Café com Aroma de Mulher

Renesmee- A chegada em Flores


Desembarcar em Flores, Guatemala, foi como entrar em um novo mundo. O calor tropical envolveu-me assim que saí do avião, e o ar estava carregado com o aroma das flores exóticas e do café recém-colhido. Vesti um vestido de grife impecável, que se ajustava perfeitamente ao meu corpo, acompanhado por sapatos de salto alto elegantes. O cabelo ruivo, solto e vibrante, contrastava com o cenário ao meu redor. Enquanto caminhava pelo aeroporto, senti os olhares das pessoas sobre mim, admirando a figura que eu representava.

Cada passo que eu dava no saguão era seguido por olhares curiosos e admirados. Eu sabia que chamava a atenção, e isso me fazia sentir um misto de orgulho e nervosismo. Precisava manter a postura e a confiança de Elizabeth Black, mesmo que meu coração estivesse acelerado.

À distância, vi um homem com um olhar atento, eu o reconheci pelas fotos que Elizabeth havia me mostrado. Se tratava de Harry Clearwater, o motorista de Jacob Black, estava esperando para me levar à fazenda. Caminhei até ele, mantendo o semblante de Elizabeth, apesar da insegurança que fervilhava dentro de mim.

— Senhora Black, bem-vinda de volta.- Disse o homem de aparência idosa em um tom sério- Parece diferente... mais radiante, eu diria.

— Obrigada, Harry. – Respondi dando um sorriso, ele pareceu confuso e surpreso com a minha resposta- Decidi mudar um pouco o visual. Precisava de uma renovação.

Harry olhou para mim por um momento, claramente surpreso com a mudança, mas aceitando a explicação sem questionar. Ele pegou minha bagagem com eficiência e me conduziu até o carro.

Espero que a viagem tenha sido agradável- Disse Harry abrindo a porta do carro.

— Foi sim, Harry. Estou ansiosa para voltar à fazenda e ver como tudo está. - Respondi entrando no carro.

— Claro, eu imagino – O velho respondeu fechando a porta do carro.

Enquanto o carro avançava pelas ruas de Flores, observei a cidade através da janela. As cores vibrantes das casas, as pessoas andando pelas ruas e o verde exuberante das árvores tropicais criavam um cenário encantador. Meu coração batia forte, sabendo que estava prestes a mergulhar em uma vida que não era minha, mas que precisava fingir ser.

Harry dirigia com destreza, conhecendo cada curva e cada rua com a familiaridade de alguém que vive ali há muito tempo. Ele olhou para mim pelo retrovisor, ainda surpreso com a mudança, mas sem fazer mais perguntas.

Alguma novidade da sua viagem, senhora Black?

— Nada de mais, apenas algumas reuniões com amigos e tempo para pensar. Às vezes, uma mudança de ares é tudo o que precisamos.

Harry assentiu, aceitando minha resposta sem mais questionamentos. O resto do caminho foi tranquilo, e eu usei o tempo para me preparar mentalmente para os próximos dias. Precisava lembrar cada detalhe que Elizabeth me ensinou, cada nuance de sua personalidade e rotina.

Quando finalmente chegamos à fazenda, senti uma mistura de alívio e ansiedade. A vastidão dos campos de café se estendia à frente, e a casa principal, com seu charme rústico, estava à minha espera. Harry estacionou o carro e me ajudou a descer, pegando minhas malas com a mesma eficiência de antes.

— Bem-vinda de volta, senhora Black. – Disse Harry ao abrir a porta do carro,

Obrigada, Harry – Suspirei engasgando e minhas palavras devido ao nervosismo que eu sentia.

Com um último olhar confiante para Harry, caminhei em direção à casa, pronta para enfrentar o desafio que me esperava. Eu sabia que cada passo seria uma prova, mas estava determinada a manter a fachada e fazer tudo dar certo.

Caminhei em direção a casa e fui recebida por uma fileira de empregados, todos alinhados e esperando minha chegada. Seus olhares eram uma mistura de curiosidade e surpresa, talvez pela minha aparência renovada ou pela maneira como me portava. Lembrei-me das lições de etiqueta de Elizabeth e sorri com gentileza para cada um deles.

