— Você sabe, Namjoon — disse, e olhou para Hoseok. — Eu sinto muito, meu amigo, mas não me sinto bem com seus remédios. Não tem a ver com você. Tem a ver com aquele cara maldito. Isso vem dele, e eu não suporto nada que venha dele.

— Está no seu direito, hyung — garantiu Hoseok, embora não deixasse de ficar incomodado. Esconder sentimentos ruins era uma das coisas que Hoseok fazia muito bem.

— Mian, hyung — disse Namjoon. — Eu sei que não era o que você queria. Mas achei melhor fazer isso.

— Se você acha que foi bom, eu concordo com você. Ninguém é mais sábio que você. Mas eu preferia ter desmaiado, não era algo que me afetaria.

— Não foi minha razão que falou comigo, hyung. É que… Você não suporta nada que venha daquele cara. E eu não suporto ver nenhum de vocês mal. Eu não conseguia mais te ver naquele estado.

— Foi uma situação crítica, não acho que vá acontecer de novo. Mas, se acontecer, me deixe desmaiar. Jebal.

— Vou fazer como você pede, mas não gosto de te ver dormir. Parece que eu não posso fazer nada.

— Você não precisa fazer nada, Namjoon, só precisa ficar do meu lado como sempre faz. É o suficiente!

Namjoon ficou encarando Jin e começou a rir.

— Qual é a graça? — perguntou Jin, começando a rir sem saber o motivo.

— É estranho. Por um momento, parecia que você era o líder.

— Prazer, eu sou Kim Seokjin, líder do BTS. Vou demonstrar meu apoio aos membros.

Jin puxou a manga do casaco de Namjoon até ele cair no seu ombro.

— Descanse um pouco, Namjoon. Todos vocês, descansem. E obrigado por seu trabalho duro.



Eles ficaram aproximadamente meia hora esperando na sala do Juízo, até que Seohyun apareceu.

— Vamos. Vocês já podem conhecer a menina — informou, com um sorriso cansado.

Imediatamente, eles se levantaram e se agitaram. Seohyun chamou a atenção deles.

— Por favor, mantenham-se calmos. Precisamos de silêncio.

Eles se acalmaram rapidamente, e seguiram-na pelos corredores até o aposento onde estava a família Jeon. Posicionaram-se em frente à porta, e Namjoon pediu silêncio uma última vez. Em seguida, abriu a porta, e eles entraram.

Yumii e Jungkook estavam sentados na cama, olhando para um ninho feito de muitos lençóis brancos, no meio da cama. Os dois olharam para os visitantes com sorrisos convidativos. Jungkook estava completamente encantado.

Os seis juízes estavam extasiados e, ao mesmo tempo, temerosos por cometer algum erro, então se aproximaram devagar e silenciosamente. Chegaram à beirada da cama e espiaram ali dentro.

Sunghee era uma coisa tão pequeninha, tão frágil, tão amável. Com seus olhinhos fechados, as minúsculas mãozinhas se movendo no ar procurando por alguma coisa. O mais encantador talvez fossem aquelas minúsculas asas encolhidas em suas costas. Ela estava usando uma das muitas roupinhas que haviam sido feitas para ela.

Os seis meninos tinham olhares iluminados, e às vezes olhavam uns para os outros como se quisessem verificar se estavam todos encantados, se aquela pequena menina não era um sonho. Porque ela era tão pequena, mas parecia tão incrível!

Sem nunca tirar o sorriso do rosto, Jungkook se moveu e a pegou cuidadosamente em seus braços. Levantou-se da cama e foi diretamente a Jin, em passos lentos.

— Pegue, hyung — sussurrou Jungkook.

— Eu? — perguntou Jin, como se aquela ideia parecesse errada. Ele não era o appa daquela menina.

— Claro. Você é o ajussi dela. E você ajudou muito para que ela pudesse chegar. Eu nunca vou poder te agradecer o suficiente.

Sem ter mais o que dizer enquanto seus olhos se enchiam de água, Jin usou de todo o seu cuidado para pegar aquele bebê. Foi um momento completamente encantador. Segurar em seus braços aquele pequeno milagre. Depois de descobrir a existência dela, Jin havia chorado e julgado a si mesmo por tê-la matado. Por alguma ironia do destino, ele também a havia feito nascer. E ela era sua sobrinha.

