Yonseo pareceu perder o ar. Enquanto era conduzido, ele olhou para ela com um sorriso esboçado, e disfarçadamente piscou o olho esquerdo. Minji parecia incomodada, mas só quem a conhecia era capaz de notar. A promotora começou a fazer as perguntas quando Baekhyun se acomodou.

— Sr. Baekhyun, pode nos falar sobre o motivo de sua prisão?

— Sem problemas. Eu fui preso porque assassinei de Jeon Jungkook.

O tribunal bagunçou-se por alguns segundos com aquilo. Os Jeon pareciam chocados. As pessoas que assistiam começaram a questionar umas às outras, sem conseguir entender aquilo. Todas estavam abismadas, exceto uma pessoa.

— Yonseo? — perguntou Sehun, ainda agitado, quando percebeu que sua namorada não parecia nem um pouco supresa. — Você sabia disso?

— Eu não podia te contar. Jurei pelo meu irmão. Mas não sabia que ele estava preso.

— Silêncio! — pediu o juiz. — Continue — disse à promotora quando as pessoas se acalmaram.

— Sr. Byun, muitas pessoas sabem que o senhor estava conduzindo o carro no acidente que matou Jeon Jungkook, mas pelo que o senhor diz, não foi um acidente.

— Não, não foi.

— O senhor, intencionalmente, atropelou e matou Jungkook.

— Sim, intencionalmente.

— Qual foi o motivo dessa atitude?

— O motivo? Eu fui ameaçado. Por Kim Chung Ho.

Um pequeno burburinho se formou, mas desfez-se antes que fosse preciso pedir ordem novamente.

— O senhor pode nos contar mais detalhes?

— Claro.

Baekhyun contou ao tribunal a mesma história que contou a Yonseo, mas sem sentimentalismo. Tudo muito racionalmente. Falou sobre ter recusado o serviço, e sobre as várias ameaças que recebeu em seguida.

— O senhor só cedeu quando seus pais foram ameaçados.

— Exatamente.

— Como se espera, o senhor manteve isso em segredo, escondido sob a falsa informação de ser um acidente. Mas, há alguns dias, o senhor se entregou à polícia e confessou seu crime. Por quê?

Baekhyun deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.

— Porque é o certo. Porque as pessoas precisam saber a verdade sobre a morte de Jungkook. Precisam saber a verdade sobre Kim Chung Ho, que está longe de ser um médico respeitável. E sobre mim… Eu pouco importo nessa história toda. Quero que a justiça seja feita.

A promotora leu impressões das conversas entre Baekhyun e Chung Ho, fornecidos pela própria testemunha. Nela, Chung Ho usava palavras terríveis para ameaçar Baekhyun e as pessoas ao seu entorno, e tudo o que Baekhyun contou era verificado.



— O júri decidiu que o réu Kim Chung Ho é culpado por cometer crimes contra a ética da medicina: prestação de falsas informações sobre os pacientes Kim Seokjin e Kim Namjoon, interfência em medicações do paciente Jung Hoseok, produção e distribuição de medicamentos letais, indução dos pacientes Jung Hoseok e Kim Namjoon a tratamento errôneo e agressão ao colega de trabalho Oh Sehun; por ameaças de morte a Byun Baekhyun e diversas pessoas; por encomenda de morte de Jeon Jungkook; por assassinato qualificado de Kim Namjoon; por dupla tentativa de assassinato contra Oh Sehun. Portanto, o réu está condenado à pena de morte.

Um grande alvoroço se formou no tribunal. Chung Ho continuava imóvel como se não tivesse ouvido nada. Yonseo comemorou no primeiro momento, mas a prisão de Baekhyun ainda a perturbava. Além disso, ela notou que Hoseok continuava quieto e calmo. Provavelmente porque ele já sabia o que aconteceria, ou, talvez, porque a passagem de Chung Ho lhe traria problemas. O que a incomodou mais foi o quanto ele se pareceu com Chung Ho. Os dois estavam serenos como se aquilo não fosse nada.



Enquanto o grande grupo se encaminhava para a saída do fórum, Yonseo chamou a policial que ia à sua frente.

— Minji — ela chamou. A moça virou-se para ela, enquanto pessoas continuavam passando ao seu entorno. — Por que não me disse que Baekhyun se entregou?

Minji olhou para o lado, como se não gostasse daquela situação. Se aproximou.

