Caleidoscópio

Nikko!! Nikko!!


Os três ficaram ali o que pareceu um século, ninguém saia para dar noticias e quando saiam era para falar com outras famílias que ali estavam. Kisa estava brincando com uma mexa do cabelo de Rangiku, enquanto ela dava água na mamadeira para ela. Ilda estava rodando em círculos e uma vez ou outra ia até algumas pessoas que foram atendidas antes da Mila e perguntava algo.

— Detesto ficar sem noticias assim. — Rangiku falou com Koketsu que havia acabado de voltar do banheiro.

— Sim é realmente horrível. — Koketsu disse se sentando.

— Por favor, você pode pegar ela um pouquinho? Eu preciso achar um orelhão para ligar para o meu trabalho e avisar que vou me atrasar. Você sabe onde tem um?

— Ah bem eu só vi um lá na entrada. Me dá ela e você vai lá.

Ela foi até o elevador, estavam no terceiro andar e depois de passar a ultima hora com uma menina inquieta no colo, não daria para descer tudo de escadas.

Se eu tiver sorte ela vai ter pegado todo mundo e o bar já deve estar brilhando... Ou não.

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Em um hotel qualquer em Karakura, o homem alto estava deitado na cama. De bruços ele ficava apenas olhando uma imagem em seu celular, a única que se permitia ter de Rangiku.

Estavam perto de uma cachoeira, ela tinha no máximo seus 18 anos na foto e estava testando a água com os pés, de biquíni vermelho bem enfeitado olhava para a câmera com os olhos brincalhões. Ele se lembra que foi pouco antes dele decidir viajar para encontrar Aizen, o grande chefe da máfia do Japão. Ficaram na cachoeira a manhã toda e depois fizeram um piquenique, não era uma data especial, só queriam fazer algo juntos como era quando eram crianças.

Ao olhar para a foto há algumas semanas, ele realmente quis aquilo novamente, a sensação de ter uma pessoa que você realmente goste por perto. Mas já era tarde de mais, ele percebeu isso ontem, mesmo que no fundo soubesse a resposta dela, uma coisa nele quis que ela deixasse tudo para ficar com ele, só ele. Como era antes. Quando ela não pensaria duas vezes quando ele chamava ela para matar aula e ir para qualquer canto onde eles pudessem fazer coisas que normalmente não dá para fazer na frente dos outros.

Um leve sorriso brotou de seus lábios, mas logo desapareceu.

Ocorreu que talvez ele não conseguisse deixar tudo por ela, mesmo que fugissem correriam vários riscos, que ele não queria que ela corresse. Mas então o que fazer?

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— Rangiku acha que vai demorar muito para terem notícias? — Nanao falou do outro lado do telefone.

— Já tem quase 1 hora que estamos aqui se tivesse acontecido algo ruim já teriam dito. Daqui a pouco eles vão dizer o que ela teve. Eu não sei o que vai acontecer com a bebê, mas é bem provável que a menina fique com a Koketsu. — Na hora que falou isso Rangiku se lembrou do que Nikkei havia dito. — Não espera, eu acho que a menina tem um pai.

— Pai? — Nanao falou. — Bem claro que ela não podia ser filha desses idosos.

— Claro quem pensaria em algo assim? Bem eu vou subir e ver se tem noticias, se não tiver eu faço algum escândalo para acelerar o processo.

— Tá bom... Só não seja presa.

— Pode deixar. — Rangiku disse sorrindo.

Ao por o telefone no gancho Rangiku voltou até onde ficava o elevador, subiu sozinha e quando a porta do elevador abriu ela teve uma surpresa.

— Matsumoto eles falaram que a minha Mila vai ficar bem só vai ter que passar a noite em observação. — Ilda falou sorrindo e entrando no elevador com dela.

— Sim senhor Nikkei é realmente uma boa noticia.

Rangiku viu Koketsu entrar, mas se surpreendeu ao não ver Kisa em seu colo.

— Koketsu cadê a Kisa? — Rangiku falou dando um passo fora do elevador, ao sair se deparou com Kisa no colo de um homem jovem.

— Ah! Matsumoto esse é Keith Kikuchi, ele é o pai da Kisa.

O homem entrou no elevador e Kisa dava leves gargalhadas em seu colo.

— Prazer, Ilda me falou o que você fez, obrigada por cuidar da Kisa. — O homem era alto, loiro e tinha olhos extremamente verdes parecidos com o de Kisa, a menina segurava uma das orelhas dele com seu sorriso desdentado completamente aberto.

— Não foi nada. Kisa é uma ótima menina, nem deu trabalho.

