Stella era a melhor amiga de Lana del Rey e sua assistente fixa após a entrevista mal interpretada sobre sua possível "depressão" e falta de amor pela vida. O que me causava certo pânico, por assim dizer, já que Stella conhecia as vontades daquela mulher mais do que eu, uma novata, conheceria em um ano juntas. Seria um longo caminho, com longos percursos e desafios, contudo eu estava mais do que pronta para dar um basta na bestialidade da minha vida cotidiana e entrar de cabeça em novos planos.

Isso, contudo, durou até o momento em que minha mala tocou o chão do hall do apartamento de seu namorado italiano, Francesco. O que era para ser uma iniciação agradável, tornou-se em um leve desconforto crescente.

— Você está atrasada - foram as únicas palavras despejadas de sua boca séria. Não houve sorrisos ou perguntas. Tudo que ela sabia de mim provavelmente se baseava em um email enviado pelo amigo do meu parente, e digo, era escasso. Certamente haveria uma pitada de desespero nele quando me deixou escapulir para aquela aventura, mas ele não deixaria isso transparecer facilmente.

— Eu já verifiquei o voo a caminho de cá. Estamos no horário se pegarmos a estrada principal e...

— Ela sabe como fazer - ele a completou, encerrando minha tímida justificativa. Por dentro eu entendia o olhar desesperançoso do homem quando viu meu currículo. Entendi que estaria desempregada sem dinheiro para uma possível terapia acerca do tema "sou muito inútil para conseguir um emprego".

Retirei-me do local com as duras criticas e assisti aos dois se posicionarem dentro do carro. Eu guardei as bolsas comigo no banco traseiro enquanto ela dirigia seu Chevrolet filmado. Francesco deu uma risadinha e com um tom de voz carregado de sotaque, despejou um doce "você sabe dirigir melhor do que eu por essas ruas" provavelmente se desculpando para mim, em uma justificativa levemente machista. Eu ignorei ambos, me concentrando nas passagens aéreas. Depois, sem muito além de uma longa paisagem tipicamente californiana, eu decidi confirmar com o hotel as reservas, com o silêncio predominando no ar. Os dois as vezes trocavam caricias ou falas, mas eram rasas. Eu, contudo, prestava atenção, por medo de causar uma segunda má impressão.

Ao chegarmos no aeroporto, notei o primeiro sinal de amizade. Ela deu um leve sorriso e me guiou pelos corredores da imigração. Iriamos pegar um voo doméstico e várias pessoas já haviam percebido sua presença. Logo, seguranças aeroportuários começaram a trabalhar para evitar as jovens de pularem no pescoço da Del Rey. Impressionada, eu não percebi quando era minha vez de entregar meus documentos.

— Vamos logo - ele desbocou em mais uma frase rude - Quero sair logo daqui, essas meninas estão dando-me nos nervos.

— Calma, querido - ela o deu um leve selinho - Vamos logo embarcar.

— Preciso ir no banheiro antes. Vou ir agora, já que ela demora muito - ele olhou tanto para mim quanto para a moça do guichê e nós ficamos em silêncio, em resposta a tantos maus-tratos.

— Ele é assim, mas ele não morde - Lana disse-me quando o eventual desafeto deixou-nos - E me desculpe por ser tão grossa, eu estava nervosa com ele me apressando e nem nos cumprimentamos direito. - agora ela havia sorriso e era um sorriso lindo! - Como se chama mesmo?

— Samantha Fields.

— Samantha, vou te chamar de Sam. Meio clichê, não acha?

Eu ri.

— Clichê é uma metáfora. O que é pra mim, talvez não seja pra você.

Lana abriu os lábios desafiada a dar uma resposta, mas se calou. O ar cômico ainda pairava no ar. Estava impressionada.

— Sagaz.

— Eu tento. - respondi, pegando meus documentos - Então, quer comer alguma coisa?

Ela sorriu e eu também. O nosso desafeto ainda estava em um dos banheiros por perto.

— Quase como um pedido de encontro - brincou, deixando-me corada - Desculpa, eu fazia essas brincadeiras com a Stella, porque ela é minha amiga, mas eu me esqueci que não temos intimidade. Força do hábito.

— Eu não ligo, pode continuar.

— Precisa muito desse emprego, hein?

— Dinheiro é o hino do sucesso.

Ela se desfez em um riso.

— É minha fã? - e era uma boa pergunta. Poderia dizer a verdade, que sim, eu era, mas isso talvez lhe causasse medo e um possível desemprego. Mas, preferi ocultar que tinha todos os cds dela em casa e que suas músicas tocavam as batidas da minha solidão. Então, esquivei-me ao máximo possível naquela situação - Já ouvi algumas sim, gosto do estilo. Mas, eu não sou obcecada.

— Deveria ser - ela sorriu ao ver o namorado voltando, mas ainda posando com aquele astral cômico - Sua alma é minha agora.