Cada Uma das Vezes

Cada Uma das Vezes


Ela não o impediu.

Isso já era razão mais do que o suficiente para fazer o peito de Diego vibrar em contentamento, mas a sensação que os lábios dela faziam ele sentir iam muito além de simples felicidade.

Havia algo sobre beijar Roberta, algo diferente. Não importava se fosse depois de uma das suas brigas lendárias; enquanto rolavam pelo chão em uma tentativa franca de assassinato mútuo; ou ainda, em um dos poucos instantes em que pareciam estar na mesma página. Cada uma das vezes – e Diego lembrava de todas elas como se tivessem sido gravadas a fogo na parte de trás de sua mente – eram indescritíveis.

Alguns diziam que havia uma fronteira tênue entre amor e ódio, mas ele não acreditava nisso. Ele nunca a odiou, e isso era francamente esclarecedor. É claro que ela irritava-o, como poderia não? Ela era diferente de todas as outras e isso o tirava de sua zona de conforto. Era desafiadora, pavio curto e com valores muito opostos aos seus próprios. Em suma, eles não nasceram para ficar juntos, mas por Deus como ele queria.

“Quer ser minha namorada?” Ele deixou escapar quase como uma reflexão tardia, enquanto a segurava em seus braços em meio a uma pausa em busca de oxigênio. “Pra sempre?”.

É claro que era essa sua intenção desde o primeiro momento em que planejou trazê-la para aquele lugar. Mas seria mentira dizer que não foi surpreendente para ele próprio a naturalidade com que conseguiu falar aquilo.

A resposta, no entanto, não foi a que ele esperava, tampouco a que ele queria. Suas palavras pareceram queimá-la. Seus olhos castanhos se arregalaram e ela sorveu o ar com força.

E se afastou, é claro que se afastou.

“Diego.” Começou ela após alguns instantes. Ele não conseguia respirar. “Eu não posso.” A expressão de Diego foi tomada pela confusão e decepção. “Não posso ficar com você.” Concluiu a garota de cabelos vermelhos enquanto balançava a cabeça em lamentação.

Por um momento ele se perguntou se ela conseguiria ler a decepção e confusão escrita em sua face.

“Por que?” Conseguiu questionar Diego por entre os dentes. “Você disse que me amava.”

“Você não tem ideia do quanto.” Respondeu Roberta em meio a um suspiro se desvencilhando ainda mais dos braços do garoto. “Mas eu preciso de alguém que me apoie e me ame todos os dias e você não pode fazer isso.”

“Roberta.” Voltou a falar Diego segurando o rosto da garota a sua frente enquanto tentava impedir que o desespero tomasse conta de sua feição. “Não fale isso, por favor.”.

“Mas é a verdade.” Falou ela mais uma vez, afastando suas mãos. “Você não liga pra nada.”.

“Isso não é verdade.” Negou o garoto com ênfase.

“Não é?” Questionou a ruiva abrindo os braços. “E quanto a isso? Esse joguinho?”.

Enfim, Diego não pode evitar que a confusão tomasse conta de seu rosto.

“Joguinho? Do que você está falando, Roberta? Eu te amo muito.” Praticamente implorou o garoto. “Roberta, não fale essas coisas, por favor.”.

“Você acha que eu não sei?” Falou a garota aumentando o tom enquanto começava a se irritar. Ela sempre se sentiu à vontade no xadrez emocional que mantinha com o garoto Bustamante, mas era nesses momentos – em que ele a obrigava a negar o que ambos sabiam que os dois queriam – é que ela sentia-se mais desgastada. “Você foi muito descuidado com sua aposta desta vez, eu já sei de tudo.”.

Nenhum único indício de reconhecimento brilhou nos olhos do garoto confuso, e isso a preocupou por um momento, até lembrar que – assim como ela – ele era um especialista naquele jogo.