Todos desceram, Ilda falava a cada segundo que não esperava a hora de ver a sua Mila de volta em casa. Koketsu dizia que iria ficar com ele durante a noite esperando Mila sair e Keith... Bem ele estava alheio ao assunto sua atenção estava completamente direcionada a menina em seus braços que fazia graça para ele. Rangiku observava aquilo com certa admiração, nunca tinha visto um pai olhar assim para uma filha em nenhuma das casas que esteve. Keith olhou para Rangiku e deu um sorriso, ela corou levemente, não só porque ele era muito bonito, mas pela simpatia que ele tinha.

Eles saíram do elevador e Ilda foi com eles até a saída do hospital insistia para Koketsu ir para casa, mas ela disse que ficaria para ele ter quem ajudar na hora de levar Mila para casa.

— Bem Koketsu eu venho aqui pegar a Mila de manhã, se você quiser pode ir. — Keith falou ajeitando a menina no colo.

— Não Keith vou ficar de companhia também. Ah! Mas a Matsumoto vai precisar de alguém para levá-la para casa. — Rangiku olhou para os dois que estavam olhando para ela em silêncio.

— Bem não precisa eu posso voltar de ônibus.

— Que isso é o mínimo que eu posso fazer. — Keith disse sorrindo.

— Então ok.

Eles se despediram e foram até a garagem do hospital. Rangiku foi em silêncio e ouvia Keith falar coisas bobas para Kisa, típico de pai de primeira viajem, tudo o que ele falava Kisa respondia com uma gargalhada.

— Aquele é o carro. — Ele falou e Rangiku olhou para um Fiat vinho velho que estava lá.

— O vinho?

— Não o prata. — Ele falou indo para o carro ao lado do vinho, era um Uno incrivelmente brilhante. Rangiku parou no lugar onde estava e pensou:

Ele é rico!!

Keith abriu o carro e pôs Kisa em uma cadeirinha de Bebê que estava no banco de trás.

— Não vai entrar?

— Sim. — Rangiku se sentiu um pouco desconfortável, mas entrou no carro assim mesmo.

— Obrigada por ter ajudado os Nikkei, eu devia ter visto que a Mila não estava bem quando deixei a Kisa lá. — Keith tentou quebrar o silêncio.

— Não foi nada, qualquer um faria isso.

— Bem, acho que o que você fez não é tão para qualquer um.

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— Onde você está Ichimaru?

— Estou passando por Kyoto. — Gin disse enquanto acendia outro cigarro na sacada do prédio.

— Sabe que Aizen-sama quer você aqui o mais rápido possível. — A voz falava aos berros.

— Calma Grimmjow eu já disse que estou a caminho. — Gin sorriu quando imaginava ele chegando lá apenas no outro dia e Aizen brigando com Grimmjow por não ter ligado para ele. Claro que ele não ajudaria o nervosinho que, com certeza, iria xingar céus e terra quando ele negasse a ligação.

— É melhor vir logo. — Grimmjow desligou.

— Ah! Você vai merecer seu... — Uma batida forte na porta fez Gin voltar para dentro do quarto.

— Quem é? — Ele perguntou puxando a arma que estava debaixo do seu travesseiro.

Ninguém respondeu. Gin ficou mais ansioso, foi até a porta e pôs a arma na cintura com a blusa preta que usava por cima.

Ao abrir a porta Gin viu o homem de chapéu listrado sorrir.

— Ichimaru!! Por onde você estava todo esse tempo?

— Não imaginava que você viria até aqui apenas para me ver. Urahara.

— Você sabe que não é isso.

— Serio? Então veio pelo o que? — Gin falou fingindo confusão.

— Soube que pediram um novo carregamento de armas para Kushiro, achei que elas estariam com você agora. — Urahara falou coçando a cabeça.

Gin suspirou.

— Aizen disse que o carregamento que vem para cá só chega na semana que vem. Vai ter que esperar mais.

— Sério? Então por que você está aqui agora. — Urahara falou sentando em uma cadeira.

Gin deu um sorriso, Urahara sabia por que ele estava lá, mas claro que ele queria ouvir ele dizer.

— Apenas passando o tempo. Sabe que Aizen detesta esperar, por que não lhe torturar um pouco. — Gin pegou um cigarro e deu para Urahara que acendeu com seu próprio isqueiro.

— Por um momento achei que veio para ver a menina. — Urahara falou soltando a fumaça.

Gin ficou em silêncio sorrindo. Urahara também sorriu.

— Eu te disse que ela estava bem da ultima vez que falei com você, para falar a verdade ela não está muito ativa ultimamente, só o que faz é ficar no bar.

— Só queria ter certeza.

— Está preocupado de ela estar com outro?

O sorriso de Gin aumentou. Claro que não estava preocupado com isso, Urahara só queria ver sua reação.

