Caminhantes

Aquele Dia que Começou Normal


Rogue POV

Das minhas costas sai uma quantidade de fluido gigantesco. Meus olhos estão encarando o chão, está tudo dobrado... Caí de joelhos, vejo uma poça de sangue. O meu sangue. Ele escorre pelos vãos do chão branco iluminado pelas pedras fluorescentes, o preenchendo.

Você vai acabar morrendo, seu idiota.

Nem respondi, estou cansado demais... Solto a espora e tombo de bruços bem no centro do desenho esculpido, espirrando sangue. Minhas pálpebras tremulam, desejando se fechar. Uma luz vinda do chão cintila. O ritual é um sucesso.

Dou um sorriso.

— Estou indo te buscar, Lucy -e com isso meus olhos se fecham.

Quando dou por mim, estou em um local escuro. É como se eu estivesse sonhando. Não sinto mais as dores do meu corpo, mas com certeza que não estou bem.

Logo vejo uma tela no ar. E nela, tinham uma imagem, parecendo um filme.

— De acordo com as escrituras, Lucy se encontra no final dessa memória... Eu preciso assisti-la para chegar nela? -murmurei pensativo- Uma lembrança que a atormenta... -fechei o punho- Desculpa Lucy, eu verei uma coisa que deveria ser um segredo seu.

E me sentei no chão, olhado atentamente aquilo. Reconheci o cenário. Era a guilda das fadas.

Lucy POV

Eu olho para o sorriso bonito de Mira e inflo as bochechas, aborrecida.

— Se o Laxus estivesse metido, você estaria bem pior do que eu -falei. Então a albina corou e se recompôs sorrindo malignamente.

—Luuuucyyy... Já combinamos em não trazer esse assunto para cá -ela disse, quase quebrando o copo que segurava.

Eu me sentei direito, meio assustada.

— D... Desculpa -me apressei em falar, com os olhos arregalados.

Mira suspirou e me estendeu um copo grande com um líquido roseado e um canudo.

— Isso é por ontem -ela piscou um olho- É um especial da Mirageene!

— Oh! -fiquei toda feliz.

Verdade, ontem ela veio pro meu apartamento e conversamos sobre o Laxus e os pesares da albina. Ela está me recompensando? Mira é tão legal, e o suco especial dela é uma delícia! Ela faz um milagre usando morango, leite condensado, amoras e mais coisas que ainda não descobri, ela diz ser segredo, o gosto é tão bom e a textura faz parecer que estou tomando as sete maravilhas do mundo em forma de nuvem derretido.

Mira continuou a limpar o copo e os olhos dela passaram pela guilda. Uma guilda animada com bagunça. Até que ela pousou os olhos naquilo que me incomodava. Lisanna e Natsu conversavam animados em uma das mesas, meio afastados.

— É o Natsu, não é? -sorriu ela. Eu desviei o olhar meio corada e emburrada, mexi o canudinho nervosa.

— N... Não é nada disso, Natsu é só um amigo meu. Tem nada de especial... -murmurei, sei que isso não é verdade... Acho...

— Sabe Lucy, muito obrigada.

— Hã? -não compreendi, os olhos de Mira estavam um tanto tristes.

— Eu sei que você está incomodada com os dois estarem tão próximos, ele é seu parceiro Lucy, você deve estar se sentindo meio que... Substituída, não que isso fosse verdade, mas acabamos sentindo isso, né?

Os olhos azuis dela estavam numa expressão de se sentir mal comigo, mas feliz pela irmã. Eu sorri.

— Lisanna e Natsu são amigos de infância. Penso que é um milagre ela ter voltado, sendo que era para estar morta... Pelo menos isso eu tenho que dar um pouco de consideração -respondi.

— ... Lucy, não precisa se incomodar tanto -falou ela preocupada- Se isso lhe traz dor...

— Não, isso é só por enquanto -tomei um gole do suco, despreocupada, mas um pouco incômoda. Não gosto que Lisanna se aproxime tanto assim do Natsu- Eles têm muito o que conversar e estou dando um tempo para eles, juro que é só isso.

— Hmmm... -ela ficou pensativa- Então, como agradecimento eu vou em uma missão com você, que tal?

