By The Way
The Kill
- E aí, como foi com o Percy? – Thalia perguntou enquanto elas caminhavam pela orla da praia naquele final de tarde. – Fizeram as pazes?
- Não. – Annabeth disse simplesmente.
- hm? Como não? Me explica.
- Eu disse que não ia desistir dele, não disse que o desculpava.
- Você é muito complicada.
- Eu? Complicado é ter que aturar o Percy.
- Complicado é a relação entre vocês.
Annabeth sorriu.
- Nós temos um relacionamento.
Thalia engasgou com gole de água que havia tomado.
- What? Relacionamento? Que história é essa?
Annabeth ria da expressão da amiga.
- Um irônico e instável e conturbado relacionamento...
- Eh... Complicado.
Logo elas mudaram de assunto e passaram a falar das pessoas de Louisiana e das coisas que haviam acontecido na ausência de Annabeth.
Quando estava chegando em casa, Annabeth avistou Mike, Marshall e Percy conversando no portão. Marshall parecia ansioso, Mike preocupado, Percy não deixava transpassar nada, além de preocupação.
Annabeth barrou Thalia com o braço e pediu pra amiga ficar em silêncio com um gesto mudo.
Observaram até os garotos se dirigirem até a garagem. Annabeth pediu pra que Thalia a seguisse ainda me gestos mudos e elas correram até o interior da casa e pararam na porta que dava acesso a garagem.
- ... Tinha que ser hoje! – Percy ia dizendo, revoltado com alguma coisa.
- Você sabe que eu não controlo nada, só participo. – Mike disse.
- Eu não quero ir.
- Quê?! Percy você sabe que gente precisa de você! – Marshall disse exasperado.
- Não! Vocês não precisam! – Percy rebateu.
- Percy, você entrou nessa porque quis, não pode desistir agora. – Mike disse sério.
- Poder ,ele pode, eu só não ia gostar de quer que dar um tiro nele. – Marshall disse.
“Tiro? Que história é essa de tiro?” – Annabeth se perguntou ficando imediatamente desesperada com a conversa.
- Tiro? Você sabe que a gente ia ter que matar ele! – Mike exclamou.
- Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui! – Percy interveio.
- Você que sabe, Percy. O destino é seu. – Marshall sentenciou.
- Quê?! Você está insinuando que teria coragem pra matar o Percy? – Mike perguntou ofendido.
- Qual é Mike, você sabe que nesses casos ou ele morre, ou matam todos nós!
- Hey! Sem pânico! Eu ainda estou aqui e não decidi se quero morrer ou não. E Marshall, vai se fuder. – Percy disse antes que Mike pudesse responder.
- Então você vai?
Percy suspirou.
“Idiota.” – Annabeth pensou. Ainda não sabia do que eles estavam falando, mas a morte de Percy havia sido cogitada e isso a preocupava. E muito.
- Cadê a Annabeth? – Percy perguntou em voz baixa.
- Percy, isso não é hora pra pensar na Annabeth e nas paranóias dela! – Marshall gritou. – Nós temos meia hora pra estar lá e ainda nem arrumamos as coisas!
O silêncio dominou.
O coração de Annabeth batia tão rápido e tão forte que ela achava quase impossível ninguém o estar ouvindo.
- Sabia que você não ia me desapontar. – Mike disse em tom to mais animado. – Não depois de tudo o que a gente passou.
“Droga! Idiota! Imbecil! Retardado!” – Annabeth xingava mentalmente.
Pra o que quer que fosse, Percy havia assentido.
Logo começaram vários barulhos que nem Annabeth nem Thalia sabiam o que era.
- Merda, eu deixei minha faca lá em cima! – Mike disse.
- Merda! – Thalia exclamou.
As duas saíram correndo e encostaram na pia da cozinha assim que Mike abriu a porta.
- E o Charlie pediu a Silena em namoro no coreto da praça. Foi muito cafona. – Thalia disse como se estivesse realmente contando aquele fato.
Annabeth fingiu interesse no que Thalia falava enquanto agradecia mentalmente pela amiga ser tão fingida.
- Oi meninas. – Mike disse atravessando a cozinha em poucos passos.
- Mike, que cara é essa? – Annabeth perguntou fingindo indiferença.
