Caminhantes

A porta serve para deixar as pessoas de fora


Lucy POV

Eu não tinha certeza se contava para o mestre Makarov sobre os sonhos com Zeref também. No final acabei não falando... E sobre as outras duas visões, acabei dizendo nada para Levy... Não preciso que ela se atormente com as decisões que eu mesma resolvi tomar. As consequências, eu quem devo me responsabilizar! Do passado eu cuido, mas não pude mentir para ela sobre o que poderia acontecer no futuro, tive de contar sobre a visão de Zeref.

Antes de sair do meu apartamento, catei algumas roupas e enfiei na minha mala, que agora está jogada num canto do quarto.

M... Mas falei aquila coisa constrangedora para Minerva... De p... Problemas amorosos... Só de lembrar meu rosto começa a arder. E para minha surpresa, Minerva não é uma pessoa tão ruim quanto pensei, espero que sejamos grandes amigas.

Abri meus olhos e vi o teto amadeirado, me sentei. Não estou mais no meu apartamento em Magnólia... Verdade, aqui é a mansão dos Dragões Gêmeos.

Fiquei surpresa com o convite do Sting, mas bem, o escandaloso insistiu e acabei aceitando, mas só depois... Depois que o Rogue disse que queria que eu...

A guerra de ontem foi terrível... Só de pensar... Mas bem, agora já passou e estou aqui.

Aqui é... O mesmo teto aonde Rogue Cheney mora...

Dei um sorriso enquanto me levantava da cama, descalça. Estou só de camisola e calcinha, pois para dormir, o melhor são roupas leves e sou defensora disso. Infelizmente, esse quarto não é uma suite, teria que ir ao banheiro do final do corredor. Hum... São cinco da manhã, acho que tem ninguém acordado ainda... Vou de camisola e calcinha mesmo.

Bocejei, abri a porta para o corredor.

Ontem fiquei de boca aberta, quando Sting me mostrou a casa que mais parecia um pequena mansão. Por fora já mostrava ser grande, por dentro então...!

É uma casa vitoriana, no andar de baixo a sala, cozinha e a sala de jantar, bem na entrada tem uma escada que sobe para os quartos e banheiros, um planejamento simples de casa, mas grande. As paredes tem o cheiro de antigo com papéis carmesim fosco ultrapassadas, eu em particular gosto de casas assim, amava em ler esses tipos de mansões nos romances, mas... Me batia tristeza em ver um quarto tão gigante... É como se eu voltasse nos meus tempos de criança, sem mãe e um pai longínquo. Um quarto que parecia uma mansão e uma mansão que parecia um labirinto.

— L... Lucy!? -falou uma voz, assim que pus o pé para fora do quarto. Esqueci de tudo o que pensava e olhei para o lado. No momento que vi o rosto corado e os olhos escarlate, gritei.

— Gyaaaaaaaaaaaaa! -meu deeeeus! Estou só de camisola e calcinha! Mas Rogue estava só de calça, mostrando o peitoril definido de tom amorenado! Saltei de volta pro quarto e bati a porta.

Ai meu pai! Espera, isso não foi rude!? TIPO, OLHEI PARA ELE, GRITEI E BATI A PORTA! AAAAAAH!

Eu me abaixei e deslizando as costas pela porta, ficando agachada e escondi meu rosto totalmente ardente nas mãos.

AH DROGA! DROGA! DROGA! MEU CORAÇÃO ESTÁ BATENDO TÃO ALTO! MAL CONSIGO ESCUTAR MEUS PENSAMENTOS! PERA! ELE É UM DRAGON SLAYER! AI MEU DEUS! NÃO FALA QUE ELE PODE ESCUTAR!

— Lucy? Está tudo bem? -perguntou ele, eu via uma pequena sombra embaixo do vão da porta.

— Ahh!? Ah... Eu... Em.... Am... -LEMBRA COMO SE FALA DECENTEMENTE, MULHER!- S... Sim... Desculpa por bater a porta assim, Rogue.

— Ahn!? Ah, não, não precisa se preocupar com isso... -um segundo silencioso- Bom, dormiu bem?

... Ele está preocupado!? Dei um sorriso de canto. Tentando acalmar meu coração.

