Sempre muito bem-vestido, com seus ternos italianos, ele circulava pelos corredores luxuosos de sua empresa ostentando toda sua pompa e prepotência. Tentava ser carismático e simpático, mas sem sucesso, seus empregados o conheciam bem e sabiam que tais atributos não eram genuínas e só existiam, de verdade, para as câmeras da TV.

Assim que cruzou as portas do elevador, uma bela mulher, vestida com um tailleur preto, com os cabelos ruivos penteados numa trança, o recebeu com um sorriso, que não chegava a seus olhos azuis.

— Senhor, bom dia, como vai? – Ainda sorrindo, ela o acompanhou em sua caminhada.

— O que quer? Fale de uma vez. – Olhando para a tela de seu celular, ele não se deu ao trabalho de olhar para a mulher ao seu lado.

— Há uma ligação importante para o senhor na linha dois. – disse a secretária mantendo o tom cordial, mesmo que não fosse recíproco.

— Não atenderei ninguém agora. – respondeu sem interesse. A mulher trabalhava há cinco anos naquele cargo e ele nem sabia como ela se parecia. Aquele homem nunca dispôs de um segundo para responder a educação que ela desperdiçava com ele. – Tenho uma reunião importante prestes a começar.

— Mas é da casa de seu pai, senhor, e disseram que é muito importante – falou receosa. Seus rompantes de raiva eram comuns, e bem conhecidos por todos, e ela não gostava de ser alvo dele.

— Nada que venha do meu pai é tão importante assim, Mary. – Debochou.

— Meu nome é Meredith – O corrigiu silenciosamente, tentando esconder o descontentamento. – O que eu digo?

— Diga que, quando eu tiver tempo, passo lá para vê-lo. – Entrou em sua sala e fechou a porta.

Sentando-se em sua cadeira de presidente, bufou e jogou seu celular sobre a mesa. Somente lá dentro revelou o quanto estava nervoso com aquela reunião, pois precisava que ela fosse um sucesso, já que o destino de sua empresa estava em jogo. Se os investidores não concordassem em investir mais, ele perderia tudo e a Stark Industries o tiraria do mercado de vez.

Perdido em seus pensamentos, a angústia só aumentava. Precisava prosperar, não apenas para manter aquela vida de luxo, viagens e presentes caros, mas também, para provar para seu pai que ele poderia fazer aquilo, ser capaz de dirigir a empresa sem ele e fazê-la prosperar.

Olhando para seu relógio, o viu que o momento se aproximava e não poderia se atrasar. Pretendia chegar antes e causar impacto, ou pelo menos tentar. Saiu de sua sala vestindo seu falso carisma e seguiu em direção a sala de reuniões, esperando pelo melhor.

— Bom dia, cavalheiros, que prazer recebê-los aqui hoje – Saudou a todos que entrevam, calorosamente, recebendo apenas indiferença em troca.

— O que tem de tão importante para nos dizer? – perguntou um dos homens enquanto se sentava. Ele era bem velho, Lucius Malfoy, tinha cabelos grisalhos platinados e usava um terno preto que aparentava sem bem caro. Era visível seu descontentamento de estar ali.

— Lucius, meu querido, como vai Narcisa? – Tentou ser cordial. – Com está Zurique nesse inverno?

— Corte a conversa fiada, garoto, e vá direto ao assunto – Um outro homem, trajando um terno azul marinho, se pronunciou. – Diga de uma vez por quê nos trouxe aqui.

— Claro! Sempre direto ao ponto, não é mesmo, Tywin?. – sedando-se por vencido, percebeu que não adiantaria tentar enrolar àqueles homens por mais tempo. – A empresa está falindo e preciso de mais investimento.

— O quê? – Tywin Lannister, o do terno azul, se colocou de pé. – Diga, o que fez com os doze milhões que investi?

— Eles foram usados para desenvolver novos produtos, mas tivemos uns contratempos, um pequeno problema com o teste dos protótipos e isso atrasou a produção e…

— Nós sabemos bem qual foi o contratempo e, também, temos conhecimento do quanto esse “pequeno problema” nos custou para indenizar a viúva do engenheiro que fez o teste. – Dessa vez, quem se pronunciou foi o homem sentado mais ao fundo, Chuck Bass. Ele era mais jovem, talvez o mais novo da sala, mas não tão garoto assim, havia assumido o comando da empresa de seu pai e comandava seu império com habilidade e inteligência, algo que falta no anfitrião daquela reunião. – Esse atraso deu a chance para o Stark ganhar a licitação e, agora, é ele quem produz o armamento que nós deveríamos ter a exclusividade.

— Sabia que seria um erro investir nessa empresa, mas só o fiz porque seu pai me garantiu que era um bom negócio. – declarou Lucius. – Enquanto Richard esteve junto a você, na direção dessa empresa, tudo correu bem, mas agora ele está doente e me questiono se você é realmente capaz.

