Brotherhood

Capítulo 2 Part. II


— Conseguiu os registros de funcionários da lanchonete? — Tim perguntou a Booth assim que se aproximou.

— Acabaram de me enviar. — respondeu abrindo os arquivos. — Enviaram também as filmagens de segurança.

— Vou pegar uns cafés para nós. — disse ao ver o tamanho dos arquivos, eram muitas horas de gravações e muitos dias a serem checados. — Pelo menos os horários de registro o software pode conferir, porém, assistir às imagens para constatar se era ela mesma, só nós podemos fazer.

Por um tempo fizeram silêncio, Tim e Booth analisavam as imagens cuidadosa e meticulosamente, não deixando nada escapar, precisavam ter certeza se Rose falava a verdade.

— Ela parece estar falando a verdade. — Booth olhava para a tela, onde Rose aparecia servindo mesas. — Ela aparece em todas as gravações e os registros de funcionários mostram que ela estava lá nos mesmos momentos dos acessos.

— Ela está falando a verdade. — Tim repetia a fala do companheiro. — Ela não poderia ter roubado esse dinheiro.

— Gravações podem ser adulteradas. — Booth levantava uma teoria plausível, eles não poderiam dar a situação como resolvida sem ter certeza de que tudo fora conferido, afinal de contas era um caso grande, que não poderia ser resolvido de qualquer forma.

— Então envie as filmagens para os especialistas para verificar a veracidade dessas imagens. — Deu a ordem. — Precisamos cobrir todas as possibilidades.

— Não será necessário. — Uma mulher, vestindo de terno preto, disse aos dois enquanto entrava na sala de reuniões que usavam. — Essas filmagens são legítimas e eu tenho documentos que atestam a veracidade delas.

— Como entrou aqui? — Tim colocou-se de pé.

— A porta estava aberta. — disse dissimuladamente.

— Por favor, não interfira numa investigação em andamento. — Tim respondeu rispidamente, colocando-se de pé. — Você não tem como fundamentar o que diz e nós estamos sem tempo para baboseiras, então, por favor, retire-se e eu não te prendo por invasão. Vamos fingir que nada disse aconteceu.

— Sabia que diria isso. — Sorriu levemente — Por isso trouxe comigo toda a fundamentação necessária. — Colocando a pasta sobre a mesa, ela esperou alguma reação e, quando não obteve, continuou. — Nesses documentos encontraram certificados comprovando a autenticidade das filmagens e outras provas da inocência de Rose Tyler. — Abrindo a pasta, de couro marrom, colocou mais arquivos sobre a mesa. — E nesses. — Apontou para mais três pastas. — Provam que Morgan Brody, mas conhecida como Elisabeth Brody, e Nick Stokes são os verdadeiros responsáveis pelos roubos e onde estão escondidos.

— Vocês os mantêm sobre vigilância? — Tim questionou ao ver as fotos de Rose, Nick e Elisabeth, cada um em situações diferentes e em momentos distintos. — Por qual razão?

— Isso é sigiloso e você estaria interferindo numa investigação em andamento. — Devolveu a fala, ainda sorrindo.

— Tim, eles têm um relatório detalhado sobre cada roubo, com datas, horas e... Eles têm tudo e, ao que tudo indica, foram eles mesmos. — Booth disse baixo para Tim.

— Isso não é possível. — Tim pegou os arquivos e olhou, eram provas incontestáveis.

— Afinal de contas, quem é você? — Booth quis saber após ler um dos documentos.

— Annabelle Petrov. — respondeu mostrando sua credencial. — Sou da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão.

— Superintendência do quê? — Tim riu em descrença. — Esse nome soa bem fantasioso, não acha? — Riu mais um pouco. — Por que supõe que acreditaríamos nisso?

— Não precisa acreditar se quiser, mas garanto que... — Olhando para seu relógio, Anna sorriu. — A ligação que irá receber em... — disse ainda olhando o relógio. — Alguns segundos, esclarecerá tudo e tirará esse sorriso falso do seu rosto.

— Você só pode estar de... — Antes que Booth terminasse sua frase, o telefone tocou e Tim atendeu.

— Agente Burke. — disse ao atender. — Sim... — Seus olhos se arregalaram e o sorriso não estava mais lá.

— Quem era? — Booth quis saber.

— O cara do T.I. dizendo que mais um acesso foi feito. — Tim disse.

— E isso inocenta a Rose das acusações, já que ela está sobre custódia nesse exato momento. — Anna sorriu.

— Como sabia? — Tim a encarou.

— Intuição feminina. — Anna respondeu piscando o olho.

Na mesma hora, Tim foi até a sala de interrogatório para liberar Rose, não tinha mais motivos para mantê-la presa.

— Vamos, você está liberada. — Fez menção para ela se levantar, tirando as chaves das algemas do bolso.