Jin olhou para os outros. Dava para ver que também estavam ansiosos. Ah, Jin sabia que teria muito tempo para estar com ela. “Você deveria compartilhar sua sobrinha”, dissera Tae. Ele estivera tão animado esperando por ela!

— Quer segurar, Taetae?

Jin nem precisou terminar a frase para que seu dongsaeng se aproximasse. Mais uma vez, Sunghee foi passada com cuidado.

Taehyung examinou aqueles olhinhos fechados, aquela pequena agitação. Ele esperava que, em pouco tempo, ela estaria engatinhando por aí, em busca de aventuras e de brincadeiras. Tudo o que ele queria era estar junto dela quando aquilo acontecesse, e ajudá-la a aproveitar toda a sua infância em segurança. Ele riu. Como uma pequena filhote de maknae, sim, ela seria uma criança incrível.

Olhou para os lados, tentando escolher quem seria o próximo. Era uma decisão difícil, mas seus olhos pararam em Hoseok. Taehyung não precisava de nenhum poder especial para saber que ele ainda estava um pouco decepcionado com a rejeição às suas pílulas. Taehyung nunca gostara daqueles remédios, era verdade. Tentara salvá-lo da overdose várias vezes. Mas também tinha consciência de que aqueles remédios que ele fazia não eram coisa de Abraxas, não eram coisa de Chung Ho. Eram coisa de Hoseok, com a mais pura das intenções. Hoseok trabalhara muito duro ultimamente. Ele não merecia, de forma alguma, ser julgado daquela maneira.

— Hyung — chamou ele, sem tirar o sorriso do rosto. — Você devia segurá-la.

Hoseok parecia eternamente grato a Taehyung. Aquilo significava muito para eles dois. Taehyung estava demonstrando seu apoio a Hoseok. Sua amizade. Sua gratidão. Pelo quê, você pergunta. Ora, por ter cuidado de sua irmã, por ter estado com ela e sido uma ponte. Taehyung sempre cobrava o hyung, queria fazer sua prometida visita, ver sua irmã, mas Hoseok nunca o levava. Taehyung ficava triste, sim, mas ele conhecia Hoseok muito bem, e nada que ele fazia era por acaso.

Hoseok pegou a menina. Olhando para ela, ele quase conseguia prever, mesmo sem Eva, seu futuro brilhante. Ela estava cercada de pessoas incríveis. Tinha uma ótima eomma, racional e cuidadosa, que saberia criá-la muito bem, e lhe emprestaria toda a sua beleza e delicadeza. Tinha um excelente appa, que aprenderia com ela a se tornar um pouco mais maduro, conforme a juventude eterna permitia, e faria de tudo para que ela fosse feliz. Tinha um incrível ajussi, que não medira esforços para ajudá-la a nascer, e certamente não mediria para ajudá-la a crescer. E tinha maravilhosos oppas que a ensinariam a ser à prova de balas. Cada um deles tinha muitos pontos fortes, e ela pegaria cada um deles. Quão poderosa e incrível ela seria?

Hoseok levantou seu olhar diretamente para Jimin. Ah, o hyung não precisava ser Jimin para ver a verdade: ele estava doido para pegá-la no colo. E já sorria, porque seu poder o permitia saber que seria escolhido.

— Tome, Jimin — disse Hoseok.

Jimin a acolheu em seus braços, sorrindo. Nunca tinha tentado ver através dos olhos de uma criança, e ainda não podia, mas imaginou quanta pureza estaria escondida sob aquelas pálpebras. Deveria ser uma sensação extasiante, já que ninguém era 100% puro, a não ser um bebê desprovido de qualquer influência.

Jimin não se prendeu muito a ela. Tinha um pouco de medo de não saber lidar com aquela criança. Ele não era alegre como Hoseok, não era divertido como Taehyung, não era doce como Jin… Ele tinha medo de que ela não gostasse dele, então não queria se apegar.

— Yoongi Hyung — chamou, logo.

— Eu? Ah, não precisa…

— Larga de ser bobo! — brincou Jungkook.

— É só um bebê, ela não morde. Ao contrário da mãe.

— Jimin! — disse ela, indignada,

— Aish, você ainda não sabe, não é?

— Não sei do quê?

— Depois eu conto. Pega logo, hyung.