“Eu não sei quem falou essas besteiras para você.” Começou Diego, fortalecendo sua convicção. “Mas seja quem for, é um mentiroso.” Afirmou com resoluta certeza o garoto, enquanto realizava uma nova tentativa de aproximar-se da jovem mulher a sua frente, que recuava de seus passos hesitantes. “Você precisa confiar em mim desta vez. Roberta, eu estou tentando fazer a coisa certa.” A decepção voltou a brilhar em seu rosto ao perceber que a garota não parecia mais receptiva aos seus avanços do que há um minuto atrás. “Eu te juro que te amo muito. Você sempre lutou pelo que acredita, não deixe que uma fofoca mesquinha e mentirosa nos afaste agora. Me dê uma chance para te provar que estou sendo sincero.”.

Ele permitiu-se sentir esperança ao ver a insegurança surgir no rosto de Roberta. Por um momento, ele chegou a acreditar que as palavras de seu coração haviam alcançado o dela. No entanto, a esperança logo deu lugar a um frio afundamento, ao ver a resolução voltar ao rosto da garota tão rápido quanto sumiu.

“Perdão Diego.” Começou a garota limpando as poucas lágrimas que haviam surgido em seus olhos em meio ao breve discurso. “Mas você nunca vai conseguir me dar o que eu preciso.”.

“Roberta.” Voltou a insistir, colocando-se em frente a ela e impedindo que a mesma o deixasse daquele jeito. “Não me deixe, me diz que sim, por favor.”.

“Eu estou falando sério.” Recomeçou ela. “Eu queria muito que fosse diferente, mas você não mudou. Continua não levando as coisas a sério. Você sabe que é assim!”.

“Quem tá enchendo a porra da sua cabeça com essa porcaria?” Questionou Diego buscando as mãos da garota, por quem havia caído de forma tão dura, e balançando a cabeça em descrença.

“Ninguém.” Respondeu Roberta baixando o rosto. “Mas eu não sou cega, não sou idiota.”.

“Roberta, como você pode desconsiderar tudo que eu acabei de falar, tudo que passamos juntos. Eu estou cansado.” Suspirou Diego aborrecido. “Nós temos algo, você sabe. Como pode esquecer do nada?”.

“Eu...” Começou a garota que logo foi interrompida.

“Eu te amo, você não entende?” Repetiu Diego pela milésima vez enquanto esfregava os olhos tão forte que chegou a doer. “Entenda, eu te amo, te amo, te amo!”.

Roberta balançou a cabeça e virou as costas se dirigindo até a porta.

“Eu lamento.”.

Diego sentiu seu coração quebrar ao vê-la dar o primeiro passo em direção ao fim.

“Roberta.” Falou com a voz resoluta por uma última vez. A força e a finalidade em seu tom fizeram com que a garota parasse com a mão na maçaneta. “Se sair por essa porta é o fim.” Alertou o garoto. “Eu estou cansado de me machucar, estou cansado de vê-la demonstrar, toda vez, que não confia em mim.”.

A garota riu secamente sem qualquer tipo de humor.

“Você não entende mesmo, Diego.”.

“Não, eu entendo muito bem.” Interrompeu o rapaz dando apenas um passo em direção a jovem ruiva. “Se tem uma coisa que aprendi com tudo isso que tivemos, se tem uma coisa que você me ensinou, Roberta.” Voltou a falar ele. “É que toda mentira tem uma vida útil muito, muito curta.” A garota o encarou com feição séria, sem fazer menção de largar a maçaneta que ainda segurava em um aperto de ferro. “Seja lá quem for que está te envenenando contra mim, você logo vai descobrir a verdade e vai se arrepender de ter jogado tudo que construímos fora.”.

“Você é muito cínico, Diego.” Falou a garota em meio a um bufo.

“Não, eu estou falando sério.” Falou o garoto reafirmando sua convicção. “Eu não vou mais correr atrás de você.” Falou com tamanha finalidade que quase atingiu Roberta como um tapa. “Não importa o quanto doa, o quanto eu sofra, o quanto eu tenha que mudar, de quanto eu tenha que desistir. Eu vou te tirar de mim nem que eu tenha que morrer.” Continuou implacável. “Por isso eu peço que reconsidere. Eu estou dando a nós dois mais uma última chance, não saia por essa porta, por favor.” Concluiu em um misto de seriedade e súplica.