— Como assim? — Sua confusão estava no máximo. — Já checaram o meu álibi? Sou inocente, não sou? — Ela estava ávida pela resposta.

— Conferimos o que disse, analisamos tudo e atestamos que você realmente diz verdade. — Tim respondeu sério, retirando as algemas. — E com a ajuda da Agente Petrov descobrimos quem foi.

— Quem foi? — Quis saber, embora já soubesse a resposta. — Foi ele, não foi?

— É melhor não saber. — Anna se intrometeu.

— E você quem é? — Rose a olhou dos pés à cabeça, mas Anna não se deixei intimidar.

— Annabelle Petrov. — Se apresentou novamente, esticando a mão para Rose.

— Tanto faz quem seja. — Ignorou o aperto de mão, não se interessava de verdade. — Não decida o que é melhor para mim. — Voltou-se para Peter. — Quem foi? — Exigiu resposta. Precisava ouvir.

— Nick e Elisabeth. — Tim disse de uma vez e a viu a mágoa em seu olhar com a confirmação da verdade. Depois disso a escoltou até a saída, sem dizer mais nada.

Ainda meio atônita com a confirmação de suas suspeitas, Rose acompanhou Tim em silêncio. Processava lentamente a notícia e, mais do que antes, sentia seu corpo borbulhar de tantas emoções afloradas.

Uma parte esperava que fosse tudo uma grande mentira, uma brincadeira de maldosa, mas, bem, no fundo, ela sabia ser verdade, e gradualmente cada pedacinho daquela enorme quebra-cabeças começava a se encaixar e tudo começava a fazer sentido.

Tim, acompanhado por Anna e Seeley, levou Rose até o saguão e, de lá, ela seguiu sozinha para fora do prédio, foi então que percebeu a escuridão da noite e, sem saber ao certo o que fazer, decidiu caminhar, precisava colocar a cabeça no lugar e tentar não fazer uma besteira.

Andava errante pela noite fria da cidade, olhando o céu sem saber o porquê de tudo aquilo. Buscava respostas, ou soluções, mais sabia que, independentemente do quanto olhasse, pedisse, ou esperasse, nada viria. Nenhuma ajuda, nenhuma resposta, nenhuma escolha, nenhuma saída, nem luz, ou esperança. Nada. Sentia-se sozinha e sabia não haver nada capaz de mudar aquela situação, mas sabia de algo para aliviar sua mente perturbada, porém ela lutava para não pensar.

Lentamente a dor da realidade a atingia mais forte do que gostaria e Rose começava a entender a dimensão de tudo e, se antes já estava em desespero, naquele momento, perdia qualquer resquício de esperança que ainda a fazia ficar de pé. Sentia o mundo cair sobre sua cabeça em uma solidão sufocante.

Já havia aceitado que não havia mais volta, nada seria como antes e ela precisaria lutar mais uma vez. Seguir em frente era a única possibilidade, mas continuava a se sentir estúpida e a ser consumida pela raiva, se sentia enganada.

Seus passos estavam perdidos e incertos, estava desesperada e lutando contra aquela vontade crescente dentro de si, que a consumiria se não fosse saciada. Quando finalmente parou de caminhar, pensou, por instante, estar perdida, porém, logo reconheceu onde estava e, ao olhar a sua volta, notou o quanto nada mudara. Aquele era o mesmo beco sujo e fedido onde sentiu sua vida quase escapar por seus dedos muitas e muitas vezes.

— Rose Tyler. — O homem disse, saindo da escuridão. — Pensei que nunca mais veria esse rostinho lindo. — Trazendo em seus lábios um sorriso macabro, se aproximou.

— Michael Bray? — respondeu sentindo um frio percorrer sua espinha. Mesmo após tanto tempo, aquele homem ainda lhe causava arrepios, e não eram bons.

— A que devo a honra da sua presença? — Aproximou-se mais e lentamente.

— Nada. — Afastou-se, dando um passo para trás. — Nem sei o que estou fazendo aqui. — Retornou para o caminho de onde viera.

— Claro que sabe. — A segurou. — Nunca vi Rose Tyler não saber o que quer. — O sorriso ainda estava lá. — Eu disse que um dia você voltaria, não disse? — A segurando por um dos braços, Michael a impediu de ir.

— Não voltei. — Puxando o braço com força, o movimento foi em vão, Michael não cedeu e ainda aumentou a força do aperto.

— O que faz aqui? — Aproximou o rosto do dela. — Sentiu a minha falta? — Rose podia sentir o hálito dele perto de sua bochecha.

