Passarinhos cantavam e as flores no jardim se mostravam cada vez mais bonitas.

— Rangiku você viu o estado das flores lá fora? — A mulher gritou olhando da janela.

— Sim... Estão lindas não é? — Ela se aproximou por traz e se apoiou no ombro da mulher para olhar. — Acredita que ontem a Kisa estava arrancando algumas e pondo na boca?

— Hahaha Não brinca? — A mulher riu.

— Pois é... Agora ela tá nessa fase de por tudo que vê na boca. Está terrível. — Rangiku se apoiou na pia.

— Você tem é que curtir... Daqui a pouco ela cresce e fica que nem meu filho, levado e respondão. — Lira balançou a colher de pau na mão.

— Mais do que ela já é? Deus! Vai por fogo nessa casa.

As duas começaram a gargalhar.

Pequenos passos foram ouvidos e do corredor surgiu Kisa de pijama e com os cabelos para cima.

— Olha só ela acordou. — Lira pegou a menina nos braços. — Hun!! Coisa fofa.

— Ah! Lira da licença que é minha né! — Rangiku tentou puxar a menina, mas lira começou a correr com ela em volta da mesa.

— Não, não Você já fica tempo de mais com ela Rangiku... Não, não!

Ela então começou a fazer biquinho.

— Então você prefere ela Kisa? — Ela fingiu estar magoada.

— Eu quero a Ran!! — A menina gritou.

— Eba!!

— Ah! Então você não gosta mais de mim? — Agora foi Lira que fingiu.

— Eu quero ficar com a Lira. — A menina se agarrou no pescoço dela.

— Ei! Mas e eu? — Rangiku falou.

— Hum... — A menina estava confusa. — Eu quero o papai!

Keith então entrou na cozinha ainda com a roupa em que dormiu. Estava com olheiras e o cabelo ainda emaranhado.

— Bom dia. — Ele disse baixo e sentou-se à mesa tirando as esperanças de Kisa de ser feita de aviãozinho por ele.

— Nossa Keith! Que cara é essa? — Rangiku falou.

— A única que eu tenho. — Ele sorriu irônico. — Vem cá filha, fica no colo do papai.

— Você está se sentindo bem menino? — Lira entregou Kisa e pôs uma mão na testa dele. — Está meio quente.

— Não é nada... Só não dormi direito.

— Estava com aquela dor novamente? — Rangiku se sentou ao seu lado. — Eu não te falei para me acordar quando isso acontecer?

— Você tem que ir a um medico. Essas coisas de enxaqueca nunca são bom sinal Keith.

— Eu estou bem... Só que com o final de ano o escritório fica ainda mais agitado do que já é... Estou muito cansado.

— Mesmo assim... Vou ligar para o seu medico e marcarei uma consulta para você. — Rangiku falou se levantando. — É melhor prevenir do que remediar.

— Está bem, mas depois liga para o aeroporto, por favor... — Ele falou por cima do ombro enquanto ela ia para a sala.

— Aeroporto? — Lira disse.

— Aeroporto? — Rangiku voltou.

— Aelopoto? — Kisa repetiu.

— Sim... Estou planejando fazer uma viagem... — Ele olhou como se não fosse nada.

— Mas pra onde? Quando? — Lira disse.

— Posso ir? — Rangiku se animou.

— Haha Sabia que ia gostar... Estou pensando em tirar umas férias em janeiro no litoral.

— Que ótimo!! — Lira Disse.

— Sim. As aulas na faculdade só começaram no final de fevereiro, então vamos ter bastante tempo para aproveitar.

— Então eu vou poder ir mesmo? — Rangiku falou.

— Claro que sim, não teria graça sem você...

— Então já que estou sendo excluída do programa vou ir visitar minha mãe mesmo... — Lira sorriu sarcástica.

— Ah! Lira você me disse que ia mesmo... Foi por isso que tive a ideia.

— Eu sei garoto quero mais é que vocês se divirtam...

— E quando nós iremos Keith?

— Vou avisar lá no escritório e até semana que vem já quero estar lá.

— Keith espero que não esteja usando essa viajem como desculpa para não ir ai medico. — A mulher mais velha se virou e voltou a mexer na panela.

— Mas é claro que não... — Ele pegou um pão e partiu para ele e Kisa. — Só acho que tudo isso é stress.

— Hupf! 20 anos e com stress, por favor, Keith.

— Ouvi dizer que esse é o mal do século Lira. — Rangiku também se sentou. — Mas mesmo assim... — Ela se virou para Keith. — Irei falar com seu medico.

— Ai,ai...

— Não vai ser nada... Ele ira lhe receitar remédios e você vai parar de sentir essa dor. Pare de ser tão orgulhoso!

— Não é orgulho é só...

— É só nada Keith. Rangiku ligue e marque a consulta para amanhã mesmo.

— Pode deixar. — Rangiku então fez novamente seu caminho para a sala.

— Mas vocês duas hein! São demais não é filha? — Kisa apenas balançou a cabeça em concordância.

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— Então menina? — Lira começou. — Quando vocês vão admitir?

— Vai voltar com isso? — Rangiku segurava Kisa nos braços enquanto caminhavam.

