Minha primeira impressão sobre Ephriam foi de um jovem de olhar sombrio, sua expressão refletindo uma mistura de dor física e emocional. Assim como Evellyn, seu primeiro olhar para mim foi de surpresa seguida de desconfiança.

— Eu voltei meu filho....

Ephraim sorriu cinicamente – Filho? – Você desaparece por dois anos e volta como se nada tivesse acontecido e espera o que, que eu te chame de Mãe?

— Ephriam...

—Sai daqui!

As palavras dele perfuraram meu coração. Eu sabia que meu sumiço tinha sido devastador para ele, especialmente considerando sua condição na cadeira de rodas. A culpa pesava ainda mais em meus ombros ao ver a magoa estampada em seu rosto.

Suspirei lutando para controlar as emoções- Eu sinto muito, Ephraim. Eu sei que não posso mudar o passado, mas estou aqui agora.

Ele me olhou com um olhar de descrença- Está aqui agora? Por quanto tempo, mãe? Até decidir partir de novo?

Suas palavras foram como uma flecha direto em meu peito. Eu não tinha respostas satisfatórias para suas perguntas, apenas o desejo sincero de reparar os danos que Elizabeth causou.

— Eu não vou partir de novo, Ephraim. Eu prometo. – Falei com a voz um pouco trêmula.

— E por quanto tempo, seis meses ou um ano? Ele me encarou.

Fiquei sem palavras e impulsivamente sai do quarto de Ephraim, me sentindo devastada pela dor evidente em seu rosto, uma dor que eu Elizabeth causara ao se ausentar por tanto tempo. As palavras dele ecoaram em minha mente, reforçando a certeza de que Elizabeth não havia sido apenas uma mãe ausente, mas uma mãe falha em muitos aspectos.

Decidi sair da casa em busca de ar puro, uma tentativa de clarear minha mente e encontrar um pouco de paz diante de todas as emoções conflitantes que me assombravam. Caminhei pela fazenda, os vastos campos verdes se estendendo diante de mim, os pássaros cantando melodias suaves no ar fresco da tarde.

Ao passar pelos peões que trabalhavam na lavoura, percebi seus olhares curiosos se voltarem para mim. Alguns me cumprimentaram com sorrisos cordiais, reconhecendo-me como a senhora da casa. Eu retribuí os cumprimentos com gentileza, agradecendo silenciosamente pela recepção calorosa em meio ao caos interno que eu enfrentava.

Caminhar pela fazenda trouxe uma sensação de familiaridade e calma, um lembrete de que havia mais na vida do que as tensões e os conflitos familiares. A natureza ao meu redor parecia respirar tranquilidade, e eu absorvi cada momento daquela paz fugaz.

Enquanto o sol se punha no horizonte, iluminando o céu com tons de laranja e rosa, senti um pequeno vislumbre de esperança se infiltrar em meu coração cansado. Talvez, com o tempo e esforço, eu pudesse encontrar redenção não apenas aos olhos da família, mas também dentro de mim mesma.

Enquanto caminhava pela fazenda, acabei encontrando o pasto onde estavam os animais. Minha alegria e amor pelos bichos não podiam ser contidos, especialmente por ser veterinária de formação. Os cavalos majestosos, as vacas pastando calmamente e até mesmo os cachorros que corriam livremente pela propriedade me enchiam de encantamento.

Minha expressão radiante não passou despercebida pelos peões Sam e Quil, que trabalhavam na fazenda há anos e conheciam bem a verdadeira Elizabeth. Eles trocaram olhares intrigados, claramente surpresos com minha reação tão diferente do habitual.

— Algo de errado, senhora Elizabeth? Perguntou Sam com um tom de curiosidade

— Não, absolutamente nada de errado. Só estou aproveitando a companhia dos animais. Respondi sorrindo, mas meu sorriso se desfez ao ouvir o murmúrio do outro peão, Quil no ouvido do amigo- Essa daí nem parece a patroa, a patroa tem medo dos animais. Essa aí não parece ter medo de nada.

Sam assentiu, ainda me observando com curiosidade misturada com um leve espanto. Minha reação certamente era incomum para eles, mas eu não podia esconder minha paixão pelos animais, algo que fazia parte de mim muito antes da troca de lugares com Elizabeth.

Eu ignorei a desconfiança dos peões e pulei o cercado me aproximando d e um dos cavalos acariciando o seu focinho- Eles são tão incríveis, não são? Cada um tem sua personalidade única.

Sam e Quil trocaram um olhar cúmplice, reconhecendo a sinceridade em minhas palavras.

Quil deu um sorriso- Parece que a senhora Elizabeth encontrou uma nova paixão.

Retribui ao seu sorriso- Sim, com certeza encontrei.

Enquanto eu conversava animadamente com Quil e Sam sobre os animais da fazenda, fomos interrompidos pela chegada de um garoto que aparentava ter a mesma idade de Evelyn. Seu rosto não era desconhecido para mim, o que indicava que Elizabeth havia esquecido de mencioná-lo em nossas conversas sobre a família.

— Desculpe interromper, mas o Patrão precisa de vocês no estábulo imediatamente. A égua favorita dele está em trabalho de parto, mas está com dificuldades.

O tom urgente em sua voz me fez perceber a seriedade da situação. Eu não podia ignorar o chamado de Jacob, especialmente em um momento tão crítico para um dos animais preciosos da fazenda, porém havia um detalhe na situação, eu não era Renesmee e sim Elizabeth Black.