— A cama é confortável, mas acabei acordando cedo... Não dormi direito.

— ...? Não consegue dormir? Tem algo errado com o quarto, Lucy? -a voz dele era abafada pela madeira.

— Não! Eu apenas estava nervosa...

— Nervosa? -perguntou confuso.

Ah maldição, por que fui falar isso!?

Eu estava meio nervosa... Pois me mudei para a Sabertooth com esperanças de que Rogue Cheney mudasse algo sobre meus sentimentos... E acabei vindo para a casa dele, claro que fiquei nervosa! Mas nem que me enterrem viva posso responder isso!

— S... Sim, estava acostumada com Magnólia e o meu apartamento... -não era a razão principal, mas também não é mentira.

— Ah... Deve ser difícil para você, se mudar assim... -falou ele compreensivo.

Eu olhei para o teto. Mesmo sendo tão cedo, alguma claridade entrava no meu quarto.

— De certa forma sim, mas precisava... Queria esquecer Natsu... -desabafei. Por que será? Sinto como se eu pudesse contar todos os segredos do mundo para esse rapaz, e eu não teria medo ou vergonha.

— ... E seus amigos? Eles devem estar preocupados.

— Sim... -concordei- Eles são pessoas gentis, com certeza ficarão preocupados... Mas sabe? Eu saí com nenhum deles sabendo para aonde eu ia, nem disse que eu iria sair da guilda. Apenas para o mestre e dois amigos. Eles devem é estar zangados - ri, enquanto pensava no pessoal da Fairy Tail- Como será que eles estão? Brigando muito? -murmurei.

— ... Como são eles, Lucy? -perguntou, logo explicou- Não sei o que pensar dos seus amigos, digo, sei que são boas pessoas. Mas no máximo só conheço o Natsu e Gajeel-san, não conheço direito os outros magos.

Dei um sorriso.

— Tenho vários amigos lá. Vejamos... Tem primeiro o mestre Makarov Dreyar, ele é baixinho, mas é incrivelmente gentil e trata todos como seus filhos, mas quando fica bravo é assustador! Mas bem, ele só fica assustador com razão. É como um pai de verdade.

— O mestre da Fairy Tail... Lembro vagamente dele... E os outros amigos seus?

— Hum... Tem a Cana Alberona, uma morena que gosta de cerveja e bebidas -ri- Mas tem uma clarividência fantástica! Usa cartas de forma que eu nunca conseguiria e é filha do Gildarts, um cara que vive sem senso de direção as mesmo assim é o mago mais forte da guilda!

— Cana... -ele pareceu se lembrar de algo- Desse Guildarts eu já tinha escutado falar, é o que faz Magnólia inteira mudar de forma para que ele volte para casa sem destruir nada, certo?

— Sim, esse mesmo! Se a cidade não se modificar, ele quebra as paredes das casas e continua andando como se tivesse acontecido nada! Lembro que fiquei surpresa quando o conheci... Bom, e tem os irmãos Strauss -fiquei meio triste em pensar neles... Mas Rogue perguntou sobre meus amigos, e os albinos estão nessa lista também- Lisanna é uma garota normal, sabe sorrir, chorar, amar, é a irmã mais nova dos Strauss. Elfman é um cara engraçado que vive falando “homem” pra cá e pra lá e tem a irmã mais velha... -minha voz falhou, resolvi mudar de contagem- Tenho uma amiga muito apreciada chamada Levy McGarden, uma menina baixinha que é muito fofa, adora livros e usa uma magia interessante chamada Solid Script, ela se zanga fácil com um certo péssimo cantor -ri de novo, se Gajeel fizesse um dueto com Orga, talvez o mundo se rache no meio.

— Sei, é a garota que vi outro dia no seu apartamento...

Corei ao lembrar daquele dia. B... Bom... Rogue não consegue ver meu rosto corado, então tudo bem. Só não posso deixar minha voz denunciar.

— Isso, ela mesma, tem um espírito forte e cuida de mim, sempre me faz um chocolate quende delicioso quando as coisas então ruins -dei uma risada- Mesmo sendo pequena, enfrenta os homens com fúria, ela fica contra todos os caras que são sem noções.

