(trilha sonora Blink 182 - Aliens Exist )

Era o final de uma tarde de uma sexta-feira de inverno na cidade de Bellwood, Pensilvânia, onde podia se ver o pôr-do-sol pintando atmosfera de um tom alaranjado e bonito. Perto do limite da cidade, entre as docas e o centro de tratamento de água local, havia um grande outdoor anunciando o lançamento de um certo filme de super-herói estrelado por um ator polêmico conhecido como Johnny Bravo. No topo deste outdoor, um adolescente relaxava ao apreciar a vista daquele belo pôr-do-sol enquanto se deliciava com uma vitamina de morango de sua sorveteria favorita. Ele usava uma calça jeans azul e uma camiseta preta da franquia “Lutadores Sumô”, seu programa de TV favorito desde os dez anos, além de um par de óculos escuros que o ajudava a apreciar ainda melhor a bela paisagem daquela altura. Este jovem era o próprio Ben Tennyson, que se distraía ao escutar as rádios locais em seus fones de ouvidos, a procura de algum acontecimento que exigisse a sua atenção, como se fosse um policial em patrulha.

Depois, que o bloco de música se encerrou, o locutor da rádio local começou a emitir o bloco das notícias do dia:

A famosa repórter investigativa, Daphne Blake-Jones, ex-membra da já extinta ‘Mistério S.A.', denunciou um enorme esquema de fraude nos produtos da multinacional ACME, o que pode pôr a posição do atual presidente da empresa em cheque. Em Townsville, As Meninas Superpoderosas impediram o contrabandista mutante conhecido como, “Fuzzy Confusão”, de roubar o banco da cidade, o que fez a popularidade delas crescer mais 15% nesta semana, sendo esta a maior taxa desde o incidente em Townsville, batizado de ‘evento X’, ocorrido há cinco meses. Em Baía das Orquídeas, Califórnia, ocorreu nesta semana, diversos fenômenos meteorológicos inexplicáveis...”

Com a vitamina terminada, o jovem Ben desligou o rádio e arrotou bem alto sem qualquer arrependimento. Em seguida, ele pegou sua mochila de onde tirou um disco misterioso, um presente de um certo alienígena aliado seu, e com um pressionar de um botão, transformou-se em uma prancha flutuante. Para finalizar, pegou sua mochila, colocou-a nas costas e pulou em cima da prancha de onde deslizou pelos ares.

Deslizou com uma destreza quase que perfeita, como se já tivesse alguma prática natural ao controlar aquela coisa sem qualquer dificuldade ou desjeito. Ele flutuou em alta velocidade até um canal fechado da cidade, onde havia um pequeno túnel aberto que ainda vazava um pouco de água de esgoto, e como um raio ele entrou ali sem mais nem menos. Por sorte, ele estava pairando sobre o ar, então não tinha o risco de se contaminar com nada, mas o cheiro ainda o incomodava. Era tão horrível que os olhos chegavam a lacrimejar. Ele virou no cano da esquerda, depois no da direita, depois direita de novo e esquerda mais uma vez, uma ordem muito bem decorada de alguém que conhecia muito bem aquele trajeto subterrâneo. Em reta final, o jovem Ben saiu por uma ruptura gigante dentro dos canos do esgoto e entrou no que parecia ser um túnel natural cheio de estalactites com uma luz forte em seu fim. Então, lá estava ela, escondida bem debaixo dos narizes de todos os habitantes de Bellwood, a bela, a feia, fedida e estranha, a Cidade de Baixo.

Definir a Cidade de Baixo era algo muito complicado. Seus próprios habitantes não sabiam defini-la corretamente. Para alguns, era um lar turbulento, porém tolerável. Um grande aglomerado de diversas espécies e culturas alienígenas que vieram a Terra em busca de um novo recomeço de suas vidas, afastando-se em anos-luz de distâncias dos problemas de seus planetas natais. Ali, eles construíram famílias e casas improvisadas que constituíam cerca de 3 quilômetros de favelas. Havia também, muitos mercados, bares, feiras e outros pequenos negócios montados pelos próprios moradores fornecendo produtos e alimentos exóticos que obviamente não vieram desse mundo. Já para outros, a Cidade de Baixo era o que se podia definir como um verdadeiro purgatório, isto é, um lugar onde almas vagavam sem rumo e sem qualquer cuidado. Cerca 20% da população total da cidade vivia na mais completa miséria. Muitos não tinham sequer algo pra chamar casa, dormiam nas ruas, nos tetos, nas esquinas, próximo ao esgoto e se alimentavam do lixo humanos e das rações de animais terráqueos que sabia Deus como iam parar ali. Muitos ficavam doentes e morriam ali mesmo sem qualquer ajuda. Se por um lado, a rica e diversa cultura da cidade, resultado do encontro de tantas tradições vivendo em um lugar, tornavam a cidade um lugar bonito de se ver, ela mascarava seu lado cruel e angustiante marcado pela miséria e o sofrimento.