Quil e Sam ouviram o apelo do garoto e assentiram em concordância, mostrando que aquela era uma situação que exigia a atenção de todos. Enquanto nos dirigíamos apressadamente ao estábulo, Seth explicou um pouco mais sobre a égua e a complicação que ela enfrentava.

— A égua, Rosa, está com dificuldades para dar à luz. O Patrão está preocupado e pediu que chamasse vocês imediatamente – Ele precisa encontrar o veterinário.

Ouvi as palavras do garoto em silêncio mesmo sabendo que eu não poderia ajudar naquela situação, eu não podia mostrar a todos que eu conhecia de medicina veterinária, mas decidi acompanha-los, se tivesse algo que eu pudesse fazer sem pôr em risco minha identidade como Elizabeth eu faria.

Ao chegarmos ao estábulo, Jacob já estava lá, cercado por outros empregados que tentavam acalmar a égua em trabalho de parto. Seus olhos se encontraram com os meus por um breve momento, ele deixou o animal sobre os cuidados de um dos empregados e se aproximou de forma apressada.

— O que você faz aqui? Ele perguntou com um tom rude de voz me puxando pelo braço.

Olhei para a mão dele e puxei meu braço o fazendo soltar – Eu estava olhando os cavalos e ouvi o que Seth disse.

Jacob suspirou – Olha Elizabeth, agora não é o momento para seus joguinhos – Seu tom de voz era nervoso e impaciente.

— Patrão – Um dos empregados nos interrompeu – Não consegui o veterinário, ele está na cidade vizinha.

Jacob levou ambas as mãos ao rosto demonstrando seu desespero – Não vai dar tempo de ele chegar.

Meu coração acelerou enquanto a crise interna se intensificava. Deveria eu permanecer fiel ao meu juramento de salvar qualquer animal em necessidade, mesmo que isso colocasse toda a minha fachada em risco? Ou deveria me manter na sombra da incompetência de Elizabeth, permitindo que Rosa sofresse, talvez até morresse, para proteger minha mentira?

A resposta veio rapidamente. Eu não podia ignorar meu chamado como veterinária, meu compromisso de proteger e cuidar dos animais. Mesmo que isso significasse pôr tudo a perder, não poderia deixar Rosa morrer sem fazer nada.

Olhei para o semblante abatido de Jacob e me aproximei da égua, sentindo o peso da responsabilidade sobre meus ombros.

Assumi o controle da situação, lembrando-me de todas as aulas e experiências práticas que acumulei como veterinária. Avaliei rapidamente o estado de Rosa, identificando a posição do potro e as complicações do parto.

— Quantos anos ela tem? Perguntei a um dos peões, os olhos de Jacob se direcionaram para mim – O que está fazendo? Ele perguntou ao se aproximar.

— Salvando sua égua – Respondi em um tom firme de voz enquanto tocava a barriga do animal.

— Isso não é hora para brincadeiras – ele esbravejou.

— Ela tem dois anos – Respondeu o peão.

Jacob o encarou.

— Ela teve uma ruptura da bolsa d`água – Falei observando o local molhado debaixo de meus pés – O parto progredirá em média em menos de 30 minutos. Precisamos ajuda-la ou ela morre.

Jacob me olhou surpreso – Como sabe tudo isso?

— Quer salvar a égua ou não?

Ele assentiu.

Vamos lá, preciso da ajuda de vocês, o aumento das contrações uterinas em força e em frequência, a égua poderá parir a qualquer momento. Se as contrações forem violentas, ela poderá parir em estação. Nesse caso, necessitará de ajuda.

— E o que devemos fazer patroa? Perguntou o peão.

— Preciso de uma tesoura vou fazer a tração – Respondi.

Eles olharam para Jacob – Eu não sei como aprendeu isso, e eu devo estar muito desesperado para concordar – Jacob murmurou – Peguem a tesoura.

Os peões me entregaram a tesoura e como eu havia pensado a égua estava com dificuldade de continuação do parto, por insuficiência das contrações uterinas, com cuidado eu rompi a bolsa com uma tesoura e fiz a tração sincronizada mente com as contrações uterinas, resguardando a posição afastada de um membro com relação ao outro. Entre uma contração e outra mantive uma certa pressão de tração para evitar o recuo do potro.

Trabalhamos juntos, cada um desempenhando seu papel enquanto eu manobrava cuidadosamente o potro preso. O esforço foi árduo, e senti o olhar penetrante de Jacob em mim o tempo todo. Ele estava claramente confuso com minha habilidade, mas sua prioridade era Rosa.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, conseguimos. O potro nasceu, respirando e se movendo, e Rosa estava exausta, mas viva. O alívio no rosto de Jacob foi evidente, mas junto com ele, uma sombra de dúvida.

— Eu... não sabia que você tinha esse conhecimento. - Ele disse observando a égua e seu potro, seu tom de voz não era rude, era de gratidão.

Tentei disfarçar minha tensão com as palavras dele- Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, Jacob.

Jacob olhou para mim por um longo momento, claramente intrigado, mas antes que pudesse questionar mais, voltei minha atenção para Rosa e seu potro, cuidando deles e garantindo que estivessem bem.

Enquanto cuidava dos animais, sabia que havia plantado uma semente de desconfiança em Jacob. Mas também sabia que havia feito a coisa certa. Meu juramento como veterinária e meu amor pelos animais não podiam ser ignorados, mesmo que isso significasse arriscar minha identidade.