CN Beyond: Terrível

O Padrinho – Parte 1


Trilha Sonora: Black Dog Led Zepplin

— PÉSSIMA! HORRÍVEL! UMA MERDA TOTAL! — Resmungou uma patricinha ruiva chamada Mindy sobre a história que acabara de ouvir.

— Eu não entendi esse final. Quem ganhou o jogo? — Questionou Pudim, um garoto baixinho e sardento, introvertido e verdadeiro chorão.

— A ideia é o final ficar em aberto mesmo, lesado. — Zombou Sperg, um jovem mais velho alto e forte, com pose de um valentão.

— Não importa se o final é aberto ou não. Essa história é uma merda! Ela não assusta, não é interessante e nem mesmo tem final trágico ou feliz. Só podia ser coisa da cabeça de uma perdedora como você, Mandy! — Zombou a ruiva da menina que estava a sua frente.

Amanda Maxwell ou como seus colegas a chamavam, Mandy. Uma jovem loira de cabelos curtos, usava uma jaqueta de couro preta por cima de um vestido rosa com uma flor. Ela era uma garota considerada tanto a mais estranha, quanto a mais descolada do terceiro ano. Ela não ligava muito para a opinião dos outros, sempre agia do seu próprio jeito e ironicamente isso chamava a atenção de vários meninos e a fúria de algumas garotas como Mindy. Foi ela que acabara de contar a história que vocês leram. Mandy não era muito de festas e encontros adolescentes, entretanto, por alguma razão, topou ir nesse “acampamento” com uns colegas de classe para beber, fumar e fazer outras coisas que adolescentes certamente não deveriam fazer ainda mais sozinhos. Depois de uma farra, um grupo de uns vintes jovens se juntou ao redor de uma fogueira na floresta próxima a uma usina de energia, para assar marshmallows e contarem histórias.

— Vocês disseram que era para ser uma história sobrenatural não que era para ser uma história assustadora. — Argumentou Mandy.

— É verdade. — Concordou Pudim.

— Mas… Mandy, eu fiquei curioso agora. Quem ganhou o jogo? A menina ou o ceifador? — Perguntou Irwin, um garoto afro-americano nerd e gordinho e que tinha uma queda por Mandy desde o primário.

— Se eu responder, a história perde a graça, Irwin. — Explicou a loira. — Mas, a resposta está bem na frente de vocês. Se vocês prestarem a atenção nos detalhes vão entender.

— É obvio que foi a menina que ganhou. — Afirmou Sperg e depois aprofundou: — Não lembram que ela riu no final? Riu porque percebeu que a vitória dela estava garantida.

— Eu acredito que não. Eu penso que ela riu da própria derrota. — Argumentou Irwin. — O tal do ceifador estava na vantagem, não estava? Ei, Billy, o que acha? Perguntou para o garoto sentado ao seu lado, um sujeito um tanto gordinho, ruivo e com nariz de batata e com um boné engraçado na cabeça. O garoto estava totalmente distraído por um pirilampo que voava sobre sua testa.

— Olha, essa mosca tem uma lâmpada no bumbum! — Disse o garoto evidentemente não muito inteligente ou focado.

— Billy você prestou a atenção na história da Mandy? — Perguntou Irwin ao garoto com uma batata no lugar do nariz.

— Eu lembro que tinha um caminhão.

— Deixa para lá.

Todos os adolescentes começaram a debater uns com os outros tentando chegar a uma conclusão sobre a história da menina. A metade pensava que a menina tinha ganhado, a outra, o ceifador sinistro. Assim eles ficaram debatendo e debatendo até que um jovem, mais velho e bonito, com posição de líder, levantou-se do tronco de árvore que estava sentado e deu a sua opinião:

— Galera, eu sei exatamente quem ganhou o jogo. Para mim, está bem claro que foi o ceifador.

— E o que te faz pensar isso, Nigel? — Perguntou Mandy com um tom sarcástico para o rapaz bonito.

— Simples. A garota não era de sorrir ou rir. Pelo você disse, ela só riu antes disso quando perdeu sua humanidade para o demônio que invadiu a casa dela, certo?

— Sim. — Confirmou.

— Ela riu porque viu que não tinha saída. Ela sabia que ela iria perder não poderia fazer nada. Ela ainda tinha algo dentro dela, mas ela iria perder tudo de novo. A menina riu porque a história se repetiu, ela perdeu sua humanidade outra vez.

Mandy ficou admirada pelo raciocínio do rapaz bonito que retribuiu seu olhar com outro olhar.

— É um bom argumento, Nigel. Estou impressionada.

