Sem perceber que acordara, foi embalado por um conjunto de notas de um timbre caloroso em seus ouvidos. Keith permaneceu em seu estado sonolento, apreciando a melodia gentil e acolhedora que lhe envolvia.

Ele abriu seus olhos lentamente para se deparar com íris azuis que contrastavam perfeitamente com a pele marrom e o sorriso límpido e inebriante. Sentiu um ligeiro puxão na sua cabeça antes de perceber que Lance enrolava uma das mechas do cabelo preto como cachinhos em seus dedos.

— Ah, já acordou?! Olhe quem acordou primeiro! — O sorriso de Lance se alargou. Ele soltou uma risadinha borbulhante, a preferida de Keith, assim como todas.

— Mhn... — Murmurou algo ininteligível. — Sorte.

— Você duvida das minhas habilidades, mullet? Na-ão! Eu sei exatamente a hora que você acorda, foi perfeitamente calculado! — Os lábios de Lance se curvaram no canto. Keith também adorava esse sorriso arrogante.

— Então você se importa? — Keith não pode deixar de sorrir, saber que Lance percebia seus costumes fazia seu coração bater mais rápido.

— Me importo de eu te vencer, esquentadinho.

— É claro. — Keith rolou os olhos.

— Sabe do que eu preciso, Keith? — Lance levantou-se do sofá, onde estavam acomodados. — Férias! Eu não aguento mais.

— Você trabalha em casa, Lance.

— Isso não significa que não tenho nada para fazer! Keith, me ajude! — Colocou as mãos no rosto e caiu sentado no chão.

— Claro, eu ajudo. — Keith levantou-se ainda sonolento e se aproximou de Lance. — Ajudo a fazer o café da manhã, porque estou com fome.

— Eu também. — Os estomago de Lance roncou.

— Vamos, faminto. — Keith sorriu e entregou a mão para que Lance se levantasse.

— Calma, mullet! — Lance agarrou a mão do outro e ficou de pé. — Agora, vamos fazer o melhor café da manhã de todos!

— Não melhor do que do Hunk.

— Isso é verdade. Tenho que concordar, ninguém supera Hunk nas habilidades culinárias.

Keith apenas assentiu. Estaria completamente de acordo sobre seu amigo cozinhar para eles, contudo, cozinhar com Lance era mais precioso. Era seu momento preferido de manhã. Lance ensinava-lhe algumas técnicas que aprendera com a mãe, como usar óleo de oliva ao invés de óleo de soja, pois dava mais sabor à comida, além de muitas outras coisas.

Lance sempre poderia arranjar um jeito de ‘’zoar’’ a sua cara, mas também era paciente o suficiente para lhe ensinar o que não sabia.

Keith não era um mau cozinheiro, só prático. Somente conhecia o básico para não morrer de fome. Contudo, Lance era diferente. Ele contava sobre sua família, sobre os pratos que mais gostava e sentia falta. A comida tinha um significado para ele, assim como tudo. Keith podia ver o quanto amava seus parentes, principalmente quando tentava recriar suas receitas favoritas e seus olhos sorriam.

— Eu sinto falta... — Lance suspirou, atraindo a atenção de Keith. Os dois estavam na cozinha, cortando condimentos. — Sinto falta da comida, da casa barulhenta, de assistir novelas com todo mundo no sofá, do sol, da praia e do cheiro de pão de alho, eu preciso tanto de férias...

Lance parecia querer chorar, ele suspirou uma, duas vezes e olhou para o teto. Keith ficou parado sem saber o que fazer, era a primeira vez que isso havia acontecido. O que poderia fazer? Ele nunca fora bom com palavras. Apesar disso, Lance precisava de alguém, necessitava de apoio e Keith estava lá.

De repente, seu peito começou a apertar. Não podia deixar Lance assim. Keith não aguentava, mas porque ele não conseguia abrir sua boca? Por que não conseguia se mexer?

Porque estava com medo.

E se dissesse algo inútil? E Lance o odiasse depois disso? Caso isso acontecesse, nunca voltariam a ser amigos. Jamais poderia ver o sorriso que tanto adorava, ouvir sua voz melódica, a qual se tornava estridente quando fazia piadas sobre cada detalhe seu.

Isso era verdade, entretanto... Sentia mais medo em pensar que Lance não poderia ser feliz.

— E Hunk e Pidge? — Sua boca finalmente se abriu. Lance o encarou com olhos arregalados. — Quer dizer, eles não são barulhentos, mas estão aqui... Eu estou.

Keith chegou mais perto e colocou uma mão no ombro direito de Lance.

— Podemos convidá-los para assistir conspirações com a gente. — Continuou, incerto. Faltava pouco para rir de nervoso.

E então, foi Lance que riu.

Observou o amigo rir, sem saber como agir outra vez. Não sabia se deveria ficar aliviado ou preocupado. Lance estava chorando há um minuto atrás.

— Você é único. — Lance o encarou com um sorriso que raramente lhe mostrava. Keith só lembra de uma vez, no dia que que descobriu que Lance gostava de ‘’10 coisas que coisas que odeio em você’’. Lance perguntou se faria piadas sobre isso, ele respondeu que não. Quem faria uma coisa dessas? E depois, Lance o fitou com esse mesmo olhar. Calmo, os lábios curvando levemente. Keith decidiu que essa era sua expressão favorita.

Antes que pudesse falar algo, Lance envolveu-o com os braços, enfiando o nariz em seu pescoço. Keith foi pego de surpresa e não retribuiu a ação de imediato, porém, foi apenas sentir a respiração quente, o calor do outro corpo, para que abraçasse de volta.

Essa era a primeira vez que Lance lhe abraçava, portanto, Keith aproveitou o momento.