- Eu vou sair. Não me espera.
- Não te espero pro jantar?
- Pro café da manhã. – ele disse sério.
- Aonde você vai?
- Melhor você não saber. – ele disse e saiu da cozinha.
- Algum palpite? – Thalia perguntou assim que Mike chegou ao corredor.
- Briga de gangues. – Annabeth disse engolindo seco.
- E agora?
- Volta pro hotel e reza pra mim estar viva amanhã de manhã.
- Você está louca? Nunca que eu vou te deixar ir pra uma briga de gangues, Annabeth! E que diabos você vai fazer lá?
- Arrastar o Percy e o Mike de volta pra casa.
- E como você pretende fazer isso hein, bonita? – Thalia perguntou com sarcasmo.
- Do jeito deles!
- Juro que você está perdendo o juízo!
- Volta pro Hotel Thalia!
- Never! No way! Eu vou com você!
- No way pra você! Eu não vou deixar você morrer!
- Cala sua boca, eu não to de pedindo permissão! Qual o plano?
- Não tem plano.
- Eu te odeio.
- E eu não te levo a sério.
Esperaram até Mike passar de volta pra garagem e grudaram os ouvidos na porta novamente.
- Pra onde nós vamos? – Percy perguntou.
- Posto sete. – Mike disse.
Annabeth ouviu alguém armar um gatilho, esse era o único som que vinha do outro cômodo.
- Percy, a Annie tá aí na cozinha. – Mike disse com a voz baixa.
Annabeth puxou o braço de Thalia e as das voltaram a pia.
- E a Clarisse veio me dizer que o Nico estava dizendo pra todo mundo que eu era a próxima na lista dele! – Thalia começou a dizer assim que Percy adentrou a cozinha.
- Annie? – Ele perguntou com a voz falhando, a expressão ainda preocupada.
- Oi Percy. – Ela respondeu escondendo a indiferença.
- Posso falar com você? – Ele perguntou indicando a sala.
- Claro.
Percy foi o primeiro a entrar no cômodo vazio e se virou pra Annabeth.
- Me abraça? – ele pediu.
- Quê?
- Eu estou com um pressentimento ruim. – ele disse sério. – Me abraça?
Annabeth atendeu o pedido de Percy.
- Que pressentimento é esse? – ela sussurrou
- Você não precisa saber.
- Eu quero saber.
- É bobo.
- Tudo o que vem de você costumar ser assim.
- Eu to sentindo que vou morrer.
Aquela frase fez o coração de ambos subir algumas batidas.
- Não diz isso. – Annabeth disse pressionando seu corpo no de Percy com mais força.
- Eu não quero nem pensar, mas a sensação é mais forte que eu.
- Eu sei pra onde você vai agora.
Percy suspirou.
- Você vai ficar bem. Você me disse que nunca matou ninguém, então é só fazer como das outras vezes e nós vamos nos ver de manhã.
- Não é tão simples agora.
- Porque não?
- Tenho que ir.
- Fica.
- Não posso.
- Por mim.
- Se eu ficar, eles vão ter que me matar.
- Me explica isso.
- Amanhã.
- Estou com medo.
- Não fica.
- Me deixa ir com você?
- De jeito nenhum!
- Mas tem meninas lá.
- Você não é como elas. Você não merece estar lá.
- Você também não.
Percy a apertou com mais força e depois a soltou.
- Eu sei que você está pensando em vir atrás, mas, por favor, por tudo o que é mais sagrado, não faz isso. – Percy disse sustentando o olhar dela.
- E se você morrer?
- Eu não vou. Eu tenho motivos pra viver. – Ele disse quase sorrindo. – Tchau.
Percy já tinha alcançado a porta da cozinha quando Annabeth correu até ele.
- Nada pode me parar quando eu ponho uma coisa na cabeça. Eu vou estar lá. – Annabeth disse puxando o braço de Percy.
Logo em seguida colocou suas mãos no rosto do garoto e o puxou pra mais perto, colando seus lábios nos dele com rapidez.
- E nunca se esqueça o quanto eu te odeio. – Ela disse empurrando Percy de volta a garagem e fechando a porta.
- Que foi isso? – Thalia perguntou de boca aberta.
