Derry era uma cidade tão estranha. Essa era a única coisa que Theodore Bowers conseguia pensar desde que chegara naquela cidade há uma semana. Por alguma razão (que ele não conseguia entender até aquele momento) sua mãe havia mandado ele e seu irmão mais velho, Connor, para passar uma pequena parte do verão na casa de seu tio, Butch Bowers.

Por ter vindo da cidade grande, Derry não o atraía de forma alguma; ele não tinha muito o que fazer e não sentia vontade de explorar a cidade por conta própria. Durante sua primeira semana inteira lá, Theo ficara dentro de casa assistindo desenho, enquanto seu irmão mais velho saía com Henry, o primo deles.

Connor até convidou Theo para ir com eles, mas, sendo totalmente sincero, o Bowers mais novo tinha um pouco de medo de Henry e não era seu maior fã. Henry tinha algo mal e ruim nele que Theo não gostava, então ele tentava ficar o mais longe possível de seu primo.

No início de sua segunda semana em Derry, Connor implorou para que o irmão deixasse a casa por pelo menos algumas horas, mesmo que só para caminhar até o final do quarteirão e se sentar na calçada. E Theodore, não querendo causar uma cena, concordou com a ideia. E foi aí que, depois de meia hora andando pela cidade, ele encontrou um fliperama.

Um fliperama. Theo não pôde evitar de deixar um pequeno sorriso aparecer em seu rosto quando ele viu o lugar, entrando imediatamente. Connor costumava levá-lo ao fliperama da cidade deles, então ele estava muito familiarizado com esse tipo de lugar; mas isso não significava que ele era bom nos jogos.

Os olhos do garoto percorreram o ambiente ao entrar, contemplando todas as diferentes máquinas de jogo que estavam lá. Ele avançou um pouco mais adiante, examinando todo o lugar, até que seu olhar parou em um jogo familiar a ele. Street Fighter. Ao contrário de como era o fliperama da sua cidade, o de Derry não era lotado e não havia uma fila para jogar esse jogo; apenas um garoto de óculos que já estava jogando.

Theo olhou mais atentamente para o garoto, notando que ele estava vestindo uma camisa havaiana horrorosa. Ele parecia estar tão concentrado no jogo, seus dedos se movendo habilmente pelos botões, derrotando rapidamente o oponente. Theo estava tão concentrado em vê-lo jogar que se sentiu animado ao ver que o garoto havia vencido aquela rodada.

— Quer uma foto? - o garoto de óculos perguntou antes de se virar para Theo, fazendo-o congelar em seu lugar.

Ih cara, ele havia sido pego. O desconhecido estava olhando para ele com as sobrancelhas levantadas, e só agora Theo havia notado como aqueles óculos faziam os olhos dele parecerem gigantes por trás da lente; o que fazia o garoto Bowers se sentir ainda mais intimidado.

— Não, eu... - ele limpou a garganta, sentindo as bochechas esquentarem de vergonha. - Você é muito bom. - Theo apontou para o jogo.

— Bom, tô atrasado nos meus treinos do verão. - o garoto se inclinou levemente na máquina, dando de ombros. - Mas é bom saber que não perdi meus fãs.

Theo sorriu com as palavras do garoto. – Queria eu ser bom assim. - ele suspirou, dando alguns passos à frente. – Eu sou uma merda nesse jogo.

O garoto olhou para ele por alguns segundos antes de se afastar da máquina. – Deixa eu ver como você joga.

Theo arregalou os olhos, balançando a cabeça rapidamente. - Eu não acho que isso seja uma boa...

O garoto bufou impaciente antes de apontar pro jogo. – Vai, porra, mostra sua habilidade.

Theodore fechou os olhos, sabendo o quão vergonhoso seria aquilo; mas ele respirou fundo e se aproximou da máquina, posicionando-se na frente dela. O garoto de óculos usou uma de suas fichas para iniciar outra rodada, mas não jogou dessa vez, apenas querendo ver se aquele garoto que nunca havia visto na cidade tinha talento.

Bem…

— Uau, você realmente é uma merda. - estas foram as primeiras palavras que o desconhecido pronunciou depois de ver Theo tentando jogar Street Fighter e falhando miseravelmente.

Theodore, no entanto, não levou a sério, apenas soltando uma risada fraca. - Te disse.

