Estou na floresta encantada, ouço a canção das fadas, que me guiam até uma clareira, ela me levam até um arbusto de rosas verelhas salpicado de neve, quando escuto uma voz atrás de mim.

— Filha

— Mãe! - viro-me e corro para seus braços, que me recebem em um caloroso abraço

— Branca - ela acaricia meus cabelos - Estou com tanta saudade

— Eu também, mãe, há tanta coisa que eu gostaria de te contar - caminhamos pela mata - Eu sou rainha, estou lidando com os problemas do povo e me apaixonei

— Por William?

— Não, por Eric, um caçador que me ajudou a derrotar a rainha má; queria que pudesse conhecê-lo, pena que é impossível

— Você, acima de todos, deveria saber que impossível é só uma palavra e, por isso, vencível, você nasceu quando os doutores não diziam ser possível, eu sobrevivi até seus 12 anos, contrariando todas as expectativas. Olhe onde estamos, Branca, o impossível não parece se aplicar a este lugar e a toda sua magia - ela afirma e uma fada pousa em sua mão - Mas não é disso que quero tratar, minha filha, há coisas que eu não tive tempo para te ensinar e que são fundamentais, então, ainda há lições a serem aprendidas. Veja a roseira, ela está aqui, tão forte, mas, de repente, não consegue mais resistir ao inverno - as flores e folhas caem no chão nevado - E tudo parece estar perdido, até que a primavera vem e tudo renasce - a roseira se reestabelece e, aos poucos, novos brotos aparecem - Mas não é só aquilo que os olhos podem ver que surge - no local onde as antigas flores haviam caído uma nova planta começa a crescer - Tudo vem de algum lugar, as coisas não aparecem do nada, tudo na natureza é herança, fruto de algo anterior; com a magia não é diferente, minha pequena - o cervo branco, de repente, aparece e se coloca à frente de minha mãe como um cão fiel e manso e ela lhe acaricia os pelos - Ele não é imortal, vive muito, muito mais do que nós, mas é fruto de cervo anterior, o que cuidou da floresta encantadas em épocas anteriores, dos nossos antepassados

Aproximo-me do animal e, também, mexo em seus pelos, fitando seus olhos misteriosos, buscando desvendar seus enigmas

— Eu entendi o que disse, mas não em que ponto quer chegar

— Branca, minha querida - ela afaga minha face - De onde acha que veio toda a magia dentro de você?

— Eu não sei

— Reflita em minhas palavras e descubrirá

Então, tudo se torna branco e eu acordo em meu quarto, assustada e intrigada com mais um sonho estranho, levanto-me e abro as janelas em busca de ar fresco. Em pucos minutos, as servas chegam para me preparar para mais um dia.

— Bom dia, majestade - elas me cumprimentam

— Bom dia, Georgia e Ellie - vou para o meu guarda-roupa para escoher um vestido, tentando esquecer essa noite

— Está tudo bem, minha rainha? - questiona-me Georgia

— Nada de mais, só sonhos não muito bons

— Se quiser, hoje à noite podemos trazer um chá calmante para que a rainha tenha um repouso tranquilo

— Seria ótimo - respondo, enquando elas me vestem com um vestido vinho (https://pt.aliexpress.com/item/new-long-modest-burgundy-chiffon-elegant-bridesmaid-dresses-with-lace-wine-red-a-line-dress-with/32763758436.html)

Caminho pelos corredores do palácio, até alcançar o cômodo das refeições, onde me deparo com Eric, o duque Hammond e Will.

— Bom dia, majestade

— Bom dia, sabem que esse tipo de formaldade não é necessária quando estamos a sós

— É melhor a mantermos para inspirarmos, também, o respeito à rainha em todos os servos - argumenta o duque

— Entendo a sua posição - respondo e me sento

— Como está, Branca? - diz Eric, acariciando minha mão; ele é mais contido por respeito a meu amigo

— Bem - sorrio - E você?