Ela demorou, mas saiu.

É claro que saiu.

Diego não chorou ou gritou e tampouco socou qualquer parede, ele apenas se lançou na própria cama para contemplar o quão patético havia se tornado. No fim do dia, não havia nada que conseguisse balançar sua sanidade como ela, nem seu pai, nem brigar com seus amigos, ser punido por qualquer uma de suas indisciplinas, problemas com a banda, tudo empalidecia ao ser comparado com seus problemas com a maldita Roberta Pardo.

A escola se tornou, rapidamente, uma tortura. Seus amigos evitaram comentar os acontecimentos daquele fático dia e, ironicamente, seu pai parecia aquele que mais havia se agradado com sua nova postura indiferente.

Eles ainda cruzavam pelos corredores ou durante as aulas, mas ele foi forte. As vezes, quando ela achava que ele estava distraído, conseguia pegá-la o olhando com uma expressão questionadora. Como se estivesse se perguntando quanto tempo demoraria para que ele desistisse e cedesse a sua maior fraqueza. Mesmo ao se afastar dela, Roberta Pardo ainda tinha uma forma única de fazer com que ele se sentisse humilhado.

É claro, ele não esperava encontrá-la em seu quarto o encarando com raiva em um dos intervalos.

“Por que você faz isso?” Questionou ela com raiva apontando o dedo para o rosto do rival. “Por que o incentiva a fazer essas coisas, seu imbecil.”.

Por um momento ele considerou responder, ainda que pela pura curiosidade ou pela felicidade involuntária que a atenção dela, infelizmente, ainda trazia ao seu âmago.

“Com licença.” Se limitou a falar enquanto a contornava em direção a sua cama e depositava os livros e o resto de seu material na mesa ao lado.

“Não me ignore.” Voltou a falar ela esmurrando seu ombro após ele voltar a virar em direção a saída. “Eu te fiz uma pergunta.”

Bom, não era um crime tão grave respondê-la quando ela começou a conversa, pelo menos foi esse o raciocínio do garoto.

“Eu não sei o que você está fazendo aqui.” Começou ele com cansaço. “Não sei do que está falando e, francamente, não quero saber.” Concluiu de forma serena voltando a tomar sua rota em direção a saída.

“Xavier estava fumando e ele disse que é por sua causa.” Gritou a garota agora ainda mais aborrecida.

Diego não pode evitar bufar em descrença e revolta. Agora tudo fazia mais sentido.

“Bom, eu não ligo para o que aquele retardado faz ou deixa de fazer, ele quer os parabéns ou o que?” Falou Diego, finalmente desistindo de sua saída apressada. “Quer saber? Não responda, eu não dou a miníma.”.

“Não fale assim dele.” Falou Roberta finalmente, enquanto se aproximava.

Diego a conhecia bem, e, portanto, sabia que ela estava tentando provocar uma discussão. A realização o irritou mais do que deveria, ela estava ativamente tentando sabotar seus esforços.

“Pare por aí mesmo.” Falou o garoto em voz baixa cortando qualquer animosidade. “Eu não vou fazer isso.”.

Dessa vez quem ficou em pé sem saber o que dizer foi Roberta, que apenas pode observar o garoto sair apressado como se não desse a mínima.

Foi a primeira vez que Diego evitou, propositalmente, uma briga com ela.

Isso a incomodou mais do que ela gostaria de admitir.

A próxima ocasião em que estiveram cara a cara foi ainda menos agradável, na opinião de Diego.

“O que você está fazendo aqui?” Perguntou ele sem desviar os olhos do teto branco acima de sua cabeça.

Ela parecia insegura e mordia o lábio inferior nervosamente.

Ele parecia extremamente aborrecido e seus dedos tremiam ao apertar o lençol branco da cama de hospital enquanto tentava se distrair do gosto amargo em sua língua.

