— Demorou, hyung — disse Jimin

— Eles já sabem de tudo — Disse Hoseok, um pouco ofegante.

— Como assim? — Perguntou Namjoon, preocupado.

— Durante o almoço eles trocaram informações suficientes para que a verdade viesse à tona. O que foi decisivo foi o fato de você ter ido contra Chung Ho, Namjoon. O Sehun e os pais de Jimin sabem disso.

— Mas eles achavam que eu estava louco.

— Eles começaram a desconfiar porque você disse, na visita, que Jin Hyung estava vivo. No dia que ele se suicidou, ligou para a mãe de Jimin. Então ela soube que você estava certo.

— Então as coisas estão indo bem — Jimin quis confirmar.

— Sim. Hoje eles também foram na delegacia e conheceram uma policial que quer ajudá-los. Aparentemente, ela é uma amiga de infância do Yoongi Hyung. E amanhã vão reconstituir a cena do atropelamento.

— Será que você deve ir? — Perguntou Namjoon. — Os outros estão começando a ficar incomodados com a sua ausência. Eles acham que pode haver algum problema.

— Jungkook está preocupado com a anestesia que você ficou de fazer — lembrou Jimin. — Ele acha que não está se dedicando o suficiente.

— Ah, coitado. Eu tô virando a noite, tá?

— Não devia — disse Namjoon.

— Isso não vai me afetar. Eu sei como lidar com isso.

— Quero ver as fotos, hyung! — Disse Jimin.

— Que fotos?

— As que você tirou, ué!

— Ah… Não funcionou. Sinto muito.

— Mas é claro que funcionou!

— Mas… As fotos saíram brancas.

— É porque a tinta só pega aqui, hyung. Já devem estar reveladas agora.

Hoseok franziu o cenho e pegou as fotos no bolso. Como Jimin dissera, todas haviam sido reveladas.

— Uau, ficaram lind…

Jimin passou voando rapidamente por Hoseok e pegou as fotos.

— Aigoo, que legal, hyung! Nem acredito que eles estão juntos.

Namjoon também catou as fotos da mão de Jimin e começou a olhar.

— Uau, que cena bonita!

Hoseok pegou as fotos de volta.

— Calma. Tem pra todo mundo.

Hoseok escolheu as fotos cuidadosamente e entregou a seus donos.

— Uma pra cada um, e tá muito bom.

No dia seguinte, Hoseok projetou novamente, mas só na hora necessária. Foi direto para o lugar onde Jungkook havia sido atropelado. Minji já havia isolado a área, e deixado o motorista e o carro passarem. O veículo foi posicionado na faixa direita, onde estava no momento do atropelamento. Minji apresentou Yonseo e Sehun ao motorista Baekhyun como “auxiliares de investigação”, enquanto mastigava suas balinhas.

— Baekhyun, pode começar nos falando um pouco sobre o que aconteceu naquele dia? — pediu Minji, com a voz engraçada por causa do doce. Baekhyun explicou encostado no carro.

— Bom, eu saí do trabalho às oito e estava indo para casa. Sempre vinha por aqui. Estava andando numa velocidade normal pra essa rua, mas estava escuro. Eu não consegui ver quando o menino atravessou fora da hora. Ele veio dali — O jovem motorista apontou o lado direito da rua, em relação ao carro. — Eu tentei frear, mas estava perto demais.

— A “velocidade normal” daqui é bem alta — notou Sehun. — É uma rua de mão única e via dupla, que lota em horários de pico, mas não no horário que você saiu. Sinceramente, se eu passasse nessa rua em uma hora dessas, estaria correndo.

— Por que não conta a reação dele? — Pediu Minji, gentilmente, pois embora já tivesse ouvido aquilo, queria que os outros soubessem.

— Cara, ele não teve reação nenhuma. Parecia que estava esperando.

— Esperando o quê? — Perguntou Yonseo.

— A morte, talvez.

— Encontrar Jin Hyung, Jiminie e eu — Concluiu Hoseok em voz baixa, enquanto o clima pesava um pouco.

— Vamos em frente, pessoal. Estamos aqui para tentar entender — Sugeriu Sehun. — Veio da direita, você disse?

O médico se posicionou como se tentasse olhar a cena pelos olhos de Jungkook.

— Ótima ideia, doutor — Disse Minji. — Você será o Jungkook.

— Desde que vocês tenham ciência de que eu tenho cinco centímetros a mais do que ele. — Murmurou Sehun.

— E que grande diferença isso faz? — Perguntou Baekhyun.

— A área de colisão — Sehun se aproximou do carro. — Eu teria sido atingido perto do início do fêmur esquerdo, mas Jeon Jungkook foi atingido um pouco acima, no quadril.