— Melhor, bem, acho que é fácil estar melhor do que estava onde à noite, dormi como uma pedra; pena que agora que estou me recuperando, o conde vai querer me triturar de novo - ele solta um suspiro

— E eu verei isso de camarote - William fala e ri largamente - Não sabe como foi divertido ver o duelo entre ele e o Lefond ontem - ele volta a rir

— Você não tem que treinar não, arqueiro? - responde o caçador ácido

— Tenho, mas dá tempo para assistir você - meu amigo afirma com um sorriso, enquanto come uma uva

— Você é tão gentil, Will!

— Eu sei, é umas das principais características minhas

— Acho que você quis dizer ser irritante - o caçador diz - Desculpe-me, conde Hammond, mas seu filhos às vezes...

— Consegue ser bem irritante, eu sei, é meu filho, conheço seus defeitos muito bem, é teimoso também

— Pai! Achei que fosse me defender

— Uma coisa é te defender, outra bem diferente é mentir

— Nossa, essa doeu, pai, doeu mesmo - ele finge sofrimento e indignação

— Pare de fazer drama, William

Mantenho-me silenciosa, deixando-os falarem, enquanto concentro-me no sonho, esta noite só confirmou o meu palpite que há algo além do que um mero sonho, há algum significado que eu pretendo descobrir.

Vou para a sala do trono, após a refeição, onde Alfred nota meu incômodo

— Algum problema, majestade? - ele pergunta discretamente

— Só uma noite de sono que não me proporcionou descanso

— Sinto muito, minha rainha. Há algo que eu posso fazer? - oferece sua ajuda, preocupado

— Infelizmente não, talvez um bom chá resolva isso - digo com um sorriso

Quando todos os conselheiros já arrumaram a papelada e eu me posicionei no trono, mando que a primeira pessoa entre, é um homem alto, magro, com olhos azuis esverdeados cansados e a face um pouco abatida; ao adentrar, ele faz um reverência.

— Qual é o seu problema, meu caro...?

— Cameron Sullivan

— Qual é problema, sr, Sullivan?

— É uma questão que envolve herança, rainha. Minha mãe era uma viscondesa que se apaixounou por um plebeu, os seus pais se opuseram ao amor dela para com meu pai, então, lhe deram um ultimato: se ela prosseguisse com isso, seria expulsa de casa e perderia todo o luxo com o qual estava acostumada. Ela e meu pai se casaram e foram viver do comércio; acontece que há duas semanas o meu avô materno morreu, mas, antes que isso acontecesse, ele enviou uma carta para minha mãe pedindo-lhe perdão, dizendo que a iminência da morte o fizera refletir sobre muitas coisas e que a reconhecia como herdeira.

Assim que recebemos o documento, fomos direto para as terras do meu avô, porém quando chegamos lá, ele já estava morto, estivemos em seu sepultamento, contudo, quando foi o momento de dividir seus bens, um de meus tios não a reconheceu como herdeira. O outro está a nosso favor e quer dividir tudo entre os três, porém o primogênito teima em repatir pela metade. Majestade, não queremos nada além do justo, só o quinhão que nos corresponde, nada além disso, é natural que o devido seja passado de pai para filha.

— Certo. O senhor está com a carta em seu poder?

— Claro - ele vem até mim e a entrega. Analiso-a com os conselheiros para ver sua veracidade e tudo nela, principalmente, o selo e o brasão confirmam as palavras do homem.

— Se o seu tio não reconheceu a vontade do próprio pai, então, terá que reconhecer a de sua rainha, enviarei uma carta estipulando a divisão dos bens entre os três herdeiros, o documento terá o selo real e contará com um mensageiro de minha confiança para que ninguém duvide de sua veracidade. Aguarde um pouco e hoje mesmo retornará com o meu funcionário para onde sua família está.

— Muito obrigado, minha rainha - diz com emoção nos olhos

— De nada, eu só estou cumprindo o meu dever - sorrio

Terminamos aquele caso e o homem vai para a Vila Real esperar pela carta que escreverei no intervalo dos atendimentos, enquanto passamos para o próximo. Uma mulher de cabelos castanhos escuros bagunçados, olhos inchados e avermelhados, face abatida e roupas sujas de terra, com alguns arranhões abaixo do pescoço e nas bochechas. Ela me fita desesperada e é acompanhada por um soldado, que a ampara e a olha com compaixão.

