Natsu POV

Ultimamente as coisas estavam em paz. Eu vou em missões com Lisanna e Happy. Minha vida tocou para frente de uma forma que há um ano atrás não poderia ter imaginado.

Mas eu tinha um sentimento estranho dentro de mim que parecia estar esquecendo de algo importante.

— Natsu! Vamos pescar? -Happy ao meu lado se virou.

Estou embaixo da sombra de uma árvore. Deitado e olhando para o céu, há algumas nuvens ali, passando preguiçosamente.

— Natsu?

— Ah!? Sim! Vamos!

Me levantei animado. Já estávamos perto do lugar em que Happy adora pescar aqui em Magnólia.

E tem duas varas de pescar escondidas por perto, já que sempre vamos ali.

Uma ficou na minha mão e outra na do exceed azul.

— Shhhhh... -Happy murmurou concentrado, mesmo que tudo já estivesse silencioso.

Ele leva os peixes a sério. Sorri.

Encarei a bóia por alguns minutos e me lembrei do que aconteceu um tempo atrás.

Mesmo falando com firmeza que confiava em Romeo, não podia deixar ele sozinho. Então o segui secretamente.

Quando Wendy se juntou, eu me misturei entre a multidão para esconder meu cheiro. Ela como Dragon Slayer, tem um bom olfato.

E com razão, eles não me viram.

Juro que pensei que ia morrer, foram tantas viagens para cá e para lá, que meu estômago fez um nó e entrou em greve.

Perdi a oportunidade de avisar alguém que ia sair e me arrependi ao lembrar da minha esposa em lágrimas quando voltei...

Mas não achei que todo mundo ia se encontrar em uma grande coincidência...

Pensei que era estranho eu aparecer, então me escondi na floresta. Mas...

— Sabe –era a voz do estúpido come ferro- Bunny Girl é bastante tonta e sempre faz seus amigos se preocuparem justamente porque ela não quer que a gente se preocupe com ela. É uma garota bastante, bastante tonta.

Eu olhei curioso para a reunião secreta acontecendo ali perto.

— Por isso, enquanto não podemos estar aí, você nos ajuda a cuidar dela, secretamente. Já que ela faz as coisas escondida sem se importar com nada, a gente também vai fazer a mesma coisa –Gajeel disse, rindo.

— Bem –foi a resposta do Sting.

Então, quando analisei que aquelas palavras eram estranhas, o mago do raio falou alto:

— Que tal você aparecer e participar?

Não faz sentido continuar escondido, então saltei. Me revelando completamente.

Olhei para o mago do raio com advertência. Ele deu dois passos e me pegou pelo colarinho.

— Está nos seguindo? -o sorriso perigoso dele era igual a de um vilão malvado.

— Não a você -respondi, pegando o pulso dele.

As veias saltaram das nossas mãos.

— Então é ela? -os olhos acizentados brilharam em faíscas.

Literalmente o poder de raio começou a dar estática, com pequenos fios dourados aparecendo.

Acha que isso é o suficiente?

— Que asneira você está falando? -me deixei provocar e o ambiente começou a esquentar como uma sauna.

— Estou te avisando, não chegue perto de Lucy!

— Luce? -respondi consternado- Mesmo que isso seja verdade, o que tem a ver com você, Laxus?

Os olhos dele ficaram mais frios.

— Quer ser espancado até desmaiar de novo? -ele riu arrogante.

— O quê!? -estremeci de raiva.

A humilhação de perder em público, vou cobrar agora!

— Não faça desmatamento ou destruição -a voz tranquila de Gajeel soou da lácrima - Os dois parem. Vai ser pior depois se acontecer algum acidente.

Laxus e eu nos encaramos um pouco e recuamos nossos poderes.

Ele me soltou primeiro, e eu dei um passo atrás.

— Salamander. Não seja idiota e vá para casa silenciosamente -sua advertência era em tom grave e baixo.

— A pé? Até Magnólia? -deixei escapar uma risada amarga.