Os empregados trocaram olhares surpresos, aparentemente não acostumados com tanta cordialidade de "Elizabeth". Um dos jardineiros, um senhor de cabelos grisalhos, adiantou-se e tirou o chapéu.

— Seja bem-vinda de volta, senhora Black.

— Obrigada. O jardim está lindo, como sempre. Excelente trabalho. - Respondi sorrindo.

Os olhos do jardineiro brilharam com o elogio inesperado, e ele fez uma reverência tímida antes de se afastar. Senti um calor agradável no peito ao ver as expressões aliviadas e felizes dos empregados. Talvez Elizabeth não fosse tão atenciosa com eles, pensei.

Enquanto me aproximava da entrada da casa, a porta se abriu e Leah Clearwater, a governanta, apareceu, sim era ela, eu a reconheci também pelas fotos. Seus olhos se estreitaram ao me ver e seu rosto demonstrou claramente uma hostilidade velada.

— Senhora Black, bem-vinda de volta. Parece que decidiu mudar bastante as coisas. – Disse a mulher cruzando os braços e fazendo uma breve analise sobre mim.

Tentei manter a compostura- Obrigada, Leah. Sim, decidi fazer algumas mudanças. Precisava de uma renovação.

Leah não respondeu de imediato, apenas me observou com uma expressão avaliadora. Havia uma tensão palpável no ar, e percebi que teria que ser cuidadosa ao lidar com ela.

— Espero que essas mudanças incluam se familiarizar mais com a casa e os negócios. Jacob tem trabalhado muito. - Disse ela em um tom sarcástico.

— Eu sei, Leah. E pretendo ajudar no que for necessário. Estou aqui para apoiar Jacob e cuidar das crianças.

Leah arqueou uma sobrancelha, claramente desconfiada, mas não disse mais nada. Ela deu um passo para o lado, permitindo que eu entrasse na casa. Caminhei pelo hall de entrada, absorvendo cada detalhe do ambiente. A casa era uma mistura de elegância rústica e conforto acolhedor, um verdadeiro refúgio em meio aos campos de café.

— A casa está linda como sempre, Leah. Você fez um ótimo trabalho.

— Só faço o meu dever, senhora Black.

Percebi que ganhar a confiança de Leah seria um desafio, mas estava determinada a tentar. Sabia que sua posição era crucial para a harmonia da casa, e precisava que ela estivesse do meu lado.

— Eu aprecio tudo o que você faz aqui, Leah. Sei que às vezes pode ser difícil, mas estou retornei disposta a mudar, vou precisar da sua ajuda para cuidar melhor da casa, dos meus filhos, do meu marido.

Leah pareceu surpresa com minha sinceridade, mas não deixou transparecer muito. Ela apenas acenou com a cabeça e se retirou para continuar com suas tarefas- Claro, senhora Black. Vou ver se há algo que precise de sua atenção.

Fiquei ali, no hall, por um momento, respirando fundo e me preparando para o que estava por vir. Cada passo seria crucial, e eu precisava estar atenta a cada detalhe. Essa era a primeira prova de muitas, e eu estava determinada a passar por todas com sucesso.

Entrei na casa, e meus passos ecoaram pelo piso de madeira polida. As vozes altas que ouvi antes se transformaram em murmúrios abafados, indicando que uma discussão recente estava prestes a terminar. Parei na sala de estar, observando a elegante mobília e a decoração acolhedora. As janelas grandes deixavam entrar a luz do sol, iluminando o ambiente de forma suave.

De repente, as vozes cessaram, e ouvi passos pesados descendo as escadas. Meu coração acelerou quando Jacob Black apareceu no topo da escada, sim era ele, o homem bonito das fotos mostradas por Elizabeth, embora eu não tivesse em momento algum feito esse comentário sobre sua aparência quando conversamos sobre ele, não que eu acreditasse que ela se importasse, mas me perguntei como ela poderia trocar aquele homem por Martines? Apesar de toda a sua beleza seu rosto era marcado por uma expressão séria e cansada. Ele parecia estar carregando o peso do mundo nos ombros.

Jacob parou ao me ver, seus olhos se estreitando ligeiramente enquanto descia os últimos degraus. Pude ver a mistura de surpresa e insatisfação em suas feições, um contraste com a recepção calorosa que esperava.