— Entendi -o tom de voz dele era de diversão, então disse depois de um tempo- Espero que você possa esquecer logo de Natsu, assim vai poder voltar para os seus amigos. Eles te amam e você os ama, vão sentir a sua falta.

— Sim... Eu também espero. -esse comentário dele me deixava com o coração meio apertado, mas o Cheney está apenas sendo compreensivo... Sem falar que eu também sinto falta dos meus amigos. Ficamos um pouco silenciosos- Rogue? Ainda está aí?

— Sim, eu estou, Lucy.

— Por que acordou tão cedo?

— Ahn... Ah! Tenho que fazer o café da manhã e acordar o folgado do Sting.

Dei uma risada.

— Para quem tem que fazer tanta coisa, pode ficar na porta falando com os outros assim?

— Tanta coisa? Só preciso preparar a comida e...

— Não Rogue, preparar comida chega a ser fichinha -o corrigi- Comparado com a frase “Acordar Sting”.

Ele riu, só de ouvir a risada dele, meus lábios esboçaram um sorriso bobo.

— É, tenho que concordar Lucy. Para acordar Sting não é fácil, isso é, para os novatos.

— Oho! Só para os novatos? Então sabe fazer mágica para acordar ele? -perguntei surpresa.

— Eu conheço esse loiro folgado faz muito tempo, conheço táticas que sempre funcionam.

— É mesmo!? -fiquei curiosa- Espera, deixa eu adivinhar... Hum... Tacar água fria?

— Ha ha, eu tentei esse uma vez, não deu certo, ele começa a pensar que está nadando ou algo assim.

— Então gritar. Fazer barulho?

— Pode acabar ficando rouca se pensa que ele vai mover um dedo por isso. Pode trazer o tsunami e o terremoto junto, Sting não acorda.

— Hummmm... Desisto... -falei derrotada, ele riu.

— Sting acorda com cheiro de comida, se escutar a palavra desafio ou briga, ou seja, algo que ele se interesse. Por via das dúvidas, vai no tradicional, joga ele no chão.

Comecei a rir, isso é mesmo a cara do Sting.

— Mas é estranho que a Abelha durma tanto, se tem tanta energia de sobra.

— É, ele tem energia para dar e vender, mas quando faz uma missão, dorme que nem condenado.

É, Sting Euclife, um folgado, enérgico e esfomeado. Igualzinho a um certo rosado. Então Rogue continuou:

— Bom Lucy, eu vou ir fazer o café, depois apareça para comer, ok?

Queria que ele ficasse mais, mas o escutei se mover e se afastar. Abri a porta lentamente e espiei, engatinhando pondo minha cabeça afora, o corredor está vazio. Senti que o chão aonde minha mão tocava estava quente, então toquei a superfície da porta, está quente também. Dei um pequeno sorriso. Cheney estava sentado aqui... Eu e ele estávamos separados por apenas uma porta.

Senti meu rosto esquentar levemente.

— O que está fazendo no chão Blondie? -encontrei os olhos azuis da Abelha. Eucliffe está uns cinco metros de mim, com uma sobrancelha levantada. Ele estava sem camisa, assim como Rogue. Meu sorriso morreu, pois fiquei surpresa.

— Hué, não estava dormindo, abelha? -perguntei ainda no chão. Me esqueci da forma em que estou vestida.

— Acordei -ele deu de ombros- Por quê? É proibido? -então sorriu de forma maliciosa e muito, mas muito arteira. Percorreu um calafrio na minha espinha, algo muito ruim vai acontecer. ESTOU SENTINDO!

— O... O que é? -perguntei desconfiada, espremendo os olhos, me levantando alarmada.

— Blondie. -ele se aproximou e eu recuei para o meu quarto me assustando, o fechando na cara do loiro. Que droga é essa? Não vem caminhando para cima de mim como o Freddy Krueger!- Hum? Por que fechou a porta?

— Porque você estava aproximando a sua pessoa atentada. O que quer com essa cara assustadora que fez agora? -grunhi, cautelosa.

— Bom, Blondie, acordei porque escutei você e Rogue conversarem. Queria te avisar de uma coisa.

— Avisar? -perguntei.

— Primeiro, abra a porta.

— Não.

