Quando o emprego foi ofertado à mim, sabia que meu tio não havia dito à ninguém que eu era uma grande fã dela, então na minha qualidade de menina que poderia ficar desempregada, como eu poderia lhe contar a verdade?

Mirando as outras fãs conversando na fila para o camarim de Lana, eu sentia como se pudesse adentrar na conversa sem ser chamada, respondendo coisas que eu sabia: a minha nova profissão iria esclarecer. Queria sentar com todos eles e dizer como ela ficava bonita sob a luz da lua, mirando os carros do estacionamento do hotel, a xingar o namorado pelo telefone com a amiga. As coxas, as poses, o trejeito... Eu não iria contar nada, obviamente, mas eu era tão fã como eles e queria me enturmar.

— Eu te conheço – um dos rapazes comentou – Você me é familiar.

— Eu sou?

Ele sorriu, acenando a cabeça.

— Ela não é, Tom? – o amigo também acenou a cabeça – De onde será que você é? Daqui mesmo?

— Do interior de Minnesota.

— Qual cidade? – Tom me perguntou. Do final do corredor, percebi um cochicho. Então, vislumbrei Francesco com o porte elegante de europeu metido, aproximando-se do camarim. Lana havia pedido um tempo antes de começar a atender, para fumar um cigarro ou outro. Mas, eu sabia, Francesco não estava ali por acaso.

Ele não me cumprimentou, nem fingiu para os fãs cordialidade. Apenas passou reto, adentrando no camarim da namorada. E com agressividade, fechou a porta.

Continuei a conversa, aflita. Francesco então saiu com um cigarro na boca, parando perto de mim. Apoiado na parede do estreito corredor, ele me mirava, prestando atenção na nossa conversa, sem dizer uma palavra. Parecia querer ser notado.

— Você me lembra uma moça de Minnesota que viralizou no grupo do Facebook, depois que desmaiou no show da Lana, acho que ano passado – ele virou para o amigo, que negava com a cabeça – Você não concorda?

— A mulher não era loira?

Sim, ela estava numa fase “Electra heart”.

— Era. Você era loira, Samantha?

Neguei com a cabeça.

— Eu nunca fui em um show dela. Na verdade – permaneci séria, enquanto a atenção de Francesco recaia toda sobre mim – Eu não conheço muito as musicas dela.

O italiano bufou, sacudindo a cabeça. Sem ainda dizer alguma palavra, ele saiu.

— Ok! – Lana gritou no corredor, em frenesi – Quem é o próximo?

E uma longa corrente de berros se deu inicio no corredor.

—––

— Eu adoro esse restaurante japonês – Lana comentou, admirando o teto baixo com a iluminação fraca – Me acalma. E depois de um show, é tudo que eu preciso.

— É bem bonito mesmo.

Ela sorriu de ponta a ponta, mirando-me.

— Francesco está bravo comigo porque eu quis sair só com você. Ele acha que eu estou dando muita atenção pra novata inexperiente. – ela riu – É como ele te chama.

Envergonhada, eu apenas olhei para meu colo, sem querer trocar olhares com ela.

— Mas, eu não acho isso. Acho que você tá indo muito bem no seu trabalho.

Levantei o olhar, sorridente. Logo, começamos a conversar.

— Sabe, eu e ele estamos indo muito mal. E eu mal te conheço pra ficar falando essas coisas, mas eu meio que criei empatia por você. Acho que foi esse lance da água.

— Água?

Ela riu.

— Você deu água pros fãs, no meu nome. Isso foi muito gentil.

— Achei que não iria descobrir – respondi corada.

— Um deles me agradeceu lá na hora da foto. E eu digo, fiquei perplexa. Boa ação a sua, Sammy.

O jeito que a cantora me olhava, cheia de ternura, me remetia aos encontros com outras moças que eu amava. Lana tinha um jeito carinhoso e peculiar. Eu gostava de ficar com ela. Mesmo que Francesco não compartilhasse desse desejo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.