“Seus amigos me disseram que você estava aqui.” Respondeu ela balançando os ombros, como se respondesse tudo.

“Eu não perguntei como sabia que eu estava aqui. Eu perguntei, o que você faz aqui?” Falou a encarando brevemente antes de desviar os olhos de volta para o teto.

“Eu não sei.” Começou ela insegura se aproximando do leito. “Eu queria ver como você estava.”.

Ele riu de forma seca, finalmente cedendo e olhando nos olhos castanhos da garota que insistia em estragar sua vida, dia após dia.

“Pra que?” Questionou entre as risadas amargas. “Pra terminar o que seu namorado começou?”.

Ela hesitou por um momento como se demorasse a acreditar na insinuação.

“Não fale bobagens.” Repreendeu ela. “Ele não é meu namorado e eu nunca te faria mal.”.

Dessa vez a risada foi bem real.

“Poderia ter me enganado.” Falou fazendo uma careta, as risadas fizeram sua cabeça voltar a latejar. “Em ambas as afirmações.” Diego encarou a porta por um momento. “E onde está o pequeno psicopata? Vigiando o corredor?” Voltou a falar em tom de zombaria.

A garota hesitou mais uma vez e isso aborreceu e preocupou Diego.

“Eu não posso acreditar!” Exclamou ele levantando o tom. “Você o trouxe mesmo até aqui, inacreditável.” A decepção no rosto do garoto quase feriu Roberta fisicamente.

“Olha, não fale como se ele fosse perigoso ao algo assim.” Falou a garota esfregando a própria cabeça e usando um tom de voz mais hostil. “Ele está arrependido, perdoe de uma vez.” As palavras machucaram, mas não tanto quanto a conclusão. “Não é como se você não tivesse feito mal o suficiente para ele, foi apenas autodefesa.”.

Era impressionante como a garota conseguia o atingir como um soco na boca sem ao menos tentar.

“Você está o defendendo.” Falou Diego em tom calmo, como uma constatação. “Está defendendo o cara que me colocou no hospital.” Continuou. “Saia daqui.” Desviou o olhar. “Roberta, vai embora, por favor.”.

“Olha aqui, Diego.” Falou a garota percebendo o próprio erro, mas sem abrir mão da hostilidade que costumeiramente ditava suas conversas com o Bustamante. “Pare de falar assim do cara, eu não consigo suportar que você se comporte dessa forma infantil.”.

O garoto riu balançando a cabeça.

“Eu não vou fazer isso, Roberta.” Afirmou o jovem machucado. “Ouviu? Eu não vou brigar com você! Saia daqui agora ou eu chamo o segurança do meu pai.”.

“Você não vai fazer isso.” Falou ela confusa e surpresa por ser descartada pela segunda vez em poucos dias.

“Pode apostar que vou.”.

O olhar de resolução no rosto do garoto fez com que ela finalmente entendesse que as coisas haviam mudado.

“Eu...” Ela não sabia o que dizer. “Me desculpe, eu já vou indo.” Foi a única coisa que conseguiu dizer antes de deixar o quarto – e o hospital – apressadamente, esquecendo até mesmo de Xavier.

Incrivelmente, pela primeira vez em meses, Diego sentiu-se bem. Não estava feliz, é claro, mas sentia-se vazio de uma forma que o deixava leve. Talvez, pensava ele, assim fosse crescer. Ele apenas lamentava que tivesse sido daquela forma, não importava que estivesse em uma sala de hospital – completamente neutra e esterilizada –, as lágrimas que molhavam o seu travesseiro eram apenas uma irritação alérgica, nada mais.

Diego havia passado o dia ignorando as ligações dela, então não era uma surpresa tão grande encontrá-la em sua casa, no escritório que seu pai havia designado para ele, na sua cadeira de couro cara.

O olhar no rosto da garota era superior, como se houvesse vencido algum jogo, sua expressão era – como sempre – desafiadora e o garoto precisou de um esforço maior do que admitiria para afastar os pensamentos que a imagem trouxe a sua cabeça.

