Breathe Me

Capítulo 1


Ela não conseguia dormir como deveria há cerca de uma semana. A constatação do fato não a deixava. Ele não era daqui. Ele não deveria estar aqui. Mas ela sentia que não havia outro lugar para ele senão com ela. Quando o conheceu não imaginava que um dia sentiria por ele o que sentia hoje. Estava apaixonada por outro homem, ou pelo menos achava que estava. Na época pensava que John era o homem de sua vida. Pensava em se casar com ele, ter filhos. Mas com Peter era tudo muito mais intenso. Se apaixonara aos poucos, sem ao menos perceber o que estava acontecendo. Só entendeu a dimensão de seu amor por ele havia uma semana. Na noite em que descobriu que eram de universos diferentes. E era isso o que a atormentava. Pesadelos dele indo embora para nunca mais voltar. De deixá-la. Sempre que fechava os olhos o via com aquele brilho estranho. E pensar que quase haviam se beijado. Em seus sonhos ela não o interrompia e ele a beijava, mas logo em seguida o via com aquele brilho maldito e ele desaparecia. E ela ficava sozinha, como sempre.

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Ouch I have lost myself again
Lost myself and I am nowhere to be found,
Yeah I think that I might break
Lost myself again and I feel unsafe

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Ele resolveu ir até lá mesmo sabendo que ela provavelmente não iria lhe dizer o que a estava incomodando. Ele já havia saído com muitas mulheres complicadas, mas Olivia Dunhan era, de longe, a mais complicada delas. Era também a única que ele havia amado de verdade. A única por quem ele mudara seu estilo de vida. A única que o fizera perdoar e conviver com o pai. A única que ele queria beijar, abraçar ou mesmo conversar. O que importava era estar perto dela. Mas desde uma semana atrás ela o evitava. Não o olhava nos olhos. Não sorria. E ele suspeitava que ela também não estivesse dormindo muito bem. A princípio achou que havia passado dos limites quando quase a beijou. Mas depois da conversa que tiveram no carro se convenceu de que não era esse o problema. E então não soube mais o que pensar ou como agir. Percebia que ela estava triste. Havia algo diferente em seus olhos, como se algo tivesse se apagado. Os outros não pareceram perceber, mas ele a conhecia bem demais. Mais do que ela mesma imaginava. E por isso estava aqui. Era quase uma hora da manhã, mas ele pôde ver uma luz acesa, indicando que ela deveria estar acordada. Ainda assim suas batidas na porta foram hesitantes, para não acordá-la caso ele estivesse errado. Mas ele estava certo e alguns instantes depois ela abria um fresta da porta.

- Peter!? O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
- Me deixa entrar?
- Mas Peter...
- Olivia, por favor, preciso falar com você.

Ela me olhou por um longo momento e, relutante, abriu a porta.

- Peter, por que...
- Olivia, o que está acontecendo?
- Não entendi a pergunta, Peter. Você veio até a minha casa de madrugada, eu é quem deveria perguntar isso.
- Não fuja do assunto, Liv. Você está diferente comigo. Está me evitando. Se é por causa do que aconteceu aquele dia, me desculpa, não queria forçar nada ou...
- Não tem nada a ver com aquilo, Peter – sua voz era firme ao dizer isso, mas seus olhos se desviaram dos meus e soube que estava certo, que ela estava mesmo escondendo algo de mim.
- Então o que é?
- Eu...eu... – ela ainda olhava para o chão – não é nada, Peter. Não estou escondendo nada de você.
- Você não consegue mentir para mim.
- Peter, eu não posso, por favor...
- Não pode por quê? Você não confia em mim, é isso? Depois de todo esse tempo, de tudo pelo que passamos você ainda não confia em mim o suficiente para me contar?
- Não é isso. Confio em você, só não posso te contar isso.
- Ok, Olivia, não vou te forçar a nada. Me desculpe por vir aqui a essa hora. Boa noite.

Eu já estava na porta quando ouvi a voz dela, baixinho, me chamando de volta. Olhei para trás e o que vi fez com que me sentisse o pior dos homens.

- Por favor, Peter, fica. – havia tristeza nos olhos dela, fragilidade. Olivia Dunhan, a mulher forte que eu sempre admirei, estava me mostrando sua vulnerabilidade e me pedindo para ficar. Toda a raiva que senti evaporou com aquele simples pedido. Não podia negar nada àquela mulher.

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Be my friend
Hold me, wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me

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Eu sabia que estava pedindo demais. Sabia que não era justo com ele. Que ele precisava saber a verdade. Mas eu não podia contar. Não tanto pela promessa que havia feito ao Walter, mas simplesmente não podia vê-lo sofrer por saber que havia sido raptado e mantido em outro universo pelo homem que estava voltando a amar. E não queria ser a pessoa que lhe daria o conhecimento que lhe causaria tanta dor. E ainda assim ele ficou.

- Olivia, o que...
- Só fique comigo, por favor. Não quero que você vá.
- Tudo bem. Está tudo bem. – ele a abraçou e ela se sentiu bem com isso. Protegida, segura como não se sentia há muito tempo. – Eu não vou à lugar algum.

Eles foram para o sofá e ficaram abraçados por um tempo. Ele com os braços ao redor dela e ela com a cabeça na curva do pescoço dele. Ficaram nessa posição até ele perceber que ela estava dormindo. Então ele a carregou até o quarto e a colocou na cama. Depois de cobri-la ele foi em direção à porta, com a intenção de ir dormir no sofá, mas ela o chamou mais uma vez, pedindo que ficasse com ela. Então ele tirou o sapato e a jaqueta e se deitou atrás dela, a abraçando firmemente e sussurrando em seu ouvido que nunca ia deixá-la. Ela dormiu a noite toda, sem pesadelos e acordou pensando que talvez as coisas não estivessem perdidas para eles.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.