Broken Minds

Fault (Culpa) Part II


Já era manhã quando Jinwoo finalmente chegou em casa.

O interrogatório durara longas e longas horas, pois, como testemunhas voluntárias, ela e Hansol foram os que passaram mais tempo respondendo as perguntas que eram feitas umas atrás das outras pelos diversos policiais que passaram pela sala onde eles estavam sendo mantidos.

Cansada, faminta e louca para dormir, Jinwoo sofreu calada todos os efeitos colaterais da descarga de adrenalina que tivera no momento do ocorrido, e somente pôde respirar aliviada quando, às 7 da manhã, o detetive encarregado pelo caso a liberou para voltar para casa.

Hansol, tão devastado e cansado quanto ela, ofereceu carona em seu carro quando eles finalmente se encontravam na saída da delegacia, porém a jovem estagiária recusou com educação.

– Nesse momento, você precisa descansar, e me levar em casa só vai tomar mais do seu tempo. Eu pego um Uber, não se preocupe. – ela nem mesmo conseguia colocar emoção em sua voz, tamanha a exaustão. – Prometo mandar uma mensagem assim que chegar em casa. – acrescentou após perceber que ele estava prestes a relutar. – Vamos lá, você sabe tão bem quanto eu que isso é o melhor a se fazer.

Ela firmou os olhos nos dele por alguns segundos antes de ele os desviar e soltar um suspiro de resignação.

– Tudo bem, tudo bem. Mas aguardarei a sua mensagem. – foi tudo o que disse.

Jinwoo deu-lhe um sorriso satisfeito e fitou o rosto do rapaz por mais alguns breves segundos antes de pegar o seu celular da bolsinha, abrir o aplicativo de viagens e colocar o endereço da casa de Yangmi na janela de buscas. Assim que a tela revelou qual seria seu motorista e o carro, ela anotou mentalmente a placa, guardou novamente o celular e estendeu a mão para cumprimentar Hansol.

– Bom, eu queria poder dizer que foi uma noite divertida, mas ambos sabemos que isso não é possível. – um suspiro se fez audível antes de Jinwoo abrir um sorriso triste. – Mas, apesar de tudo, eu fico feliz que eu tenha passado por tudo isso ao lado de uma pessoa conhecida. Seria horrível estar sozinha ali quando tudo aconteceu, então... Obrigada.

Jinwoo percebeu que pegou Hansol de surpresa no momento em que ele estendeu a mão para apertar a sua e, ao invés de responder alguma coisa, ficou apenas a encarando em confusão.

– Você não precisa responder nada. – ela acrescentou um pouco sem graça. – Eu só precisava falar isso. Espero que você fique bem e que se lembre do que eu disse. – seu semblante ficou sério novamente e ela apertou de leve a mão de Hansol que ainda estava na sua. – Não deixe que tudo o que aconteceu na noite passada defina quem você é. Você é incrível e ainda vai ajudar muita gente nessa sua trajetória, eu sei que vai, então não se preocupe com nada, porque o destino vai tomar as rédeas pra fazer tudo se acertar novamente.

E como se fosse sua deixa, o carro designado pelo aplicativo para buscá-la buzinou bem na hora, impedindo que Hansol pudesse falar seja lá o que fosse.

– Bom, acho que isso é um adeus. Espero vê-lo novamente em circunstâncias menos trágicas. Até mais.

E com isso ela se afastou, porém não antes de escutar um quase inaudível "também espero vê-la novamente" antes de entrar no carro e observar um confuso Hansol a encarando enquanto ela ia gradativamente se afastando da delegacia.

Agora no saguão de entrada do prédio onde morava, ela se perguntava se não tinha falado demais.

Parecia incoerente, dadas as circunstâncias, mas sua mente retornava a todo momento para a conversa que eles estavam tendo antes de todo o tumulto começar, para o modo como ela instantaneamente se sentiu mais leve quando eles começaram a dialogar, para o sorriso fácil e sincero de Hansol, para seu olhar curioso e, ao mesmo tempo, atento, para o jeito que sua feição se tornou mais leve ao começar a falar sobre Yagmi e Mingyu...