Eu engasguei.

— Quê? -não pude acreditar- M... Mas eu pensei que você tivesse deixado de ir em missões!

— Bom, eu posso abrir uma exceção -riu ela, então Mira olhou triste para Lisanna- Eu finalmente posso abrir uma exceção. Por acaso não quer ir comigo?

— N... Não é isso... -murmurei, ainda surpresa.

Mirageene tinha parado de ir em missões por sentir uma profunda culpa por ter “assassinado” Lisanna, ela está realmente feliz por ter recuperado a irmã. Acho... Que ela quer mostrar gratidão por eu deixar a irmã dela se aproximar tanto do rapaz que é importante pra mim.

— Está certo, em qual missão vamos? -perguntei, ficando animada. Ir em uma missão com Mira deve ser divertido e interessante, já que ela é uma maga classe S.

— He he -ela sorriu e retirou cinco papéis debaixo do balcão- Pode escolher entre qualquer um desses, Lucy.

QUÊ!? JÁ ESTAVA PREPARADO!? ELA JÁ TINHA PLANEJADO ISSO?

Olhei atentamente para os papéis. Um era para fazer uma “limpeza” de um covil de ladrões, outro era para derrotar um monstro marinho e pegar um item do fundo do mar, dois eram para aventurar-se em terras geladas perigosas em busca de objetos e o último era lutar contra alguns magos que estavam fazendo bagunça numa cidade próxima.

—Todos eles parecem difíceis -observei.

— Pode pegar qualquer um -sorriu Mira- Tenho certeza que eu e você teremos sucesso em qualquer um!

Os olhos dela eram tão confiantes que eu me convenci. Olhei para os papéis de novo e peguei o do covil de ladrões.

— Então vou pegar esse, que dá mais jewells -ri.

— Sabia que iria escolher esse -Mira achou graça- Te conheço! Sabia que iria atrás do que tem mais dinheiro.

—Ora! Falando assim parece que sou uma desesperada pobretona! -fingi estar aborrecida, mas rimos.

— Hummm... O que é isso? -apareceu uma voz atrás de mim, me arrepiei.

— Gray!? -berrei no susto- Não apareça do nada! -logo senti um frio na espinha, era como se alguém estivesse me amaldiçoando nos murmúrios “Saia de perto de Gray-samaaaaa”.

— Erza, você disse que Lucy parecia desanimada, mas ela parece bem -ele virou para a ruiva que se aproximava- Parece que Mira vai numa missão.

— A albina vai em uma missão? -titânia arqueou uma sobrancelha- Huuumm... Que milagre é esse, Mirageene?

— Oh Erza, querida. Nada que te interesse -sorriu malignamente, a albina. Me assustei, era raro Mira ficar assustadora assim sem ter uma razão boa, como por exemplo, tocar no assunto Laxus.

— Mira, minha flor... O que disse? -grasnou Erza num sorriso macabro.

— G... Gray? O que está acontecendo? -sussurrei pro moreno, enquanto eu encarava pelo canto do olho para a guerra de aura maligna. Ele fez uma careta e sussurrou de volta:

— Desde crianças essas duas não se dão bem. Agora Mira se tornou mais doce e Erza mais sensata, mas... Algumas coisas do passado não mudam.

— A... Aah... -tinha me esquecido desse detalhe. Mira e Erza eram e são uma versão pior de Natsu e Gray.

Elas se encaravam cada uma num lado do balcão... Coitado do balcão de pedra, é a única coisa que as separa.

— Enfim -suspirou a albina- Estou levando Lucy comigo numa missão, sim -ela sorriu, recuperando a compostura.

— Quê!? -exclamou a ruiva, que se virou para mim, agarrando meus ombros e me olhando profundamente- Lucy! Você vai ir com Mirageene!? Esqueça isso e vamos eu, você, Gray e mais umas pessoas numa missão!

— Hã? -fiquei atônita- Erza?

— Certo, Lucy? Somos um time! -me pressionou, pensei que meus ombros iriam se esmigalhar.

— Ammm... Eu... Eu já concordei em ir com a Mira... -meus olhos se desesperaram buscando algo para me salvar, porque a intensidade da Titânia não é para qualquer um.