Max Tennyson era um dos poucos humanos que sabia da existência daquele lugar e o frequentava regularmente para ajudar o máximo que podia os habitantes dessa cidade miserável. Ele levava alimentos e suplementos, materiais escolares, ajudava os poucos médicos dali com equipamentos e medicamentos, construía mais casas e botavam ordem quando tinha algum problema. Max Tennyson era quem trazia esperança a essas pobres almas desafortunadas vinda do espaço. Contudo, agora que ele não está mais aqui, essa missão, esse cuidado, esse símbolo de esperança passou a ser de seu neto, Ben.

Há quatro anos, Ben era um menino de 10 anos como qualquer outro, mas tudo mudou em suas férias de verão daquele ano, onde encontrou um relógio estranho dentro de uma cratera que grudou em seu pulso. O tal relógio era na verdade um dispositivo alienígena capaz de transformá-lo em diversos seres extraterrestres diferentes. Originalmente, ele foi mandado à seu avô, um ex-membro de uma força-tarefa intergaláctica secreta com o codinome terrestre de “Encanadores”. Durante esses quatro anos, Max treinou Ben e sua outra neta, Gwen, a usarem seus dons para proteger o mundo. Durante suas férias de verão de cada ano desse período, os três viveram inúmeras aventuras, enfrentando juntos todo o tipo de adversário e sempre saindo vitoriosos, até o último verão onde Ben enfrentou a maior ameaça que ele já havia enfrentado e Max pereceu na batalha final. Agora, cabia a seus netos continuar com seu legado.

Ben deslizou a toda velocidade pelas ruas da cidade até chegar ao mercado do Sr. Baumann, um dos poucos humanos que sabiam da existência do lugar e que trabalhava lá. Baumann era casado com uma das alienígenas que vivia ali e junto com ela, montou um negócio por ali. Também estavam entre os que ajudavam oferecendo alimentos e medicamentos aos menos favorecidos.

— Boa tarde, Sra. Baumann. Está linda hoje. — Elogiou o jovem Ben.

A moça alienígena sorriu para Ben retribuindo o elogiou. — Olá, Ben.

— Eu trouxe as coisas que o Sr. Baumann pediu — Falou o jovem Ben enquanto entregava uma sacola cheia de medicamentos.

— Que ótimo. Pode deixar aqui comigo que entrego a ele. — Avisou a moça verde com uma crista na cabeça. — Ele deu uma saída, mas em breve ele está de volta.

— Beleza. Eu vou falar com o Cooper ali.

Em frente a loja dos Baumann’s, havia uma pequena barraca de eletrônicos que vendia e consertava todo tipo de bugiganga seja alienígena ou não. Quem administrava essa pequena loja era um jovem loiro de cabelo comprido e baixinho que usava um macacão roxo com uma estampa de número 3 no peito. Seu nome era Cooper Daniels, filho de um Encanador falecido com uma mulher da Terra. Tinha um dom curioso com máquinas, quase como se pudesse falar com elas. Cooper era amigo de Ben e Gwen desde os 11 anos e passou de uns para cá a viver na Cidade de Baixo.

— Fala Cooper! — Gritou Ben.

— E ai Ben. — Disse ele. E os dois se cumprimentaram tocando os punhos. — Como vai as coisas?

— Vão indo… — Respondeu o jovem Tennyson não querendo aprofundar demais.

— Como está a Gwen? — Perguntou Cooper que secretamente tinha um queda pela prima ruiva de Ben apesar desta só o ver como amigo.

— Ela… tá bem dentro do possível. Está estudando na Academia Bancroft em outro estado. É aquele internato particular caro para adolescentes esnobes e exibidos. Ela não queria ir para lá, mas o pais a obrigaram e a proibiram de usar os poderes.

— Poxa, vou sentir falta dela. Por que os pais dela fizeram isso? É tão cruel, a magia meio que faz parte dela…

— Eu acho que foi a forma que o tio Frank e a tia Lily aprenderam de lidar com… — Ben tentou dizer, mas não conseguiu completar.

— Eu entendi. Eles querem protegê-la e tals. — Deduziu Cooper. — E os seus pais? Tão de boas com isso?

