Ao abrir a porta de sua casa tentando digerir toda a reviravolta que havia acontecido nas últimas duas horas, ainda se perguntava se havia feito a escolha certa ao dizer sim para a proposta do desconhecido Martinez, proposta a qual ela mesma desconhecia. Perguntava a si mesma se teria feito a escolha correta, mas agora nada mais tinha importância, sua sorte havia sido lançada.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo miado animado de Snow, seu gato de estimação. Deu um sorriso e se abaixou para acariciá-lo, sentindo o pelo macio sob seus dedos. Por um breve momento buscou no gato um refúgio, uma fonte de calma em meio ao caos.

— Deve estar com fome – Sussurrou pegando o bichano em seu colo e caminhou até a cozinha, o amontoado de louças na pia mostrava que ninguém havia estado ali desde que ela saíra para trabalhar a dois dias atrás, deixou o gato sobre a bancada e pegou a ração em um saco dentro do armário.

Enquanto preparava a comida de Snow, Nessie deixou sua mente divagar sobre tudo o que havia acontecido, pensou principalmente em sua mãe, precisava vê-la, abraça-la e dizer o quanto a amava.

Deixou o gato comendo na cozinha e decidiu tomar um banho. O cheiro da cela da prisão ainda pairava em suas roupas e em sua pele, como um lembrete constante de tudo o que tinha passado. Apressada pegou sua bolsa e subiu a pequena escada indo diretamente para seu quarto.

A água quente caía sobre seu corpo, lavando não apenas a sujeira física, mas também o peso emocional que carregava. Nessie fechou os olhos e respirou fundo, permitindo que a sensação de limpeza a envolvesse por completo. Cada gota que escorria parecia levar consigo um pouco do peso que carregava em seus ombros.

Saiu do chuveiro e enrolou-se em uma toalha macia e respirou fundo mais uma vez. Olhou para o relógio e tinha algumas horas antes de Martinez busca-la no hospital, ficaria com sua mãe até encontra-lo para finalmente conhecer a pessoa por trás do homem misterioso.

Terminou de vestir-se e colocou algumas peças de roupas em sua bolsa antes de sair – Comporte-se Snow, a noite venho ver você – Falou carinhosamente ao gatinho como se o mesmo a compreendesse, em seguida saiu de casa de forma apressada e entrou em sua caminhonete.

Após gastar cerca de uma hora e quinze minutos ela finalmente estacionou na frente do hospital, saiu do veículo ansiosa e caminhou até a entrada se dirigindo até a recepção onde era aguardada por Renée. Ao ver a neta livre a avó sentiu um alívio em seu peito e a abraçou carinhosamente – Que bom vê-la bem, querida – Disse Renée em um tom de emoção tentando controlar suas lagrimas – Deixa eu olhar para você – A mulher afastou seu corpo do de Nessie e a olhou conferindo se sua neta estava bem fisicamente.

— Eu estou bem Renée – Disse Nessie a tranquilizando – Agora tudo que desejo é ver minha mãe.

Renée assentiu – Ela perguntou por você, vai lá querida.

Nessie concordou e sem seguida suspirou passando pela entrada de visitantes.

Os corredores do hospital pareciam intermináveis para ela enquanto caminhava em direção ao quarto de sua mãe. Cada passo era carregado de sentimentos complexos, uma mistura de tristeza, preocupação e resignação. Nessie sabia que o tempo de Bela estava se esgotando, e isso pesava em seu coração como uma âncora.

Os rostos apressados e preocupados dos profissionais de saúde passavam por ela, criando um ambiente de tensão e urgência. Nessie tentava se manter calma, respirando fundo e tentando focar em seu objetivo: estar ao lado de sua mãe, mesmo que fosse apenas por mais um momento.

Ao alcançar a porta do quarto de Bela, Nessie sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela sabia o que encontraria lá dentro, mas isso não a preparava para a realidade dolorosa que estava por vir. Com uma mistura de apreensão e determinação, ela girou a maçaneta e adentrou o ambiente iluminado pelas luzes suaves do hospital.

O cheiro característico do ambiente hospitalar invadiu suas narinas, trazendo à tona memórias de visitas anteriores. O som dos monitores cardíacos e o murmúrio das conversas dos profissionais de saúde criavam uma atmosfera única, repleta de significados profundos.

Dirigiu seu olhar para a cama onde Bela repousava, frágil e serena ao mesmo tempo. Seu coração se apertou ao ver sua mãe naquela condição, mas também se encheu de amor e gratidão por tudo o que Bela representava em sua vida.

Com passos cuidadosos, se aproximou da cama e segurou a mão de sua mãe suavemente. Os olhos de mãe e filha se encontraram, trocando palavras não ditas, mas compreendidas no mais profundo nível de conexão – Oi mamãe – Ela sussurrou quebrando o silêncio entre elas, sentindo as lagrimas em seus olhos, mas as controlou dando um sorriso.

— Que bom ver você – Bella sussurrou olhando nos olhos da filha, a conhecia muito bem, e sabia que ela estava sofrendo, porém não era isso que ela desejava, sentia o peso da inevitabilidade da morte pairando sobre seus ombros. Os dias se tornavam mais curtos, as noites mais longas, e ela podia sentir cada vez mais a presença iminente da despedida final. Era como se o tempo fosse uma ampulheta inexorável, escoando-se lentamente enquanto ela contemplava sua própria mortalidade, por isso precisava ter a certeza que sua filha ficaria bem- Venha cá – Sua voz saiu como um sussurro enquanto timidamente ela estendia sua mão na direção da filha.