A ruiva me largou e se jogou no chão, em depressão.

— N... Não pode ser... Lucy nos traiu...

— Quê!? -exclamei, o quanto essas duas se odeiam!?- E... Erza? Eu nunca traí vocês. Só estou indo numa missão com Mira, porque ela é minha amiga também.

A maga se levantou, colocou uma mão no meu ombro, sorriu forçado com uma lágrima desconsolada no olho.

— Entendo, entendo... -ela disse, sentida- Eu só... -e virou o rosto pro lado- Entendo...

Erza... Por favor, pare. Eu estou começando a me sentir profundamente mal.

— Bom, já vimos as coisas por aqui. Já chega, não acha, Erza? -Gray se intrometeu.

— Haaa... -suspirou a ruiva- Pensando agora, cadê a Levy? Eu queria que ela desse uma olhada em um livro antigo que achei na biblioteca. Sobre armaduras medievais! -ela ficou animada, ignorando tudo o que aconteceu há pouco.

— Hum? Um livro? -questionou Mira, ficando curiosa. Erza sorriu malignamente.

— Nada que te interesse -se vingou.

— A... Aaah! Levy foi numa missão com o Jet e Droy, era uma de entrega de itens, logo está voltado -informei ao ver uma veia saltar de desgosto de Mira sorridente. Lancei um olhar veloz para Gray e ele entendeu imediatamente.

— V... Vamos logo Erza, parece que aquele lado da guilda -apontou para algum lugar aleatório o mais longe possível do balcão- Está perfeito para comer uns bolos de morango.

— Hã!? -os olhos da ruiva brilharam- Aonde!?

— Pra lá! Pra lá! -continuou o moreno com a farsa. Me lançou um olhar de “Desculpa aí” e levou a ruiva, empurrando-a pelas costas. O mal pressentimento que eu tive de alguém me amaldiçoando sumiu também.

Mas os dois não chegaram até o tal canto afastado da guilda. Gray se esbarrou em Natsu no meio do caminho e o rosado berrou:

— QUAL O SEU PROBLEMA!? DEMÊNCIA!? OLHA POR ONDE ANDA!

— HÃÃÃN!? -grunhiu o mago do gelo de volta- VAI ENCARAR!?

— É HOJE QUE EU TE TORRO PEPINO CONGELADO!!

— HOJE SOU EU QUEM TE TRANSFORMO EM PICOLÉ DE LAGARTIXA!!

E Lisanna tampou a boca de surpresa, murmurando algo parecido como “Oh, meu deus!”. Erza continuou o caminho dela, cantarolando uma música sobre morangos felizes que caminham em estradas feitas de bolos. Eu bati em minha testa, chocada.

— Esse povo vai mudar nunca -riu Mira- Bom, quer ir na missão agora mesmo, Lucy?

— Oh? Tudo bem em irmos agora? -questionei.

— Sim, eu já pedi permissão pro mestre. Está tudo bem. E falei com Kinana, ela vai cuidar do balcão enquanto eu estou fora.

... Eu nem sei o que falar. Você já tinha mesmo deixado tudo preparado e só faltava me convidar, né?

— Então, vamos -me levantei. Mira deixou o pano na mesa, enrolou o papel de missão. Quando a albina maior estava saindo de trás do balcão, vi Elfman sentado numa mesa próxima ergueu a voz.

— Irmã, vai sair?

— Sim, lembra que eu disse que iria com Lucy numa missão? Estamos indo. Cuide de Lisanna, Elfman.

— Certo! Responsabilidade é coisa de homem! -riu ele- Vá com cuidado.

Percebi que ele bebericava cerveja com Cana, tinham várias cartas na mesa deles. Acho que o albino estava perguntado algumas sortes para a morena... Talvez esteja se questionando o relacionamento com a Evergreen. Ri com esse pensamento.

— O mestre foi convocado de novo pelo conselho? -perguntei.

— Aah... Bom, vocês quebraram meia cidade lá do litoral semana passada por isso o conselho ficou furioso -riu ela.

