Esperando na ortopedia Dr. Hanataro. Esperando na ortopedia Dr. Hanataro.

Macas, pessoas, crianças, médicos, enfermeiros, maqueiros, cadeiras de rodas, interfones na maior altura e mais um monte de sons rodeavam a ruiva sentada em uma pequena e modesta sala de estar no sétimo andar.

— Como podem chamar isso de andar de repouso com todo esse barulho? — Ela falou para si esfregando as têmporas.

Kisa passou parte do dia brincando com sua raposa branca e agora a única coisa que queria fazer era dormir. Kyouraku não conseguiu fugir dos compromissos do bar, Daniel estava em uma reunião do conselho na prefeitura e Nanao iria entregar um grande trabalho na faculdade. Não sabia se teria alguma companhia está noite.

Nesse momento estava completamente sozinha consigo mesma e seus pensamentos.

Havia saído do quarto de Kisa para poder esticar as pernas, mas o tédio fez com que acabasse sentando na sala do andar. Não tinha quase ninguém ali. Os únicos movimentos eram dos parentes e das enfermeiras pelos quartos.

Deu um leve suspiro e esticou as pernas que estavam cruzadas. Fechou os olhos e deixou sua mente solta.

“O momento que por anos havia ficado gravado apenas em sua memória”

“Um beijo lento e desejado”

“Algo que poderia ter durado muito mais”

Ela deu um forte suspiro.

Inclinou o corpo para frente e pôs as duas mãos no rosto apoiado nas pernas.

Por mais três dias seguidos havia ficado naquele hospital dia e noite. As noites mal dormidas agora estavam cobrando o tempo perdido.

— Matsumoto? — Uma voz doce soou em seus ouvidos.

Devagar Rangiku ergueu o corpo.

Em sua frente estavam Toushirou e Hinamori a encarando com um olhar preocupado.

— Está tudo bem com você? — Hinamori falou colocando uma mão em seu ombro.

— Está ótimo agora! — Ela abriu um sorriso e se levantou.

— Que bom. — Hinamori também sorriu. — E como está Kisa?

— Está ótima. Irá receber alta amanhã!! — Rangiku agora estava completamente o oposto do que eles a acharam.

— Mas que noticia maravilhosa! — Hinamori falou com um ar meigo. — Eu e Toushirou viemos visita-la.

— Trouxemos presentes. — Toushirou deu um meio sorriso.

Rangiku os olhou por um momento.

— Não precisavam...

— Nós não tivemos muita chance de vê-la então é o mínimo que poderíamos fazer. — Hinamori continuava sorrindo.

— Eu também gostaria de falar com você Matsumoto. — Toushirou falou voltando a sua expressão seria de sempre.

— Algum problema?

— Não é só que... Eu me formei. — Ele falou em tom baixo.

— Toushirou... Mais que incrível! — Ela falou impressionada.

Desde pequeno Toushirou se mostrou uma criança com um grande intelecto, agora acabara de comprovar sua genialidade ao se formar na faculdade de advocacia com apenas 15 anos.

— Eu quis dar a noticia antes, mas... — Ele não teve tempo para terminar.

Rangiku pulou em cima dele lhe dando um terrível abraço de urso.

— Estou tão orgulhosa de você! — Ela o balançava de um lado para o outro. — Nem parece mais o bebê que eu trocava a frauda.

— Me largue! — Ele disse entre seus seios. — Está me fazendo passar vergonha.

Ela o soltou com um sorriso.

Hinamori ria da cena ao lado deles.

— Vamos para o quarto da Kisa. — Rangiku falou os chamando.

Toushirou andou atrás dela e de Hinamori ajeitando os cabelos, seu rosto estava um pouco vermelho com os olhares que os maqueiros estavam lhe dando.

Entraram no quarto mal iluminado onde Kisa dormia e se acomodaram no sofá.

— Vão fazer festa de formatura? — Rangiku falou cruzando as pernas.

— Sim, mas eu não pretendo ir. — Ele falou mal humorado.

— Como assim não pretende ir? — Rangiku levantou uma sobrancelha. — É a sua formatura, não vai acontecer outra como está. Você tem que aproveitar!

— Eu falei isso para ele. — Hinamori o olhou irritada.

— Por que não leva a Momo como companhia? Te deixaria mais a vontade...

Os dois assumiram um forte tom avermelhado.

— Ou talvez não né? — Rangiku falou com cara boba.

— E-eu já decidi. Não tenho a mínima vontade de ir a essa festa. — Toushirou falou ainda vermelho.