Ela sempre se orgulhou de sua habilidade de ler corretamente as pessoas, e se sentia feliz por não ter se enganado em relação a Hansol no momento em que se conheceram. Ele realmente, genuinamente, era uma boa pessoa, e isso, talvez, ela pensava conforme ia subindo no elevador para chegar até o apartamento, fosse o que ela precisava no momento. Um bom amigo ao seu lado, para tentar aliviar um pouco mais o peso que sempre carregava nos ombros e não sabia muito bem como ou com quem poderia dividir.

Quando o "click" do elevador a despertou de seus devaneios e a porta se abriu para revelar o corredor do seu andar, Jinwoo andou afoitamente até a entrada e abriu o apartamento com rapidez. Não estava com energia sequer para tomar um banho, muito menos para terminar o trabalho que tinha acumulado e que precisava terminar para entregar no próximo dia.

Aquilo podia esperar.

No momento, o que ela mais precisava era de sua cama, precisava dormir pra sempre, se possível, e, se dando esse privilégio pelo menos uma vez na vida, ela assim o fez.

~•~

Lee Seokmin estava pensativo.

Enquanto enchia a xícara que tinha em mãos com o café que Yangmi acabara de preparar, sua mente vagava entre todas as peculiaridades da situação na qual se encontrava.

Primeiro: ele sabia, assim que deixou Jeju-do para ir até Seoul, que Yangmi estaria se atolando de trabalho para evitar encarar todas as adversidades que aconteceram na sua vida nos últimos meses. No entanto, ele não estava preparado para o estado no qual a encontrara no dia anterior. Ele fez o possível para esconder, e não pode deixar de acreditar que fez um bom trabalho, mas seu coração rachou um pouco ao ver as olheiras gigantescas que marcavam o rosto tão belo de sua irmã, ou a palidez acentuada que ele via e que sabia não ser nada saudável para alguém que trabalhava tanto quanto ela.

Sua irmã era um fantasma da pessoa que ele deixara antes de partir para Jeju-do para assumir o cargo de jornalista investigativo do maior jornal da região, e ele não conseguia parar de pensar que tinha uma parcela de culpa em tudo isso.

Suas palavras para ela na noite anterior foram sinceras, bem como a dor e o arrependimento contidos nelas.

Ele deveria estar lá quando tudo veio abaixo, deveria ter ficado ao lado dela quando ela mais precisou de alguém. Ele sabia o peso que a solidão tinha, das sequelas que deixava na alma de alguém, e agora, olhando para o irmã enquanto ela andava de um lado para o outro na cozinha a procura dos ingredientes para fazer panquecas, ele não podia se impedir de pensar que talvez fosse tarde demais para tirar Yangmi do poço ao qual ela, com tanto afinco, se enfiara.

Ele sabia que só conseguiria tirar pelo menos uma parcela desse peso das costas dela quando ela concordasse em contar a ele tudo o que aconteceu, mas o grande desafio era justamente conseguir que aquela cabeça dura se abrisse para revelar seus segredos.

Mas, no mais, não custava nada tentar.

– Então... Qual foi a última vez que você tirou uma folga dessas pra você descansar mesmo?

Ele fez questão de deixar a sua voz o mais casual possível. Estendeu a mão para pegar um cubo de açúcar enquanto observava Yangmi se atrapalhar com as panelas ao procurar a panquequeira.

– Não lembro, talvez uns... Cinco meses? – ele sabia que ela estava envergonhada pelo simples fato de não ter olhado para ele enquanto respondia.

– Você sabe que isso vai totalmente contra todas as leis trabalhistas possíveis, certo? Você precisa de, no mínimo, uma folga semanal, Minnie. Como você acha que esse desgaste todo está deixando sua saúde? Sem ofensas, mas você está mais pálida que uma vela e isso não ajuda em nada no disfarce das suas olheiras.

Ele sabia que estava sendo um pouco duro demais, talvez, mas ela tinha que escutá-lo e precisava entender que nada daquilo era normal ou saudável.