Foi quando o menino o olhou de cima a baixo cuidadosamente, como se estivesse analisando Theo. Essa já era uma situação estranha, mas aqueles olhos grandes o fizeram se sentir ainda mais intimidado. Felizmente, eles logo se voltaram para a máquina do Street Fighter. O garoto parecia um pouco perdido em seus pensamentos, como se estivesse debatendo sobre algo em sua mente.

Ele deu mais uma olhada na direção de Theo antes de um sorriso aparecer em seu rosto.

— Não é nada que algumas aulas com o mestre Tozier não possa resolver.

Theo franziu o cenho. - Quem?

— Eu. - o garoto disse confiante, estufando o peito. - Eu vou treiná-lo, jovem gafanhoto.

Theo arqueou uma sobrancelha, tentando reprimir uma risada. - "Mestre Tozier"?

“Mestre Tozier” suspirou dramaticamente antes de ajustar os óculos no rosto. - Suponho que posso deixar você me chamar de Richie.

Theo sorriu, estendendo a mão para quem ele esperava ser um novo amigo. - Então eu acho que você pode me chamar de Theo.

Richie lançou um olhar estranho à mão estendida. - Porra, quantos anos você tem? 4 ou 40? - mesmo depois de dizer isso, ele apertou a mão de Theo rapidamente antes que uma expressão séria aparecesse em seu rosto. - Vamos começar com o básico.

E foi assim que a amizade deles começou, com algumas horas jogando Street Fighter. O garoto chamado Richie havia dito que Theo teria que desistir de algumas horas de seus dias para o treinamento funcionar, mas que seu sacrifício valeria a pena. Theo achara engraçado como esse garoto levava o jogo tão a sério, e ele meio que gostara disso, então apareceu no fliperama nos próximos dias para o treinamento.

A princípio, Richie o deixou jogando sozinho, tentando guiá-lo e dando dicas sobre o que fazer em determinadas situações. Não demorou mais do que algumas horas para que Theo percebesse a boca suja que Richie tinha, ele percebeu facilmente ao contar quantas vezes o garoto havia falado algum palavrão enquanto o observava jogar. Richie também não demorou muito para perceber que Theo quase nunca falava palavrões - mas também que ele não parecia se importar quando Tozier dizia esse tipo de coisa.

Depois de alguns dias, Richie começara a jogar contra ele. Ele não teve piedade alguma a princípio e Theo sempre perdia as rodadas que jogavam juntos, mas também não se importava muito com isso.

Depois de pouco mais de uma semana, Richie estava com muita fome depois da última partida deles e foi para uma lanchonete não muito longe - e Theo, que não tinha nada para fazer no momento, foi junto. Aquela foi a primeira vez que os dois meninos tiveram uma conversa que não envolvia o fliperama e seus jogos.

Isso acabou se tornando uma rotina para eles nas semanas seguintes. Eles jogavam Street Fighter por algumas horas e depois iam para alguma lanchonete barata perto do local. E eles conversavam, eles conversavam muito.

Em uma dessas conversas, Theo acabou revelando que ele era primo de Henry Bowers. Por um momento, ele pensou que Richie se levantaria da mesa que estavam sentados e iria embora, mas ele apenas fez uma piada estúpida que fez os dois rirem. Ele apreciava isso - o senso de humor de Richie - e o outro garoto parecia notar e gostar.

Também houve um dia em que o garoto Tozier o levou a uma praça onde havia um grande Paul Bunyan. Lá Theo confessou a Richie que quando ele era mais novo, ele costumava ter medo daquela estátua e que, se seu eu de seis anos de idade estivesse naquele lugar, ele já estaria chorando histericamente. Richie riu disso, embora ele tivesse olhado discretamente ao redor, como se estivesse com medo de que alguma coisa tivesse ouvido aquela informação.

Todos esses momentos compartilhados por eles durante essas semanas pareciam tê-los aproximado. Os dois continuaram a jogar Street Fighter diariamente um contra o outro, mas agora Richie deixava Theo vencer algumas vezes - ele meio que gostava de ver o quão feliz o garoto ficava quando ganhava. Ele ainda era o Boca-Suja de sempre, mas tentava suavizar seu linguajar pelo menos um pouco quando estava perto de Theo.

O garoto Bowers podia sentir que algo havia mudado. Nele. E em Richie. E pelo menos por sua parte, ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Veja, no ano anterior, Theo havia conhecido um garoto chamado Steve e eles acabaram se tornando melhores amigos. Eles eram aquela dupla dinâmica que todos amavam, e Theo o adorava.