Annabeth apenas sorriu.
- Nós precisamos achar armas.
- Você sabe atirar?
- Não. – Annabeth disse indiferente.
- Sabia que eu não estava fim de morrer esse ano?
- Nós não precisamos morrer, oras.
- Adoro sua confiança.
Elas esperaram até que os meninos saíssem e virassem a esquina pra poderem entrar na garagem. Onde já entraram abrindo portas e gavetas.
- Achei! – Thalia exclamou depois de ter tirado várias ferramentas de uma caixa.
- Que tem aí? – Annabeth perguntou se juntando a amiga.
- Não faço idéia, mas pode matar.
- Já é um começo.
Annabeth colocou a mão na caixa e puxou, sem receio, a maior dentre as armas na caixa.
- Tem munição aí?
- Só a arma não tá bom?
- Para de ser medrosa Thalia!
Cada uma pegou uma arma de porte médio e uma pequena.
- E agora?
- Quarto do Mike. Lá deve ter alguma coisa.
Annabeth estava certa, acharam alguns canivetes, facas e munição no quarto de Mike, colocaram tudo na mochila de Annabeth e saíram ambas tremendo muito.
Foi com muito esforço que encontraram o tal posto sete, que era uma usina abandonada na parte mais precária da cidade.
Assim que se aproximaram dos portões, puderam ouvir tiros. O sangue de Annabeth gelou, Thalia engoliu seco.
- Isso é realmente uma briga de gangues? Eu sempre pensei que fosse porradas primeiro, não tiros! – Thalia disse.
- Eu também achava isso. – Annabeth disse ainda encarando o portão. – Mas já que estamos aqui, vamos entrar de uma vez.
Assim, Annabeth abriu a mochila e colocou uma faca em cada bolso da jeans e ficou com uma arma na mão. Thalia pegou apenas uma arma.
- Annabeth? – Disse alguém a suas costas.
Annabeth se virou assustada, a arma apontada diretamente pro rosto do homem, as mãos trêmulas.
- Como você sabe meu nome?
- O Percy disse que você viria.
- Quem é você?
- Não se preocupe com isso.
- Que você quer? – Thalia perguntou.
- Eu não vou deixar vocês entrarem.
- Que só ver. – Thalia rebateu.
O homem se aproximou, as duas levantaram as armas, Thalia mais firmemente que Annabeth.
- Mais um passo e diga adeus a sua vida. – Thalia ameaçou.
- Você não vai atirar.
- Duvide da Annabeth, não de mim.
- Hey!
- Desculpa.
O homem se aproximou de Thalia, não considerava Annabeth uma ameaça. Esse foi seu erro. Annabeth deu uma coronhada na cabeça do homem, e esse caiu no chão. Annabeth conteve o grito.
Thalia pegou sua mão e as duas entraram na usina, onde foram recebidas com um empurrão.
- Saiam da frente, vadias! – gritou a garota passando correndo com uma arma na mão, a expressão selvagem.
- Vadia é sua... – Thalia ia dizendo, mas Annabeth colocou a mão em sua boca.
- Você acha que ela vai vir aqui te dar um soco se você terminar essa frase? Particularmente acho que de lá mesmo ela acerta um tiro em você.
Thalia aliviou a expressão homicida.
- Como nós vamos achar o Percy aqui?
- Não faço idéia.
- Primeiro de tudo, isso aqui é uma guerra de fodões. – Thalia disse enquanto elas caminhavam pelo corredor escuro. – Aja como uma.
- Fácil pra você.
- Qual é, já assistiu The Runaways? Então, eu sou a Joan e você a Cherie no começo da carreira*. Fácil.
- Isso não é uma boa hora pra sua síndrome de Joan Jett.
- Isso não é uma boa hora pros seus ataques. Não se esqueça que é culpa sua nós estarmos aqui.
Elas entraram em um corredor pouco mais claro, onde um rapaz alto, todo tatuado correu na direção delas.
- Sem pânico. – Thalia disse levantando a arma.
O rapaz se aproximou e colocou a arma diretamente na testa de Thalia, essa apontou a arma diretamente pro coração do rapaz.
- Com quem vocês estão, gatinhas?