— O trem vai passar depois. Você entra e vai embora, sem ninguém perceber. Conseguiu vir até aqui sem ser rastreado, pode fazer de novo.

— Laxus Drayer -grasnei- Quem é você para mandar em mim?

— Escutou o que falamos agora pouco certo? -ele frizou as sobrancelhas- Nunca pensou que era estranho? Tem coisas acontecendo na guilda que você não deve se intrometer.

— Coisas que eu não sei? -murmurei.

Estava me sentindo estranho há um tempo, parecendo que perdi a pista e deixei algo importante passar. Mas não sabia exatamente o que era.

— Seja mais consciente à sua volta Natsu.

E ele se virou. Me deixando para trás.

Eu fiquei parado, olhando para as árvores.

— Natsu-san -o olhar de Sting era sério.

— Sting -o encarei.

— O fato da Blondie vir para a Sabertooth -ele olhou levemente para aonde Drayer sumiu- Tem a ver com você, Natsu-san?

Eu frizei as sobrancelhas.

Luce. Para mim Luce é minha amiga, uma companheira. Alguém com quem eu compartilhei sorrisos e momentos.

Alguém que estava ao meu lado.

Uma e outra vez estavamos nos ajudando. E várias vezes eu corria para salva-la.

E muitas vezes...

Huh?

Minha cabeça começou a doer e minha visão ficou borrada, cambaleei tonto.

— Natsu-san? -surpreso, tentou me ajudar.

Ergui a mão, sinalizando que estava tudo bem.

— Eu vou indo Sting -recuperei minha compostura.

— Na...

Ele tentou me chamar, mas corri pela floresta.

Que diabos foi isso?

Quando comecei a arfar, segurei no tronco, encarei minha palma trêmula e pressionei meus olhos.

Então ergui meu rosto ao sentir um cheiro familiar. Por trás das árvores estava Luce segurando a mão de um homem de cabelo preto. Eu sei quem é.

Rogue Cheney.

Seu olho exposto em cor de rubi olhou para a minha direção.

Ele sorriu levemente e balançou a cabeça me cumprimentando, sem se mostrar surpreso.

Mas eu arregalei os olhos.

Luce estava muito concentrada nos pensamentos e passou reto. Mas pude ver que também tinha um exceed verde nos braços dela, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Por que você foi embora? Você não pensava que Fairy Tail era sua família? Por que parece que eu era o único que sabia de nada?

Pensei que éramos amigos. Pensei que você confiava em mim, da mesma forma que eu confiava em você.

Por que você me disse nada, Luce?

Decidi confrontar a loira.

Tem coisas acontecendo na guilda que você não deve se intrometer.

Minhas pernas não obedeceram e travei no lugar.

Logo eles sumiram.

Nesse segundo minha cabeça doeu novamente.

Muitas vezes, Luce esteve nos meus braços ensanguentada. Mas a maioria dessas coisas não aconteceu.

Fiquei com medo.

Não podia mais distinguir os sonhos aonde vejo ela morrer, com a realidade?

Ainda sonhava com essas coisas, mas acabei me acostumando e os ignorava.

Mas o que foi isso agora?

Eu estou tão obcecado por esses sonhos? É por causa disso?

— Natsu... Natsu... NATSU!!

Despertei dos meus pensamentos e olhei para o lado.

— ME AJUDA ANTES QUE O PEIXE FUJA, NATSU!!

— TO INDO!

Respondi saltando.

Happy fez um trilho no chão de terra, mostrando que está sendo arrastado pelo peixe. A vara curvada e a linha muito tensa disse claramente o quanto forte é o nosso oponente.

Segurei a parte de cima da vara.

— No três! -gritei- UM, DOIS, TRÊS!

Segurei minha respiração.

— WHOAAAAAAAAAA -gritamos, com nossas caras ficando roxas e veias saltando.

Logo um peixe azul cintilante saiu da água, respingando para todos os lados.

— Sim! É ENORME! -Happy gritou feliz.

— Vamos assa-lo!

— Aye!