— Bem você sabe como eu sou compreensível, se ela um dia achar outro...

— Você mata ele. — Urahara interrompeu sorrindo tanto quanto Gin.

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— Bem é aqui que eu moro. — Ragiku falou meio sem jeito apontando para o bar.

— Parece divertido. — Keith falou sorrindo.

Kisa havia dormido no caminho enquanto os dois conversaram. Eles falaram sobre Kisa e sobre o casal Nikkei.

Keith disse que Mila tinha sido babá dele quando ele era pequeno e o marido era um dos motoristas da mãe. Rangiku notou que o tempo todo, quando ele falava do casal ele não parecia estar falando de empregados, mas sim de amigos que, com certeza, eram importantes para ele. A conversa foi boa até que Rangiku perguntou sobre a mãe de Kisa. Keith ficou quieto um tempo e depois mudou de assunto, o que deixou Rangiku um tanto curiosa.

— Bem foi um prazer conhecer você. — Rangiku disse já fora do carro.

— Digo o mesmo. Até Matsumoto.

— Até. Tchau, tchau Kisa. — Rangiku falou sussurrando para a menina dormindo.

Rangiku viu o carro virar a esquina e desaparecer. Ao entrar no bar constatou que tudo estava já arrumado. Não tinha ninguém avista.

Então ela foi até a escada e subiu em silêncio, já era quase quatro e meia da tarde e ela tinha lembrado que não comeu nada além do café com torta na lanchonete. Foi até a sua pequena cozinha onde ela lembrava que tinha alguns biscoitos, deitou na cama e começou a ver TV. Tinha ficado tão atarantada com tudo o que aconteceu que acabou esquecendo que estava triste. Pensou um pouco e decidiu que não ia dar tempo para que a tristeza voltasse.

Desligou a TV e guardou o resto do biscoito. Saiu do quarto e foi pelo corredor que dava acesso aos outros quartos. Viu que Renji estava ouvindo alguns CDs do metálica que ele tinha, o som não estava tão alto já que nem todos ali gostavam da musica, mas dava para ouvir a batida da musica que era forte. Ela passou pelo quarto da Hinamori e pensou que com certeza estava com Toushirou. Depois do quarto deles vinha o quarto da Nanao.

Ela deu duas batidas. Nanao abriu e Rangiku viu algo raro.

— Nanao!! Cadê o Kyoraku para te ver assim?

Nanao corou e tentou tampar um pouco do corpo que estava quase todo à mostra com um short curto jeans e um top preto que ela estava usando por baixo de uma blusa branca transparente com os botões abertos.

— Pare de graça Rangiku e entre logo.

Rangiku entrou e sentou no sofá rosa da amiga. O quarto de Nanao era maior que o dela, claro que Kyoraku não tinha preferencia (ele tinha), era só que Nanao morava lá muito antes de Rangiku e quando ela foi para lá, o único quarto que estava disponível era um que ficava no terceiro andar e tinha o tamanho do banheiro do bar. Para não ter que ficar lá Nanao a deixou dormir no quarto dela por um tempo, isso fez as duas começarem uma linda amizade que dura até hoje. Quando o seu quarto atual ficou vago ela decidiu mudar para não dar trabalho a amiga que realmente não se importava com isso.

— A moça está melhor? — Nanao disse pegando duas latas de refrigerantes.

— Sim depois da hora que eu liguei pra cá eles deram a noticia. Parece que ela teve um principio de enfarte, ficou no hospital de observação.

— E a menina?

— Você nem acredita! Quando eu subi ela estava no colo do pai gostoso dela. — Rangiku disse pondo os pés em cima do sofá.

— Rangiku! — Nanao falou ajeitando os óculos.

Rangiku então começou a rir.

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— Então quando você vai embora? — Urahara disse bebendo um pouco do saque em seu copo.

— Meu voo sai ás 9. — Gin disse fechando uma mala.

— Então é melhor eu ir. — Dizendo isso ele levantou e apagou o cigarro em um cinzeiro que tinha lá.

Quando Urahara chegou à porta Gin disse:

— Continue de olho nela. Qualquer coisa que acontecer, eu quero saber.

— Não se preocupe com isso, eu te pus nisso, o máximo que faço é cuidar da namoradinha. Mas também não se esqueça. — Urahara abriu a porta. — Você tem que fazer tudo o que combinamos.

Gin parou de sorrir por um momento.

— Eu sei.

Depois disso Urahara saiu e Gin ficou sozinho no quarto. Ele deitou na cama e fechou os olhos, por um momento ele queria que Rangiku tivesse dito que ficava com ele. Pegou o celular e viu a foto dela de novo na tela.

— Por você...