— Pelo amor de Deus vocês dois ficam negando, mas todos enxergam que tem um sentimento...

— Tem sim e é o de amizade.

— Por favor... Vai dizer que nesse tempo todo que você está lá não rolou nada.

— Tá ok... Semana passada nós dois acabamos bebendo além da conta e dormimos juntos...

— Juntos? Não brinca!! — A mulher gritou no meio da rua. — Eu sabia!

— Sim... Dormimos os dois deitados no chão da sala assistindo Curtindo a Vida Adoidado. — Ela falou com uma sobrancelha levantada. — Foi incrível!!

— Ah para! E não rolou nada?

— Além de babarmos no chão não.

— E eu que achava que você era rápida quando queria. — Ela cruzou os braços.

— Falou tudo. Quando eu quero!

Continuaram andando até que as duas se separaram.

Lira estava em um período de férias, mas ainda fazia questão de ir à casa de Keith para conversar com Rangiku, que ficava sem ter nada para fazer até Kisa acordar.

— Ei Lira até o ano que vem... — Rangiku brincou.

— Até!! — Ela acenou e continuou andando.

— Agora Kisa nós vamos ir na casa da Nanao, falar com Momo e depois irmos todas fazer compras.

— Eu quero uma blusa da hello kit... — A menina falou no seu ouvido com a cabeça apoiada em seu ombro.

— Agente compra... Também vou te comprar um biquíni para ir a praia.

— Rosa! — A pequena exigiu.

— Ah! Um de bolinhas vai ficar mais bonito...

— Eu quero rosa...

— Tá legal agente compra os dois... Rosa e de bolinhas está ok?

— Tá ok mamãe!! — A menina disse sorrindo.

Era a quinta vez que ela falava assim e até agora Rangiku não podia explicar o que sentia ao ouvir essa simples palavra...

Estava chovendo e trovejando em uma tarde qualquer quando Kisa a segurou pelo o pescoço e disse:

— To com medo mamãe...

Não havia contado para ninguém, mas Keith não falou nada quando ouviu a menina a tratar por mãe, na verdade ele sorriu com esse simples gesto...

— Kisa vai andando agora tá bom? — Ela pôs a menina no chão.

— Olha. — Ela apontou para um sorveteiro que estava por ali. — Eu quero um.

Ela desviou do caminho e foi em direção ao homem que sorriu para sua aproximação.

— Olha que coisas lindas veem aqui hoje...

— Boa tarde... Pode me dar um de morango?

— De uva mamãe... — A menina balançou sua mão.

— Ok de uva então... — Ela sorriu.

— É realmente linda a sua filha, se parece muito com você. — O homem soou galanteador, mas Rangiku apenas riu com a comparação.

— Obrigada. Aqui está. — Ela entregou o dinheiro e pegou o sorvete. — Olha vamos sentar ali e você come rapidinho tá ok?

— Tá bom Ran... — A menina a seguiu sem tirar os olhos da guloseima.

Sentou em um banco e deixou Kisa comer.

— Não se suja tá legal? — Ela passou a mão pelos cabelos da menina.

— Tá gostoso mãe. — Ela falou com a boca suja.

— Que bom... — Ela sorriu.

Olhou para o céu por um momento, não havia nenhum rastro de nuvem e o sol brilhava com toda a força possível. O dia estava realmente lindo.

Já iria completar dois meses que havia se mudado para a casa de Keith e realmente não estava sentindo muita vontade de sair. Acordar cedo para fazer o café, levantar a menina para tomar banho, olhar Keith sair com o novo carro, esperar a amiga para fofocar, passar o resto da tarde brincando de pique-esconde e fazendo passeios, jantar na mesa junto com os dois e ouvir como foi seu dia, depois deitar e ter certeza que o dia amanhã seria tão bom quanto hoje era muito melhor do que ficar sozinha em sua própria casa remoendo a própria tristeza.

Desde que recebeu a noticia da morte de Gin estava ressentida, mas com Keith e Kisa ao seu lado tudo parecia ser menos doloroso... Era como a família que ela sempre sonhou em ter, mas muito melhor.

Ao invés de um marido tinha um ótimo amigo, desposto a lhe ajudar em tudo que fosse possível, e agora para deixar tudo melhor havia ganhado uma filha que não tinha posto nesse mundo, mas que amava como se o tivesse feito.

Claro que a tristeza estava ali, mas sendo coberta por carinho e amor que Keith e Kisa tinham de sobra.

— Acabei!

— Agora vamos ir que temos um dia longo meu amor.

— Tudo bem mamãe...

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O barulho das ondas cumprimentavam os três no primeiro dia no litoral.

— É melhor do que eu imaginava... — Ela falou com os olhos brilhando.

— Realmente... Vamos chegar mais perto.

Os dois estavam dando a mão pra Kisa que estava entre eles admirada.

— Está vendo filha? Isso é o mar.

— Hum... — Ela começou a esfregar os pés.

— O que foi?

De repente a menina começou a chorar.

— Ei Kisa o que há?

Rangiku a pegou no colo e começou a limpar seus pés.