E com a fogueira já meio preparada, pois é sempre aqui aonde assamos os peixes, logo foi acesa.

Um cheiro delicioso se ergueu.

— Parece bom -babei.

— Muito delicioso -os olhos do gato ficaram grudados.

Esperamos um tempo, até que finalmente pareceu crocante e suculento o suficiente.

Cortei ao meio, e era enorme, mesmo pela metade!

Assim que ia abocanhar...

— Natsu!

Me virei e uma cabeleira branca caiu nos meus braços.

— Lisanna! Você vai se queimar! -ergui o espeto com peixe quente para longe.

Os olhos azuis se revelaram sorridentes e me encararam.

— Terminei de fazer a comida, vamos para casa? -sua voz era suave.

Olhei levemente para o peixe.

— Natsu? -ela também olhou para a minha mão, deu um sorriso gentil- Eu fiz com muito amor e carinho, para você.

— Sim, vamos -respondi, sorrindo de volta.

E então comecei a caminhar junto de Lisanna. Ia levar o peixe para comer em casa.

— Happy? -percebi que ele não nos seguiu.

Quando olhei para trás. O exceed ainda comia o peixe, sentado perto da fogueira.

— Happy, vamos para casa.

Ele ergueu os olhos, nos encarando.

— Algum problema? -Lisanna perguntou preocupada, apoiada em meus braços.

— Não -o gato respondeu rapidamente, acionando Aera.

— Vamos -sorri.

— Aye.

E ele nos seguiu um pouco atrás de nós.

Me senti um pouco estranho... Como se tivesse perdendo algo, ou esquecendo algo importante.

— Natsu, você é a pessoa mais importante para mim -Lisanna sorriu, me fazendo jogar as preocupações de lado.

Então lembrei do que decidi quando vi minha albina chorar quando voltei.

Sim, minha linda esposa é a prioridade agora. É momento de esquecer Luce e os sonhos também.

Laxus POV

Demorou muito tempo para chegar na Fairy Tail. Saí de noite da Sabertooth, e agora era madrugada. Não havia ninguém na guilda.

Mesmo assim eu estou aqui.

A lacrima que estava ligada era apenas uma aqui ou ali, apenas para não estar completamente em breu, como um casarão fantasma. Era uma tradição nunca deixar a guilda completamente no escuro.

Subi para a sala do mestre da guilda, no segundo andar.

Planejava vir e partir logo. Sem falar com ninguém. Nem mesmo Raijinshuu. Havia deixado uns preparativos para não ser perseguido e isso iria segura-los um pouco. A pirralha dos ventos cuidaria deles.

Fiquei na frente da mesa do mestre da guilda. A luz bruxuleante que veio da janela iluminava os móveis.

A lua cheia clareou minha volta e pude dar um suspiro.

— Você voltou -a voz veio da porta.

Era Makarov Dreyar. O mestre da guilda. Meu avô e parente de sangue.

— Eu já estou saindo -respondi, sem expressão.

Ele ficou parado na porta e deu um suspiro.

— Aonde você vai com tanta pressa Laxus?

Não respondi e peguei o pequeno quadro em cima da mesa do mestre. A sala do mestre tem uma estante com vários retratos, começando com alguns dos antepassados dos magos da guilda, parando até a foto mais atual.

Mas existe uma em particular que fica na mesa do mestre. Era essa que eu segurei com as mãos.

Acariciei a foto com o polegar.

— Laxus, você vai busca-la?

— Sim.

A imagem mostra o meu avô um pouco mais jovem que agora. Bom, daquela época e hoje, eles simplesmente parecem iguais, mas era apenas um pouquinho mais jovem.

E havia três crianças na frente desse homem velho. Um loiro emburrado na esquerda, uma morena enérgica ao meio e uma albina alegre na direita.

Estavamos todos espremidos na foto. Mas o mais feliz era o velho Makarov.

— Ainda usa essa foto na sua mesa, velho -dei uma risada.

— Vocês três foram a luz do nosso futuro naquela época -sua voz era nostálgica e gentil- E são o meu orgulho até hoje.