Yoongi respirou fundo, mas não porque estava insatisfeito. Estava apenas se preparando para aquilo. Com muito, muito cuidado, ele a pegou. Tudo foi como se o tempo tivesse parado. Ela era um bebê tão lindo, parecia envolta em mágica. Tinha algo diferente de tudo que Yoongi já presenciara. Ah, ele sempre fora tão frio, sem nunca enxergar nada de especial nas garotas. Elas sempre foram aquelas criaturas a serem admiradas, aquelas de quem deveria manter distância ou, quando se aproximasse, deveria estar desprovido de qualquer sentimento. As garotas sempre lhe pareceram fortes e perigosas, como sempre ensinara a Jungkook. Ele nunca se apaixonava porque tinha medo, e Jungkook achava que era bobagem. Ora, se eles estavam ali, mortinhos, foi porque Jungkook se apaixonou pela garota errada. De algum jeito, depois que eles morreram, ela virou a garota certa. Yoongi tentava manter distância até mesmo das menininhas que andavam na rua. Elas sempre pareciam inocentes, mas qualquer dia podiam ficar com raiva e tacar uma pedra na cabeça de algum menino desavisado. Ah, não, não se pode confiar nas meninas. Não se pode apaixonar. Era verdade, Yoongi nunca se apaixonou, nem mesmo por Minji. Mas Minji sempre foi diferente pra ele, porque era frágil. E assim também era Sunghee, um bebê completamente frágil e indefeso. Ela era alguém que deveria ser protegida. Yoongi não amou Minji, nunca se apaixonou por ela, mas se apegou a ela e, por um momento, isso o destruiu. O mais simples sentimento foi capaz de fazê-lo sofrer. Ele nunca cometeria o mesmo erro novamente. Nunca poderia se apegar àquela menina, por mais frágil que fosse, por mais que quisesse protegê-la. Aquilo não cabia a ele.

— Já chega — disse ele. — Namjoon Hyung.

— Quê? Tá falando sério? Eu sou o deus da destruição, cara, não vou segurar um bebê.

— Tá, então segura, Yumii. — ele parecia um tanto desesperado por se livrar daquela coisinha.

Decepcionada, a eomma se levantou e pegou o bebê dos braços de Yoongi.

— Senta aqui, Namjoon Oppa — pediu ela, apontando para a cama com a cabeça.

— Eu?

— Sim, você.

— Aish, isso não vai dar certo — protestou ele, enquanto andava até a cama. Jin tentava conter o riso.

— É impressionante sua falta de fé em si mesmo, Namjoon — disse ele.

Namjoon sentou na cama, e Yumii pediu que ele fosse mais para trás, para deixá-lo seguro. Se ela caísse, cairia na cama, mas Yumii não achava que fosse acontecer. Ela e Seohyun ajudaram Namjoon a se preparar para receber Sunghee da forma mais segura possível. Os meninos observavam e tentavam falar alguma coisa que ajudasse, como “abaixe um pouco o braço direito”. Yumii abriu as asas e posicionou-as embaixo dos braços de Namjoon, para qualquer coisa. Havia toda uma estrutura para que o monstro da destruição segurasse a bebê, mas deu tudo certo. Ele ficou um pouco com ela, pensando em quantos idiomas diferentes ela seria capaz de falar, em quão sabia ela se tornaria ao lado dele, e depois, entregou-a de volta para a mãe, que colocou-a na cama. Depois, virou-se para Jimin.

— Agora você pode me explicar por que disse que eu mordo?

— Já tentou virar alguma coisa hoje?

— Virar?

— Sim. De preferência, algo que morda.

— Do que está falando, hyung?

— É sério. Tente.

Yumii não conseguia entender o que Jimin queria dizer. Ela não podia simplesmente desejar ser um cachorro e do nada…

— Woooow! — espantaram-se todos os meninos, quando Yumii se dissolveu em névoa e deu lugar a uma pequena cadelinha branca.

— Bae? — perguntou Jungkook, com uma sobrancelha erguida.

Novamente, o cachorro se dissolveu, e deu lugar a algo menor: Uma borboleta azul que começou a voar pelo aposento, brincando com todos os meninos e, finalmente, com sua própria filha.

— Mas o que é isso? — perguntou Taehyung, confuso.

— Parabéns, Yumii — disse Jimin. — Agora, além de eomma, você é uma chimaera.