Nessie assentiu segurando sua mão e sentou-se ao seu lado na cama – Me perdoe por não vir antes, eu tive alguns problemas.

Bela sorriu – Sua avó me disse que finalmente conseguiu a bolsa para pesquisa naquela escola de medicina veterinária na Califórnia – Um sorriso orgulhoso se formou em seus lábios arroxeados, sentia um orgulho imenso da filha, ela era seu maior presente.

Apesar de surpresa Nessie concordou, apesar de odiar mentiras sua avó tinha tido uma razão forte para mentir, deduziu que sua mãe havia perguntado por ela inúmeras vezes deixando sua avó sem alternativas – Sim mamãe eu consegui, mas é longe demais, não posso me afastar de você nesse momento, eu estava justamente resolvendo a minha desistência.

— Não pode fazer isso – Bela falou em um tom mais exaltado usando o pouco de forças que lhe restava – Me prometa que não fará isso.

— Mãe não posso prometer isso, você é tão importante para mim.

— Meu tempo está curto Nessie – Bela falou tentando acalmar seu coração, pensava nas alegrias que havia experimentado, nas dores que havia enfrentado e em todas as pessoas que havia amado ao longo dos anos. Cada memória era uma peça do quebra-cabeça de sua existência, e agora, diante do fim, cada peça ganhava um significado mais profundo, já sua filha, não havia experimentado o melhor da vida, por isso jamais permitiria que ela abrisse mão de um futuro.

— Não me peça isso – Nessie sussurrou sentindo suas lagrimas rolando em seu rosto.

— Meu amor – Disse Bela passando suavemente a ponta dos dedos no rosto da filha- A vida é feita de ciclos, e esse é apenas mais um deles. Você tem uma vida pela frente, e quero que seja cheia de alegria e realizações.

— Eu prometo tentar, mãe. Mas é difícil imaginar minha vida sem você.

— Você é forte, Nessie. Mais forte do que pensa. E sempre estarei com você, mesmo que não fisicamente.

Nessie concordou com a cabeça desabando em lagrimas, Bela puxou a filha contra seu peito e a abraçou, apesar da tristeza em seu coração ao pensar em deixa-la lembrou de quando a mesma era apenas uma criança e pedia seu colo. As lágrimas silenciosas que escorriam por suas bochechas eram testemunhas mudas de sua dor e sua aceitação ao mesmo tempo. Ela sabia que a morte era parte natural da vida, mas isso não diminuía a angústia de se despedir.

Aproveitou cada segundo daquele momento com a filha sabendo que aqueles segundos eram únicos e eternos até o cansaço a vencer.

Nessie permaneceu ao lado da cama de sua mãe, Bela, no hospital, observando-a dormir pacificamente. Os traços de cansaço e os efeitos dos medicamentos eram evidentes em seu rosto, mas mesmo assim, Bela parecia serena. Nessie sentia um misto de emoções ao vê-la ali, tão vulnerável e ao mesmo tempo tão forte em sua serenidade.

Após algumas horas de vigília ao lado de Bela, Nessie finalmente decidiu que era hora de partir. Ela confiava nos cuidados de Renée, sua avó não havia deixado a filha em nenhum minuto sozinha naquele hospital. Com um beijo suave na testa de Bela, Nessie sussurrou um "te amo" antes de deixar o quarto.

Saiu do local e entrou em sua caminhonete olhando a última mensagem recebida em seu celular. “San José Province, Pérez Zeledón, 11908 ” suspirou temerosa pelo que estava por vir e deu partida sem eu carro.

O sol começava a se por quando finalmente estacionou no luxuoso Resort, passou pela entrada principal e olhou na direção da recepção, não se surpreendeu ao ver o homem a sua espera sentando com um jornal nas mãos.

Ao ver a ruiva Martinez deu um sorriso largo – Pontual – Falou em um tom amigável a cumprimentando – Por favor me siga.

Nessie assentiu e caminhou ao lado dele e juntos entraram no elevador.

— Então – Disse ela quebrando o silêncio enquanto observava os números mudando a sua frente à medida que os andares passavam – Afinal de contas, o que querem de mim?

Martinez sorriu – Não se preocupe, não vamos fazê-la cometer nenhum crime – Ele sinalizou para a porta que acabará de abrir para que ela saísse primeiro.

A ansiedade a dominou, sentiu que seu coração estava prestes a explodir, mas se conteve, seguiu o homem pelo corredor até que o mesmo abriu uma das portas, olhou para ele temendo entrar naquele quarto sozinha com ele.

— Não se preocupe, não estaremos só – Disse ele a perceber sua relutância.

Ela engoliu a própria saliva e finalmente entrou no luxuoso quarto, caminhou até a sala de estar onde viu a mulher loira de costas vestida de forma elegante.

— Chegamos – Disse Martinez.

A mulher misteriosa finalmente virou seu corpo ficando de frente para ela, os olhos de Nessie se arregalaram e ela não esboçou reação.

— Então finalmente estou conhecendo você Renesmee – Disse a mulher com um sorriso em seus lábios.