Caleidoscópio

De um lado verde e rosa, do outro preto e vermelho


Os dois estavam sentados na mesa da cozinha. Uma leve garoa batia na janela em frente da pia.

— O que aconteceu depois? — Keith pergunto bebendo um pouco de chá.

— Eu passei a morar no bar. Kyouraku me abrigou e me ajuda até hoje.

— E o Gin?

— Ele... Bem, no decorer dos anos passou a me enviar cartas com alguns... Como eu posso dizer? Hunn... Presentes.

— Presentes?

— É... Sabe em cada carta que ele me enviava vinham joias que ele roubava ou comprava.

— E o que você fez com isso?

— Guardei. — Ela terminou de beber o seu chá.

— Guardou!! Rangiku está ficando louca? Se alguém descobrir podem te prender por receptação.

Ela fechou os olhos e suspirou.

— Eu sei... Mas nunca consegui me desfazer daquilo. Você entende... Ou se esqueceu das fotos que você guarda?

Ele desviou o olhar.

— Sim, mas é diferente... Onde você guarda isso?

— Lá em casa. Eu nunca mostrei ou contei para ninguém...

— Não se preocupe eu não vou contar.

— Eu sei... Confio em você. — Ela disse sorrindo.

— Mas você até agora não me disse por que estava chorando mais cedo...

— Gin me ligou. — Ela olhou para o chão.

— Ligou pra cá pra casa?

Ela fez que sim com a cabeça.

— E como ele conseguiu meu numero?

— Eu não sei e ele não quis me dizer.

— E o que ele te disse que te fez chorar?

Rangiku fez uma leve retrospectiva da ligação e sabia que Keith se preocuparia se soubesse então achou melhor não falar.

— Nada de mais... Só me entristeci de saber que ele prefere ficar com a máfia do que comigo.

— Sei como é isso...

— É... Acho que o amor não anda do nosso lado.

— Tem razão... Mas sabe já tem um tempo que eu não me sinto assim. — Keith se levantou e pegou as duas xicaras da mesa e levou para a pia.

— Como assim?

— Sabe ultimamente eu tenho me sentido... Me sentido... Como posso dizer? Me sentido...

— Livre?

— É! Como você sabia?

— Estou me sentindo da mesma forma. Como se minha vida não dependesse exclusivamente do Gin.

— É... E não preciso necessariamente estar perto da Kiara para se sentir bem.

— É... — Ela se levantou. — E eu não preciso mais ficar imaginando se Gin vai ou não voltar.

— É... — Keith olhou para ela.

Os dois o tempo todo guardaram suas dores e suas magoas por não acharem alguém que os entendesse e agora era como se um simplesmente lesse a mente do outro.

— Vem cá. — Rangiku disse estendendo a mão para ele.

Ele passou um braço em volta do ombro dela e ela pôs seu outro braço no ombro dele.

Os dois então caminharam em rumo para o corredor que dava acesso aos quartos.

— Acho que a nossa amizade ajudou muito para me sentir assim. — Ela disse sorrindo.

— Sei de outra coisa que ajudou. — Ele falou abrindo uma das portas do corredor.

Dentro do quarto estava Kisa dormindo calmamente dentro do berço.

— Tem razão!

Os dois ficaram um tempo olhando para a menina dormir.

— Já está tarde. Você vai dormir aqui não é?

— Sim... Deixei minha escova aqui no fim de semana. — Ela disse saindo do quarto.

— Serio? E desde que dia não escova os dentes? — Ele falou rindo e fechando a porta atrás de si.

— Ahhh!! Keith.

________________________________________________________________________________

Conseguia ouvir barulhos vindos da cozinha.

Lira! Mas já? Que horas são?

Ela se virou para olhar o relógio no criado mudo.

9:41!! Droga.

Ela se levantou com pressa e pegou um vestido que havia deixado lá dias antes e foi tomar um banho.

Ao se olhar no espelho teve uma leve surpresa. Alguma coisa em sua aparência havia mudado.

Tocou o rosto, abriu a boca, esfregou os olhos, mas não conseguia achar o que causou essa diferença. Ficou mais um tempo se olhando e desistiu.

Penteou o cabelo escovou os dentes e saiu do quarto.

Ainda no corredor pode sentir o cheiro do café em pó.

— Bom dia! — Ela disse ao entrar na cozinha.

— Bom dia Rangiku. — Lira falou ainda de costas para ela. — Não sabia que você tinha dormido aqui meni... — A mulher parou de falar quando olhou para ela.

— Que foi?

— Eu que pergunto? O que aconteceu com você?

— Nada! Por quê?

— Não sei... Você está diferente.

— Você também achou?

— Sim, mas não é um diferente ruim não... É só que você está... Hun... Radiante. — Lira falou dando um grande sorriso.

— Radiante?

— É. Parece mais feliz. O que aconteceu?

Rangiku sorriu.

— Nada, acho que apenas acordei de bom humor.