– Negligenciar sua saúde não vai ajudar você a ir melhor no trabalho, assim como não vai te fazer esquecer dele.

Um som alto atingiu os ouvidos de Seokmin conforme Yangmi deixava cair a vasilha do trigo. Ela instantaneamente se abaixou para pegar o recipiente e tentar salvar o conteúdo que derramara no chão.

– Seokmin...

– Não, me escute dessa vez.

Ele a interrompeu antes que ela pudesse protestar.

– Você mesma me disse há vários anos atrás que guardar algo ruim pra si mesmo é o mesmo que se envenenar aos poucos. E, talvez você não consiga ver o que eu vejo por já estar acostumada demais com o que vê no espelho, mas eu vejo uma mulher que não parece em nada com a irmã que eu deixei aqui, nessa mesma casa, há 8 meses atrás. Aquela mulher sorria o tempo todo, tinha cor nas bochechas, tirava todas as suas folgas semanais, era empolgada com a sua tese de doutorado e nunca, nunca na vida, fazia hora extra a não ser que fosse extremamente necessário. Aquela mulher cuidava de si mesma, tinha uma autoestima boa, apesar da modéstia, e era viva. Você era viva, Yangmi. E agora, olhando pra você do jeito que está agora, não sei se posso continuar dizendo o mesmo.

Os olhos de Seokmin não abandonaram a irmã em momento algum, nem mesmo quando ela largou a vasilha de lado e não mais se levantou pois se sentou no chão, abraçou os joelhos e começou a chorar.

Ele arrastou para trás com cuidado a cadeira na qual estava sentado e andou até ela, sentando-se ao seu lado e abraçando-a logo em seguida.

– O que eu posso fazer para ajudar você a voltar ao que era antes? – a voz de Seokmin não passava de um sussurro. – Não aguento te ver assim, tão vulnerável e quebrada. E eu preciso, Yangmi, preciso mesmo, saber o que aconteceu pra poder ajudar você de verdade. Enquanto você não dividir isso com alguém, esse peso nunca vai deixar de te sufocar.

Suas palavras foram cálidas, vulneráveis enquanto revelavam toda a dor e a aflição que ele estava sentindo por vê-la daquele jeito. Se já doía fisicamente nele, não conseguia imaginar como deveria ser a dor que ela sentia.

Yangmi ficou em silêncio por alguns segundos, e, se as fungadas cada vez mais espaçadas que ela soltava eram sinal de algo, Seokmin tinha conseguido convencê-la a falar.

– Tudo começou no início do outono, dois meses depois de você ter ido embora. – ela hesitantemente começou a falar depois de quase cinco minutos de silêncio. Sua voz estava frágil e rouca, e Seokmin teve que se esforçar para não perder nenhuma palavra do que ela dissera por conta do baixo volume. – Você conhece o Mingyu, sabe como ele sempre é super falante e extrovertido praticamente o tempo todo, então eu comecei a estranhar quando, sem motivo aparente, ele começou a ficar mais... Quieto, acho que essa é a palavra certa. Ele não mudou o jeito que me tratava em momento algum. Quando estávamos a sós, ele ainda era carinhoso e extremamente amoroso, mas eu comecei a sentir que ele estava se distanciando de mim, evitando conversar demais, passando muito tempo no trabalho e sempre alegando estar cansado demais quando eu perguntava como o dia dele tinha sido. Eu sabia que tinha algo de errado, mas nunca conseguia achar a brecha que eu precisava para tocar nesse assunto com ele.

Yangmi foi ficando mais e mais pensativa a medida que ia relatando os fatos, e Seokmin imaginou que talvez ela estivesse voltando para aqueles dias, revendo todos as lembranças dos momentos pelos quais ela passou e que, talvez, já tivessem transpassado por sua mente outras e outras vezes antes.

– Isso tudo durou um mês. Trinta dias de total estranheza, de um Mingyu completamente distante e alheio a mim de tal forma que eu já estava começando a imaginar que algo muito ruim tinha acontecido e que ele não queria me contar. Eu já estava ficando louca, e, então, eu o pressionei.