Eu corei de vergonha, semana passada... Verdade... Fomos para uma cidade na base do mar. Então Natsu mais o Gray começaram uma briga que virou uma disputa de quem pega mais peixes, no final acabaram caindo na porrada mesmo. De alguma forma quebraram a casa de jogos aonde Erza estava num vestido chique, vencendo partidas atrás de partidas de pôker. Com isso, não só quebraram a casa de jogos, como acabaram com os jogos da ruiva e arruinaram o vestido chique dela, em resumo? Uma Titânia Colossal Maligna. Depois disso meia cidade foi destruída. E eu no meio de tudo isso.

Suspirei.

— Foi o inferno na terra -fiquei desanimada mais uma vez.

Mira sorriu. Atravessávamos o salão, então Lisanna veio correndo para nós.

— Mira-nee! Vai sair? -lançou um olhar para mim- Oh! Vai numa missão com Lucy?

— Sim, eu já vou -respondeu a albina maior, se aproximou da irmã e deu um beijo na testa dela- Se comporte.

— Eu não sou uma criança! -Lisanna inflou as bochechas, logo sorriu- Mas se cuide, Mira-nee.

— Oh!? Luce vai ir numa missão? -se aproximou o rosado curioso, deixando um moreno zangado para trás.

— EI! ISSO NÃO ACABOU! -chamou Gray, zangado.

— Aonde vai, Luce? -questionou Natsu, ignorando o mago de gelo.

— Indo numa missão com Mira -respondi num sorriso.

— Oooh! Eu quero ir junto! -ele abriu um sorriso maior, meu coração palpitou e meu rosto corou um pouco. Pelo canto do olho vejo Lisanna ficando entristecida.

— Não. É só eu e Mira -respondi, arqueando uma sobrancelha, recuperando minha postura.

— Eeeeh!? -ele ficou indignado, fazendo beicinho- Eu quero ir juntoooo!

— Não seja uma criança, Natsu -repreendi.

— Ora Natsu! -interrompeu Mira- Não tem problema se eu for em uma missão com a Lucy, certo? Não é como se fosse morrer por isso.

— Mas... -ele quis reclamar.

— Ó! Isso não é você quem decide -eu exclamei, encarando para os olhos ônix- Mas prefiro que você me deixe ir com um sorriso, do que com uma cara zangada. Somos parceiros e não estou te trocando, apenas estou fazendo uma exceção.

Natsu pensou um pouco. É, se eu disser assim, talvez ele se conforme. O rosado sorriu e falou.

— Certo, vá com cuidado Luce! Quando você voltar, podemos ir numa missão.

— É claro! -sorri aliviada. De certa forma eu não queria ir numa missão com Mira tendo um Natsu triste e zangado comigo, se sentindo trocado.

— VOCÊ É SURDO!? -grasnou Gray, ofendido por ter sido ignorado- SEUS OUVIDOS DERRETERAM!? CABEÇA DE COGUMELO EXPLODIDO!?

— É O QUÊ!? -sibilou Natsu, voltando com a atenção para o mago de gelo. E continuaram a brigar. Lisanna suspirou aliviada.

Eu e Mira fomos para a porta da guilda, quando a abrimos, nos deparamos com Wendy e em seu colo estava Charles. Os olhos das duas estavam profundas.

— Wendy? -estranhei, a garota é sempre tão animada...

— Lucy-san...? -a azulada percebeu minha presença. Eu troquei um olhar com Mira.

— Aconteceu algo Wendy? -Mira perguntou docemente.

Os olhos da Marvell se arregalaram, ela ficou pálida.

— ... Wendy? -chamei.

— Eu... Eu... -ela balbuciou- Na verdade...

— W... Wendy... -chamou a gata, numa voz meio pesada. Isso é tão estranho. A azulada ficou estática.

— Não é nada -ela sorriu forçado.

Eu troquei mais um olhar com Mira, ficamos sérias. Tem algo errado.

— Wendy, se tem algo errado pode nos contar -eu disse.

Ela comprimiu os lábios e balançou a cabeça frenética, sorriu de novo.

— Não é nada. É que eu tive um pesadelo -a azulada abaixou o olhar- E... Ainda estou meio assutada com isso...

Aaah... Pesadelos, huh? Eu ando tendo alguns também, é, eles não são agradáveis e mesmo que Wendy seja forte, ainda é uma criança. Sorri.

