Broken

Tem alguém mais ferrado que eu?


- Eles terminaram?! – Ashley berrou no telefone.

E lá estava eu, na noite daquele mesmo dia, contando para Ashley o que eu tinha ouvido. Eu sabia que, muito provavelmente, ele havia terminado com ela por outro motivo que não tenha nada a ver comigo. Mas a esperança é a ultima que morre.

- Sim. Eu ouvi muito bem quando ele disse que não sabia se a amava mais e terminou – afirmei.

Ashley exclamou.

- Caramba... Mas... Você acha que isso tem alguma coisa a ver com você? – ela perguntou, indecisa – Porque ele disse que tinham acontecido “algumas coisas”, não? Isso pode se referir as brigas que vocês tiveram e tudo o mais. Talvez ele tenha percebido que tem que ficar com você! E ai vão viver felizes para sempre.

Soltei uma risada diante do que ela havia dito.

- Pode até ser que o que aconteceu entre nós tenha alguma coisa a ver com o término deles. Mas não acho que tudo vai sair tão feliz assim. Duvido muito que Clark vá fazer qualquer coisa sobre isso.

- Você é muito pessimista – ela bufou.
- E você é muito otimista, Ashley West – eu ri – Pra que me deixar mais iludida?

- É sempre bom ter esperanças – seu tom era divertido.

- É sempre bom ser um pouco realista também!

Ela bufou.
- Como você espera que tudo de certo se só pensa o pior de tudo? To tentando te dar uma moral aqui!

- Moral? – eu soltei uma ultima risada – Tudo bem, pode até ser que eu tenha alguma esperança, mas é mais provável que tudo continue como está – dei de ombros.

- Zoey! – Ashley repreendeu, com voz irritada – Pare! Pense bem: não é meio coincidência ele ter terminado com ela depois de você se declarar?

- Ele pode ter se referido a outro assunto quando disse que tinham acontecido “algumas coisas”. Não sei tanto assim sobre a vida dele para ter certeza de que tinha a ver comigo.

- Por isso mesmo: você não sabe. Pode muito bem ser sobre você, também.

Grunhi.

- Ashley, pare com esse otimismo. Você sempre aposta que tudo vai dar certo e ai acaba acontecendo o pior, sua boba. Ou você realmente não tem sorte com suas previsões ou é um pé frio mesmo.

- AH, claro – ela ironizou – Mas você vai acabar dando a volta por cima em tudo isso, acredite.

Suspirei.
- Como pode ter tanta certeza?

Ouvi uma risada baixa.

- Meu OTIMISMO – falou, sarcástica.

- Ah, vá à merda – falei, rindo, e então me despedi.

Mesmo sendo contagiada pelas palavras de Ashley, pensei que o melhor não seria esperar algo dele. Afinal, estávamos falando de Clark Bexter.

Detesto biblioteca. É uma merda.

Eu passava os dedos pelos títulos dos livros empoeirados nas prateleiras da escola, procurando o que a professora havia indicado para sua ultima prova – que também seria a ultima de todas no ano.

- Que droga – murmurei – Onde tá esse livro?

Contive um espirro quando puxei um dos livros – que soltou uma grande quantidade de poeira – e limpei-o com a manga da minha jaqueta para conseguir ler o titulo.

– Não é esse - murmurei para mim mesma.

Guardei-o na prateleira e só então vi o estrago na minha manga. Havia uma mancha marrom nela.

- Mas o que...?! – prensei os lábios para evitar um ataque de raiva – Droga de poeira – grunhi.

Desisti de procurar o livro por mim mesma e fui perguntar para a funcionária no caixa.

- Com licença – pedi – Preciso de um livro.

Ela digitava euforicamente no teclado, e respondeu sem nem me olhar:

- Claro. Pode pegar um aí – e sinalizou com a cabeça para as prateleiras.

Ah vá. Como se eu fosse tão estúpida a ponto de não ter visto. Pigarreei.

- Bem, eu vi – falei, deixando a obviedade em minha voz – Mas não consegui achar o que eu queria.

A mulher, finalmente, virou-se para mim e baixou os óculos, me olhando por cima dos mesmos.

- Pena, não?

AH, sua perua. Pena é o que eu vou fazer com você, querida.

Respirei fundo. Não Zoey, você não vai dar barraco no meio de uma biblioteca.

- Por isso eu vim pedir a sua ajuda – falei, trincando os dentes.

A perua virou-se para a tela novamente.
- Estou ocupada.

Inclinei-me para mais perto.

- Você trabalha aqui – falei, lentamente.

Ela voltou os olhos para mim e levantou as sobrancelhas.

- Meio obvio, não é? – ela disse calmamente, apontando para o crachá em sua blusa.

- Então é meio obvio que você tem que encontrar a porcaria do livro, não é? – falei, encarando-a de olhos semicerrados.

A perua bufou.

- Qual o livro? – perguntou.

