Broken Wonderland

A Travessia de Caronte


E em um barco movido pelo nada se encontrava um hibrido cego (humano e morcego) que em um gesto amplo convidou todos que a porta trouxera a entrar em sua embarcação.

O estranho grupo entrou: a menina, o Rato, o Papagaio, o Dodô e a Águia. Conforme a viajem passava, como única paisagem o lago que se estendia completamente viscoso e escuro, a menina começou a pensar sobre seus passageiros. Os nomes eram de animais e de alguma forma eles em si eram semelhantes aos animais que o nomeavam.

A atenção voltou-se ao barco ele cortava a aguas turbulentas do lago com facilidade, apesar de parecer podre, era comprido e estreito com bancos para dois. Caronte ia à frente de pé e solitário, no primeiro banco Rato e Papagaio:

Rato tinha cabelos e pele em um cinza doentio e tanto o paletó quanto a bengala preta eram antigos e gastos, tendo o próprio Rato um ar doentio e gasto. Apesar disso tinha um ar de inteligência adquirida por experiência, parecia uma figura a ser no mínimo respeitável, concluiu a menina.

Já Papagaio vestia-se de verde e o cabelo penteado para trás com gel era comprido e tingido de verde que de algum jeito o deixava elegante, juntamente com seu colete verde e gravata, tinha um ar jovem e energético deixando-lhe com um ar meio tolo.

Atrás vinha o Dodô com aquela barriga redonda e braços pequenos, parecia alguém que raramente fazia algo além de comer, suas roupas passavam a impressão de luxo apesar de parecerem gastas. Sozinho ocupava um único banco.

Águia era a única mulher do grupo, tinha cabelos brancos, curtos e arrepiados, vestia-se de forma estranha e tudo nela dava a impressão que ela era alguém que enfrentaria qualquer um a qualquer hora, uma delinquente respeitável, porem ao mesmo tempo parecia amável. Estava sozinha também, pois levava uma estranha mala de couro marrom com correntes que ocupava todo o espaço a seu lado.

Em seguida a menina decidiu avaliar Caronte, seus olhos leitosos se moviam tristemente de um lado para o outro como se tentassem observar a vista, os cabelos se espalhavam negros pelo rosto sem que isso o incomodasse, ele parecia envolto por uma capa que logo a garota percebeu que eram longas asas de morcego. Apesar de tudo ele parecia não querer falar e incomodada pela estranha aura morta que ele irradiava a menina decidiu se manter longe.

Ela olhou a paisagem, além do lago negro tudo que podia ver era uma estranha neblina de um rosa enjoativo de aparência venenosa, concentrou-se em olhar para a margem de onde viera, tivera tanto medo e pressa que nem a vira, tudo que podia reparar agora era que o chão que dava para o lago era manchado de formas irregulares vermelhas que brilhavam quase como enferrujadas a distancia, e uma que única luz de vela e uma estranha sombra que sumiu ao apagar a vela com um sopro, pareciam sinistramente familiares.

O resto da viajem a menina passou olhando o teto enquanto pensava como era sortuda por ir a aquele mundo e fugir da rotina, sem saber que sem aquela lente que a impedia de ver como o lugar era quebrado e triste já teria se perdido dentro da própria mente. Por não pertencer a aquele mundo por muito tempo a pequena via tudo como se fosse o mais maravilhoso conto de fadas sem perceber o aspecto opaco, quebrado e sufocante do local. Curiosa pelo teto o mirou com mais atenção.

O teto era simples, imitava um tabuleiro de xadrez e era, como tudo naquele mundo, opaco e cinza, sendo como no pedaço de mundo anterior, rachado e repleto de goteiras. A menina logo dormiu sem nada sonhar.

A garota acordou aos berros, estava encharcada, uma pequena parte dela sabia que no vai e vem do navio provavelmente haviam atravessado uma das loucas ondas daquele furioso lago, porem ela não pode conter o terror e a sensação de estar afundado mais e mais com o ar saindo e escapando de seus lábios enquanto se perdia na escuridão do fundo do lago.

Foi despertada de seu terror por um forte tapa na cara que a fez virar o rosto, abriu os olhos. Águia a encarava preocupada, ainda sentindo o tapa em seu rosto, a menina agradecida acenou a cabeça para mostrar que estava bem. Com um suspiro Águia amarrou a mala no banco da frente e sentou-se ao lado da menina a embalando enquanto cantava uma estranha canção de ninar, pouco a pouco a garota cedeu ao sono e dormiu novamente sonhando que caia constantemente com objetos flutuando a sua volta.

A menina abriu os olhos no momento em que o barco deu um pequeno solavanco ao chocar-se com a margem, afoitada desceu a margem, tropeçado na beirada do barco. Pulou um pouco ate recuperar o equilíbrio. O resto dos passageiros desceu calmamente, todos exceto por Caronte estavam encharcados e desesperados para se secar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.