“Consuelo.” Começou o Bustamante para sua secretária confusa, sem desviar os olhos da ruiva a sua frente. “Meu pai mandou que me obedecesse, certo?”.

A jovem secretária hesitou, seu olhar vagando entre os dois adolescentes.

“Sim senhor, mas...”.

“Está dispensada por hoje, vá para casa.”.

A jovem pensou por um momento, mas o tom sério do filho de seu patrão a convenceu e ela não demorou a deixar a sala.

“Por que não atendeu minhas ligações?” Iniciou a garota em um tom mais ameno do que o que usualmente usava com ele.

Diego demorou a responder, tomando um acento em uma das cadeiras caras, mas decididamente menos confortáveis do que a que a ruiva havia tomado.

“Eu estava ocupado.” Respondeu sem esclarecer qualquer coisa e cruzando os braços. “O que faz aqui?”.

“Eu queria falar com você.” Respondeu a garota que ainda não havia se acostumado com a nova hostilidade nas palavras do jovem a sua frente. “Sobre Xavier.”.

Diego zombou em voz alta, levantando-se e se apoiando na ampla janela do escritório, seu escritório.

“Claro que é sobre o Xavier.” Falou o rapaz sem encarar a ruiva. “Se posso perguntar, qual foi o grande mal que causei ao seu pobre namorado agora? Pois parece que é só isso que sei fazer, não é mesmo?”.

Roberta se segurou para não partir para a hostilidade, a experiência havia ensinado que isso não funcionava com esse novo Diego.

“Eu preciso da sua ajuda.”. Admitiu ela.

Diego virou-se finalmente, voltando a olhar para a garota.

“É claro que sim.”.

“Eu sei que sei pai quer tirá-lo do Elite Way por causa do que aconteceu com vocês dois.”. Ela foi interrompida antes que pudesse completar o raciocínio.

“O que aconteceu comigo e com ele? Claro, você se refere a ocasião em que ele me botou no hospital” Zombou Diego. “Bem, sim, meu pai não gostou muito. Você sabe o quão cara é a conta nessas clínicas particulares.”.

“Pare de zombar, Diego.” Respondeu Roberta começando a se irritar. “Eu estou falando sério.”.

“Bem, sim, eu também lembro de falar sério sobre algo recentemente.” Alfinetou o rapaz em voz baixa antes que pudesse se segurar. “Não importa.” Voltou a falar antes que Roberta tivesse a chance de responder. “Meu pai não o quer na escola e nem eu, se isso era tudo você já pode ir.”.

A garota mais uma vez se viu exercitando a sua contenção enquanto mordia o lábio inferior.

“Eu quero que você converse com seu pai para que deixe Xavier permanecer no colégio.” Falou a garota de uma vez só.

Diego não conseguiu esconder a incredulidade em sua feição.

“E então, você vai fazer isso?” Perguntou Roberta com nervosismo após alguns instantes de silêncio desconfortável.

“Você não cansa não é mesmo?” Perguntou Diego apoiado na mesa com a cabeça abaixada. “Como você pode me pedir isso?” Sua voz deixava transparecer uma fragilidade que Roberta não lembrava de ouvir desde o fático dia em que o rejeitou.

“Por favor.” Falou ela dando um passo em frente para segurar o rosto do jovem a sua frente, era difícil admitir, mas a feria vê-lo daquele jeito. “Faça isso por mim.”.

Diego riu sem humor e sem olhá-la nos olhos.

“Por você?” Questionou ele com a voz quebradiça. “E quanto a mim?” Perguntou sem esperar uma resposta. “As vezes eu me pergunto se você sabe o quão cruel são suas ações.” Considerou Diego, afastando-se das mãos de Roberta. “Talvez faça isso de propósito.” Teria doído menos se ele tivesse a esmurrado no rosto. “Volte para a escola, eles já devem ter sentido sua falta.” Concluiu o garoto encerrando a conversa e apontando para a porta do escritório.

Roberta levantou-se e se dirigiu até a porta.