- Orgulho e Preconceito – informei, com cara de merda.

Seu rosto mostrou reconhecimento.

- Um garoto o pegou emprestado ontem. Ele está aqui hoje também. Estava lendo na sala de estudos, e estava bem no final. Você pode ir ver com ele se já terminou – falou, um pouco emburrada.

- E quem é o garoto?

Ela passou os olhos pela tela novamente.
- Aqui está escrito que é... Clark Bexter.

E voltamos àquela questão: Tem alguém mais ferrado que eu?

Segui para o lugar que a funcionaria – de muito mau humor – havia indicado para que eu pudesse pegar o livro com quem estava lendo-o que, pra ajudar, tinha que ser Clark Bexter. Merda de vida, não é?

- Aqui – murmurei para mim mesma quando cheguei à porta com a placa “Sala de Estudos” e empurrei-a.

A sala estava vazia, já que eram 4:00 da tarde e quase nenhum dos alunos vinham nesses horários. Minha idéia era pegar o livro e voltar para a casa de minha avó a pé. Mas pelo jeito o destino achava que meu histórico de brigas com Clark estava pequeno e queria acrescentar mais algumas. E sim, eu tenho certeza que vamos nos desentender. Não conseguimos nem trocar algumas poucas palavras que começamos a brigar! Já esperava um diálogo do tipo “Oi, Clark!” e ele: “Vai se ferrar”.

Mas então passei os olhos pela sala e não encontrei ninguém. Sem Clark.

Já estava até indo embora para mandar a bibliotecária tomar bem no meio daquele lugar quando percebi uma mesa com objetos em cima. Dei meia volta e fui em sua direção para ver.

Havia uma folha de papel com algumas palavras rabiscadas, um celular e um livro fechado ao lado de um notebook. Percebi, um pouco depois, um estojo não muito longe, na mesma mesa. Assim, soube que as coisas eram de Clark e que ele realmente estava lendo. Mas onde ele estava?

“Deve ter ido ao banheiro, ou algo assim” pensei. Observei o livro e resolvi confirmar se era o mesmo que eu queria. Aproximei-me e tirei o celular – muito chique, só para constar – de cima dele. “Orgulho e Preconceito” estava escrito. É, era o mesmo.

Posicionei o livro onde estava e, quando ia colocar o celular em seu lugar, o notebook fez um barulho. Tomei um puta susto e quase derrubei o aparelho no chão. Coloquei-o na mesa antes que algo acontecesse e mexi no mouse para ligar a tela. Curiosidade, é. Olhei para a ela, a fim de ver o que tinha causado aquilo e percebi uma conversa de Messenger aberta.

Nem me interessei muito e já estava me virando quando percebi o nome da pessoa com quem ele estava falando. “- Mary S.”

Subitamente, uma euforia tomou conta de mim e eu, mais que depressa, comecei a ler.

- Mary S. diz:
mas porque tudo isso agora, Clark??

Clark Bexter diz:
Mary, supera isso. já foi! que saco.


- Mary S. diz:
não pretendo aceitar enquanto vc não me der um bom motivo !!
vai , me fala. o que eu fiz de errado? heein ?


Clark Bexter diz:
e se eu amar outra garota? sou obrigado a ficar com voce por causa disso?!

- Mary S. diz:
AHM ???

“AHM” DIGO EU!

Quem me visse naquele estado com certeza teria a impressão de que eu era uma maníaca: a tela estava praticamente grudada em meu rosto enquanto eu ria abobalhadamente, relendo várias e várias vezes a ultima frase de Clark. Não que eu não fosse maníaca. Talvez só um pouco, mas dane-se. Eu não conseguia acreditar no que lia. Ainda que a chance de a “outra garota” ser eu seja mínima, estava surpresa mesmo assim.

O barulho encheu meus ouvidos de novo. Mary estava chamando:

- Mary S. diz:
COMO ASSIM OUTRA GAROTA?

ei, Clark.
responde!!!

Comecei a gargalhar descontroladamente. PERDEU, GURIA!

- Zoey? – uma voz chamou atrás de mim, e eu parei abruptamente com minhas risadas. Meu coração começou a bater mais forte diante da situação em que eu estava.

- C-Clark? – balbuciei, arregalando os olhos com medo de ver sua reação ao perceber o que eu estava fazendo.

Ouvi passos e então virei a cabeça em sua direção, vendo-o se aproximar de mim, com um rosto calmo e esboçava um sorriso. Não, espera aí. Sorriso? Ele não estava mais irritado? Sim, haviam se passado 3 meses. Mas Clark não é do tipo de pessoa que deixa de ficar bravo com o tempo.

- Mas o que você... – e então seu olhar parou na tela ligada, e eu vi sua expressão mudar lentamente enquanto ele entendia o que estava acontecendo. Quando ele levantou o olhar, não havia mais nada de “sorriso” ali.

Ferrou.