— Então façamos assim, abra e eu vou te contar algo interessante -chantageou ele sem pensar nem mesmo duas vezes- É sobre o Rogue.

Sobre o Rogue!?

AAAH STING! E AGORA!? Huuuumm... Eu não deveria abrir a porta... Aaah... Mas fiquei curiosa... Abro a porta? Deixo fechada? ... O que ele quer me falar...? Aaaaahgh... É O STING! NÃO DEVE ABRIR! VIU O SORRISO MALIGNO DELE! AAAH! MAS... EU QUERO SABER! ENTÃO... VAI! VOU ABRIR!

Abri a porta. Num movimento rápido, o loiro entrou, fechou a porta, me puxou e me prensou na parede carmesim. Me surpreendi, ele me encarou com um sorriso sacana, eu o encarei com cara de paisagem chocada, ainda estou tentado acompanhar o que está acontecendo.

— Não vai corar nem um pouco? -perguntou ele, aproximando os olhos azuis.

— Por que faria isso? -perguntei levantado a sobrancelha. Sting não é exatamente um cara feio, por isso fiquei meio nervosa. Mas se ele tem alguma parte atraente, está sendo completamente estragada pelo sorriso assustador dele, então o encarei desafiadora- Tô é com medo com o que está passando na sua cabeça. Seu sorriso matraqueiro não vai me fazer corar.

— Nossa, você é muito chata e nada fofa -fez beicinho decepcionado.

— Desembucha Sting, eu ainda não te empurrei pro inferno porque você disse que tem algo interessante para contar. -falei a verdade. Eu teria dado um Lucy Kick fazendo um século se não estivesse curiosa.

— Imagine que quem está te prensando é o cara dos olhos vermelhos e cabelo negro -sussurrou.

Na hora arregalei os olhos. A imagem na minha frente não era mais um loiro de olhos safira, eram duas orbes cor rubi me encarando tão de perto, com um cabelo espetado negro. AH STING! MAS QUE DROGA! AGORA DEVO ESTAR MAIS VERMELHA QUE O CABELO DA ERZA!

Ele sorriu.

— Eu vou te atacar assim mais vezes na frente do cara real, não do imaginário que você pensou agora. -Eucliffe declarou.

— O... O que... Que está aprontado? -gaguejei.

O Dragon Slayer da Luz me soltou, saltitou até o meio do meu quarto e sorriu para mim, que nem o Satanás, aprontando uma de suas pegadinhas.

— Não percebeu, Blondie!? Rogue Cheney, o cara frio e indiferente que conheço há milênios, trata uma pessoa diferente do normal além do próprio exceed, sabe quem? -ele apontou para mim, fazendo drama- Você!

— O... O quê quer dizer com isso!? -franzi as sobrancelhas.

— Exatamente o que quis dizer. -respondeu misterioso. ESSE ATENTADO! ELE ESTÁ TRAMANDO O QUÊ!?

Engoli seco.

— Por que está fazendo isso?

— Por que será muito interessante, não é todo dia que vejo o Dragon Slayer das Sombras corar. Funcionou ontem -observou ele.

AM!? CORAR!? ROGUE FICOU CORADO... C... COMIGO!? ESPERA, QUERO DIZER, JÁ TINHA REPARADO NISSO... MAS DO JEITO QUE O STING FALA... O ROGUE SÓ FICA CORADO PORQUE SOU EU!? PORQUE SOU A LUCY? QUÊ!? NÃO... CALMA... RESPIRA... AH DROGA! O CALMA E RESPIRA FORAM PARA A DIMENSÃO DO DANE-SE! MALDITO STING EUCLIFFE!!

— E ver ele ciumento deve ser a coisa mais engraçada do mundo! -sorriu mais ainda, eu o encarei perplexa.

Sting passou por mim com um grande bom humor, abriu a porta e foi para o corredor assobiando, comigo o acompanhando com os olhos. Tinha uma careta severa no meu rosto que eu mesma não desejaria ver.

... Levy-chan... Acho que a minha passagem aqui na Sabertooth vai ser muuuuito cansativa... Cuide bem do meu apartamento, tô sentindo que vou precisar dele, porque acho que não vou suportar o zumbido de uma certa abelha atentada aqui...