“Você vai fazer o que eu pedi?” Perguntou ela ao hesitar com a mão na maçaneta. Por alguma razão sentiu-se mal com a familiaridade da cena.

Diego continuava a encarar a janela, sem virar-se.

“Volte para escola, Roberta.” Repetiu ele. “Volte para a escola.”.

Apenas dias depois ele ficou sabendo que, mesmo cumprindo sua vontade, ela tentou fugir com Xavier. Quando descobriu ele mal conseguia parar de rir de si mesmo, mesmo com todos os seus esforços ele não conseguia parar de cumprir todos os caprichos de Roberta e o pior, mesmo ela o ferindo tanto ele não conseguia parar de se importar. Sentindo ódio de si mesmo Diego não conseguia parar de agradecer que a mãe de seu irmão postiço tivesse tido a presença de espírito de ligar para Roberta e convencê-la a desistir de alguma forma.

Era patético, era como uma algema muito apertada e quando mais ele se esforçava para libertar-se mais ele feria a si mesmo.

“Eu vou sair da banda.” Revelou como uma bomba a três de seus cinco companheiros, encarando cada um deles, com exceção dela para quem ele evitava olhar como uma praga. “Xavier contou tudo ao meu pai.”.

“Você não pode estar falando sério.” Resmungou Miguel afundando a cabeça em sua mãos.

Ele não precisava olhar para Roberta para saber que ela estava mordendo o lábio inferior em um misto de arrependimento e culpa, isso não importava mais.

“Eu nunca falei tão sério.” Resmungou Diego. “Como vocês sabem, eu não tenho autorização para estar na banda, muito menos para gravar um disco.”

“Bom.” Começou a falar Roberta, fazendo com que o olhar de Diego caísse sobre ela quase que de forma forçada. “Cedo ou tarde ele descobriria.”.

“Você não está entendendo, Roberta.” Explicou em meio a um suspiro. “Meu pai vai processar a gravadora se eu não parar com isso agora.”.

Os resmungos de seus outros companheiros perderam brilho se comparados com a expressão dolorosa no rosto de Roberta.

“E tem mais.” Recomeçou o Bustamante antes que qualquer um dos outros pudesse acrescentar qualquer coisa. “Eu não vou a Los Angeles e nem em nenhum dos outros shows que temos marcados.”.

O tumulto tomou conta de seus amigos, mas ele logo tratou de interromper.

“É isso, eu vou sair da RBD.” Terminou de forma assertiva. “Eu realmente lamento, pessoal.” Disse o jovem se despindo e se apressando em direção ao seu dormitório, ele só percebeu que havia sido seguido ao não escutar a porta bater atrás de si, não se importou no entanto, jogou-se na cama despreocupadamente, afinal ele tinha uma boa ideia de quem era.

“Diego.” Começou a garota em voz baixa ao se aproximar da cama, sem fazer, no entanto, com que ele abrisse os olhos. “Pense em todos os outros.” Começou a garota de forma hesitante. “Você não pode fazer isso.”.

“Não posso?” Perguntou ainda com os olhos fechados. “Eu já fiz.”.

“Não é justo que por sua culpa ninguém vá para Los Angeles.” Falou a garota frustrada com toda a situação.

Por um lado, isso não deixou Diego mais feliz; por outro, fez ele finalmente abrir os olhos e sentar-se na cama.

“Minha culpa?” Falou ele em tom aborrecido. “Você tá de sacanagem.” Resmungou. “Você não ouviu o que eu falei? Foi o seu namorado que me dedurou e ele só teve a oportunidade porque eu salvei a pele dele. Coisa que, aliás, eu não tinha vontade alguma de fazer.”.

“Bom.” Suspirou Roberta irritada. “Por que fez então?”.

Diego finalmente levantou-se.

“Por que?” Perguntou ele a beira de gritar. “Porque você me pediu e por mais idiota, frustrante e patético que seja eu não consigo me negar a cumprir um pedido seu.” Falou o garoto finalmente explodindo e segurando os braços da garota a sua frente que recuou chocada. “E mesmo com tudo isso você ainda insiste em me ferir e foge com esse imbecil, destruindo meu sonho por tabela.”.