— Não, mas eles tão superando. Já o lance de herói, eles deixam, mas com algumas regras. Tipo, sem notas baixas e sem faltar às aulas. O que me lembra que eu tenho que ir naquela excursão da escola amanhã para ganhar uns pontos extras…

De repente, o Jovem Ben sentiu um leve puxão em sua camisa e se virou para ver duas crianças alienígenas que lhe tentavam chamar a atenção. Eram ML-E e K8-E, duas meninas kineceleranas, mesma espécie do seu alienígena, XLR8. Ambas eram azuis e tinham linhas em torno dos olhos brancos e uma cauda curta, claro, seus pés tinham as icônicas rodas que eles usavam para correr muito rápido. K8-E era mais alta e mais velha e bem magrinha em contraparte da sua irmã caçula ML-E que era baixinha e um tanto cheinha.

— Senhor Tennyson… — Chamou ML-E enquanto o cutucava.

— ML-E, me chama só de Ben. “Senhor Tennyson” me faz parecer velho.Tenho só catorze.

— Desculpe, Ben. É que precisamos da sua ajuda… — Pediu a menininha

— O que foi? Manda que eu aguento. — Ele disse confiante.

A mais velha, K8-E entrou a jovem Tennyson um cartaz com uma foto de um kinecelerano mais velho que Ben imediatamente reconheceu como o pai delas.

— Nosso pai sumiu. Está desaparecido desde ontem. — Explicou K8-E — Ele foi na superfície usando uma máscara de disfarce holográfica e até agora não voltou. Você pode nos ajudar?

— Quer saber? Eu posso sim. Nada que os sentidos aguçados do Besta não ajudem. Ele não deve ter ido longe, quero dizer, ele deve estar bem.

— Obrigada, Ben. — disseram ambas as irmãs que sumiram em um raio de luz superveloz.

Ao olhar a foto do homem desaparecido, Ben bufou e gritou de exaustão.

— Ai cara, por que a galera daqui insiste tanto em ir para superfície?! — Reclamou Ben ao vento — Eu já falei tanto para eles não fazerem isso. É perigoso! Pode expor todo esse lugar e ainda atrair gente do governo ou da imprensa e aí todo mundo já era.

— Tem que observar pelos olhos deles, Ben. — Apontou Cooper. — Eles são seres desamparados em busca de um lugar para chamar de lar. Aqui pode até ser seguro para eles, mas eles carecem de alimentos e medicamentos. Eles não têm escolha a não ser se arriscar no mundo lá fora para tentar melhorar as coisas.

Ben enfureceu-se ao sentir-se impotente e socou a mesa do balcão da loja de Cooper.

— Merda! Merda! — Resmungou Ben. — Se ao menos tivessem contato com os Encanadores…

— É, mas infelizmente não temos, parceiro. Quando a Terra violou o acordo intergalático há três décadas, os Encanadores encerraram todos os contatos, desativaram todas as instalações, incluindo as bases de comunicação intergaláctica que ficavam na lua e levaram todos os recursos tecnológicos não correspondentes com a Terra. Eu até acho que se a gente mandasse uma mensagem explicando tudo, eles viriam. Eu até tô trabalhando em um comunicador para isso, o problema é que para construir um dispositivo para mandar uma mensagem tão longe, precisaria de recursos de tecnologia nível 3 em diante, no mínimo. No entanto, a maior parte da tecnologia nível 3 pra cima na Terra fica ou com governo ou com algum nerd rico como Dexter Tartakovsky e, sinceramente, não acho que eles iriam querer ajudar essas pessoas sem antes dissecá-las primeiro ou coisa pior.

— Não tem nada que possamos fazer mesmo? — Perguntou Ben decepcionado consigo mesmo — O Ultra T ou o Massa Cinzenta não poderiam ajudar?

— Infelizmente, não. Ultra T só melhora o que foi criado e bem… não temos nada criado neste planeta atrasado de merda que esteja ao nosso alcance no momento. Não temos o que fazer a não ser proteger essas pessoas até alguém aparecer — Explicou Cooper com um certo lamento demonstrando entender as decepções de seu amigo.

— Que merda! — Ben resmungou alto, mas em seguida se acalmou — Preciso de um pouco de ar, cara. Vou voltar para a patrulha. Vou tentar achar aquele pai desaparecido. Se rolar alguma coisa, você me avisa?

— Pode deixar. Vai na fé — Disse Cooper se despedindo de seu amigo.

Ben puxou sua prancha flutuante da mochila e montou nele novamente e disparou em voo pelos mesmos canos que havia usado para entrar. Dessa vez, ele estava nervoso e determinado a mudar as coisas para aquelas pessoas não importa como faria.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.