Um longo silêncio se instalou conforme Yangmi voltava a chorar. Suas lágrimas, silenciosas dessa vez, derramavam sobre seu rosto toda a angústia que ela vinha a tanto tempo carregando sozinha.

– Em uma determinada noite, enquanto ele se arrumava pra dormir, eu o questionei. Perguntei se havia algo o incomodando e que, se tivesse, ele poderia me falar. Reiterei que eu estava ali por ele, em todos os momentos e para todos os eventos, e que eu o amava, demais. Eu queria que ele se sentisse seguro pra compartilhar o que fosse, então eu disse aquelas palavras com sinceridade, pois era o que eu realmente sentia.

Sua voz começou a tremer e ela teve que tomar longas e longas tragadas de ar antes de conseguir estabilidade para voltar a falar.

– Foi então que ele sentou na beirada da cama e começou a me olhar de um jeito totalmente estranho. Parecia que ele estava sentindo dor, que havia algo terrível o incomodando, e eu comecei a imaginar um monte de besteiras, que talvez ele tivesse descoberto alguma doença ou algo do tipo, não sei... Minha mente vagou por tantas possibilidades, e mesmo assim, eu não consegui prever o que ele realmente queria tratar comigo. Quando ele começou a falar, eu juro que senti que meu coração começou a partir lentamente.

Seokmin já estava com o queixo firmado no topo da cabeça da irmã enquanto ela chorava em cima dos joelhos. Suas mãos acariciavam os cabelos negros e lisos de Yangmi conforme ela tomava os segundos que precisava para voltar a contar o que tinha acontecido. Ele sabia, mais que tudo, que ela precisava fazer tudo no seu próprio tempo, portanto, não iria apressá-la. Paciência era algo que ele sempre teve e que precisou aprimorar ainda mais por conta do emprego que tinha.

– Ele começou a dizer que estava se sentindo preso. Que sentia que a juventude dele estava sendo tomada e que, se ele não fizesse algo para mudar isso, ele a perderia pra sempre. Eu não entendi no momento, claro, porque minha mente estava um turbilhão, mas o que eu conseguia assimilar da expressão dele era que ainda tinha algo pior por vir.

"Ele pegou minha mão e olhou bem fundo nos meus olhos, de um jeito totalmente diferente do que ele fazia normalmente, e disse: 'Eu pensei muito sobre isso, até demais. Todo esse mês eu passei indagando a mim mesmo se estava fazendo a coisa certa comigo e com você, se eu tinha certeza do que queria e se, caso não tivesse, se era justo manter você presa a isso.' Ele continuou olhando pra mim, Seokmin, como se ele esperasse que eu fosse responder alguma coisa. Mas como? Eu não lembrava nem como se falava. Meu coração estava apertado e, a cada palavra que saia da boca dele, eu sentia que ele diminuía ainda mais. O meu estômago parecia que ia afundar e eu sabia que Mingyu ainda não tinha sequer terminado. Quando ele viu que eu não ia falar nada, ele apertou mais um pouco minhas mãos e disse que... Disse que me amava."

Yangmi até levou uma das mãos a boca para tentar conter o soluço que veio de rompante, porém não teve sucesso. Seu corpo todo chacoalhava conforme ela chorava mais e mais.

– Ele disse que me amava, mas que não tinha mais certeza se ainda queria casar comigo... Ele disse... Ele...

Havia tanta dor velada naquelas frases que Seokmin queria morrer, queria poder pegar para si toda a dor e toda a angústia que ele sabia que ela estava sentindo naquele momento e queria poder se banhar daquilo, somente para livrar a irmã daquele fardo, ou, pelo menos, dividir com ela toda aquela dor.

E, claro, Lee Seokmin queria matar Kim Mingyu.

– Ele disse que éramos muito novos, que ainda tínhamos uma vida enorme pela frente, anos de liberdade, décadas para sermos o que quiséssemos, onde quiséssemos, pelo tempo que quiséssemos. Ele disse que talvez houvesse se precipitado ao me pedir em casamento e que, apesar de ainda não termos data marcada naquela época, ele queria... Ele queria reconsiderar o pedido.