Olhei para o sorriso dessas pessoas. Me lembrei que nesse dia eu tentei fugir, mas fui puxado à força. Estranhamente tinha sido Mira, quem sempre tentou falar comigo, simplesmente não ligando o quanto eu a tratei mal, por isso não pude rejeitar ela.

Mesmo que eu tivesse fugido sem nem mesmo olhar para trás quando foi meu avô quem me buscou. Por issa razão Cana me zoou por muito tempo.

São só lembranças do passado. Justo como a foto.

— Laxus... Talvez seja melhor não ir atrás dela.

Fiquei calado por um momento.

— Porque a Mira já não é mais ela?

Sorri com sarcasmo, colocando o quadro de volta na mesa.

Encarei o velho e ele estava de braços cruzados.

— Então você sabia -suspirou.

— E você -minhas sobrancelhas franziram- Escondeu isso de nós -uma queimação foi subindo do meu estômago até a garganta.

Engraçado. Não senti essa raiva com Lucy, de alguma forma eu a perdoei sem nem mesmo questionar sobre. Até concordei com ela no segundo que a vi chorar. Parece que essa mulher está em um lugar muito mole do meu coração sem mesmo eu ter percebido quando se enraizou tanto. Mas com ele, essa pessoa quem é meu avô de sangue, de repente me senti traído.

— Por isso suspendeu as buscas? Para não descobrirmos a verdade?

Tinha tristeza no seu olhar enrugado e balançou a cabeça devagar, negando.

— Todo mundo tem sua própria vida Laxus. Mirajeene simplesmente desapareceu sem rastros ou pistas, e não poderíamos colocar uma busca para sempre. Temos que seguir em frente.

— Ela não é da família? -falei entre os dentes, tive dificuldade de respirar.

Fechei os punhos e as veias pulsaram nos meus braços.

— Devemos simplesmente ir esquecendo aos poucos? Sem nunca saber o que houve com ela? Pensar que está tudo bem, mas na verdade Mira está por aí sofrendo sozinha? Acreditar que as coisas vão dar certo, quando na verdade está tudo ferrado?

Quanto mais eu pensava, mais raiva tinha.

— Nem todo mundo pode aceitar o que aconteceu, mas somos impotentes Laxus. Mesmo sabendo a verdade, o que podemos fazer? Pensei que era melhor deixar em silêncio, do que sofrer com as mãos amarradas.

— Isso quem decide sou eu! Não você! E eu decidi que não posso aceitar! -respondi- EU NÃO POSSO ACEITAR ISSO!

Mordi meu maxilar.

— Acho que você se esqueceu de algo importante -grasnei- Não importa o quanto ela seja esquecida pelos outros, ou o quanto ela mude. Mas Mira sempre será insubstituível.

— Laxus...

— E na minha mente, ela é a Mirajeene, com ou sem demônios. E isso não vai mudar -falei com convicção.

Assim como Lucy acredita nisso. Eu também resolvi acreditar.

Olhei para a foto mais uma vez. Corri até a Fairy Tail porque sentia que ia enlouquecer.

Não tinha uma foto dela comigo. Mas sabia que havia uma aqui. Fiz toda essa viagem para vê-la. Já que não tenho ideia aonde ela está, pelo menos uma foto dela ia me acalmar.

Mas não é o bastante.

Eu quero vê-la. Eu tenho que vê-la.

Caminhei para a porta. E quando passei pelo meu avô, falei em um tom perigoso.

Tenho certeza que estava fazendo a cara que Lucy chama de "olhar de vilão".

— Já que você não vai cumprir com a promessa de proteger os seus "filhos", eu vou ir atrás dela. Não vou deixar Mira sozinha. Então não me impeça... Mestre da guilda.

Seu olhar foi difícil de decifrar.

Passei pela guilda silenciosa, com o corpo fervendo de raiva.

Mas eu sabia.

Makarov Dreyar, mais do que um pai, avô ou uma pessoa impulsiva, era um mestre de toda uma guilda. E todos magos da Fairy Tail são sua responsabilidade.