Michael era um homem bonito e alto, com cabelos loiro e olhos azuis. Seu sorriso fácil, era cativante, parecendo um modelo, desses que se via nas capas de revista. Mas, a verdade, era que ele ganhava a vida vendendo drogas, e outros serviços, para as mulheres ricas e importantes da sociedade novaiorquina. Era o pior categoria de ser humano e o homem mais desprezível que já caminhou sobre à Terra e, mesmo sabendo de tudo isso, Rose cedeu ao seu charme e sedução. Ela tinha vinte anos, e nenhum juízo, por isso, em poucos meses, Michael, de seu fornecedor, se tornou seu amante. Foram os piores seis anos da vida de Rose.

— Sentir falta do quê? — Tentou se soltar novamente e, dessa vez, obteve sucesso. — Da sua loucura? Do seu ciúme doentio?

— Ah, qual foi, Rô, você adorava se sentir especial. — A puxou em sua direção mais uma vez, mas ela conseguiu escapar.

— Especial? — Riu. — Eu até me senti especial por um tempo, mas só até me dar conta do quanto você era obcecado e possessivo. Você me fez ser demitida de todos os empregos que eu consegui. Atrapalhou cada uma das minhas tentativas de ficar sóbria. — Contudo, Rose achava engraçado o quão distorcida era a visão dele sobre o que acontecera. — No final, eu vivia um inferno do seu lado e não pretendo voltar para ele.

— Você não soube apreciar o que te dei. — A olhava chateado. — Eu te dei uma vida de luxo, mas preferiu ficar com aquele vendedor de celular medíocre.

— E a onde todo aquele luxo te levou? — Olhou a sua volta. — De volta ao mesmo beco de sempre. — Ela estava perplexa. — Onde está apartamento de luxo? Os carros? Eu posso estar na merda, mas essa merda ainda é melhor que a que eu estaria se tivesse continuado com você. — gritou. — Eu esperava encontrar qualquer pessoa aqui hoje, menos você.

— Eu tive uns problemas depois que você foi embora. — Assumiu. — O marido de uma das minhas clientes não gostou muito de me encontrar na cama dele e... — Foi interrompido.

— Eu tenho nojo de você e mais nojo de mim por aceitar isso por tanto tempo. — Declarou, estava realmente enjoada. — Você transava com qualquer coisa que se mexesse e eu não me importava, porque isso mantinha a vida de luxo, vazia e caótica.

— Eu te amava. — disse a encarando.

— Não, não me amava. — Foi direta. — Você era meu dono. — Estava envergonhada em admitir.

— Você adorava. — falou alto e cheio de maldade.

— Eu aguentava, porque você me dava o que eu queria. — falava a verdade e deixava Michael irritado. — Você me dava a droga que eu queria e eu te pagava com você gostava.

— Com sexo. — Riu. — Rose, você continua linda e sexy. — A rodeou. — Se quiser, podemos retomar o nosso acordo. — disse cafungando em seu pescoço, o que a fez se encolher e ir para longe.

— Nunca mais encoste em mim. — O desgosto de Rose estava estampado em seu rosto. — Você me dá nojo. — Repetiu.

— Não fale assim, você gostava. — Michael começava a se ofender com o desprezo de Rose. — Você disse que me amava.

— E você acreditou? — Riu em deboche. — Dizemos qualquer coisa quando se quer mais uma dose.

— Você foi falsa. — Acusou, mudando repentinamente de comportamento. Michael também está sobre o efeito.

— Se enganou porque quis. — Ainda o encarava com nojo.

— Eu esperava que, em algum momento, após ver tudo que eu poderia te dar, você fosse me amar de verdade. — Então Rose percebeu quão exposto ele estava, todas as suas emoções estavam lá, abertas para quem quisesse ver. — Eu só queria ser amado por você. — Confessou. — Nenhuma daquelas mulheres significava o mesmo que você, mas eu precisava delas para te dar o que você merecia. — Ele parecia sincero e isso foi o que mais chocou Rose.

— Você queria me comprar, mas eu não estava à venda, Michael. — Declarou. — Nós agimos com interesse pelo que o outro poderia proporcionar. — O encarou séria. — E eu estava disposta a levar aquilo adiante, mas tudo mudou quando você começou a trabalhar para as ricaças, dando a elas mais do que as drogas. — Abriu seu coração também. — No auge da sua paranoia, você começou a fazer da minha vida um inferno. — falava a verdade e isso a libertava. — Você me traia, mas se comportava como se a infiel fosse eu.

— Você me abandonou. — gritou.

— Claro que eu te abandonei! — gritou Rose de volta. — Abandonei, porque aquilo não era vida e eu não tinha nenhum desejo de protagonizar uma tragédia. — Sobrepôs sua voz. — Se uma overdose não me matasse, você mataria com os seus ciúmes. — Havia uma lágrima em seu olhar. — Eu nunca te amei, Michael, mas nem sempre te odiei. Durante muito tempo acreditei ter alguém para cuidar de mim, que entendesse as minhas necessidades. — Limpou o rosto. — Mas, com o tempo, nós percebemos que certas necessidades não devem ser entendidas ou satisfeitas.

