Na noite em que Usagi brigou com Seiya, Mamoru não estava no bar. Na verdade, segundo Motoki, ele estivera, mas já havia ido para casa, pois tinha que trabalhar no dia seguinte. Nem no dia em que ela contava com aquela distração o homem conseguia ser útil, pensou enquanto se sentava no banco de frente para o balcão. Motoki a olhou intrigado, mas apenas sorriu e pôs um prato de batatas-fritas bem na sua frente, por conta da casa. Era terça-feira, um dos dias de menor movimento em que apenas o rapaz fazia turno no Drunk Crown e não houvera nenhuma surpresa quando ela abrira a porta apenas para ver Sanjouin Masato, o amigo-cliente de Motoki, bebendo um enorme copo de cerveja.

— Foi um dia tão ruim assim? — perguntou o homem, ainda com a roupa do trabalho.

— Quê? — Usagi levantou os olhos do prato de batata. Aquele homem estava sempre por ali e poderia já considerá-lo um amigo dela própria, apesar de as conversas pessoais costumarem partir dele. Não que seus assuntos sobre confusões na empresa e a noiva, quem Usagi nunca vira, fossem realmente íntimos, apenas cotidianos. Por essa razão, não havia como se abrir para ele, mesmo que Minako ainda não tivesse respondido à sua mensagem.

Não tinha como ela contar ao amigo de seu quase irmão mais velho que o namorado com quem ela mal havia feito as pazes tentara forçá-la a dormir com ele em uma sala de karaokê. Ela mesma não sabia como dizê-lo a Minako, sua melhor amiga de agora. Nunca conversaram muito sobre isso, apesar de investidas anteriores de Seiya. Bem, ele nunca parecera desejá-lo tão seriamente, pois o romance tinha prazo de validade. Até agora.

— Seu rosto está tão abatido que mal a reconheci, — explicou, tomando um gole despreocupado de sua bebida.

— Ah... Tá tudo bem, só discuti um pouco com o meu namorado.

— Mas já? — Motoki voltara da cozinha, agora com uma pizza para Masato.

— Coisa nossa... — Usagi baixou a cabeça, indicando que não queria mais conversar.

Era estranho algo tão ruim ocorrer justo no dia em que começava a considerar seu trabalho ali como algo sem sentido. Voltando ou não para Seiya, Usagi tentou prometer-se que não largaria Motoki tão facilmente. Como se lesse seus pensamentos, o homem lhe fez um cafuné na cabeça.

— Ah, bem-vinda! — cumprimentou ele em seguida. Aquela tinha se tornado bem rápido sua segunda casa.

— Olá, Motoki! — Era a voz de Minako, que viera sentar-se do seu lado, passando as mãos em suas costas, em movimentos circulares. — Não sei o que houve, mas o Seiya é um cretino!

Usagi caiu na risada. Não havia dito de jeito nenhum que brigara com o namorado, nem sequer havia mostrado seu rosto, e Minako já deduzira.

— Minha cara tá feia até pelas costas?

— Bem, hoje seria o grande encontro, e você me chama pra um bar? Se fosse para comemorar, haveria mil emoticons naquele e-mail, né?

— Pois é... — Usagi levantou-se com seu prato de batatas e levou Minako para uma mesa mais no canto, pedindo a Motoki por um copo de cerveja para ela.

— Pra mim também! — acrescentou Minako, sentando-se bem na frente da amiga para ouvir a história. — E yakitori, por favor, estou faminta! — Ilustrou pegando uma das últimas batatas no prato à sua frente e devorando-a em um instante.

Usagi não demorara nem cinco minutos para contar tudo. Achou que foi tão rápido que devia ter faltado algo, então recomeçou, acrescentando detalhes demais. Frustrada, começou a falar todos os defeitos do namorado, como se Minako já não os soubesse todos após quase um ano de relacionamento. O único detalhe que Usagi até então não havia se incomodado de revelar fora aquela tensão sexual, a qual a própria vinha ignorando. Pensava que homens eram assim; ainda que soubessem que não conseguiriam nada, continuariam tentando.

Minako sorriu, já em seu terceiro prato de comida, agora uma porção de onion rings.

— E por que não? — resumiu-se a essa pergunta, mais distraída com a comida que com o copo ainda cheio de cerveja.

— O que quer dizer com isso? — O rosto de Usagi ficou mais vermelho que pálido com a sugestão.