Ele não podia cuidar de apenas uma pessoa, e sim de todo um grupo, tentando o melhor para tratar todos com carinho, como uma família. Então ele teve que tomar decisões para todos.

Ainda assim, eu não conseguia me controlar, ou perdoar isso.

Agora eu entendi. Lucy Heartphilia ficou em silêncio pelo bem de Mirajeene. Makarov Dreyar manteve isso oculto pelo bem das pessoas da guilda.

O vento frio da madrugada me fez soprar uma névoa branca. E me misturei na escuridão.

— Laxus Dreyar -uma voz me chamou.

Quando virei o olhar, há um homem parado, de braços cruzados. Ele me encarou seriamente.

Sei quem é. O cara do conselho, aquele que estava do nosso lado, e buscando o caso de Mirajeene Straus. Seu nome é Mest Gryder, ou Doranbolt.

Pude ver sua cicatriz no rosto, uma marca que o deixava reconhecível na memória.

Parei a alguns passos.

— Mest Gryder -me perguntei o que ele faz aqui.

— Você está curioso?

— Curioso? -franzi as sobrancelhas.

— Se quer saber, gostaria de fazer uma viagem comigo?

Uma viagem com ele?

— O que eu ganho com isso?

E como se esperasse essa resposta, ele se aproximou.

— Um mago rank S. Com certeza é útil para uma viagem perigosa -ele sorriu- Eu tenho uma pista aonde está Mirajeene Straus.

— Desembucha -agarrei seu ombro velozmente. Isso conseguiu minha atenção.

A mão dele foi ao meu pulso e tudo rodou.

Quando olhei em volta, estávamos no início de uma floresta.

— A partir daqui fica difícil usar teletransporte. Preciso saber as coordenadas ou ter pisado ali antes, para poder me teletransportar, mas a partir daqui é uma incógnita.

Seus olhos foram para as árvores escuras. A voz dele tremia um pouco.

— Então é um pouco complicado seguir a pista, entende? Para um mago de teletransporte e controle mental, a missão ficou um pouco difícil.

Eu o encarei. Ele quer dizer que vamos precisar ir a pé.

— Você quer me usar? -falei em um tom baixo.

— Achei que estava saindo para buscar ela? Isso não te facilita as coisas?

Não respondi. Sim, isso é de grande ajuda.

— Estava espionando? -percebi esse ponto estranho. Como ele sabia que eu ia atrás de Mira?

— Não, eu estava indo em uma reunião com o mestre na sala ao lado da sua. Então escutei por casualidade.

Eu o encarei. Sabia que era um aliado, mas me senti estranho ao saber que havia uma coincidência assim.

Ultimamente as coincidências não paravam de acontecer, como se tudo estivesse interligado ou controlado por algo. Era estranho e desagradável.

Ou talvez tudo fosse apenas uma coincidência mesmo.

— O mestre sabe que você veio atrás de mim?

— Não, antes de me encontrar com o mestre, ele falou com você. Quando escutei que você ia buscar Mirajeene, pensei que estava coincidindo com meu objetivo.

— E qual seria esse objetivo?

— Achar alguém para me ajudar na busca. Porque como pode ver -ele apontou para a floresta- Eu sozinho já não é mais viável.

— Então ninguém mais sabe dessa sua informação do paradeiro dela.

Ele balançou a cabeça. Sua feição era muito natural e tranquila para estar mentindo.

— Eu vou com você.

Ergui a mão para apertar o fechamento de um acordo. Ele a agarrou felizmente.

— Estarei aos seus cuidados, Laxus.

Entramos na floresta. Mas tinha algo que eu não compreendia.

— Por que tudo isso é um segredo?

As folhas estão sendo pisadas ruidosamente. E o cheiro no ar é estranho. Com certeza existem bestas por aqui. Bestas perigosas.