— Oh! -sorriu Mira- Pesadelos? Eu de vez em quando tenho também. Sabe como se faz para afastá-los?

Wendy ergueu o olhar.

— Você precisa acordar -respondeu a albina- Se dê um beliscão e pronto! Vai acordar.

Wendy sorriu, então perguntou:

— Estão de saída?

— Sim -respondi- Vamos ir em uma missão.

— Oh... Boa sorte -a azulada disse, Charles pareceu ficar mais cabisbaixa.

— Obrigada! Bom, e eu desejo que seus pesadelos acabem -sorri- Tchau, Wendy.

— Até mais tarde Wendy -sorriu Mira.

Passamos pela azulada e antes da porta se fechar de novo, vi as costas pequenas dela e um sussurro que mais parecia implorar por algo:

— Por favor... Por favor... Que Lucy-san e Mira-san voltem bem.

Resolvi não comentar.

Caminhamos por Magnólia, enquanto isso, eu reparei nos olhares admirados e pessoas eufóricas encarando Mirageene.

— Impressionante Mira! Você tem uma grande presença nas multidões! -falei me surpreendendo com a quantidade de olhares.

— É que eu fui modelo -respondeu ela- Parece que mesmo passando sete anos, ainda tenho muitos fãs.

— Oh... Verdade, eu também sou uma fã sua -admiti.

— Ora! Mas que honra Lucy -riu Mira- Mas penso que você também seria uma bela modelo.

— S... Sério!? -exclamei feliz.

— E acho que assim, Natsu finalmente perceberia o quanto é bonita.

— M... Mira! -corei terrivelmente. Ela riu.

— Desculpa, desculpa. Mas acho mesmo que você tem estilo para ser modelo.

Eu fiquei pensativa. Hmm... Será que se eu virar modelo o Natsu vai...? Corei mais e mais. O QUE EU ESTOU PENSANDO!? ELE É SÓ O MEU AMIGO!

Percebo que chegamos na estação de trem. Mira comprou os tikets e vi um cobrador completamente derretido pela albina.

— Mira... Não me diga que... -fui falando.

— Consegui os assentos VIP por uma pechincha! -ela piscou um olho, balançando os papéis dourados.

Fiquei deprimida na hora. ISSO NUNCA TERIA FUNCIONADO COMIGO! POR QUE O MUNDO É TÃO INJUSTO??

Suspirei e sorri.

— Faz tempo que eu não uso assento VIP -falei, enquanto caminhávamos pro vagão mais chique do trem.

— É? -fez Mira, entregando os tikets para um homem vestido de azul, ele nos deixou passar e fomos para uma cabine particular. Era totalmente mobiliada com sofá, mesas de bebidas da melhor qualidade, sem falar que tinha uma lácrima de quarenta e duas polegadas. Fiquei admirada- Faz quanto tempo? Eu sempre consigo o assento VIP. Me pergunto o porquê! -riu ela.

— SEMPRE!? -meu queixo caiu. Balancei a cabeça frenética e me joguei num sofá, ele era todo fofinho que me deu sono- Da última vez, foi quando eu era criança, eu acho.

— Hummm... -ela ficou pensativa, se sentando no meu lado.

Sim, da última vez que usei um assento VIP no trem, foi quando eu ainda morava na casa dos meus pais. Eu tinha viajado com minha mãe e papai insistia que fôssemos com assentos preferenciais. Aquela época era o tempo que eu mais viajava, depois que mamãe morreu, era ficar no quarto todo dia. Me entristeço só de lembrar... Calma Lucy! Foco! Foco!

— Mira, o trabalho é destruir um covil de ladrões, certo? Tudo bem em irmos só eu e você? -perguntei, começando a me preocupar. Talvez eu devesse ter pego um outro trabalho...

— Eu tenho confiança na minha magia, vamos ficar bem -confirmou ela- O covil parece que fica no meio de um lugar um pouco afastado, parecido com um deserto, vamos precisar procurar o lugar -informou.

— Entendi -sorri, falando assim, parece que um covil de ladrões não é nada- Oh bem, Mira, acho que hoje vi Laxus lançando um olhar para você. Quando é que vão finalmente se declarar que se gostam?