— Elizabeth. Decidiu finalmente voltar- Disse ele, parando na base da escada.

Mantive a postura confiante, lembrando-me de tudo que Elizabeth me ensinara sobre como lidar com Jacob.

— Olá, Jacob. Sim, estou de volta. Achei que era hora de voltar, senti falta das crianças- respondi, sorrindo.

Jacob soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos em um gesto de frustração contida – Você sentiu falta? Você sempre achou tudo isso um fardo, - Ele disse com um tom áspero.

Senti a tensão aumentar. Sabia que tinha que escolher bem minhas palavras para não agravar a situação, embora eu não soubesse muito bem como agir, tudo era muito mais complexo do que Elizabeth havia me dito.

— Eu sei que parece assim, mas minha perspectiva mudou. Quero fazer parte disso, de verdade. Sei que foi difícil para você, e estou aqui para compensar- falei, tentando soar calma e conciliadora.

Jacob me olhou por um longo momento, como se estivesse tentando decifrar minhas palavras e intenções. Sua expressão permaneceu dura, mas havia uma centelha de curiosidade em seus olhos- Espera que eu acredite nisso? Ele deu um sorriso que o deixaria mais bonito se não fosse sarcástico – Você já deve ter lido seus e-mails e recebido a notificação do divórcio, pare de encenações Elizabeth, eu sei muito bem que retornou por causa de dinheiro.

O encarei e dei um sorriso – Tem razão Jacob, mas enquanto o divórcio não sair eu vou permanecer nessa casa, com meus direitos você goste ou não.

Minha resposta foi a gota d’água para iniciarmos uma discussão quando fomos interrompidos por uma vozinha doce chamando "mamãe". Meus olhos se voltaram para a pequena Eva, parada na entrada da sala, com seus cachos dourados brilhando à luz do sol que entrava pela janela. Ela tinha um sorriso radiante no rosto, um sorriso que derretia até mesmo o coração mais endurecido.

Eva correu em minha direção, seus olhos brilhando de alegria. Antes que eu pudesse reagir, ela me abraçou com toda a força de seus pequenos braços, como se o mundo inteiro estivesse certo novamente.

— Ah, meu amor- Murmurei, segurando-a gentilmente. - Você está mais alta, está crescendo tão rápido!"

Jacob ficou ali, observando a cena com uma expressão de surpresa que não conseguia esconder. Eu sabia que Elizabeth nunca demonstrava muito afeto por Eva, então meu gesto provavelmente o pegou de surpresa.

— Eva- Disse Jacob, sua voz soando um pouco incerta. - Não é hora de abraçar a mamãe agora. Vá brincar lá fora, está bem?

Eva olhou para Jacob com um pouco de relutância, mas depois me soltou e correu animadamente para o jardim.

— Eu não sabia que você tinha esse lado tão... afetuoso- Disse Jacob, ainda processando o que acabara de acontecer.

— Só porque eu não costumo demonstrar não significa que eu não seja capaz- Respondi tentando corrigir o erro que havia cometido, eu não fazia a menor ideia que Elizabeth não demonstrava afeto por uma criança mesmo isso sendo algo esperado vindo dela.

Ele assentiu lentamente, parecendo perdido em seus próprios pensamentos. Eu sabia que minha interação com Eva o deixara intrigado, talvez até confuso sobre quem eu realmente era naquele momento.

— Você ficará nesta casa por pouco tempo, pois não posso evitar que fique, mas não vou permitir que use meus filhos, você entendeu Elizabeth – Em seguida ele olhou para a porta e percebeu que não estávamos sozinhos como imaginava- Vamos continuar nossa conversa mais tarde- sugeriu Jacob, desviando o olhar.

— Claro- Concordei, ciente de que aquela conversa ia muito além da pequena interrupção de Eva.

Enquanto Jacob saía da sala, deixando-nos sozinhas, olhei para a porta por onde Eva tinha ido e sorri. Talvez aquele abraço não tenha sido apenas reconfortante para ela, mas também para mim. Aquela simples demonstração de amor infantil trouxe à tona emoções que Elizabeth raramente mostrava, e isso me fez questionar mais do que nunca o que estava por vir nessa troca de papéis tão complexa.