— Pelo mesmo motivo que ele não contou a você. Ele não queria que ninguém soubesse. Eu só soube porque era inevitável.

— Ele já foi julgado? — perguntou Yonseo, mudando o assunto. Ela sabia respeitar a vontade dele.

— Ainda vai demorar, como o de Chung Ho demorou. Ele devia pegar uns bons anos, mas a confissão e as provas de ameaça devem diminuir a pena dele.

— Isso não é justo! — incomodou-se Sehun. — Baekhyun é uma vítima, todo mundo viu! Fiquei chocado por descobrir que foi intencional, mas ainda mais por saber de quem é a culpa. Esse cara merece muito mais do que a pena de morte.

— Às vezes, a justiça não funciona do modo que queremos, gente. — disse Minji. — Eu também não queria que ele tivesse feito isso, é um menino ótimo. É tão estranho… Sempre pensei que odiaria qualquer pessoa que fosse membro de uma gangue… Mas ele é diferente. Ele parece ser especial. Quase como um herói. Isso se tudo o que ele disse for verdade… O mais estranho… É que eu sinto que devo confiar nele.

— Não existe nenhum jeito de ajudá-lo? — perguntou Yonseo.

— Talvez. Talvez ele consiga ser liberto se pagar uma fiança, mas já adianto que será muito caro se acontecer.

— Não tem problema — disse Yonseo. — Já é alguma coisa, e eu sei quem pode resolver isso.

— Crianças! — chamou a Sra. Park, na porta principal. — Vamos! Vamos almoçar. Temos uma comemoração pela frente.

— Claro — disse Yonseo, retomando o controle.



Hoseok tirou muitas fotos. A cena era um tanto bizarra. Aquele monte de mesas cheio de pessoas próximas de cada um dos juízes. Muita comida, muita conversa, muita esperança. Porque a justiça seria feita. Os três mais novos continuavam com seu pensamento sobre aquele rapaz. Um criminoso, um herói, um prisioneiro. Difícil de perdoar, mas difícil de condenar. Dois mundos de polos distintos ali se confundiam.



Chen e Xiumin não estavam esperando visitas, nem seu terceiro membro. Embora sentissem a falta dele, a sensação constante de que alguém estava faltando naquele lugar, sabiam que, dessa vez, ele não voltaria tão cedo. Tudo estava tão parado que se assustaram levemente com as batidas na cobertura de madeira. Chen sinalizou para Xiumin que deveria ficar em silêncio. Poderia ser qualquer pessoa, um membro de qualquer gangue querendo confusão. Lentamente, pegou a arma e se preparou para qualquer coisa, até ouvir o sussurro feminino.

— Meninos!

Eles franziram a testa.

— Yonseo? — murmurou Xiumin.

A garota afastou a cobertura de madeira do vão. Ali estavam ela e Sehun, que nunca a deixaria ir sozinha ao ninho.

— Menina! — murmurou Chen, enquanto pegava a escada rapidamente, preocupado com ela. — Desça logo daí!

Assim ela fez, e Sehun também.

— O que te traz aqui? — perguntou Xiumin com um sorriso no rosto enquanto colocava a arma na mesa.

— Baekhyun. Existe um jeito de tirá-lo de lá. Mas preciso saber… Quanto estão dispostos a pagar.



Yonseo entrou na delegacia toda feliz. Depois de um curto tempo de espera, foi à sala de Minji, dizendo que queria entrar com o pedido para Baekhyun ser liberto.

— Não — disse Minji secamente, o que não foi exatamente a reação que Yonseo esperava.

— O quê?

— Você me ouviu. Eu disse que não.

— Mas eu tenho o dinheiro!

— Não importa, Yonseo. Ele não quer.

— O que tá dizendo?

— Estou dizendo que Baekhyun não quer ser liberto.

Yonseo olhou com desespero para Sehun. Como aquilo era possível?

— É o que acontece quando uma pessoa se entrega — explicou Minji. — Ela não tem a intenção de ser perdoada.

— Perdoada pelo quê? — perguntou Yonseo, quase perdendo o controle. — Você sabe que ele não fez isso porque quis. Ele não devia estar preso!

— Calma, bae — pediu Sehun. Ele sabia que a situação era delicada.

— Eu concordo com você, Yonseo. Mas não é assim que Baek pensa. Ele se sente culpado.

— Eu vou convencê-lo de que está errado — decidiu-se ela.