— L... LUCY! -exclamou ela corada, mas logo sorriu- Eu não sei... E você Lucy? Sei que tem mais coisa que amizade entre você e o rosado.

— Q... Quê!? Está enganada Mira! Eu e Natsu somos apenas amigos! -exclamei, ela me olhou marotamente, como se me perguntasse pelo olhar “Será que é só isso mesmo?”- É... É verdade! Somos só amigos!! -reforcei.

— Você é nada honesta Lucy -Mira riu, num suspiro.

— Mas é verdadeeee! -insisti. Eu e Natsu somos mesmo só amigos- Ele é apenas a primeira pessoa que fiz amizade na guilda e acabamos como parceiros!!

— Certo, certo -ela assentiu com a cabeça, vencida- Falando em casais, o que acha dos promissores?

— Promissores?

— Algo como... Gajeel e Levy -ela falou sábia, eu ri com isso.

— Levy-chan vive brigando com o Gajeel e ele só tira sarro dela, mas eles são um belo casal -concordei, prontamente- E tem outros como Erza e Jellal -falei, mas logo suspiramos em desanimação- Esquece... Aqueles dois eram para ser um casal batendo nas portas da igreja mas...

— Lucy, eles são um caso perdido -ela falou num pesar.

— Oh, lembrando agora, você não se dá muito bem com Erza, né? -comentei.

— Pois é, quando crianças sempre brigávamos. Mas ela é uma garota que um dia poderia chamar de grande amiga -respondeu- Erza é uma boa pessoa que pensa muito nos companheiros, mas por alguma razão não nos damos muito bem.

Sim, vê-las trabalhando juntas deve ser uma das coisas mais impressionantes... E destrutivas do mundo.

Continuamos a conversar sobre muitas coisas. Mira sempre foi uma pessoa fácil de puxar assunto. Ela tem uma presença rara, uma presença de mãe ou irmã mais velha que é muito reconfortante. Engraçado de como uma pessoa assim foi gostar de um rapaz rabugento e assustador como Laxus.

O trem parou e saímos em uma cidade movimentada, com chão de pedra e carros mágicos passando por todos os lados.

— Aqui é uma cidade mercantil -informou a albina- Por isso os ladrões se instalaram por perto.

— Hummm... -murmurei, olhando tudo admirada.

As pessoas usavam roupas caras e nos olhavam. Os olhares paravam em Mira e muitos ficavam eufóricos com a presença dela. Eu observei as estruturas, de lojas delicadas aonde cada uma vendia algo diferenciado. Entre elas, as mais finas roupas, até as panelas de cozinhas mais chiques, alguns tinham joias e acessórios cintilantes, outros eram preenchidos com os móveis mais atraentes que já vi. Os carros mágicos eram equipados com as peças mais lubrificadas que poderia imaginar. E pelas ruas, eram espalhados algumas árvores dando um ar acentuado de beleza peculiar, com flores arroxeadas ou amarelas.

Quando percebi, Mira já conversava com um homem que ficava em um gabinete no meio da rua, um informante para ser exata. Ele deu as instruções para aonde devemos rumar e aonde ir quando terminar o trabalho.

— Eu nunca vi um homem mais pomposo que o cliente dessa nossa missão! -Mira inflou as bochechas.

— O que houve? -fiquei curiosa.

— Nosso cliente não quer se encontrar com mago de guilda nenhuma até que a missão seja completada, por que ele é ocupado demais!

— Nossa! -me surpreendi, não é assim que um cliente deveria fazer um pedido, mas bem- E? Para aonde devemos ir?

— Primeiro pegamos uma carona ou alugamos um carro mágico -insinuou ela- Então veremos. Espero encontrar logo esse covil.

Assenti com a cabeça. Caminhamos até uma instalação de aluguel e Mira sorriu para o moço atendente.

— Olá, gostaríamos de alugar um carro.

— Claro -o moço olhava para uma planilha de dados e não tinha prestado atenção em nós- A hora é cem jewells.

— Minha nossa! Que caro, não pode nos dar um desconto? Somos magas que viemos da Fairy Tail numa missão -Mira fez beicinho.