— Wooooooooow! — Exclamou Hoseok, com um pequeno sorriso de admiração.

— Retorno a perguntar, que grande diferença isso faz?

— Vai fazer diferença para nós mais tarde, senhor Byun.

— Não tá mais aqui quem perguntou.

— Então... vamos lá — Disse Minji. — Hora da batida. Doutor, por favor, deite-se.

— Ainda bem que eu não tenho trabalho hoje...

— O corpo do garoto foi projetado alguns metros para frente, pela força do impacto — Introduziu Baekhyun.

Sehun se deitou seguindo as indicações do motorista, que ajeitou todos os seus membros para que ficassem o mais parecido possível com o que ele encontrou ao sair do carro.

— E aí eu disse. “Aigoo! Moço, você está bem?” E o moleque ficou só olhando pra cima, não me respondeu. Pelo carro quase não deu pra notar, mas quando eu cheguei perto percebi que ele já estava todo machucado antes da batida. Eu me ajoelhei, desse modo, e perguntei se ele podia me ouvir. Ele disse um nome, mas eu não entendi direito. Começava com Yu, Yo, algo assim, e a última vogal era I.

— Yumii? — perguntou Yonseo, enquanto tirava fotos de todos os ângulos e distâncias possíveis, com a câmera de Sehun.

— Achei que fosse Yoongi — disse Minji.

— Pode ser qualquer um dos dois — respondeu a detetive.

— Quero nem saber. Só de pensar na treta... — pensou Hoseok em voz alta.

— E depois disso, senhor Byun? — Perguntou Yonseo.

— Fechou os olhos e se foi. Apenas. Não poderia ajudá-lo.

— Sehun, levanta. Tá me dando nervoso.

Sehun seguiu a recomendação e levantou, com a ajuda de Minji e Baekhyun, e limpou como pôde a poeira do asfalto.

— Eu liguei para a emergência, e eles não demoraram, — continuou Baekhyun — mas não havia nada pra ser feito. Eles isolaram a área, enquanto várias pessoas curiosas se acumulavam ao redor pra ver o que tinha acontecido. Os paramédicos verificaram que ele realmente tinha... Enfim. Me fizeram umas perguntas e depois me liberaram. Eu também ouvi, quando estava saindo, quando eles usaram o telefone do menino para ligar pra alguém e pedir para reconhecer o corpo.

— Ficou sabendo do incêndio? — Perguntou Minji.

— Passei por perto quando estava indo pra casa. Achei muito estranho, mas não acho que tenha tido alguma relação. Deve ter sido só coincidência.

— Vocês querem ir lá depois? — Perguntou Minji.

— Lá onde? — Perguntou Yonseo. — No lugar do incêndio?

— Sim, é aqui perto.

— Não deve ter sobrado muita coisa — disse Sehun.

— Não, não sobrou, mas não custa nada — disse ela. — Já estamos aqui.

— Ok, não vejo por que não — disse Sehun. — Agora, sobre os ferimentos de luta, alguém tem algum palpite?

— Talvez ele só tenha brigado com um amigo — sugeriu Baekhyun, o que chamou a atenção de Hoseok, já que ele sabia que Yoongi e Jungkook haviam brigado naquele dia.

— Olha, esse bairro é o que chamam de perigoso — disse Minji. — Tem muitos assaltos, essas coisas, e... Convenhamos, não era um horário legal.

— Eu sei o que você quer dizer — disse Baekhyun. — É porque as gangues se concentram aqui. — Minji olhou pra ele, com um pouquinho de desconfiança, mas ele continuou normalmente. — É um lugar pouco frequentado, sem vigilância nenhuma, perfeito pra eles. Mas as gangues não fariam isso. Não é típico delas surrar uma pessoa por qualquer coisa. Se foi mesmo uma gangue que fez isso, ele deve ter feito alguma coisa para dar motivo, e nem precisa ter sido nada demais.

— Baekhyun... — Perguntou Minji, incomodada. — Como você sabe tanto sobre as gangues?

— Ah, é por causa do D.O., meu primo. Ele se envolveu em uma gangue e fez muita coisa errada até estar enrolado até o pescoço. Estava sendo caçado por um monte de gente pra quem ele tava devendo, então teve que sair da cidade. Ele não falou pra ninguém pra onde foi, mas depois de uns dias ele me ligou e me contou tudo. Explicou como funcionavam as gangues para que eu pudesse me proteger. Aí ele ficou mais umas semanas sem fazer contato, até que finalmente acharam o corpo dele em uma cidadezinha de Jeolla do Sul.

— Aigo — disse Minji. — Eu sinto muito.

O clima ficou pesado, mas Yonseo tentou continuar.

— Então, você acha que pode ter sido uma gangue, mas que Jungkook pode ter feito alguma coisa pra dar motivo? Tipo o quê?