A feição de Rangiku se entristeceu.

— Sabe Toushirou, eu iria adorar se você fosse. Essas festas são sempre muito animadas e em um clima legal de despedida... Gostaria de ter participado da minha. — Ela lhe enviou um sorriso meigo.

Ele suspirou.

Rangiku havia faltado sua festa de formatura por ter sido no dia do velório de Keith. Todos sabiam disso.

— Talvez eu pense em ir. — Ele disse fechando os olhos e cruzando os braços.

O rosto de Rangiku e Momo se iluminaram.

— Serio!? — Rangiku sorriu.

— É... — Ele abriu os olhos e balançou a cabeça.

— E que dia será?

— No próximo fim de semana. — Ele disse sem empolgação.

— Teremos muito que fazer Shiro-chan. — Hinamori apontou para ele.

— Arrumar um terno bonito e bem prendado. — Rangiku pôs um dedo no queixo. — Azul marinho ou o preto clássico.

— Azul é super mais moderno Rangiku. — Momo falou.

— Eu não tenho ternos azuis. — Ele as olhou serio.

— Então não pode perder tempo! Compre um amanhã. — Rangiku balançou as mãos em sua empolgação. — Conheço umas butiques que vendem cada terno lindo.

— Talvez um terno vinho não caia muito mal. — Momo continuava perdida em pensamentos.

— Não, não. Iria ser muito extravagante... O terno deve combinar com a roupa da parceira. — Rangiku disse pensativa. — Com quem você irá Shiro-chan?

— Eu sei! — Hinamori sorriu brincalhona. — Com Kurosaki Karin...

— Hinamori!

— Sim, sim. A Karin não iria ficar muito bem de vinho. Talvez um azul cobalto combinasse melhor. — Rangiku continuou imaginando as roupas.

— Matsumoto!! — Ele exclamou.

As duas começaram rir.

— É talvez a Karin não queira ir. Quem sai com um garoto tão estressado. — Rangiku falou cruzando os braços e balançando a cabeça.

— Arrr — Toushirou se levantou do sofá e saiu do quarto como uma criança birrona.

As duas continuaram a rir.

— Ele me mata. — Rangiku disse enxugando uma lagrima que desceu de seus olhos.

Hinamori recuperou o fôlego.

— Rangiku. — Ela a chamou. — Está tudo bem com você?

A ruiva a olhou por um momento.

— Sim... Por que a pergunta?

— Bem, ouvi no bar que você estava... Triste. — Hinamori parecia escolher as palavras. — Agora não, mas quando cheguei também achei isso.

Ela deu um sorriso amarelo.

— Está tudo bem comigo Momo. É só que... — Ela pôs uma das mãos no pescoço. — Ando muito cansada.

— Também notei isso. — A menina a olhou seria. — Você não quer ir em casa descansar?

— Não precisa, eu estou super disposta. — Ela falou batendo uma das mãos no peito.

— Rangiku... — Hinamori levantou uma das sobrancelhas.

— É sério.

— Prometi a Nanao que viria e cuidaria de você. E é isso que vou fazer. — Momo falou sorrindo.

— Ah! Mas eu sabia que tinha dedo nela nessa historia.

— Ela pediu que convencesse você a ir descansar um pouco. — Hinamori a agarrou pelo pulso e a fez se levantar.

— Eu não preciso ir para casa. Kisa receberá alta amanhã esqueceu? — Rangiku fez corpo mole.

— Vá apenas para tomar um banho e relaxar. — A menina a empurrou até a porta do quarto. — Cuidarei de Kisa até você voltar.

— Momo. — Rangiku implorou.

— Vá! Não poderá cuidar da Kisa se estiver mais indisposta que ela.

Rangiku pensou por um momento e deu um suspiro em derrota.

— Tudo bem.

— Ótimo!! — A menina comemorou. — Tome um banho e coma uma comida de verdade. Eu e Toushirou cuidaremos da Kisa.

— Me ligue caso aconteça algo ok?

— Ok.

Rangiku voltou até a poltrona ao lado da cama e pegou sua bolsa. Deu um beijo na testa de Kisa e saiu do quarto.

Se deparou com Toushirou encostado na parede ao lado da porta de cara emburrada.

— Ainda está zangado? — Ela falou sorrindo.

Ele não respondeu.

— Olha eu sempre soube que você era afim da Karin. Não tem problema que...

— Eu e ela somos apenas amigos. — Ele ficou ereto. — Não há nada entre nós a não ser amizade.

