- Trabalho em grupo – anunciou Sharon, a professora de laboratório científico.

A turma toda reagiu com a palavra “grupo”, e começaram a olhar pela sala em busca de seus amigos. Inclusive eu, que procurei as meninas.

- E eu escolherei as duplas – a professora continuou.
Um coro de resmungos encheu a sala.

- Por que não podemos fazer com quem queremos? – Carter intrometeu-se, metido a sabichão como sempre.

- É um trabalho, e você não precisa de seus amigos para realizá-lo – respondeu Sharon, bruscamente.

Carter apertou a boca em uma linha reta e revirou os olhos. Parecia indignado. Por acaso ele achava que merecia um tratamento especial? Queria mais é que ele se ferrasse.

- Muito bem! – continuou a professora – Vou dar algumas fichas para cada dupla que apresentam algumas características de uma vegetação, e, por meio disso, vocês terão que escrever em uma folha qual é para entregar. Tudo bem? Agora as duplas: Angela e Daniel...

Comecei a torcer para ir com alguma amiga minha. Não era tão complicado assim.

- Zoey e... Clark.

Ah, não.

Travei no lugar, olhando fixamente para a professora. Minha boca abriu-se, enquanto eu tentava absorver as palavras dela. “Zoey e Clark”, ela repetiu...

DE NOVO, PORRA?

- Nós, hein? – Clark disse do meu lado. Aquela voz irritantemente rouca.

Virei a cabeça lentamente e encarei ele. Abri a boca para falar algo, mas não saiu nada.

Esse primata... O que ele queria comigo? Por que não ia atrás de qualquer outra merda e saia de uma vez da minha vida? Bananas deviam satisfazê-lo.

- O que foi? – ele perguntou, e só então percebi que ainda estava olhando-o. Reparei que seus dentes da frente eram estranhos e um pouco grandes. Talvez devesse trocar as bananas por nozes, afinal. Porém, isso não o tornava menos bonito. E acho que o grande numero de garotas que correm atrás dele devem pensar o mesmo que eu.

- Nada – respondi, cruzando os braços e ignorando-o a partir daí.

- Agora podem se reunir no pátio com suas duplas. Passarei logo com as fichas.

Todos se levantaram e dirigiram-se para o pátio. Clark passou correndo por mim, sem nem me esperar, e eu segui-o devagar.

Tá, eu não merecia aquilo. Sei que não sou uma santa, mas ninguém merece.

Desci a escadinha do pátio e procurei por Clark. Encontrei-o bem a tempo de ver o abraço que ele dava em Patricia.

E ai uma raiva tomou conta de mim, e eu só sei que sai dando passos largos em direção a ele, apertando o caderno fortemente em minhas mãos.

- Clark, porra, pare de brincar e venha aqui! – berrei.
Ele virou a cabeça para mim e arregalou os olhos, assustado.

- Zoey? – ouvi a voz hesitante de Ashley, que estava sentada em uma mesa próxima, junto com o novato loiro e alto chamado Bryan.

Só então percebi que eu havia gritado um pouco alto demais. Todos os olhares do pátio estavam voltados para mim, assustados também.

- Tá irritada? – ouvi Patricia dizendo em tom de deboche para Lizie, sua prima, que riu como uma gralha, como sempre. Ela era a única que ria de alguma coisa que Patricia dizia.

Limitei-me a revirar os olhos e sentar-me na cadeira. Os olhares ainda continuavam voltados para mim.

- O que? – falei alto o bastante para que todos ouvissem – Venha aqui – abaixei o tom de voz, virando-me para Clark.

A maioria acabou deixando-me de lado e voltando a falar com sua dupla. Tentei concentrar-me apenas em mim mesma, para apagar aquele mico que havia acontecido por culpa dele.

Porque é culpa dele SIM, já que se ele não fosse um idiota que nasceu com o propósito de me atormentar, eu não teria que aturá-lo na carteira da minha frente e nem fazer a merda do trabalho com ele; e se eu não tivesse que fazer o trabalho com ele, eu não teria visto ele com Patricia e não teria dado o ataque que dei, e tudo ainda estaria perfeitamente equilibrado.

Não exatamente equilibrado, já que eu não sou equilibrada. Mas você me entendeu. E se não entendeu, que se foda também.