O palavrão após o discurso foi totalmente involuntário, mas justificado na opinião de Diego. Grande esforço em ficar semanas sem brigar com Roberta se no primeiro aborrecimento ele jogava tudo para o alto e voltava a cometer os mesmos erros de formas totalmente novas.

“Eu não aguento mais, Roberta.” Resmungou Diego, voltando a sentar-se na cama e deixando, finalmente, que uma lágrima escapasse. “Você já me tirou tudo.” Falou encarando os olhos paralisados da garota em pé a sua frente. “Você claramente não se importa, então por que não me deixa em paz?”.

Diego deixou Roberta, mais uma vez, sem saber o que dizer. Ela já havia se dado conta de quão cruel e insensível havia sido nos últimos tempos, sobretudo depois de descobrir que Xavier havia mentido pra ela por todo esse tempo, mas ver o garoto destruído em razão de suas ações impensadas a fez sentir-se mal como nunca havia sentido antes.

Sem que conseguisse evitar, seus braços circularam os ombros de Diego que jazia desolado sentado em sua cama. Ela mal notou que seus olhos começaram a refletir as lágrimas que caiam dos olhos do jovem a sua frente e só percebeu isso quando se abaixou para que seu olhar ficasse no mesmo nível.

“Me desculpe.” Ela falou com um tom verdadeiramente arrependido. “Eu tenho sido uma estúpida.”.

Diego riu de forma seca enquanto secava seus olhos em sua manga. Ela odiava aquela risada, tão diferente da que ela estava acostumada a ouvir vindo dele.

“É sério, eu tenho sido uma idiota.” Insistiu ela reafirmando o domínio de seus braços sobre o pescoço de Diego. “Eu não sei aonde eu estava com a cabeça.” Lamentou ela. “Eu sinto falta de nossas brigas, nossas discussões.” Continuou. “Sinto falta de olhar pra você quando cantamos na banda, sinto falta de dançar com você nos shows.” Ela bufou. “Por deus, eu sinto falta até dos beijos roubados, mas não deixe a Lupita ou a Mia ouvirem eu dizendo isso.”.

“Roberta.” Começou Diego com cansaço. “É o suficiente, pare com isso.” Falou ele fazendo menção a se afastar de seu meio abraço.

De alguma forma ela sabia, se deixasse ele se desvincilhar de seus braços agora ele iria embora e tudo estaria acabado para sempre. Ela soube, do fundo do seu ser, que agora era o momento de decidir o que ela queria. Todos sabiam que Roberta era cabeça dura, mas depois de cometer o mesmo erro um milhão de vezes até mesmo ela aprendia alguma coisa.

“Eu não vou deixar você ir.” Falou ela resoluta olhando para os olhos do garoto que roubou seu coração com um fervor apaixonado. “Me desculpe por Xavier, eu estava cega. Me desculpe por não confiar em você, talvez esse tenha sido o maior erro da minha vida.”.

“Roberta.” Implorou Diego. “Já chega, é o suficiente.” Alertou. “Se continuar com isso talvez façamos algo que faça você se arrepender.”.

“Eu não vou me arrepender.” Reafirmou a garota de cabelos vermelhos rindo de forma entrecortada. “É engraçado, mesmo quando dá tudo errado, eu nunca me arrependo quando se trata de você.”.

Diego riu de forma baixa, começando, finalmente, a sair de seu estupor angustiado.

“Agora, isso é uma mentira descarada.” Apontou ele em uma tentativa de brincadeira.

Roberta aproximou-se em seu abraço.

“Não, não é.” Contradisse ela. “É claro, eu choro e esbravejo e falo para as minhas amigas que nunca vou fazer de novo, mas no fim, eu sei que não trocaria isso por nada.”.

Diego balançou a cabeça.