— O que veio fazer aqui então? — perguntou e lhe deu as costas, não queria que ela visse que ele estava emocionado. Michael não era mais o mesmo.

— Eu não sei. — respondeu, respirando fundo e sentando em uma caixa de madeira. — Talvez a vida esteja me mostrando que eu merecia o que Nick fez. — Concluiu. — Talvez seja a Lei do Retorno, afinal de contas, eu te deixei, apenas para me tornar você. — Assumiu, Rose havia feito de tudo por Nick, o mesmo que Michael, de sua forma, fez por ela.

— Ele te usou para conseguir o que queria? — Riu. — Rose Tyler foi enganada por alguém. — gargalhou. — Isso não é uma vitória que se pode ter todos os dias.

— Com certeza a vida está me esfregando na cara o quanto sou péssima para fazer escolhas. — Encarou o chão. — Ele me deixou e ainda quase me fez ser presa.

— Não vou fingir que estou triste por você. — disse após um longo silêncio. — Talvez todos estejam sendo pegos pela Lei do Retorno e estejamos pagando pelos nossos pecados. Você pagou por ter me usado e eu por ter te traído.

— Quem sabe? — Passou as mãos no cabelo, buscando calma. — Preciso ir. Ficar aqui não ajuda. — caminhou na direção contrária a Michael.

— Você está com aquele olhar. — falou fazendo com que Rose parar.

— Que olhar? — Voltou-se para ele.

— O mesmo olhar que tinha quando nos conhecemos. — Sorriu. — De quem está à espera da próxima. — Colocou a mão no bolso esquerdo da calça jeans suja e tirou de lá um saco com um pó branco. — Teve uma recaída, não foi?

— Dois anos sóbria. Tudo jogado no lixo. — Não teve vergonha de revelar, afinal Michael conhecia de perto seu pior lado.

— O que usou ontem? — indagou.

— Uísque e analgésicos. — disse sem rodeios.

— Certos hábitos nunca mudam. — Seu sorriso aumentava. — No desespero, principalmente quando nós brigávamos e eu dizia que não ia mais te dar nada, você sempre corria atrás do mais fácil, mas eu sempre soube do que você gosta. — Seus passos foram lentos até Rose. — Tome, considere como um presente. — Entregou o pequeno saco a ela.

— Presente? — Desconfiou. Michael não era uma pessoa generosa.

— Considere como o fim oficial. — Em seu rosto dava para ver a escuridão e o quão agradado ele estava em contribuir com o vício dela. — A nossa saideira. A partir de hoje, não quero, nunca mais, ver seu cara por aqui de novo.

— Não pretendia voltar antes e muito menos agora. — Colocou o presente no bolso de seu uniforme e fechou o casaco que usava. — Até nunca mais, Michael.

Ela andou o mais rápido possível para fora do beco, seus passos eram rápidos e o frenesi dominava seu corpo, não estava ansiosa para chegar à casa, estava ansiosa para usar o presente que havia ganhado. Para um adicto em recuperação qualquer simples tentação pode significar o fim de uma luta, recaídas são comuns no processo e Rose estava tendo uma.

No caminho para casa parou na mercearia e nela achou mais um ingrediente para sua festa particular. Da prateleira pegou algumas garrafas de vodca, jogou o dinheiro nas mãos do caixa e saiu apressada, qualquer minuto perdido aumentava a angústia. Antes mesmo de sair da loja, já se preparava para dar o primeiro gole, seguido de outros e, quando deu por si, a primeira garrafa já estava vazia.

Já era alta madrugada quando finalmente chegou à casa e viu que tudo estava fora do lugar e isso só fez sua ansiedade aumentar. Cruzando a distância da porta de entrada para o quarto, passando por cima de tudo que estava jogado no chão, Rose chegou ao banheiro e se trancou. Espalhando o pó branco sobre a bancada da pia, ela inalou a droga e sentiu a substância arder em suas narinas. Sentando-se no chão, ingeriu mais álcool. Alguns minutos depois sentia a dormência dominar seu corpo, sua visão começava a embaçar e seus reflexos ficaram lentos, o coquetel estava fazendo efeito mais rápido do que o esperado.

Com dificuldade colocou-se de pé, derrubando no chão as poucas coisas que ainda estavam em cima da pia. Cambaleante e desnorteada trocava os pés e tropeçava em tudo à sua frente, por isso, a queda foi inevitável e antes que pudesse se segurar, sentiu seu corpo se chocar com o chão frio. A dor aguda veio em seguida e foi forte, quase imediata a queda, sentiu o líquido viscoso e melado descer por sua têmpora. O cheiro ferroso denunciava o acontecido, mas ela não teve chance de reagir.