C.F.I.D

A SOMBRA DA NOITE — AIDAN



AIDAN

DIA 02

Era a minha segunda vez esperando pelo Yo Ho. Até o momento, a remixagem ensurdecedora me incomodava mais. A diversão na Hype Night Club era prestigiada pelo conceito futurístico. Imagens de adultas futurísticas rodopiando no palco me lembraram acidentalmente de Guerra nas Estrelas, sem conformidade. Enroupadas com uma armadura metálica e bastantes pinos nas ombreiras, esta era a moda futurística das bailarinas. Muito se falava de suas maquiagens cromáticas feitas sobre o ponto de fusão entre galáxias. Para um horário noturno de vinte e uma horas, eu compreendia a modéstia dos trajes. A partir das vinte e três horas, acontecia a libertação da devassidão.

Talvez eu devesse beber sem pressa. Agarrei o copo de Yo Ho resfriado. Na estante espelhada de bebidas, reparei na mulher que sentou do meu lado no balcão. Minhas pernas saíram de sintonia. Tudo se tratava de uma fase maníaca bem nervosa e sem medicações. As recomendações antigas proibiam o consumo desenfreado de álcool. O estabilizador de humor não estava mais tendo utilidade; negligenciei o uso há uma semana. Meu hálito quase sempre era inflamável. Resumidamente, tudo parecia uma conclusão de desesperança. Nenhuma cura seria alcançada com a pílula. Minha mente deveria ser remexida confortavelmente por mim e não por um efeito agonista furtivo. Verdadeiramente, qualquer uma das opções era péssima.

Fui otimista quando interrompi o estabilizador. Naquela semana, minha firmeza era suficiente para aguentar. Não recorreria ao vício; todas as ramificações nervosas do meu corpo já apareciam entediadas com a conscientização, e, no decorrer dos dias, a mensagem acabou sendo obstruída ainda na minha cabeça. Eu não aceitava o fato de ser duas vezes bipolar. A mudança repentina de humor já bastava; pouca necessidade havia para sintomas e um transtorno literal. Descansei o copo no balcão pela metade. Minhas papilas apareciam inativas para captar o sabor da bebida.

Foi o momento assertivo para vivenciar a culpa. Nessas horas, eu me refletia em um espelho de erros. A interrupção do lítio, tanto êxtase de confiança, a fase da mania pela irresponsabilidade. Eu me acolhi numa colcha de retalhos de emoções com o meu velório pela rua. Para onde me levaria a extensa calçada, eu não imaginava. Uma parte interrupta de concreto poderia ser usada para caminhar. Vindo de longe uma buzina, reavivei a perspectiva da estrada, afastando o corpo para o aviso do motorista. Aguardei o fechamento do sinal. Dei progressividade até a praça do outro lado. Me senti mais sossegado ao levantar as mangas da camisa marrom antes de me sentar em um dos bancos. Qualquer viajante agradeceria em não deparar com nenhum maluco depressivo na beira da estrada. Passei cinco minutos na minha filosofia existencial; alguma brecha começou a aparecer da minha bolha enclausuradora, me apresentando as outras partes da rua. Apreciando algumas vitrines fechadas, ela parecia ter saído de um livro de desenho. Os cabelos escuros, cuidadosamente separados em um ombro. Meu rosto se estabilizou no ângulo esquerdo diante da porção nua das costas dela. Se anteciparia o momento que faríamos nosso primeiro contato. Não fazia sentido esperar ela desviar. Primeiramente, identifiquei o som dos movimentos e a quimera descansou no banco.

— Pensei que fosse alguém conhecido. — Minha surpresa foi mal ensaiada quando ela falou. — Tem algum lugar para ir?

— Se você me mostrar, eu te pago uma cerveja. — respondi, trançando os braços como arames firmes contra a corrente fria que varria a praça.

— Que áurea triste. — Examinei o rosto dela. Dispensei a discrição pelo corpo, um vasto ecossistema. Mariposas, um trio de joaninhas-vai-com-as-outras, libélulas. A representação da mãe terra. — Quer ser levada pela primeira pessoa que não conhece.

— Pode ser que não seja tão ruim.

— Adivinha onde eu trabalho.

Não pensei duas vezes.

— Em uma máfia.

— Às vezes pode ser. — A musculatura facial dela se contorceu de forma analítica.

— Não dói? — Objetivei para as tatuagens.