Mas eu não tinha medo. Acha que um mago de rank S é raro sem nenhuma razão? É porque a maioria das coisas no mundo eu posso resolver no punho, e para chegar ao meu nível de poder, era uma conquista muito difícil.

— O que você pensa de Zeref? -foi sua resposta vaga.

— Zeref? -puxei na minha memória- É um mago das trevas incrivelmente chato de lidar. Um cara sem ter o que fazer na vida e fica vagando por aí trazendo problemas uma e outra vez.

Ele sorriu para minha resposta.

— O que eu vou dizer agora, é algo que não contei nem mesmo para o Mestre Makarov. É um segredo interno do conselho.

— Mas pretende contar para mim -achei suspeito.

— Eu sou seu aliado, e não do conselho. Tem certas coisas que cansei de guardar, principalmente para alguém que acabou de virar meu companheiro de viagem.

Isso é um pouco lógico.

— Além disso, você não parece ser alguém que iria abusar dessa informação ou sair espalhando por aí.

— Eu não iria?

— Laxus Dreyar não tem a personalidade de espalhar fofoca ou é alguém que liga para coisas alheias -deu de ombros.

Mest apenas riu despreocupado. Não parece que ele teria apenas essas razões para dizer um segredo, principalmente para alguém quem ele não conhecia bem. Que suspeito. Ou é isso o que chamam de capricho?

— Tá, e o que tem Zeref?

— Zeref não passa de uma lenda. E tem facções que acreditam que ele foi um Deus.

— Bom, para quem nunca viu ele, deve ser isso mesmo -buffei.

— Não, Laxus. Nossos magos do conselho confirmaram que Zeref é uma massa de poder incrivelmente destrutiva e está perdida nos livros proibidos, em vez de ter sido um Deus ou um mago.

Então parei meus passos.

— O quê?

— É o segredo que a rede de magia esconde, porque é uma informação que traria muitos problemas. E tudo relacionado a ela, é o mais sigilosa possível. Em todo tipo de pista, algum mago é enviado para investigar. Por isso eu estava aonde aconteceu o sequestro de Lucy e Mirajeene.

— Não, mas eu lembro que vi ele? -respondi- Está falando que uma massa de poder tem forma humanoide e que fala, está perambulando pelo mundo?

Ele me encarou seriamente. E senti calafrios.

— Laxus. Você tem certeza que viu ele?

Eu franzi as sobrancelhas. Vasculhei na memória. Sim eu vi ele.

Mas por alguma razão essas memórias estavam borradas e incertas.

— Tem algo errado Laxus, apenas algumas pessoas lembram dessas memórias. Principalmente as da Fairy Tail, como se houvesse um vínculo com Zeref, o mago.

— Acho... -murmurei, mas minhas memórias ficaram cada vez mais estranhas.

Eu tinha mesmo visto Zeref?

— O Mago Zeref não existe para o resto do mundo -ele continuou- E sua existência não existe nem mesmo dentro da rede de inteligência do conselho mágico e nunca existiu. Apenas apareceu um certo dia como uma descoberta de massa mágica e foi escondida, porque era muito destrutiva, há centenas de anos atrás.

Prendi minha respiração.

— Então... Então o que são essas memórias?

— Ou o mundo todo teve sua memória apagada... Ou uma estranha memória foi implantada em algumas pessoas. No caso, em alguns magos específicos, só que a maioria é da Fairy Tail -ele fez uma pausa- Eu posso apagar memórias. Mas criar memórias é uma história diferente. Pensei que essa magia era minha especialidade, mas quando percebi essa singularidade na guilda, me senti estranho, porque eu também estou afetado por memórias que não eram para existir.

Fiquei calado, o encarando. Um sentimento sinistro se apoderou da minha espinha e não queria sair da minha boca.

— Se Zeref... É uma bola de poder... Por que o conselho está buscando ela?

— O Conselho está querendo se apoderar dela, seria muito ruim se outra pessoa a conseguisse. Então é melhor a gente saber aonde está para poder conter essa massa destrutiva... Porque dizem que quem tiver essa coisa, pode se tornar o dono do mundo.