— Amigos também podem sair juntos a uma festa Toushirou. — Ela cruzou os braços.

— Mas... — Ele desviou o olhar. — Não é com ela que eu gostaria de ir.

Rangiku fez uma expressão surpresa.

— Então com quem?

— Com a Hinamori. — Ele disse em tom baixo.

Rangiku abriu a boca em forma de ‘Oh’, mas nenhum som saiu.

— Não conte para ela! — Ele parecia um pouco rubro.

— Tudo bem. — Ela olhou para o lado. — Sabe a Momo é uma garota legal. Se você a chamar ela com certeza não irá negar.

— E pra que? Ela cuidar de mim como se fosse seu irmão caçula? Tck, prefiro ficar em casa. — Ele cruzou novamente os braços.

— Toushirou... — Rangiku não terminou o que ia falar por conta da abrupta abertura da porta.

— Shiro-chan! Eu já ia ir te procurar. — Hinamori falou sorrindo. — Fique aqui comigo enquanto Rangiku vai em casa.

A menina saiu e o segurou pelo braço.

— Hinamori! — Ele tentou se soltar.

— Pode ir Ran. Ate mais!! — Ela o puxou para dentro do quarto e encostou a porta.

Rangiku suspirou com a situação e seguiu seu caminho.

O modo de Hinamori ver Toushirou dificilmente seria mudado. Eram amigos de infância e ela sempre o tratou como o irmão mais novo que nunca teve. Em algum ponto nos anos Toushirou deve ter começado a vê-la mais do que isso. Deve ser difícil lidar com uma situação assim.

Ela entrou no elevador discando o numero do ponto de taxi que costumava usar. Seu carro estaria lhe esperando na porta do hospital.

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Desceu na frente do prédio.

Essa hora a correria diária já teria diminuído. Todos agora preparavam seus jantares e suas camas para dormir.

Amanhã estarei fazendo isso com Kisa.

Ela andou rapidamente até o elevador do saguão. Temia que seus vizinhos xeretas viessem, como sempre, para atrapalhar sua rápida ida em casa.

Uma estranha lembrança surgiu em sua mente assim que as portas se fecharam.


/// Flash Back ///


Um longo minuto havia passado dentro do elevador que hoje mais parecia uma tartaruga para descer apenas dois andares.

Sentia todas as forças do seu corpo serem sugadas para fora de si.

Respire, apenas não se esqueça de respirar.

Ele estava ali. Parado, apenas assistindo o que sua simples presença faz com seu corpo. O que vai acontecer quando ele começar a falar...

Deu um passo para trás e encostou as costas no aço frio do elevador. Isso era ruim, não podia se deixar encurralar. Suspirou o mais leve possível e olhou ainda surpresa para o rosto que tanto ansiou em ver... Por um tempo.

— O que você está fazendo aqui?

/// Fim do Flash Back ///


Com um leve balançar de cabeça espantou os pensamentos.

As portas se abriram e ela saiu do elevador dando passagem para um de seus vizinhos.

Andando a passos lentos ela chegou em sua porta e entrou no apartamento. Respirou fundo o cheiro de suas coisas, tudo andava tão vago em sua mente. Jogou sua bolsa no sofá e foi direto para o quarto.

Assim que entrou tropeçou e caiu.

— Mais que inferno! — Ela olhou para seus pés que estavam enrolados.

Puxou o tecido fino que os envolvia e constatou que era sua camisola de linho.

— Ah... — Ela fitou o curto vestido em sua mão.


/// Flash Back ///

— Você era meu tudo Gin... Era tudo que eu tinha e tudo o que eu sempre quis ter... Mas você foi embora. — Ela falava baixo enquanto as lagrimas insistiam em cair de seus olhos. — Você mentiu pra mim...

— Eu voltei. — Ele atravessou o beiral da porta e se aproximou dela, se aproximou muito.

— Por quanto tempo? — Ela ainda não acreditava.

— Pelo tempo que você me permitir. — Ele a olhava intensamente.

Ela fechou os olhos e enxugou o rosto.

— Gin... Parece que esperei uma eternidade para ouvir isso. — Ela começou seria. — Mais agora.

— Eu voltei porque eu quero começar de novo.

— Começar de novo? — Ela deu um passo para trás. — Não dá pra começar novamente algo que nunca existiu... Por muito tempo eu quis você e quando você morreu... — Ela fez uma pausa abrupta. — Quando você fingiu que morreu! Eu percebi... Que nunca poderia perder algo que nunca me pertenceu. — Ela o olhava com os olhos brilhando.

