com a solução de ervas para pesquisa de frequência cerebral.

A solução de ervas foi um sucesso para uma investigação inesperada. Os efeitos colaterais infelizmente são alucinações e uma perca de memória, e demora um pouco para os resultados, deixando um certo tempo de espera. As cobaias se tornaram mais obedientes e cooperativas."

— O... O que é isso? -Titânia ficou mais horrorizada.

— Sabe, perto aonde encontramos Lu-chan, tinha uma sala meio soterrada. De todo o lugar, apenas esse quadrado ficou intacto.

— Era a sala de contenção. Tão resistente que poderia suportar magia ofensiva -percebi.

Desde quando as pessoas iriam deixar sofrerem experimentos sem resistência? Claro que em um laboratório com esse tipo de pacientes precisa de contra medidas. Então criaram uma sala ao nível de aguentar poderes mágicos.

Mesmo assim, era algo nojento de imaginar.

— Você está dizendo... -stripper também começou a entender o que a baixinha queria dizer- Lucy foi enfiada nessa sala e... Jogaram essa tal de "solução de ervas"?

Os olhos de McGarden estavam fixos na mesa.

— Dentro da sala, encontrei restos de um pano, acho que eram ursinhos. E embrulhado tinha algumas plantas e eu o trouxe em segredo. Junto com esses papéis.

Então a mulher ficou mais séria.

— Isso tem que ser absolutamente mantido em secreto. Pode causar um grande problema com o Conselho.

O stripper bagunçou a cabeleira, impaciente.

— Aaaargh! Um problema aqui e outro problema ali. Que diachos! Somos magos! Somos membros de guildas! Por que estamos sempre nos metendo em coisas que não são resolvidas em socos? Pensei que meu trabalho era esse!??

— Juvia está confusa. Por que rival do amor não pode acordar?

Os lábios da baixinha comprimiram antes de escutarmos a resposta.

— Lu-chan está sofrendo de efeitos colaterais dessa droga. Estive muito concentrada em ficar ao lado dela e não prestei atenção, mas agora que parei para ler os documentos, entendi porque nem os médicos ou os magos de cura não podem ajudar. As ervas são muito raras e difíceis de detectar no sangue. E a passagem "as cobaias se tornaram mais obedientes e cooperativas" tem um nome mais bruto para esse fenômeno... Lavagem cerebral.

Prendemos a respiração.

— Erza, Gray, Juvia -ela encarou cada um dos três- Talvez... Mesmo que Lu-chan acorde, possa ter algum problema com ela. "Um certo tempo de espera" significa o coma que ela está passando... E "demora um tempo para os resultados"... Significa que a droga está fazendo efeito nesse mesmo momento.

— Isso explica as crises -falei.

— Crises? -Titânia me encarou.

— As vezes ela começa a suar com febre e sentir dor -as mãos da azulada apertaram o papel firmemente- Depois ela sussurra coisas... Que aconteceram no passado. Sua mente está resetando uma e outra vez, e isso é o que causa tanta dor nela.

Respirei fundo. Isso é pior do que imaginei.

— Existe uma cura? -Erza perguntou.

— Eu preciso da ajuda de vocês -ela assentiu com a cabeça- Para desintoxicar o corpo de Lucy, temos que encontrar ervas tão raras quanto as que foram usadas nas drogas.

Isso pode ser difícil. São raros, vai ser uma jornada e tanto para achar. Mesmo assim, a resposta veio sem hesitação.

— Como... Como Juvia pode ajudar? -sua voz tinha uma determinação.

— Sim, como podemos encontrar essas ervas? -Gray estava igualmente sério.

— Estou esperando a lista, Levy -a ruiva sorriu.

— Pessoal -a azulada finalmente clareou o humor.

Ela tinha um alívio estampado, parecendo que todo o peso nos seus ombros, agora os amigos seguraram juntos.

Existe esperança.

Como pensei. Para tudo tem uma solução, vai ficar bem porque nós vamos cuidar da Bunny Girl. Não foi ela a estúpida que achou que ficamos para trás?

A boba que jurou estar sofrendo sozinha pelo bem de todo mundo? É, fiquei chateado com isso.

Qual a diferença em fazer parte de outra guilda agora? Vamos deixar de se lembrar de uma amiga? Pff... Isso é um pensamento muito inocente!

Então Bunny Girl, não adianta você fugir para os tigrinhos. Por que seja a guilda Fairy Tail ou Sabertooth, o que mesmo conta são os amigos que continuam se importando com você.

E isso é imparável.

— O time oculto da Fairy Tail ataca novamente -sorri.