— Sinto muito -ele foi falando, então os olhos dele se ergueram e pousaram na albina. Eu só observo a proeza sendo feita. O queixo do moço caiu e ele arregalou os olhos- M... M... Mirageene da... Da... Revista das lindas magas do mês!?

— Ora! -Mira se fez de surpresa- Você me conhece? -e sorriu, tocando um pouco no próprio cabelo platinado. O moço se derreteu.

— S... Sim! Sou um fã seu! Po... Poderia amm... -ele se atrapalhou. Tateando o próprio corpo, pegou uma caneta e estendeu um papel para a albina- Me dar um autógrafo!? -ruborizou, acentuando a voz no final.

Mira sorriu gentilmente e pegou o papel e a caneta.

— Claro -e assinou, eu espiei e era uma caligrafia linda e profissional, logo devolveu- Aqui está.

— Muito obrigado! -ele se emocionou, abraçando o papel assinado- E... E... O que faz por aqui Mirageene-sama? Quero dizer, que cabeça minha! Um carro mágico, certo? Sim, sim, um desconto?

— Sim, por favor -confirmou ela, arredondando os olhos azuis.

— Então eu te deixo levar o carro por um jewell a hora! -ele estendeu a mão, nos mostrando um carro de bom estado- Esse é um dos carros mais rápidos e que menos gasta poder mágico.

QUÊ!? QUE DIFERENÇA DE PREÇO É ESSE RAPAZ!?

— Minha nossa! Muito obrigada -sorriu Mira.

— S... Sempre a dispor -sorriu o moço encabulado.

Ela foi na frente e se sentou no banco, eu me sentei ao seu lado, Mira se pôs para dirigir e pisou no acelerador. Eu olhei para trás e vi o moço balançar um lenço, com os olhos apaixonados.

— Lucy, eu consegui alugar um carro por uma pechincha! -piscou a albina para mim. Meu queixo caiu. Estou sem palavras.

ISSO FOI MÁGICA!? É MÁGICA, CERTO!? EU NUNCA CONSEGUIRIA FAZER ESSA PROEZA!! QUERO APRENDER TAMBÉM!! PROFESSORA MIRA, ME ENSINE POR FAVOR!

Me recumpuz e percebi da tamanha velocidade que o carro corria, então me lembrei.

— Mira, está tudo bem em irmos por esse lado? -berrei, por causa do som do vento batendo nos nossos rostos.

— Sim, eu perguntei antes, certeza que é para cá! -respondeu.

Passando um tempo, saímos da cidade. Logo uma estrada mais arenosa tomou o cenário, uma areia cor bege meio rosado, levantando poeira nas rosas do carro. No horizonte tinham montanhas e por onde corríamos era uma estrada meio torta, porém lisa.

Mais um tempo e vimos uma grande estrutura no meio do nada, parecia um cume de areia esburacada, como um vulcão, porém um pouco mais arredondada. Mira estava certa em relação à direção. Chegamos mais perto e vimos uma grande muralha de areia com buracos cercando o cume, esse era o covil que procurávamos.

Paramos o carro um pouco longe e nos aproximamos com cuidado, para não sermos percebidas. Está quente, realmente me lembra o deserto. Nos deitamos na areia, atrás de um vão da areia, nos escondendo.

— Parece que é lá -murmurou Mira, sorrido- Devemos ir com tudo.

— Se tem esse tipo de determinação e confiança, eu vou junto -peguei minhas chaves, sorrindo de volta.

Mas de repente, uma fumaça nos tomou. O... O que é isso!? Comecei a tossir.

— Não respire isso! -alertou Mira, tampando a boca, reconhecendo na hora o que era.

Tarde demais, comecei a ver tudo dobrado. Senti um baque no meu pescoço, vejo os olhos azuis de Mira se arregalarem, ela ergue a mão em minha direção, eu começo a cair, consigo ler nos seus lábios me chamar, dizendo “Lucy!”, numa expressão aflita. E de dentro fumaça, vejo uma sombra de um homem com uma máscara de pano cobrindo o nariz surgindo pelas costas da albina, ele ergue um tipo de bastão, eu estendo a mão para alertá-la, mas ela também é atingida. Caímos na areia quente.

Fomos descuidadas.