“Eu não sei, Roberta.” Suspirou ele. “E quando seu problema de confiança se tornar um peso grande demais?” Questionou ele incerto. “E quando meu pai atrapalhar as coisas? Porque nós sabemos que ele vai.”.

Roberta mordeu o lábio inferior sem desviar o olhar do garoto a sua frente, enquanto questionava a si mesma sobre as questões levantadas por ele.

“Não importa.” Descartou ela finalmente. “Nós vamos lidar com isso.”.

Diego suspirou balançando a cabeça.

“Eu não sei.” Foi a única resposta do garoto.

“E quanto a isso?” Questionou Roberta antes de cortar toda a distância entre os dois.

O beijo foi, no início, lento e meio incerto. Não demorou, no entanto para que Diego fosse convencido e logo ele estava acima dela, com os dois deitados na cama em que ele estava sentado até agora a pouco.

Poderia parecer repetitivo mas, havia algo sobre beijar Roberta, algo diferente. Não importava se fosse depois de uma das suas brigas lendárias; enquanto rolavam pelo chão em uma tentativa franca de assassinato mútuo; ou ainda, em um dos poucos instantes em que pareciam estar na mesma página, como este. Cada uma das vezes – e Diego lembrava de todas elas como se tivessem sido gravadas a fogo na parte de trás de sua mente – eram indescritíveis.

“Tudo bem.” Falou Diego sorrindo de forma sútil enquanto se afastava apenas um pouco, sem abrir os olhos e mantendo a testa colada com a da garota a sua frente. “Eu senti sua falta.” Falou ele acariciando o cabelo vermelho da garota colada a ele. “Você não tem ideia de como eu senti sua falta.”.

Roberta riu abrindo os olhos.

“Eu acho que eu tenho ideia.” Falou rindo e apertando o abraço.

“Roberta.” Voltou a falar Diego de repente sério. “Não vamos fazer isso de novo, eu não acho que eu suportaria.”.

A garota assentiu com um pouco de tristeza, rapidamente voltando a distribuir pequenos beijos pelo rosto e boca de seu amado.

“É um acordo.” Falou ela séria. “E nós ainda temos um problema.”.

Diego gemeu descontente.

“O que foi agora?”.

“A banda, temos que arranjar um jeito de lidar com seu pai juntos.”.

Diego se afastou.

“Roberta, não há problema algum.” Falou ele em tom de lamentação segurando as mãos da garota. “Eu não posso mais tocar com vocês, é definitivo. Façam um quinteto ou me substituam, acabou para mim.”.

O tapa foi fraco, quase uma brincadeira. Roberta o desferiu sorrindo e sentiu que serviu ao propósito ao ver Diego voltar a prestar atenção na conversa.

“Olha, a única coisa que importa agora é arranjarmos um jeito de você ir para Los Angeles com a gente e vamos fazer isso.” Falou ela arrastando o garoto de volta para seu abraço. “Eu não vou aceitar que te substituam, não seria justo. E não seria a mesma coisa se fossemos entre cinco.”.

O sorriso brilhante no rosto dos dois era inestimável para ambos.

“Eu acho que te amo.” Falou Diego de repente tomando as rédeas do abraço e apertando Roberta em seus braços. “Eu já falei isso?”.

“Eu acho que não hoje.” Falou a ruiva em meio aos risos se aninhando contra o rapaz. “Mas acho que não importa.”.

“A é?” Perguntou o garoto surpreso. “E por que não importaria?”.

“Bem.” Começou a garota olhando para cima e umedecendo os lábios. “Porque eu já sei disso e, além do mais, eu também te amo.”.

Dessa vez quem iniciou o beijo foi Diego e Roberta não pensou, nem por um instante, em se afastar.

“Quer ser minha namorada?” Questionou ele, quase que como em um dejavú. “Para sempre?”.

Poderia parecer estranho dizer isso depois de tudo que havia acontecido nas últimas semanas, mas ela sempre sentiu que havia algo diferente em beijar Diego, algo único, cada uma das vezes e, Deus, ela lembrava de todas elas.

“Sim, é claro que sim.”.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.