— Essa empresa é minha – falou com raiva, perdendo a compostura. – Eu a fundei.

—Você até pode ser o dono, mas nós só estamos lhe ouvindo por consideração ao seu pai. No meu caso, porque meu pai devia favores ao seu. – Chuck rebateu. – É nítida sua inabilidade para ser o CEO de uma empresa desse porte.

— Você só se saiu bem enquanto seu pai esteve ao seu lado – Tywin reafirmou, dando o golpe final. – Aceite que só tem o quem tem hoje, porque seu pai assim o fez e é por ele que nós iremos lhes dar mais esse voto de confiança. – Deu a notícia.

— Mas se não conseguir recuperar o dinheiro que perdemos, você, com mais da metade das ações ou não, será deposto de seu cargo – Chuck ameaçou. – Será um prazer assumir o comando, só para depois vende-la em muitos pedacinhos. – O anfitrião engoliu em seco. Sabia que, se assim desejasse, Chuck teria o apoio incondicional dos demais acionistas e não sobraria nada do que havia construído.

Todos saíram em silêncio da sala, deixando-o para trás, sentindo-se derrotado. Sua empresa estava salva, por enquanto, porém sob uma ameaça e ela sabia que aquela esperança não duraria muito, necessitava de um milagre. As Indústrias Stark estavam anos luz em desenvolvimento e tecnologia, ele precisaria de muitos anos, e muitos investimentos, para ser metade do que o Stark era, e não havia tempo para isso.

— Senhor, seu pai está na linha – A secretária disse, assim que ele abriu a porta para sair da sala de reuniões, e isso chamou sua atenção. Seu pai não era conhecido por executar tarefas “banais”, como usar o telefone, alguém sempre realizava esse tipo de ação para ele.

— Diga a ele que estou indo – declarou, por fim, e saiu da sala.

A casa ficava afastada do centro, localizada em um dos bairros mais caros de Nova Iorque. Era enorme e imponente, sua faixa em pedra demonstrava que aquela família era abastada, entretanto, apesar de toda grandiosidade, se percebia a decadência nos pequenos detalhes.

Ao passar pela porta principal, qualquer pessoa que visitasse a mansão era transportada para dentro do Grande Gatsby, lustres de cristal, espelhos, tons de cinza e perto estavam em todos os espaços. A escada de dois lados, era a primeira coisa que se via ao entrar na casa e foi por ela, e seus degraus gastos, que ele subiu, passando elas tapeçarias puídas e empoeiradas, até os aposentos de seu pai. O quarto era mal iluminado e cheirava a mofo, um cômodo grande, com uma decoração que combinava com o resto da casa. A pessoa que dormia naquele lugar estava muito doente.

— Mandou me chamar? – questionou ao entrar. Era visível seu desconforto, e descontentamento, por estar ali. Apesar da proximidade sanguínea, não havia nenhuma afinidade ou intimidade entre eles.

— Meu filho, precisamos conversar. – O homem, deitado na cama, tinha a voz rouca e fraca. Seus cabelos brancos estavam penteados para trás e, em sua mão, havia um lenço, com o qual ele protegia boca durante suas tosses secas.

— O que há de tão urgente que precisou fazer os empregados a me ligarem o dia todo? – perguntou ríspido.

— Tenho algo que preciso lhe falar – confessou fracamente.

— Então, diga. – Sua paciência estava no limite.

— Talvez eu tenha a solução que você precisa para salvar a nossa empresa. – Com muito esforço, ficou sentado na cama.

— Pai, eu já conversei com os acionistas e eles concordaram em aumentar os investimentos – contou. – Esse problema já foi resolvido. Não preciso da sua ajuda.

— Não seja insolente, garoto, sabe muito bem que essa solução não nos ajudará por muito tempo. A Stark Industries te engolirá novamente. Você precisa de algo mais permanente e eu tenho a solução perfeita – declarou em um sussurro. – Ela nos salvou da falência anos atrás.

— Do que está falando? – O mais jovem estava impaciente e sem vontade de ouvir as fantasias de seu pai senil. – Que solução é essa? De que falência está falando? Pai, você está tomando seus remédios direito?

— Fique quieto e me ouça. – ralhou com o filho. – Anos atrás, Howard Stark já era aquele cretino convencido e estava dominando todo o mercado armamentista. Isso fez com que perdêssemos milhões de dólares e entrássemos na maior buraco que a empresa já teve, desde a Grande Crise em 1929. – O homem velho, devido a sua saúde debilitada, tinha dificuldade para falar e precisava tomar mais ar a cada fim de frase. – Ele estava nos destruindo, então, eu fiz o que tinha que fazer para conseguir dinheiro e, ainda, destruir Howard no processo. – declarou friamente e começou a contar o que havia feito.