Aos poucos, ele foi percebendo que talvez ele adorasse Steve um pouco demais. Era diferente o jeito que ele gostava dele do jeito que gostava dos outros amigos - tudo parecia tão intenso quando estavam juntos. Como o coração de Theo, que pulava um pouco toda vez que Steve estava muito perto dele; ou como suas mãos ficavam suadas e seu estômago ficava estranho toda vez que estavam juntos; ou como ele se sentia nervoso e estranhamente feliz toda vez que ele pensava em passar tempo com seu melhor amigo.

Ele descobriu por si mesmo o que estava acontecendo. Com todos os filmes românticos que sua mãe o forçava a assistir com ela, não era difícil saber a que todos esses sintomas apontavam. Mas é claro que, em todos os filmes, o garoto sentia isso por uma garota, não por seu melhor amigo.

Theo confidenciou seus sentimentos ao irmão mais velho, mas Connor não levou muito a sério. Segundo ele, Theo estava apenas confundindo um pouco o que ele estava sentindo - que talvez ele sentisse uma afeição de amigo tão grande por Steve que ele acabou pensando que era outra coisa. O Bowers mais novo permaneceu calado sobre essa situação após essa conversa. Não que isso importasse muito, Steve se mudou da cidade pouco tempo depois e os dois nunca mais se viram.

E agora havia Richie. Os sentimentos de Theo por Richie eram totalmente amigáveis ​​nas primeiras semanas, jurava que sim; admirava o garoto mas isso era tudo. E com o passar dos dias, ele começou a ter os mesmos sintomas de antes.

Agora que Richie começara a jogar contra ele no Street Fighter, Theo sentia seu coração disparar por sentir o garoto ao seu lado, tão perto que seus braços se esbarravam algumas vezes enquanto jogavam. Suas mãos suavam e seu estômago ficava estranho toda vez que saíam para tomar um milk-shake juntos e sentavam lado a lado. E ele se sentia nervoso e estranhamente feliz toda vez que ia ao fliperama, sabendo que Richie estaria esperando por ele lá.

Ele decidiu não contar a Connor, no entanto, sobre esses sentimentos. Mas ele falou de Richie para ele. Ele falou sobre como ele havia feito um novo amigo na cidade e como eles passavam o dia jogando no fliperama. Isso deixou Connor feliz e empolgado - antes de tudo, era bom saber que seu irmão mais novo não fora a Derry apenas para ficar trancado em casa o dia todo; e segundo, Connor também adorava jogar Street Fighter.

No dia seguinte, Connor foi junto com Theo para o fliperama, querendo ver se esse garoto Tozier era tão bom nesse jogo quanto Theo prometera que era. No começo, o garoto mais velho apenas assistiu os dois mais novos - e viu Theo perder a maior parte do tempo - mas depois de algum tempo ele quis participar, desafiando Richie para uma partida.

Foi uma batalha muito intensa para os dois garotos e Theo ficou assistindo atentamente, sem saber quem venceria a cada rodada. Ele estava tão concentrado no jogo que não notou que Richie roubava alguns olhares para ele durante a partida, como se para garantir que Theo estava vendo tudo. Bem, ele estava. E ficara vendo até o momento em que Richie venceu oficialmente a última rodada.

— Você é muito bom. - Connor admitiu, virando-se para Richie e aceitando sua derrota.

Theo deixou um sorriso aparecer em seu rosto enquanto os outros dois meninos apertaram as mãos. Sendo o mais novo e claramente terrível no Street Fighter, ele nunca havia vencido um jogo de seu irmão mais velho - e Connor podia ser um pouco irritante quando derrotava alguém, por isso foi certamente gratificante ver alguém vencê-lo.

— Ele é, né? – Theo falou quando percebeu o olhar de Richie se voltando para ele. - Todo o seu treino valeu a pena, hein Rich?

Vendo um sorriso suave crescendo no rosto de Richie quando o olhou, Theo só conseguia pensar o quanto ele gostava daquela vista. Era uma das coisas favoritas dele em toda Derry. Ele podia sentir seu coração esquentar um pouco.

— Vem Teddy, temos que ir. - a voz de seu irmão o trouxe de volta à realidade.