- Não te interessa. Sai da minha frente antes que eu te mande pro inferno. – Thalia disse com tanto desprezo na voz que assustou Annabeth.
O rapaz abaixou a arma e correu. Thalia atirou pro alto.
- Thalia!
- Calma, assim ele vai ver que eu não estou brincando. Pra onde a gente vai agora?
- O Percy disse que as coisas não eram tão fáceis agora, então ele deve estar na parte mais “legal da brincadeira”.
- E onde é isso?
- Siga o som dos tiros.
- Sua inteligência me assusta.
Annabeth quase sorriu.
Avistavam mais pessoas a cada corredor que viraram, não sabiam pra onde estava indo, apenas estavam seguindo a confusão.
Todos que passavam por elas as ignoravam, talvez por nunca as terem visto, talvez porque o medo estivesse estampado em seus rostos.
Annabeth abaixou a arma enquanto Thalia olhava um rapaz levar uma facada no peito e cair no chão.
Alguém puxou a arma de sua mão, quando se virou, a garota que esbarrara com elas na entrada segurou Annabeth pelo pescoço e a encostou na parede, com uma faca em sua garganta.
- Com quem você tá? – a garota perguntou aos gritos.
- Com ninguém!
A garota bateu a cabeça de Annabeth na parede.
- Fala!
- Não! – Annabeth gritou de volta, lembrando das palavras de Thalia.
- Fala! Se não eu te mato!
Annabeth pegou uma das facas em seu bolso.
- Não! – Ela gritou e passou a lâmina da faca no antebraço da garota deixando sua garganta livre.
Olhou pros lados, mas não viu Thalia. A garota tentou esfaquear Annabeth, mas essa desviou a faca com um chute no estômago da outra que conseguiu deixar a faca na perna de Annabeth antes de cair ofegando no chão.
Annabeth conteve o grito de dor enquanto se abaixava pra recuperar sua arma. Sentiu o sangue escorrer por sua perna encharcando sua jeans, mas não quis olhar o ferimento na parte posterior da coxa. Encostou-se na parede e puxou a faca. A dor piorou. Com a saída, a faca rompeu um nervo, contendo alguns movimentos de Annabeth.
- Merda!
Annabeth andou até o último corredor onde os gritos eram mais fortes e os ruídos mais contínuos.
O que parecia ser uma sala de máquinas estava completamente destruída, vários corpos caídos pelo chão e pelas mesas. Annabeth avistou Mike correndo por cima de uma esteira xingando enraivecido enquanto trocava tiros com alguém.
Annabeth tropeçou em um corpo e acabou caindo no chão por conta de tanta dor na perna ferida. Ela se arrastou até um painel de controles, mas não era a única ali.
Logo que encostou a cabeça na mesa, sentiu um cano quente em sua têmpora. Por incrível que pareça, aquilo não a assustou, manteve a expressão séria, mas não virou o rosto.
- Droga Annabeth, quem deixou você entrar? – Percy perguntou se lamentando enquanto abaixava a arma.
- Percy! – Annabeth disse o puxando pra um braço rápido e apertado.
- Hey, você está sangrando! – Percy disse quando viu i sangue em sua calça.
Annabeth baixou os olhos até a mão que Percy mantinha no abdômen.
- Você também! Que...
- Shii. Agora não. Quem deixou você entrar, cadê o Erik?
- Eu dei uma coronhada nele.
- Eu vou matar você! Onde você achou essa arma? Caralho, Annie!
- Percy! – Veio o gritou distante. Era Mike.
- Fica aqui. – Percy disse e se levantou.
Annabeth se arrastou a tempo de ver Percy desferir três tiros nas costas de alguém que segurava Mike pouco a frente. O rapaz caiu aos pés de Mike, que o chutou. Assim que Percy virou, outro rapaz apontou uma arma pro coração de Percy.
- Adeus. – Ele disse e preparando o gatilho.
- Não! – Annabeth gritou. Apontou a arma e fechou os olhos no momento que atirou.
Quando os reabriu viu Percy e o rapaz caindo no chão.
Seu coração deu palpitadas lentas e pesadas, o ar fugiu de seus pulmões, sua visão ficou turva quando seus olhos se encheram de lágrimas.
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