— Bem, temos vinte anos, somos adultas o bastante para bebermos legalmente em um bar. — Balançou um pouco o copo de cerveja. — O que mais precisamos esperar?

— Quer dizer que você aceitaria se tivesse alguém? — O rosto de Usagi ficava ainda mais vermelho com o esforço de soar natural.

Agora, era a amiga quem ficava com as bochechas rubras:

— É, nunca vi nenhum problema.

— Você... já fez?

Minako bebeu algumas goladas da cerveja, não precisava mais de palavras para confirmar.

— E ele é seu namorado, não é qualquer um, — completou, após um silêncio considerável. — Você não disse que o amava depois de tudo o que ele aprontou, terminando contigo por bobagem?

— Bem, ele ia voltar pros Estados Unidos.

— E isso é um bom motivo, é? Quem ama, ao menos acha que um relacionamento à distância não é tão ruim. Você concorda comigo.

— Está dizendo para eu ir em frente e depois que ele não me ama?

Minako arrotou.

— Acho que bebi demais... — O vermelho de suas bochechas agora tinha outro tom e isto fez Usagi rir.

Seiya tinha razão de como os japoneses podiam ser fracos com álcool. E pensar nisso, deixava-a com calor, pois se lembrava do beijo com sabor de álcool e perfume, trocado na noite em que haviam voltado.

— Você o ama; não importa o que o cretino sente, — disse Minako, como que lendo os pensamentos da amiga. — Essa decisão deve ser de acordo com você mesma. Só acho besteira ficar esperando os sinos encantados de uma noite auspiciosa de Natal nevado enquanto toca "aquela" música, entende? Não é como se a primeira vez fosse ser boa, também. Guarde a supernoite pra sua lua de mel na Europa! — Ela virou os olhos e prosseguiu: — Não é uma frase positiva quando se diz que a primeira vez a gente nunca esquece.

Usagi riu com o comentário, apesar de ainda se sentir muito pouco à vontade com o assunto.

Percebeu Minako olhar para o relógio na parede.

— Está quase na hora do último trem. Terminamos a noite ou — E Minako jogou o punho no ar para a segunda opção: — Vamos nos esbaldar num superkaraokê?

Usagi riu-se e, seguindo o entusiasmo, levantou-se da cadeira e apontou para a televisão acima do balcão do bar.

— Ué, pra que pagar uma sala se temos esta aqui já quase toda para nós?

— O karaokê tá quebrado! — respondeu Motoki prontamente.

— Quebrado!? Como? Tava tão direitinho no sábado... Aquele senhor ficou cantando até fecharmos, né? — Largando seu copo na mesa, Usagi correu para conferir o aparelho, já acostumada a ligá-lo.

Motoki lhe forneceu o controle, e ela percebeu que sequer a luz de energia acendia. Olhou novamente para os botões, apertando todos.

— Poxa, eu crente que ia poder cantar a noite toda de graça!

— Que pena, né? — Motoki estava de costas, mexendo em um dos armários.

— Não achava que isto poderia quebrar...

Então, percebeu sons de duas risadas. Uma vinha de Minako, já bem do seu lado, debruçada no balcão. Outra de Masato, que apontava para Motoki.

— Vamos, devolva o cabo de energia pra ela. Não tem graça implicar com a sua irmãzinha... — disse o homem, voltando a beber sua cerveja.

— Como assim? — Então, Usagi percebeu que Motoki havia escondido o cabo naquele armário, arrancado em algum momento entre seu anúncio e sua tentativa de ligar o aparelho. — Ah, Motoki! — disse, frustrada, correndo para trás do balcão.

— Ei, clientes não podem possar essa barreira, olha lá o quadro de regras!

— E você devia era mexer com alguém do seu tamanho! Poxa... — Recuperou o cabo e o estudou por um longo momento, incerta de como encaixá-lo de volta.

— Juro que foi autopreservação! Já bastou você ter cantado boa parte das músicas com aquele senhor sábado passado.

— Ele disse que tenho um "canto singular"! — repetiu a expressão ouvida.

— E não mentiu, é singularmente ruim.

— Motoki! — Usagi começava a ficar chorosa.

Sentiu, logo após, o cabo ser tirado de sua mão e viu que seu chefe estava ligando o karaokê para ela.

— Vai lá, sabe que não consigo vê-la chorando... Apenas entenda o sacrifício que Masato e eu estamos fazendo, hein!

Usagi abriu um sorriso, pulando de alegria enquanto já selecionava as músicas que queria cantar.

Continuará...

Anita

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.