— Aí eu já não sei — disse Baekhyun.

— Qualquer coisa — explicou Minji, mastigando. — Se meter no caminho de uma gangue é suficiente pra criar problema.

— Então, terminamos? — Perguntou Sehun.

— Acho que sim — disse Yonseo. — Vamos no local do incêndio, agora?

— Vamos — disse Minji.

Minji fez uma ligação rápida para o dono do estabelecimento, que morava ali perto, para que ele o abrisse. Enquanto caminhavam até o lugar, ela explicou sobre aquilo.

— O incêndio destruiu o quarto, mas também afetou outras partes. Era um motel bem pequeno e pobrinho, tinha poucos quartos. A situação já estava bem ruim pro dono: o motel tinha poucos clientes e o dinheiro mal dava para pagar as contas e os empregados. O prédio já tinha problema de infiltração, e não tinha sinal nas TVs, que por sinal eram bem antigas. Até o computador da recepção era uma verdadeira relíquia. A única coisa que prestava era o letreiro de neon, uma gracinha, mas nem isso se salvou. Então, se o cara não tinha dinheiro nem pra dar um up no lugar, imagina depois do incêndio... Ele perdeu muita coisa, inclusive a já baixa reputação do motel. Então, o dono faliu. Está procurando emprego enquanto é sustentado pela esposa, professora de uma escolinha.

— Que vida horrível, hein — comentou Sehun.

— Yoongi Hyung trouxe muito prejuízo — notou Hoseok.

O senhorzinho já o aguardava na frente do prédio quando chegaram. Minji o cumprimentou curvando-se e apresentou seus três acompanhantes visíveis. Mesmo do lado de fora, era possível ver as manchas pretas nas paredes e o letreiro de neon completamente queimado.

Ele mexeu num molho de chaves e abriu a porta, revelando a recepção. As paredes estavam descascadas, e o dinossauro que era o computador estava desligado. O senhor os levou para as escadas e pelos corredores. A porta do quarto onde estivera Yoongi, no segundo piso, estava derrubada. As paredes, que já antes estavam descascadas, estavam completamente destruídas. A cama tinha virado uma armação de ferro preto com farelos de colchão. Dava pra ver a marca de onde estivera o corpo. Os resquícios do galão derretido ainda estavam ali. O cheiro de gasolina impregnado em todo o quarto não deixava dúvidas de que fora um incêndio intencional, iniciado naquele quarto.

— Eu não sei por que ele fez isso — comentava o dono, enquanto os visitantes andavam pelo quarto. — Ele parecia ter muitos problemas, mas era um bom menino.

Minji apertou com força um objeto que estava em sua mão direita. Baekhyun caminhou até os vãos que um dia foram janelas de vidro. Os cacos ainda estavam por ali.

— É tão perto... — Comentou ele. — Aigo... Será que ele fez isso porque... Viu o Jeon Jungkook?

— Não dá pra ver daqui — disse Minji.

— Ele pode ter saído — disse Sehun. — Baekhyun disse que o atropelamento causou movimentação, chamou a atenção dos curiosos. Como sempre.

— Yonseo — disse Hoseok. — Não deixe a culpa recair sobre Baekhyun. Ele não vai suportar.

Yonseo caminhou lentamente até onde ele estava, e ficou ao seu lado, olhando pra ele. O jovem garoto mantinha os olhos marejados perdidos no vazio, talvez imaginando ser culpado pelas atrocidades.

— Baekhyun... Não foi você. Yoongi perdeu muitos amigos, ele estava emocionalmente instável.

Sehun observou Minji brincando com o objeto entre os dedos. Logo, ela notou que ele estava atento àquilo, e jogou para ele. Sehun o pegou no ar por pouco. Era um isqueiro.

— “A to the G to the U to the ST D” — recitou Minji.

— É o isqueiro dele? — Perguntou Sehun, examinando o objeto. O nome Agust D estava escrito no isqueiro, feito com algo afiado.

— Não. Esse é o meu. Desde que eu tinha 12 anos.

— E morava em Daegu — adivinhou Sehun, jogando-o de volta. Ela o pegou com surpresa.

— Isso — disse, sorrindo. — Foi o que ele me deu para que me lembrasse dele, quando vim para Seoul. Talvez um dia eu te conte essa história, doutor.

Sehun notou, naquele momento, que por mais que aqueles dois tivessem sido separados há tantos anos, ele era especial pra ela, de alguma forma, uma vez que ela tinha guardado aquele isqueiro por todo aquele tempo.

— Estou ansioso para ouvir. De verdade.

— Vamos, crianças? — Perguntou Minji, tirando o sorriso do rosto e voltando ao seu aspecto sério de policial. — Precisamos respirar um pouco de ar puro.