— Por favor, me ajude, senão eles irão morrer, sei que alguns não aguentarão por muito tempo - lágrimas escorrem por seu rosto

— Por favor, eu preciso que me conte o que aconteceu para eu poder ajudá-la. Alguém traga-lhe uma cadeira e um copo de água - peço e logo sou atendida, após algumas goladas, ela parece ter se acalmado um pouco, o suficiente para sua fala ter coerência - Você pode me contar agora tudo o que aconteceu do início, minha querida?

— Sim - ela funga, seca algumas lágrimas e normaliza em pouco a voz - Eu moro em Jeybran, na vila de Firenben, formada por agricultores e comerciantes e que é controlada pelo conde Fannesber. Durante o reinado de Ravenna, a terra adoeceu e, por isso, tivemos péssimas colheitas,então, para poder pagar os tributos que a rainha exigia, pedimos empréstimos ao conde para quitá-los quando pudéssemos. Acontece que a dívida foi se acumulando, até que, nesse ano, foi a primeira boa colheita, então, pensamos em manter o necessário para a subsistência e com o resto ir pagando o conde aos poucos. Combinamos de irmos todos juntos para negociar com o senhor Fannesber, mas quando fomos, ele nos disse que o prazo do débito havia chegado e, como não havíamos pago, ele tinha o direito de fazê-la ser paga da forma que fosse possível. Então, ele mandou seus homens prenderem a todos, pois éramos seus escravos por dívida, alguns de nós resistiram, enquanto o resto tentava fugir, mas cercaram todo o feudo; eu consegui me enconder na floresta que tinha por perto, em um local de difícil acesso. Eu vi os vi serem amarrados como animais, chicoteados até desmaiarem e serem colocados em lugares imundos e minúsculos acorrentados pelo pescoço. Ele nem ao menos parou quando pedimos para colocar a questão no juízo da província.

— Por que não pediram ajuda ao juiz regional?

— O juiz regional é irmão do conde Fannesber, ele é cúmplice de todas as suas maldades. Minha rainha, eu consegui fugir por um milagre de Deus e encontrei o soldado Roberts perto da floresta que liga a nossa vila a vizinha, ele me ajudou e me trouxe até aqui

— Soldado, é verdade o que ela diz? - Mark pergunta

— Sim, duque, eu a encontrei quando conferia algumas das armadilhas que meus irmãos colocam na floresta para pegar alguns animais para nos alimentarmos, ela estava suja, com arranhões, tremia feito um cão quando chove e troveja, não conseguia falar nada, eu até achei que ela era muda. Quando ela, finalmente, conseguiu me contar tudo, eu, imediatamente, a trouxe para cá, pensei que seria o melhor local para resolver a questão.

— Fez certo - respondo e me reúno com meus conselheiros para saber a melhor medida a ser tomada, após breve deliberação decidimos. - Se tudo o que falou for confirmado, o conde perderá seu título, assim como seu irmão o cargo, não damos este tipo de poder para ser exercido desta maneira, há regras estipuladas por meu pai e por meus antecedentes de como se lidar com dívidas não pagas e não é desta maneira que procedemos. A dívida que vocês têm para com ele será parcelada e paga aos poucos e ele, como punição por sua atitude, perderá parte de seus bens, que deverão ser aplicados de forma a melhorar a vila como um todo e, principalmente, a terra dos agricultores que prendeu. Além disso, deixarei a cargo de um juiz de confiança acerca de sua prisão, se ficará em uma de trabalho forçado e por quanto tempo, a decisão deverá ser ,antes, remitida a mim e a este conselho para obter aprovação para, assim, ser cumprida, Já você, minha cara, ficará hospedada na Vila Real até resolução do conflito e que as despesas dela sejam cobradas pelo conde Fannesber.

— Obrigada, rainha – ela agradece e se retira do local junto com o guarda que está a acompanhando.

Sento-me no trono, solto um suspiro aliviada, fecho os olhos e respiro fundo, o trabalho é bem complicado e estressante, mas me lembro de que é necessário para o bem do povo.

— Quer uma pausa, majestade? - Daniel questiona

— Sim, acho que todos nós precisamos de uma. Podem pedir para um servo trazer-lhes alguma coisa - falo e, após conversar com uma serva, ela me traz algumas frutas; depois de alguns minutos prosseguimos com os atendimentos.