— Então, o ceifador ganhou mesmo? — Perguntou Pudim.

— Não sei. A resposta certa vocês nunca vão saber e nunca vou dizer a ninguém.

Todos os jovens bufaram ao mesmo tempo, frustrados por terem sua curiosidade negada.

— Hey, galera. Relaxem é só uma história. Isso aqui é uma festa, vamos nos divertir! — Gritou ele e todos gritaram juntos.

Nigel foi até o seu carro com uns amigos que usavam as mesmas roupas de “badboy” que ele, como se fossem parte da mesma gangue, e pegou do porta-malas um enorme barriu que estava cheio de cerveja caseira.

— Ei galera, quem está afim de uma breja das boas? — Gritou ele para os seus colegas que gritaram junto com empolgação. — Essa aqui é uma cerveja da receita da minha família. Apreciem!

O DJ começou a tocar uma música alta animando a todos, menos é claro, a loira descolada que preferiu ir floresta adentro para tragar um cigarro. Ela andou até a beirada de um desfiladeiro, de onde pode ver todo o brilho e o esplendor das luzes noturnas da cidade de Endsville e logo baixo de seus pés estava a usina elétrica que energizava todas aquelas luzes. Ela se perguntou o que aconteceria se alguém escorregasse de lá de acima e caísse entre os fios condutores. Enquanto se distraída com seus pensamentos, ela ouviu um baralho por trás de alguém pisando em um galho. Ela virou-se e viu Nigel segurando dois copos de cerveja.

— A festa está divertida demais para você? — Perguntou ele à moça.

— Não gosto de ficar perto de gente. — Declarou Mandy.

— Eu também. Bom… depende da gente. — Disse sorrindo sedutoramente. — É uma bela vista, não é?

— Sim, mas, não é ela que me desperta interesse. Eu fiquei imaginando como seria escorregar aqui e cair lá em baixo bem nos fios da usina.

— Seria uma tragédia.

— Não. Um pessoa ser assassinada é uma tragédia. Uma pessoa morrer em terremoto é tragédia. Morrer em acidente de carro talvez, mas morrer assim? Não. É ridículo, não uma tragédia. É tipo “ei olha, eu fui burro demais por isso eu morri”

Nigel riu do comentario da garota impressionado por perceber que de baixo de sua seriedade havia um certo senso de humor.

— Eu sabia que você é engraçada quando quer. Gosto de você, Mandy.

— Eu lamento por você. Pessoas que gostam de mim, sofrem. Pergunte ao Irwin.

— Não sei o porquê de você anda com esses caras. Poderia andar com a minha turma, poderia andar comigo.

— Eu prefiro ser a rainha entre os fracos do que mais um peão entre os mais fortes.

— Então… eu sou do tipo… “Forte”? — Insinuou o que deixou Mandy corada e sem graça.

— Não foi o que eu quis dizer…

— Não esquenta, eu entendi. Só estou brincando. — Admitiu. — Eu te entendo, Mandy. Eu já fui como seus amigos. Um “nerd” “quatro olhos”, um valentão batia em mim e garotas me rejeitavam o tempo todo.

— E o que aconteceu com ele? Começou a malhar é? — Brincou Mandy,

— Meu padrinho me ajudou. Ele me fez mais forte e mais confiante e o melhor é que ele ajuda várias outras pessoas como eu.

— Ele parece ser um cara legal.

— Ele é. Apesar de ser muito mal compreendido. Culpa do pai dele que o difamou e deu favoritismo a outro filho.

— Famílias são uma droga.

— Eu concordo. Que tal um brinde? — Perguntou oferecendo um dos copos.

— Eu não bebo.

— Vamos. Tome só um gole. Essa cerveja é especial.

— OK. Só espero que não seja amarga. Se for, eu cuspirei na sua cara.

Depois de brindarem tocando os copos um no outro, Mandy bebeu sentindo um gosto saboroso, porém, havia gosto estranho escondido no sabor. Um gosto que ela não conseguiu identificar.

— Nossa! Essa cerveja é da boa e ela desce rápido. Já estou me sentindo meio…

A visão de Mandy ficou turva, seu mundo começou a rodar e rodar, sem qualquer direção. Parecia que estava na lua. Ela começou a suar frio e sentir suas pálpebras ficarem pesadas. Ela tombou para atrás caindo em cima da grama com seu cigarro escorregando de seu dedo. A jovem tentou reagir mentalmente, todavia, seu corpo não correspondeu. A última coisa que viu antes de tudo ficar preto foi o vulto de Nigel e a luz do luar.