— Acho que está com nervoso da areia. — Disse sorrindo.

— Puxa que bobeira filha... É gostoso vem.

Ela tentou por a menina na areia novamente, mas ela começou a berrar.

— Ok, ok vamos sair daqui. — Rangiku foi andando para a calçada.

— Assim não vai ter graça! — Keith voltou emburrado.

— Calma ela só tem que se acostumar. Para de chorar já passou...

Sentaram em um bando e olharam a água de longe.

— Amanhã vamos na piscina para ela se acostumar com a água e depois voltamos aqui...

— Sim, na verdade estamos parecendo àqueles turistas que vem na praia de roupa. — Keith sorriu.

— Verdade...

Ficaram mais um tempo assim até que caminharam de volta para o hotel.

Keith havia alugado um apartamento perto da praia em um hotel 5 estrelas e estava super empolgado com essa viagem.

— Ah... Acho que o sol está muito forte. — Ele falou esfregando os olhos.

— Quer um pouco d’água? — Ela ofereceu a garrafinha de Kisa.

— Não eu estou bem é só que... — De uma hora para outra Keith caiu no chão.

— Keith? — Ela se ajoelhou do lado dele e o segurou pelo rosto. — Keith o que houve?

— Nada, nada eu só tropecei... — Seus olhos estavam perdidos.

— É a segunda vez que isso acontece... Tomou os remédios que o medico passou? — Ela disse afoita.

— Sim... — Ele começou a se levantar.

Kisa estava espantada olhando com os olhos arregalados.

— Calma filha está tudo bem, tudo bem... — Ele ficou ereto e coçou os olhos novamente.

— Devíamos ter ficado no hotel... — Ela disse irritada.

— Mas assim não teria surpresa... — Ele sorriu ainda coçando os olhos.

— Que surpresa?

— Ah! Só quando chegarmos... — Ele deu a mão para Kisa e voltou a andar.

— De novo isso... — Revirou os olhos.

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Tirando o tombo de Keith e o fato de terem que parar para ele poder descansar chegaram rápido no apartamento.

Estavam no decimo quinto andar e tinham uma vista privilegiada do mar. O lugar era pequeno se comparado a casa de Keith, mas estava bom o suficiente para os três.

— Então cadê a surpresa? — Ela falou abrindo a porta.

— Espero que já tenha chegado... — Ele entrou atrás puxando Kisa.

Rangiku olhou em volta e viu uma pequena caixa toda rosa em cima do sofá.

— Seria isso? — Ela apontou.

— Sim... Ali Kisa chega mais perto. — Keith empurrou a menina.

— Não vai não. Sabe Deus o que tem ali dentro. — Rangiku disse sorrindo.

— Qual é... O que parece?

— Não sei... Uma bomba? — Ela pegou a menina no colo e fez como se estivesse a protegendo. — Vamos tomar cuidado Kisa pode explodir!

Keith então se aproximou e sentou ao lado da caixa.

— Pare de graça e venha ver...

As duas chegaram perto e cuidadosamente olharam o interior da caixa.

Enrolado em varias cobertinhas estava um pequeno tufo cinza dormindo tranquilamente.

— Que lindo! — Ela pôs Kisa no chão. — Que coisa fofa Keith...

Ela então pegou o pequeno filhotinho de gato na mão.

— Lira falou que vocês ficaram loucas com o gatinho da vizinha então pensei em comprar um para vocês.

— Ele é lindo... — Ela aproximou o gato de seu colo. — Faz carinho Kisa.

A menina deslizou os dedinhos no suave pelo cinza escuro.

— É ela! — Keith corrigiu.

— Won então é uma gatinha?

— Sim... Não estou vendo o pacote de ração que pedi, acho que se esqueceram de mandar.

— Mas espera temos que dar um nome para ela primeiro...

— Isso vocês duas podem escolher... — Ele se levantou e pegou o telefone.

— E então Kisa qual nome agente dá para ela?

— Hello Kit! — A menina falou brilhantemente.

— Err melhor não amor... Esse não combina com ela... Vamos ver. — Ela olhou bem para a gatinha que começou a miar em seu colo. — Haineko... Seria um bom nome né?

— Haneko? — A menina falou.

— Haineko... É a cara dela. — Rangiku sorriu.

— Haineko... Eu te amo! — A menina então deu um beijo na cabeça da gatinha.

— Não filha ela ainda nem tomou banho!

Kisa então esfregou a boca com a mão...

— Eca!!

— Haha vem vamos arrumar uma caminha para ela.

— Vai dormi comigo mamãe... — Kisa a seguiu.

— Não! Você pode ter alguma alergia... Vamos primeiro deixar ela aqui na sala.

— Ah... Mãe!!

As duas então seguiram para o quarto e fecharam a porta.

Keith estava no telefone do seu quarto olhando pela janela... Seus olhos seguiam perdidos os balanços das ondas. Sua mente o levava para coisas que não queria lembrar...

— Os resultados já saíram senhor Kikuchi...

— Foi mais rápido do que imaginei Doutor.

— Bem as noticias não são muito boas.

— O que há?

— Encontramos um pequeno tumor em seu cérebro senhor Kikuchi...