/// Fim do Flash Back ///


Ela sentiu seus olhos lacrimejarem.

— Ah Rangiku! — Ela passou a mão na testa.

Se levantou com e jogou a camisola na cama. Foi ao banheiro e lavou o rosto com a água fria da torneira.

Olhou se no espelho com o rosto molhado e a respiração estranhamente ofegante.

Fechou os olhos por alguns segundos e...

“Me dê só mais uma chance... De mostrar que realmente quero mudar.”

Abriu os olhos e assistiu as gotas de água escorrerem pelo pescoço e acertarem o pingente de seu cordão. Seu cordão favorito.

— Gin. — Ela sussurrou.

Olhando para cima fitou o teto, ou o chão da casa do dono de seus pensamentos.

“Rangiku... Por várias vezes eu fiz a coisa errada, agora eu quero fazer tudo do jeito certo... Para ficar com você.”

— Gin... — Ela disse agora sorrindo.

Com uma passada rápida de mão no cabelo saiu do banheiro.

Enquanto cruzava o ambiente com passos rápidos ajeitou a roupa.

Vença o orgulho, vença!

Ela saiu e fechou a porta atrás de si.

Ele disse que quer ficar. Ele vai ficar!!

Ela apertou ainda mais o passo e ansiosamente esperou o elevador. As portas se abriram e ela entrou.

Olhando se no espelho continuou a arrumar o cabelo que não era penteado nos últimos três dias.

É só falar... Ele está com ciúmes, isso é simples de se tratar.

Ela pensou se olhando com uma cara de sapeca.

As portas se abriram novamente, ergueu o corpo para frente e caminhou lentamente até a porta de Gin.

Com um suspiro forte e um sorriso triunfante ela levantou a mão para bater na porta.

Sua mão abaixou, mas ao invés de encontrar madeira, encontrou o ar. E seus olhos não viram o homem de seu mundo sorrir, mas sim puxar uma mala de rodinhas para fora de sua porta..

— Rangiku? — Ele disse surpreso.

Ela o olhou dos pés a cabeça sem mais sorrir.

Estava com uma calça jeans preta e uma blusa de tom azul escuro. Usava por cima um sobretudo cinza e azul marinho com gola alta.

— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou a encarando.

Ela não respondeu, apenas passou a fitar a mala.

— Rangiku? — Gin a chamou novamente, agora assistindo seus olhos se encherem de lagrimas. — Ran.

— Você vai embora. — Ela disse em um tom sufocado.

— Eu... Eu tenho que fazer isso. Entenda por favor.

— Você prometeu. — As palavras saíram com um soluço forte.

— Têm policiais sabendo da minha localização. Sabe o que isso significa?

— Você prometeu. — Ela balançou a cabeça em negação. — Você mentiu!

— Eu não sabia que isso iria acontecer. Não pude evitar.

— Você mentiu pra mim. Mentiu de novo! — Sua voz soava embargada de tristeza e decepção. — Não sei como pude acreditar que você poderia querer mudar de verdade.

— Eu quero. — Ele falou ríspido. — Mas o que quer que eu faça? Fique e deixe com que eles me levem?

— Não! Quero que você fique e cumpra pelo menos uma vez com sua palavra. — Ela falou se exaltando.

— Está brincando? — Ele levantou uma sobrancelha. — Você quer me ver preso?

— Não! — Ela passou a mão nos cabelos.

— Então me deixe ir. Eles podem chegar a qualquer momento. — As palavras saíram carregadas de frieza.

Os olhos de Rangiku brilhavam com lagrimas não derramadas. Seu sorriso antes triunfante, agora se transformou em uma feição de desolação.

— Você bateu de madrugada na minha porta pedindo para entrar e agora vai ir assim? Você falou que queria uma vida diferente e agora vai voltar a fugir? — Ela o olhou com desprezo. — Eu vejo o quão longe você está do homem pelo qual me apaixonei. Agora não passa de um covarde!

— Como é? — Ele agarrou seu braço e a puxou para próximo de si.

— Covarde! Não passa de um covarde! — Ela falou fitando o fundo de seus olhos abertos.

— Olha como fala. — Ele a alertou.

— Por quê? Porque você não é... Ha-ha eu duvido! Você vai continuar fugindo e perambulando tentando escapar do mal que você mesmo cultivou.