— Ok! — Lira falou meio desconfiada.

Ela voltou a fazer o café enquanto Rangiku pegou os pães e biscoitos.

De repente Keith entrou na cozinha fazendo aviãozinho com Kisa nolo.

— Hora de pousar princesa. — Ele disse pondo a menina na cadeira de bebê.

— Bom dia! — Rangiku falou.

— Bom dia senhoritas. — Ele falou balançando a mão. — Diga bom dia também Kisa.

— Bo dia. — A menina falou baixinho.

— Diga mais alto querida.

— Bo dia!!

— Que coisa mais linda!! — Rangiku falou apertando as bochechas da menina.

— Cada vez ela fica mais fofa não é Lira? Lira? — Keith perguntou.

A mulher estava olhando os dois com a boca aberta e um jeito estranho.

— O que houve Lira? — Ele falou.

— Eu sei lá... Vocês que estão estranhos.

— Estranhos? — Os dois falaram juntos.

A mulher os olhou surpresa.

— Sim... — Ela se virou e voltou a passar o café. — Parece que os dois ganharam na loteria e esqueceram de me contar.

Um olhou para o outro e depois gargalharam.

— É só sua impressão. — Keith falou sorrindo.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

A manhã havia começado monótona como sempre.

Ele havia levantado, tomado banho, escovado os dentes e descido para o café da manhã.

Aizen costumava fazer com que todos tomassem café ao mesmo tempo, mas como ele não estava presente cada um poderia descer a hora que bem quisesse. Gin preferiu ir mais cedo, para evitar as discussões e disputas que ocorrem durante o café.

Assim que chegou encontrou a mesa completamente posta, arranjos bonitos enfeitavam enquanto frutas, bolos, sucos e várias outras coisas estavam ao redor.

Sentada em uma das extremidades da grande mesa estava Harribel comendo silenciosamente.

— Bom dia Harribel. — Ele disse dando um de seus característicos sorrisos.

— Bom dia Ichimaru-sama. — Ela disse sem mesmo o olhar.

Como ele, Harribel também costumava evitar a bagunça que ocorre pela manhã.

Vendo que ela não estava muito para conversa decidiu apenas comer. Se serviu em silêncio e se sentou no lugar de sempre, perto da cadeira de Aizen.

Alguns minutos se passaram em silêncio até que os dois começaram a ouvir passos e zumbidos de conversas indo para o salão.

— Parece que não acordamos cedo o suficiente. — Gin disse bebendo um pouco de suco.

Momentos depois várias pessoas começaram a surgir dos diferentes corredores da mansão. Conversas paralelas, gritos e pratos caindo interromperam o silêncio agradável que estava no local. Todos começaram a se servir ao mesmo tempo o que resultou em brigas por comidas e lugares para sentar.

Vendo toda a confusão Harribel se levantou e saiu do salão.

Gin olhou ao redor e não encontrou ninguém ao qual gostaria de conversar, algumas meninas que eram servas dos ‘soldados’ de Aizen estavam o olhando e cochichando entre si, mas nada que realmente lhe interessava. Por conta disso resolveu também se retirar.

De repente um forte estrondo se foi ouvido ecoar pelos corredores e todo o salão entrou em completo silêncio.

— Mas o que é isso? — Um homem perguntou.

Mais um forte barulho se foi ouvido como uma explosão e todos os que estavam sentados se levantaram.

Do mesmo corredor que Harribel entrou ela saiu, correndo com uma pequena arma em pulso passou gritando:

— Estamos sendo atacados!!

Nesse momento todos começaram a correr. Alguns já estavam com as armas em punho, mas outros estavam completamente desarmados.

— O que aconteceu? — Gin chegou perto de Harribel.

— Explodiram o portão principal e vários carros estão entrando aqui nesse momento. — Ela disse com pressa.

— Todos peguem suas armas! — Gin gritou para os que ainda estavam sem nada.

— Mas Ichimaru nossas armas estão nós quartos. — Uma menina falou no meio de todos.

— Tem um grupo na frente da casa que vai segura-los lá fora por um tempo. Sejam rápidos e tragam bastante munição. — Gin disse em voz alta.

Todos então começaram a se dispersar.

— Você conseguiu ver alguma identificação? — Gin perguntou para Harribel enquanto iam a caminho do segundo andar para pegar mais armas.

— Não. Os carros são pretos e os homens estão encapuzados.

Enquanto andavam para a sala de armas sons de tiros foram ouvidos em outra direção.

— Será que já conseguiram entrar? — Harribel falou.

— Não é possível! Há mais de 30 homens lá fora com armamentos pesados, não iriam conseguir passar tão rápido.

— Eles não vieram da porta da frente. — Grimmjow falou descendo um lance de escadas seguido de Izuru e Starrk.

— Eles se infiltraram nos arredores da casa e usaram as bombas para desviar as atenções. — Starrk disse coçando os olhos. — Estamos cercados.

— O que vamos fazer Ichimaru-taichou?