— Se dói, nunca senti. Geralmente, eu fico sob o anestésico do álcool.

— E assim se esquece de que é ambientalista.

— Eu nem gosto muito de meio ambiente. Sou mais a favor de um mundo com insetos voadores.

— Não vou duvidar que já teve um de estimação.

— Uma libélula. — Achei estranho a maneira como ela penteava os cabelos com os dedos. — Na primeira oportunidade, saltou para fora. Ainda vi um sapo engolindo-a. Dei mais razão para a minha causa.

— Deixou uma homenagem para ela. — Indiquei a libélula roxa no ombro.

— Era verde, na verdade. Sempre tive preconceito com ela.

Não faltava muito para piorar o meu astral, pouca necessidade eu tive de pensar nisso no decorrer da conversa. Quanto mais ela se remexia, mais eu via coisas com asas na pele dela. Meu sorriso já não era mais forçado. Numa sessão de alongamentos, os músculos deslizavam tipo fluidos de um córrego. Minha obstinação acabou perdendo. Era algo tão simples pronunciar o meu nome. Eu nem redigi, tive uma forte impressão de que era proposital ela me chamar de Adão.

Ela se invalidaria como uma fumaça. Caminhando independentemente na calçada, não a enxerguei mais.

De toda forma, a plateia aplaudiria mais forte dentro de mim. Eu não sabia quando o espetáculo acabaria; na verdade, estava encoberto por um cortinado grosso e denso. Minha dor não morreria por escuridão e falta de ar. Meu rosto ficaria imóvel, os músculos se contraíam, quão difícil seria tirar água de um córrego seco. Pietro me encontrou na porta, a fixação dele atrás de mim estava no chaveiro. Nada mais me enganava, deparando o tufo amarelo regurgitado no tapete branco. Pietro tentava encobrir os vestígios do crime com afagos de cabeça e cauda.

Uma coisa que eu dizia sem medo: Pietro era um miserável. Minha condolência surgiu após recolher a caixinha no estacionamento do supermercado. O arcabouço filhote marcado e desacelerado me fez agilizar o pronto atendimento. A nossa história foi construída por encadeamentos. Eu não tinha como voltar atrás na minha responsabilidade; vendo-o com a equipação de agulhas e soros, estive completamente crédulo de que ele não resistiria. O esforço trouxe resultados, os olhos foram remexendo dentro das órbitas; e assim uma inspiração completa e o preenchimento do seu corpo. Achei que seria difícil a amamentação com a mamadeira, até a minha primeira demonstração experimental. Eu perdi o meu sossego por não analisar os prejuízos. Unhas, bolas de pelos e cio. Ficaria na lembrança o maior pico de raiva, o espirro de xixi na tela do notebook. Eu fiz a agressão delicada com almofadas.

Nenhuma delicadeza eu tive em retirá-lo de cima da cama; do lado de fora do quarto, ele freiou com o fechamento da porta. Insone alguns minutos no edredom, minha preocupação era na quebra do ciclo eufórico para o depressivo. Tudo seria fraqueza e dependência. Não resisti ao impulso de desfragmentar a minha alma. Um desabamento de concreto mal cimentado pela mão de obra frequente. Tive forças para me levantar dos destroços da tragédia, o afastamento do edredom me proporcionou muita quantidade de ar. Sempre fui um caso raro de discordância. A medicação estava em total desacordo na fase eufórica, enquanto nos períodos de abatimento dominava o desespero de seguir o recomendado e a culpa das falhas ignorantes.

Mais outro juramento acabava de ser apresentado. A bola amarela se lançou para dentro do quarto quando abri a porta. Na minha lembrança, o estabilizador estava engavetado no banheiro. Apanhei a cartela, peguei um copo com água na cozinha. Redigi um novo testamento mental na poltrona. Na escuridão, eu não enxergava melhor do que Pietro. Ele veio de encontro à minha mão; despertei deduzindo a esparramação do meu corpo, pois meus braços alcançavam toda a braçadeira. Inconscientemente, meu cérebro, de alguma maneira, apaziguou o comichão no meu pescoço. Na ausência de pernilongos, pelo conhecimento, atribuí ao efeito colateral.

Já passava do horário máximo da madrugada. Em poucas horas, o despertador soaria. Na mente, tive várias sugestões para as manchas que estariam presentes no próximo dia.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.