Seu filho ouviu atentamente cada detalhe dado sobre o que o foi feito para salvar a empresa. Uma história vil e cruel, mas que foi contada para alguém que não conhecia o significado da palavra empatia, ou amor.

— Mas, mesmo assim, você não conseguiu salvar a empresa, teve que vendê-la, e, muito menos, destruí-lo. – concluiu. – Do que adiantou tanto trabalho? Não é um bom plano.

— Eu não estava tentando salvar a empresa. – falou com calma. – Ela já estava perdida, apenas mantive os problemas financeiros escondidos. Não havia nada que pudesse fazer para reerguê-la, logo, fiz a única coisa cabível, falsifiquei as finanças e a vendi, assim ela quebraria nas mãos daqueles que a adquiriram, me isentando da culpa e mantendo meu nome intacto, minha reputação não sofreria.

— Então, por que o fez? – Quis saber. – Para que tanto trabalho se tinha o dinheiro da venda?

— Eu tinha uma esposa jovem, que só estava interessada no meu dinheiro, e filho em um internato na Suíça, precisava mantê-los e ainda sustentar a vida de luxo e riqueza que levava. – falava do que havia feito com banalidade. – O dinheiro da venda da empresa não foi grandes coisas, mesmo com todas as mentiras que forjei, ainda faltava dinheiro para poder me aposentar aos 44 anos e viver sem me preocupar com mais nada. – explicou. – Fiz o que tinha que ser feito, pedi uma boa quantia e, por causa desse meu plano, agora você tem a Hammer Industries.

— Então é isso que você sugere que eu faça o mesmo? – Estava confuso. – Dê outro golpe nos Starks e venda a minha empresa?

— Não seja tolo, Justin, não conseguiria nada pela sua empresa agora, todos sabem que está enfrentando problemas financeiros, não há nem como mentir. – Perdeu a paciência com seu filho, algo que acontecia com frequência. – Estou lhe dando apenas uma maneira de conseguir dinheiro, para aplicar um pouca na empresa, fazer com que acreditem que ela está bem e seja vendida por um bom preço, assim irá evitar que ela vá à falência e manche o nome da família, que eu tive muito trabalho para manter. – explicou seu ponto. – Com o restante do dinheiro que irá receber com o meu plano e o dinheiro da venda, pode viver sua vida confortável em algum lugar do mundo e esconder essa sua existência patética, que só faz me envergonhar.

— Sabia que havia algo nessa repentina bondade. – Respirou fundo. – Você não me contaria isso apenas por estar preocupado comigo, típico. – Desabafou. – Tudo que falou é loucura – Debochou. – Não vou me sujar por tão pouco.

— Seja homem pelo menos uma vez na vida e honre o sobrenome que carrega. – falou o mais alto que pode. – Tenha colhões e faça o que tem que ser feito para que o nome Hammer não vá parar no lixo. – Exaltou-se. – Pelo menos, assim, morro em paz, sabendo que meu nome não virou piada e você ainda terá algum dinheiro para brincar de investir e fingir ser um respeitado e inteligente homem de negócios.

— Depois não entende porque nunca fomos próximos – rebateu, falando baixinho. – Como sugere que eu faça isso tudo, sem nem ao menos sabe onde procura-la?

— No cofre estão todos os documentos que precisará, contratei diversos detetives ao longo dos anos e cada um uniu uma parte das informações. – Sua fala foi interrompida por uma tosse.

O mais novo no quarto foi até o cofre e pegou os documentos que o pai pedira.

— Por que tantos detetives para rastrear uma pessoa? – perguntou olhando para os papéis em suas mãos.

— Agora entendo porque não era o mais inteligente da turma – Atacou. – Contratei vários para executarem diferentes partes, assim nenhum deles descobriria quem de fato ela era e assim manteria o que fiz em segredo. Essa história foi um escândalo na época, todos estavam à procura dessa criança.

— E o que te faz acreditar que vai funcionar agora? – Ainda não estava convencido da ideia.

— Porque ele serviu há 28 anos e irá servir agora. – Não havia limite entre o bom senso e falta de caráter naquele homem. – Justin, apenas faça o que estou te dizendo.

— Como isso destruiu Howard Stark? – Quis saber. – A empresa continuou a crescer.

— Eu não queria a empresa, eu queria o homem. – Sorriu. – A família nunca mais foi a mesma e, por isso, quando foi a vez do filho assumir o legado, ele comentou erros e você pode prosperar. Enquanto o filho drogado estava por aí se divertido, enchendo a cara e tentando preencher o vazio da perda insuperável, a nossa empresa crescia. – contou. – Bem, pelo menos até aquela criança nascer e ele resolver cuidar dos negócios de verdade. – Ele nunca havia julgado o pai como um grande estrategista, mas aquela história lhe dava uma nova perspectiva.

Talvez o plano realmente desse certo.