Sua respiração foi ficando mais e mais lenta conforme o choro passava de histérico para silencioso. Entretanto, em nenhum momento as lágrimas cessaram. Ainda caiam como cascatas por sobre as bochechas encharcadas de Yangmi.

– Eu já nem sentia mais meu coração naquela altura. Estava entorpecida e totalmente sem chão. Não entrava na minha cabeça que o homem com quem eu passei três anos da minha vida, estava descartando tudo o que tínhamos vivido daquela forma, e ainda mais com uma justificava tão idiota. Eu fui assimilando aos poucos, aproveitando o silêncio dele para reorganizar meus pensamentos, e quando tudo finalmente se encaixou, toda a tristeza e a paralisia deram lugar a raiva. Meu sangue começou a ferver e eu não conseguia sequer pensar em alguma resposta para aquilo. Só queria que ele fosse embora e que nunca mais aparecesse na minha frente de novo. Então eu simplesmente falei isso pra ele.

Yangmi finalmente levantou a cabeça para encarar Seokmin. Seu rosto estava tão inchado que mal dava para ver seus olhos, porém mesmo naquele estado, ele conseguia ver que a raiva e a decepção ainda estavam estampados ali.

– Eu disse que se era aquilo que ele queria, então eu daria a ele. Pedi desculpas por ser um peso na vida dele, por ser algo que o impedia de ser livre, e prometi que jamais voltaria a ser aquilo novamente. Eu estava tremendo da cabeça aos pés, mas consegui reunir forças Deus sabe lá de onde para abrir o guarda roupas, tirar as roupas dele que estavam ali, enfiar em uma mala qualquer que tinha por lá e a jogar em cima da cama, bem ao lado dele. Ele me olhava com assombro, mas eu nem mesmo o fitava nos olhos. Eu tinha que ser forte pra ser capaz de fazer aquilo, e se eu caísse na besteira de olhar pra ele, eu sabia que iria ceder. Então eu não olhei, nem mesmo quando ele tentou falar comigo novamente.

"Acho que, em certo ponto, quando ele viu que eu não seria mais capaz de falar nada, ele desistiu, pegou a mala e saiu. Mas eu ainda lembro do jeito que ele me olhou na saída do apartamento, da forma como ele parecia já ter se arrependido da decisão que tinha tomado. Aquele foi o único momento que eu me permiti olhar nos olhos dele, e até hoje me arrependo disso. O que vi ali, a dor, ainda assombra meus sonhos e ainda me faz questionar se ele realmente queria aquilo, ou se não foi tudo um mal entendido como ele insiste em dizer."

Um suspiro e uma fungada conforme o choro finalmente ia cessando.

– De qualquer forma, não conversamos mais sobre aquilo desde então. Digo, quase sempre que ele arruma um jeito de ficar sozinho comigo, ele tenta trazer isso a tona, tenta pedir desculpas e dizer que eu entendi tudo errado, mas como? Que outra interpretação teria para o que ele disse? Não, não tem. Ele não quebrou apenas o meu coração naquele dia, ele também quebrou uma promessa, então eu não posso perdoá-lo. E mesmo que algum dia eu chegue a fazer isso, não serei capaz de confiar novamente em sua palavra, então melhor ficar tudo do jeito que está. Ele fazendo o trabalho dele, e eu fazendo o meu. Um dia, lá na frente, talvez eu consiga pensar nele sem sentir vontade de chorar, sem sentir que meu coração ainda está incompleto. Mas, até lá, eu vou seguindo como dá.

Seokmin finalmente se moveu, levando uma de suas mãos até o rosto de Yangmi para acariciá-lo. Ele entendia agora. Podia sentir em seu próprio corpo a dor e a devastação que ela deveria ter sentido naquele momento, quando escutou as palavras tão cruéis do homem que ela acreditava amá-la incondicionalmente.