Clark puxou uma cadeira para perto de mim e sentou nela. Um minuto depois, perguntou justamente o que eu estava torcendo para não ter que ouvir:

- O que foi aquilo?

Encarei-o e respirei lentamente antes de responder-lhe:

- Nada – tentei parecer calma, para compensar o que havia acontecido.

- Como nada? – ele insistiu – Você deu um ataque no meio do pátio sem motivo algum!

Sem motivo algum? SEM MOTIVO? Você estava abraçando a menina!

E isso não tem nada a ver comigo, mas e daí? Eu estava irritada na hora, e não ia admitir pra mim mesma que eu realmente estava errada, já que ele podia fazer o que quisesse da vida.

- Aqui está – a professora interrompeu-nos, colocando as fichas na mesa e indo em direção a outra.

- Vamos começar – tentei desviar o assunto.

Clark bufou e pegou uma das fichas, começando a ler. Parecia que ele havia esquecido o meu ataque – pelo menos por enquanto.

Concentrei-me, então, na outra ficha em minhas mãos. Depois de algum tempo, Clark anunciou:

- Cerrado – disse ele, apontando para o papel que estava segurando – Não é?

Analisei o que estava escrito e constatei que Clark estava certo. Ele sorriu e pegou outra ficha, lendo-a. Por um momento, pensei que ele realmente fosse me ajudar - o que não era tão ruim assim.

É, não durou muito.

- Ei, Drake – começou a chamar, baixinho – E ontem no clube? – e ai deu risada.

Ah, esse barulho me infernizava.

Cadê meu celular?

- Nem quero lembrar – Drake ria também.

Eu não entendia nada do que eles estavam falando. E pra falar a verdade, nem queria entender.

Clark controlou-se e chamou a atenção de outro:

- Carter, o que vai ser hoje? Um pacotinho de bolachas?

- Shiiiiu – o loiro sibilou na outra mesa.

- “Shiu” o que? Você não... EI!

E ai uma borracha assassina me acertou na cabeça. Derrubei meu lápis e cobri o lugar com a mão, tentando entender que merda estava acontecendo.

- Desculpe! – Carter gritou na outra mesa. Olhei-o, enquanto ele tentava explicar-se – Era para acertar o Clark...

Peguei a borracha e revirei-a em meus dedos, enquanto Carter ainda balbuciava coisas que não iam ajudar em nada na situação.

- É que ele está ameaçando contar algo que não pode e... NÃO! – ele berrou, quando entendeu o que eu ia fazer.

Lancei-lhe um sorrisinho irônico e puxei o braço para trás, depois lançando-o para a frente e jogando a borracha no outro lado do pátio.

- EI! – Carter gritou – Por que você fez isso?

- Porque você é uma criança imbecil – disse-lhe – E você sabe o que eu vou fazer com a próxima coisa que você jogar em mim – e voltei a atenção para o trabalho.

- Nossa – ouvi Drake murmurando.

- E VOCÊ – falei com Clark – Pare de brincar e faça pelo menos uma vez algo útil na vida. Me ajude aqui.

- Tudo bem – ele resmungou – TPM.

“TPM É O TEU RABO”, eu já ia dizer, quando resolvi ficar quieta e evitar ser o centro das atenções de novo.

- Faça logo essa merda, então – ele exigiu.

Levantei lentamente o olhar para ele.

- Ashley – berrei – você está com seu celular aí? – perguntei, sem tirar os olhos dele.

Eu estava desesperada, ok? Precisava de algo bem pesadão para tacar na cabeça dele. E eu tenho problemas com celular, então TINHA QUE SER UM CELULAR. E depois tinha que jogá-lo no chão.

- Não – ouvi a voz dela, enquanto Clark olhava-me interrogativamente – E mesmo que estivesse, eu não daria pra você – completou. Bryan, seu parceiro, olhou-a confuso e ela começou a explicar minha teoria de “Desconte a raiva no seu celular porque ele não sente!”

Respirei fundo e voltei a atenção para o trabalho. Clark ficou quieto durante o tempo restante, talvez com medo de abrir a boca. Entregamos a folha e sentamos em nossas carteiras, sem nos olharmos.

Eu o odiava.