— Você pode tentar. Eu já fiz isso algumas vezes. — Minji apoiou a cabeça nas mãos, com os cotovelos sobre a mesa. Parecia chateada. — Ele consegue convencer.

— Como ele consegue convencer? Como uma pessoa que foi ameaçada pode se sentir culpada?

— Não é isso. Ele não me convenceu de que é culpado, porque ele não é. Mas me convenceu de que essa é a vontade dele, e eu não tenho o direito de insistir. Converse com ele, Yonseo, mas não o pressione. Ele é um adulto, e sabe tomar as próprias decisões.

Naquela hora, Sehun pensou que Baekhyun deveria, de alguma forma, lembrá-la de Agust D. Cada vez mais, isso se confirmou.

Existem momentos difíceis na vida. Às vezes, é impossível lutar para mudá-los, outras vezes é simplesmente inútil. É inútil tentar salvar uma pessoa que não quer ser salva. Ou que não pode ser salva. Nessas horas, você deve simplesmente aceitar e se conformar.

Minji lacrimejava, porque havia descoberto aquelas coisas de uma maneira difícil. Ela se lembrou de quando veio para Seoul. De quando Agust, em sua majestosa sabedoria, ainda que tivesse pouca idade, não protestou, porque sabia bem que era inútil. Lembrou-se de quantas vezes ela pensara em ir atrás dele quando as coisas começaram a piorar. Mas o que ela poderia fazer? Um simples beijo o deixaria forte? Claro que não. Ele não era mais uma criança, e o problema dele não era uma simples mudança pela qual todo mundo passa ao menos uma vez na vida. Era uma série de coisas pelas quais ninguém deveria passar. E ela não era ninguém para mudar aquilo. E se tivesse tentado? Provavelmente só doeria mais quando ele fosse embora.

— Vá em frente — insistiu ela. — Mas seja sábia.



Mesmo sem ter sido julgado, Baekhyun havia sido transferido para um presídio e jogado em uma cela com outros três que não haviam chegado há muito tempo. Simplesmente ficou deitado em uma das camas enquanto os outros ficavam se vangloriando pelos crimes que haviam cometido. Baekhyun sabia muito bem que era raro um membro de gangue ser preso, e ele não estava ali como um. Estava ali por seu próprio e individual crime. Depois de um tempo, os três começaram a falar em como poderiam sair dali, mas um deles cortou os outros.

— Para, para. Ainda temos um coleguinha que não se apresentou. — Baekhyun ignorou os caras. Não queria saber de nada daquilo. — Que merda você fez, menor? — Quê? Menor? Baekhyun finalmente olhou pra ele. Algum dos três deveria realmente ser mais velho, mas aquele certamente era mais novo.

— Você é de que ano mesmo? — perguntou Baekhyun.

— 94. E você, bebê?

— 92. Bebê.

— Olha, melhor você não começar a se achar muito. Está lidando com gente grande aqui. Idade não quer dizer que o Kai não cometeu mais crimes que você.

— Ah, tá. Então me diz aí, como criminosos tão bons foram presos?

Os três começaram a olhar uns para os outros, como se não acreditassem na audácia dele. O mais velho, com cara de chinês, parecia mais irritado.

— Ah, se não fosse a diminuição da pena por bom comportamento, eu já teria te dado uns petelecos!

— Calma, Lay, não vale à pena. Olha só, criança, estamos todos no mesmo barco, tá? Fomos pegos, sim, mas se você tá aqui, com certeza foi pelo mesmo motivo.

Baekhyun começou a rir escandalosamente e se sentou na cama.

— Como é teu nome mesmo?

— Chanyeol.

— Chanyeol. Tá. Olha aqui, Chanyeol, você não sabe nada sobre mim, então usar “com certeza” é um pouco precipitado, não?

— Ah, tá, vai dizer que está aqui porque quer?

— Exatamente.

Mais uma vez, eles se entrolharam.

— Quer dizer que se entregou? — perguntou Kai, em voz baixa.

— Sim. Olha, não que devam acreditar em mim, mas eu já cometi muitos crimes e até hoje só me arrependi de um. É por esse um que estou nessa cela, e não pretendo sair tão cedo.

De repente, apareceu um policial.

— Byun! — chamou ele. — Vamos.

— O quê? — perguntou ele, sem entender.

— Parece que suas expectativas não foram atendidas — Lay riu levemente. — Vaza, bebê. Você tem visita.