– Você é muito forte, Yangmi, é só o que eu consigo dizer. Você é extremamente forte por ter passado por tudo isso e por ainda conseguir trabalhar todos os dias com o homem que fez e ainda faz você sofrer tanto. Eu te devo uma tirada de chapéu por isso. Mas eu acho que talvez já esteja na hora de você finalmente seguir em frente, Minnie. Ele fez a escolha dele e em nenhum momento sequer pareceu se importar com o quanto essa escolha afetaria você, então acho que já está na hora de você parar de remoer isso tudo, especialmente aquele momento final antes de ele ir embora que você disse que ele te olhou com arrependimento, e deixar tudo isso aonde pertence: no passado.

Seokmin levou a mão até o queixo da irmã e o levantou levemente até que seus olhos estivessem no mesmo nível.

– E ficar se atolando de trabalho, negligenciando sua saúde e deixando de viver não vai fazer a dor diminuir... Não dê a ele o gostinho de vê-la definhando. Mostre que você é uma mulher forte, decidida, inteligentíssima, gata para um senhor caralho que não se deixa abalar por homem nenhum, mesmo que esse homem seja, supostamente, o amor da sua vida. Você ainda é nova, irmã. Não é só porque o Mingyu foi o primeiro homem por quem você se apaixonou que ele será também o último. Ainda existe uma vida enorme e cheia de surpresas pela frente, então se permita viver.

Yangmi mordeu o lábio assim que Seokmin terminou de falar, dando mais uma fungada antes de assentir.

– Eu só... Não sei, Seokmin, eu não sei se consigo fazer isso de forma tão fria... Eu já tentei e olha só no que deu. – ela apontou pra si mesma, para o estado no qual se encontrava. – Você acha que eu deveria tentar conversar com ele pelo menos uma última vez? Escutar o que ele tem pra falar e depois finalmente contar a minha decisão?

Seokmin conseguia ver a dúvida nos olhos da irmã, a mente trabalhando incessantemente na busca de qualquer solução para o problema que ela já não aguentava mais tentar solucionar. Ele, por sua vez, apenas suspirou pesadamente.

– Minnie, isso é algo que você precisa decidir. Você acha que consegue ter uma conversa dessas com ele? Acha que está preparada para talvez escutar o que você não queira ouvir? Porque tem sempre a possibilidade de tudo ficar pior, sabe? Então cabe a você ponderar e decidir se vai ou não. Mas, por experiência, eu posso dizer que independente do resultado final dessa conversa, é sempre bom deixar tudo esclarecido antes de seguir em frente. E talvez seja o que você esteja precisando.

Yangmi encarou o irmão por vários segundos antes de assentir e se mover subitamente para lhe depositar um beijo cálido na bochecha esquerda. Ela parecia bem mais leve, apesar de ainda ostentar a cara inchada por conta do choro.

– Obrigada por tudo, Minmin. – ela usou o apelido carinhoso de infância que ela sabia que ele odiava. – Relembrar de tudo isso foi doloroso como eu nunca imaginei que seria, mas eu agradeço por você ter me pressionado a compartilhar com você. Eu realmente estou me sentindo melhor, então obrigada, obrigada mesmo. Eu não poderia ter escolhido um irmão melhor para chamar de meu. – seu tom era solene e sincero em cada palavra, e Seokmin não pode deixar de pensar o mesmo: não poderia ter escolhido uma irmã melhor.

Ela abriu um sorriso que iluminou todo o seu rosto quando ele apertou de leve a ponta do nariz dela antes de sussurrar um "eu te amo" e, em seguida, levantar do chão. Sua calça estava toda suja com a massa de panquecas que ela tinha deixado cair, mas nem se importava. Somente o fato de ter conseguido deixar sua irmã menos miserável já fizeram seu dia melhorar 100%.

– Bom, já que essa parte está resolvida, acho que temos panquecas para fazer, não é mesmo? E se me lembro bem, muitas séries para maratonar enquanto comemos chocolate até não aguentar mais. Está pronta pra relembrar como se aproveita a vida, irmãzinha?

Yangmi já estava se levantando do chão quando assentiu, ainda ostentando aquele sorriso que mudava completamente seu rosto.

– Sim. – ela disse com rapidez, a voz ligeiramente ofegante por conta da empolgação evidente.

– Sim, eu estou pronta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.