— O que você quer!? — Seus olhos azuis claríssimos brilhavam em profunda fúria. — Que me entregue e apodreça trancafiado? É isso que você quer pra mim Rangiku?

— Eu quero que você pare com isso! — Uma lagrima enfim caiu de seus olhos. — Eu quero que você tenha a chance de realmente mudar...

Sua feição suavizou.

— Não dá... — Ele olhou para o chão.

— Sim. — Ela segurou seu rosto e o fez fita-la. — Eu posso te ajudar. Conheço muita gente, posso conseguir uma diminuição de pena, regime aberto, trabalho comunitário, qualquer coisa. — Ela soou desesperada. — Tudo! Tudo para que fique ao meu lado...

Gin a encarou por alguns instantes e depois balançou a cabeça em negação.

— Eu sinto muito Rangiku. — Ele sussurrou.

Ela soltou outro forte soluço.

— Tá. — Ela se separou dele. — Tudo bem... Eu sei que isso é pedir de mais. — Ela enxugou as lagrimas.

Gin não falou nada apenas desviou o olhar.

— Eu só peço que não me procure mais. — Ela o encarou. — Peço que por favor. — Ela fechou os olhos. — Por favor não volte! Que deixe com que leve minha vida do jeito que ela deve ser. Quero que não traga mais para meu caminho essa sombra de dor que te acompanha... Por favor Gin. Não volte nunca mais. — Ela deu alguns passos para trás ainda o olhando. — Não volte.

Depois de alguns segundos se virou e foi em direção ao elevador.

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Gin ficou mais um tempo em sua porta olhando o caminho que a ruiva havia tomado.

Mudar de vida não é tão fácil quanto pode parecer, ainda mais se você é um narcotraficante gângster fichado na policia. Ai sim as coisas ficam muito mais difíceis.

Ele entrou novamente para dentro do apartamento onde praticamente todas as suas coisas já estavam guardadas.

Comprou uma passagem de avião pelo telefone, amanhã estaria na casa de Urahara fumando e tentando entender o que deu errado. Um taxi também estaria o esperando na frente do prédio daqui a quinze minutos. Tempo suficiente para por tudo no lugar e pensar no que essa terrível mulher lhe falou.

Louca. Só pode estar louca!

Ele começou a queimar alguns documentos falsos que estava usando.

Me entregar... Ficar preso pelos próximos anos da minha vida? Ela deve ter realmente deixado de me amar. Onde mais pensaria em algo assim?

Ou então ela estivesse razão e ele não passasse de um grande covarde. Que tinha medo de pagar pelos crimes que cometeu.

Gin suspirou.

Eu não sou covarde! Que homem iria deixar se ser trancafiado? Hump um idiota!

Ele olhou em volta. Suas coisas guardadas, prontas para embarcar em mais uma eletrizante fuga para outro país e outra cultura. Tudo para fugir de uma prisão.

Mas enfim, ele não pode estar com a mulher que ama, não pode andar na rua como uma pessoa qualquer, não pode fazer amigos de verdade, não pode ter uma casa, um emprego e a família que nunca pode ter. Enfim... Onde é mesmo a prisão?

O interfone da sala tocou.

Com certo cuidado o atendeu.

— Seu taxi lhe espera senhor Ichimaru. — A recepcionista falou com voz gentil.

Era a hora.

Pegou suas duas malas de rodas e sua mochila e as levou até o quarto.

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Desceu de elevador com seu costumeiro sorriso. Passou pelo terceiro andar sentindo o coração na mão. Chegou ao saguão e caminhou lentamente até seu taxi atraindo a atenção das poucas pessoas em volta.

— Pra onde senhor? — O taxista falou o olhando pelo retrovisor.

Ele lhe enviou um largo sorriso para o homem da frente que simplesmente acelerou o carro.


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— Ichimaru Gin é seu nome. Mora em um dos apartamentos do prédio muito conhecido como Das Flores no centro. — Rose falou alto para o grupo de homens que estavam do lado de fora da delegacia. — Ele é um homem de grande inteligência e não deve ser subestimado.

— Acha que ele estará com armas delegado? — Um dos homens fardados perguntou.

— Esperaremos tudo. — Rose falou sem muita emoção. — Vamos.

Todos entraram em um carro grande da policia. Se ajeitaram nos seus devidos lugares, arrumaram as munições e estavam prontos para o que viesse.

Rose estava sentado na frente ao lado do motorista segurando em sua mão o mandado de prisão e de busca e apreensão no prédio. Era só aguardar e ver o que aconteceria.