Assim eles se seguem, até que chega a hora do final do expediente e eu vou até a sala de jantar, onde mais uma vez avisto o caçador cansado e William com um sorriso debochado no rosto.

— Não parece tão mal, Eric. O que foi? - pergunto

— Eu não me rendi ao conde, nem vou

— A persistência dele é bem divertida - Will sorri e come uma uva - Seu consorte tem sido uma grande diversão para mim, me relaxa em meio aos exercícios - meu amigo pisca e ri

— Branca, sabe o que eu te disse sobre ser bom ter seu melhor amigo por perto? Acho que mudei de ideia. Você não precisa de um representante em outro reino para estabelecer relações? - o caçador comenta

— Você ficou com ela, eu, ao menos, me contento com isso - Will se levanta, pega uma maçã e se retira

— Você foi rude com ele - digo com o semblante sério

— Ele fica me perturbando

— Ele está sofrendo, não está sendo fácil com nossa relação o tempo todo bem visível aos seus olhos, essa é uma forma dele lidar com a situação - o caçador respira fundo

— Tudo bem, amanhã peço desculpas para ele

— Victor vai colocar treino no sábado?

— Não, ele disse que final de semana é folga dele e nossa, ainda bem, terei algumas boas horas de sono numa dessas camas vazias para me recuperar. A verdade é que eu posso não ter fraquejado, mas ele está me quebrando todo – ele massageia o braço e faz uma careta de dor

— Posso fazer uma massagem nos seus ombros - ofereço

— Seria ótimo - ele diz

Então, vou até suas costas e começo a massagear seus ombros tensos, que se relaxam ao meu toque e posso sentir que Eric fica mais leve.

— Onde aprendeu isso? - o caçador pergunta ainda aproveitando o momento

— Acho que a pergunta certa é com quem; foi com a minha mãe, eu e William gostávamos de explorar o castelo e seu entorno, isso significava escalar algumas árvores, disputar corridas e procurar alguns animais, eu gostava, principalmente, de encontrar os ninhos dos pássaros e observar a mãe alimentando seus filhotes. Muitas vezes, chegávamos aqui doloridos, com os pés triturados, os rostos sujos e as mãos imundas e ela me mandava tomar banho, pedia a uma serva para trazer uma bacia de água aquecida para meus pés e fazia uma boa massagem neles - desvio o olhar e fito uma das paredes – Isso foi muito últil para todos aqueles anos naquela cela - ele para uma de minhas mãos com uma das suas e a beija

— Isso é passado agora - ele se levanta, se vira até mim - Eu e você, agora, juntos, somos o presente e o futuro - ele me beija e seus lábios são macios, encantadores o suficiente para me fazerem me esquecer de todas as preocupações e, naqueles instantes, só existem ele e eu. Nos separamos e eu fico encarando seus olhos azuis como águas tranquilas, como o mar sereno cujas ondas nos embalam, trazendo-nos tranquilidade - O que foi? - o caçador me pergunta

— Às vezes, eu me perco em seu olhar - afirmo com um sorriso

— Fico feliz em saber que provoco esse tipo de encanto em você - ele acaricia minha bochecha – Estava pensando e podíamos ter outro passeio amanhã, mas não sei aonde seria.

— A floresta seria uma boa ideia, já que foi lá que nos conhecemos, além disso, quero reencontrar os anões para saber como estão, se está tudo certo com eles e com a construção de suas casas - antes da coroação, eu havia ordenado, com princesa, que fossem feitas residências para eles e que as antigas minas fossem reativadas - ele faz uma careta

— Pensei que seria algo romântico

— E será, teremos um tempo para nós antes de visitá-los.

— Ainda bem, aqueles anões resmungões sabem como acabar com qualquer clima romântico - eu rio - Mas terão vários soldados, não é mesmo?

— Terão, eu não posso sair sozinha sem eles, seria me arriscar demais e faria os conselheiros enlouquecerem, preciso demonstrar que sou uma rainha sensata e isso inclue ser precavida - faço cafuné em seus cabelos

— Tudo bem, já que não tem jeito. Quem mandou eu me apaixonar por uma rainha?

