Há muito tempo, em uma pacata ilha japonesa, tão pequena que nem tinha um nome, vivia uma família numa minúscula vila. Eram pescadores, não tinham muito dinheiro, mas se amavam, e por isso levavam uma vida feliz.

Um dia, um estrangeiro chegou vindo de uma terra distante, trazendo consigo uma névoa misteriosa. Deste então, as coisas começaram a mudar na ilha: plantas secaram, frutas apodreceram nas árvores, pessoas ficavam doentes, e os peixes se tornaram cada vez mais escassos. Com isso, a fome começou a assolar os moradores daquele pequenino refúgio.

Mas isso foi só o começo do horror. À medida que a fome e a miséria cresciam, as pessoas começaram a se voltar umas contra as outras, banhando em sangue o solo da ilha. Exceto a pequena família de pescadores, que, isolada, sobrevivia apesar das adversidades, sempre apoiando-se um no outro.

Um dia, porém, o pai dessa família também foi tomado pela loucura que dominara seus vizinhos. Naquela noite, depois que todos adormeceram, ele pegou um machado e esquartejou a esposa e seus dois filhos.

Quando o sol nasceu na manhã seguinte, o pescador se arrependeu de seu crime. Liberto da maldição da névoa, ele enterrou sua família debaixo de três grandes cerejeiras, as mais antigas da ilha. Terminada a tarefa, entrou em seu barco e deixou aquele lugar para nunca mais voltar.

Reza a lenda que, desde então, as flores daquele trio de cerejeiras nunca mais murcharam. Segundo dizem, são as almas dos três que foram deixados para trás, ainda à espera de que o velho pescador volte para casa e sua família esteja mais uma vez completa.