O carro começou a andar. Estavam saindo do pequeno estacionamento em frente a delegacia quando foram fechados por um carro que estava entrando.

— Quê isso!? — O motorista falou buzinando pedindo passagem.

Era um taxi.

— Entra pela direita. — Rose apontou.

Foi quando a porta do carro da frente se abriu.

Todos os policiais ficaram em alerta pelo que iria vir a acontecer. Rose observou com uma sobrancelha levantada.

Então saiu ele. Alto, pálido e com cara de raposa... Ichimaru Gin.

— É ele! — Rose falou abrindo a porta do carro e saindo.

Os outros repetiram a ação.

— Mãos na cabeça, mãos na cabeça! — Rose falou para Gin que ainda sorria.

— Tudo bem, tudo bem... — Gin fez como dito e se apoiou no carro para ser revistado.

— Você sabe do que está sendo acusado? — Rose falou apontando para ele uma arma.

— Talvez... Trafico? — Gin falou olhando para cima.

— Tá limpo delegado. — O homem que o revistava falou ao terminar. — Algema?

Rose o olhou por alguns segundos.

— Veio se entregar não é garoto? — O homem loiro perguntou.

Gin levantou uma sobrancelha.

— Acho que é o que parece não?

— Tck não precisam de algemas. Levem o lá para dentro. — Rose falou acenando com a cabeça.

— Sim senhor. — Os homens disseram e acompanharam Gin até a delegacia.

— Ah... Eu achei que ia ser mais... Emocionante sabe. — Ele murmurou para um policial que estava ao seu lado. — Pensei que iam pular em cima de mim com socos e chutes gritando os meus direitos.

— Me desculpe. Mas não somos esse tipo de policiais. — O homem falou firme.

— Serio?

— Sim... Vamos fazer isso quando não houver testemunhas. — O cara falou sombriamente abrindo a porta para Gin entrar.

O sorriso da raposa não vacilou um só segundo, ao contrário, só se aumentou mais.


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Rangiku estava sentada em sua cama.

Já havia tomado um banho quente, trocado de roupa, penteado os cabelos e agora estava olhando para o nada de seu quarto a mais de quinze minutos.

Ela deu um suspiro forte e cruzou os braços.

Pensava em tantas coisas ao mesmo tempo em que não conseguia se focar em algo a não ser a bagunça que sua cabeça estava.

Da sala veio então o som de uma musica eletrônica alta. Era o seu celular.

Ela foi até ele e viu no identificador que se tratava de Momo.


— O que houve?

— Rangiku! Acho que é melhor você vir aqui.

— Aconteceu algo com a Kisa!?

— Não. Kisa está bem, é só que...

— O que!?

— Tem uma mulher aqui...

— Que mulher?

— Eu não sei! Nunca a vi, é alta e morena. Entrou no quarto da Kisa e disse que não vai sair até falar com você.

— Ela está sozinha com a minha filha!?

— Não, Toushirou está com elas. Venha depressa!

— Já estou indo.


Ela desligou o celular e o enfiou dentro da bolsa que costumava usar.

Quem é essa mulher?

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Chegou no hospital em menos de vinte minutos e subiu direto para o sétimo andar.

Caminhou com pressa até o quarto de Kisa e sentiu a ânsia aumentar ao se posicionar na frente da porta.

Abriu a porta abruptamente e encontrou uma estranha cena.

Toushirou estava sentado no sofá e Hinamori de pé na frente da cama olhando uma mulher magra de longos cabelos negros acariciar carinhosamente o rosto de Kisa que dormia em um profundo sono.

Assim que entrou a mulher olhou para Rangiku com uma expressão arrogante.

— Você é Matsumoto Rangiku? — Ela falou a olhando de cima a abaixo.

A ruiva pôs uma das mãos na cintura e disse:

— Sim, e você? Quem é? E por que está aqui incomodando o descanso da menina?

A mulher se pôs de pé e arrumou a bolsa D&G que estava em seu ombro.

— Me chamo Sohma Kiara e vim aqui reclamar algo que me pertence. — Sua voz soava carregada de veneno.

— E o que te pertence aqui? — Rangiku falou firme.

— Kisa!

— O que!? — Rangiku falou confusa.

— Eu vim aqui reclamar os direitos que tenho sobre a criança que eu pus nesse mundo!

Rangiku arregalou os olhos ao perceber de quem realmente se tratava.

— Você! Você é a...

— Mãe da Kisa!


–-CONTINUA--

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.