— Você vai ter que se acostumar com isso, fique tranquilo, os guardas sabem ser bem discretos e manter uma boa distância para não ficarem de observadores da nossa vida - ele faz uma careta e bufa

— Bem, isso requer tempo e muita paciência da minha parte, eu sei que tenho que me adaptar a certas regras da realeza, mas peço que tenha compreensão porque é possível que eu vá cometer alguma gafe em algum momento.

— Nenhum de nós da realeza nasceu sabendo de tudo, todos nós aprendemos, tivemos tutores para nos ensinarem, é claro que não espero que você domine tudo de uma noite para outra, eu posso te ensinar

— Que bom, já que vou precisar de alguém bem paciente e compreensivo

— Sem problemas - sorrio e o beijo - Acho melhor irmos dormir - digo quando nos separamos - Você tem que descansar para amanhã e tente melhorar seu humor para encontrarmos nossos amigos

— Aí já está exigindo demais - ele reclama, enquanto caminhamos pelos corredores do palácio em direção ao meu quarto

— Você pode levar uma xícara de chá ao meu cômodo? - peço ao uma serva que passa por nós e que responde um “Claro, majestade”

— Por que pediu isso? - Eric questiona

— Para ver se durmo melhor, ontem também tive outro sonho angustiante com minha mãe, talvez um pouco de chá resolva isso

— Tudo isso pode ser o estresse devido a suas atividades na sala do trono, percebo como chega cansada depois de um dia de trabalho e você mesma me disse que era muita responsabilidade

— Espero que seja assim, isso tem me deixado muito nervosa

— Sinto muito - ele diz e acaricia minha face e paramos, porque chegamos em frente ao meu quarto - Boa noite, Branca - Eric fala e me beija de leve -Tenha bons sonhos

— Boa noite, caçador - adentro o meu recanto e me deparo com Georgia e Ellie

— Boa noite, majestade - as duas me dizem, enquanto terminam de arrumar o quarto e logo me ajudam, Georgia desembaraçando o meu cabelo em frente à penteadeira e a outra serva trazendo minha roupa de dormir. Logo, ouço algumas batidas na porta e, quando viro-me para ver o que é, já avisto Ellie trazendo uma xícara fulmegante em suas mãos.

— Aqui, majestade - ela me entrega e eu olho seus olhos verdes por um instante, não estão tão sonolentos quanto da última vez, parecem mais vívidos, o que me espanta por estarmos perto da hora de dormir

— Não parece cansada, minha cara, seus olhos não demonstram o menor indício disso.

— É que noite passada eu dormi muito bem, como uma pedra, se não fosse Georgia me chamar, talvez teria perdido a hora. Além disso, o serviço de hoje foi mais tranquilo, deu até para eu cantarolar enquanto o fazia. Já Georgia, está exausta, disse que teve dificuldades para dormir, eu insisti para que eu arrumasse o seu cômodo sozinha, mas ela não deixou.

— Georgia, é verdade?

— Sim, majestade, mas não era para ela ter comentado isso - ela olha irritada para a companheira de serviço

— Era sim, você não sabe que é muito importante para mim, você ajudou minha mãe a me criar, não pode ficar sobrecarregada, se precisar de ajuda, é só me dizer que contratamos mais servas para te auxiliarem. Por favor, pense nisso. - afirmo

— Está bem, minha rainha.

— Estou falando sério - eu a encaro pelo reflexo do espelho - De agora em diante será minha governanta, foi um erro meu não ter feito isso antes e ter te deixado se esforçar demais, porém corrigirei meu erro.

— Obrigada - ela diz com lágrimas nos olhos

— De nada. - aperto sua mão - Estou bem, agora já podem ir, isso é uma ordem. - elas se olham e começam a ir em direção à porta - Descansem - é o que digo antes de sairem

Tomo o chá e vou direto para a cama, apesar de querer um alívio dos sonhos intrigantes, quando fecho meus olhos, meu coração deseja mais um que explique as dúvidas e os mistérios que pairam em minha mente. No dia seguinte, quando acordo, percebo que tive uma boa noite de sono, mas também decido que se as respostas não vem até mim, eu irei até elas, eu as buscarei no Santuário.