— Ah. - não foi difícil notar a decepção na voz do garoto mais novo, ele realmente esperava poder ficar lá um pouco mais. Ele estava esperando que ele pudesse tomar alguns milk-shakes com Richie naquele dia, mas no fundo ele sabia desde que saíra de casa que o irmão o arrastaria de volta no momento em que estivesse cansado do fliperama. O garoto apenas assentiu, com um sorriso fraco no rosto. – A gente se vê amanhã, Rich.

Theo começou a se afastar, indo em direção ao irmão, mas Richie o parou. - Ei Theo, uh... - ele pegou sua última ficha nervosamente. – Vamos jogar mais uma... Jogar mais um pouco. Só se você quiser, né?

O jovem Bowers sorriu, ele podia sentir todo o nervosismo que Richie estava sentindo; e ele entendia, porque também se sentia da mesma maneira. Ele estava prestes a aceitar, ansioso para ficar um pouco mais com Richie, dando um passo em sua direção quando sentiu a mão de seu irmão segurando seu pulso.

— Cara, por que tá agindo assim? Qual é, meu irmão não é seu namorado!

Theo olhou confuso para Connor. Do que diabos ele estava falando? Por que de repente ele estava sendo tão rude?

— Ué, eu... Achei que... - Richie começou a dizer, parecendo tão confuso e chocado quanto Theo estava.

E então uma voz disse: "Que que tá acontecendo aqui?" e Theo entendeu. Ele olhou para trás e viu seu primo Henry Bowers, olhando para a direção deles.

— Vocês não me disseram que essa cidade é cheia de bichinhas! - Connor fez o possível para parecer indignado e Theo sentiu seu coração afundar. Ele sabia que seu irmão provavelmente tinha boas intenções com o que quer que ele pensava que estava fazendo, mas isso não impediu Theo de se sentir mal por ouvir aquilo. Especialmente vindo de um membro da família.

— Richie cuzão Tozier. - Henry disse, seu olhar agora focado especificamente em Richie. Theo engoliu em seco quando viu a expressão assustada no rosto de Tozier, sabendo que as coisas não estavam boas para ele. - O que? Você tá tentando pegar o meu priminho? - Theo estava prestes a dizer algo, defender Richie, mas Connor apertou seu pulso um pouco mais forte, dando-lhe um olhar que claramente lhe dizia para manter a boca fechada. – Dá o fora daqui, bichinha!

O garoto sentiu-se congelar ao ouvir seu primo gritar, seus olhos se arregalando e focando em Richie, seguindo todos os seus movimentos. Theo se sentia congelado quando o garoto Tozier olhou ao redor do fliperama, olhando para as outras pessoas lá, todas assistindo tudo sem dizer uma única palavra; e ele ainda se sentia congelado quando o olhar de Rich parou em Theo mais uma vez antes de sair correndo do lugar quando Henry gritou uma última vez. – Sai daqui!

Levou apenas alguns segundos depois daquilo para Theo voltar ao momento, percebendo tudo o que tinha acontecido. - Richie! - Theo deu passos rápidos para frente, mas foi puxado de volta por seu irmão.

— Talvez o Quatro-Olhos não seja o único culpado. - Henry voltou seu olhar para ele agora, caminhando ameaçadoramente em sua direção. - Você parece muito disposto a ir atrás dele.

— Não, ele não tá. - Connor soltou o pulso do irmão mais novo e rapidamente se posicionou na frente dele. - Ele só tá confuso.

Henry ergueu as sobrancelhas para a escolha de palavras de seu primo. - Podemos resolver isso ensinando uma lição a ele.

— Não, não dessa forma! - Connor empurrou Theo um pouco mais para trás quando percebeu que Henry ainda estava lentamente se aproximando deles. - Eles são apenas amigos! Theo só queria jogar a porra de um jogo, tá bom?

— É melhor você estar falando a verdade. - Henry olhou de um irmão para o outro algumas vezes antes de deixar seu olhar parar em Theo, apontando um dedo para ele. - Não aceitamos bichas em nossa família.

— Meu irmão não é uma. - Connor disse com toda a convicção que pôde reunir.

Não apenas Henry, mas também seus outros dois amigos, olharam diretamente para Theo, e o garoto sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Depois de alguns instantes, seu primo e seus capangas seguiram para algum lugar dentro do estabelecimento, afastando-se dos dois irmãos. As pessoas ao redor, que estavam assistindo a cena até o momento, voltaram a fazer suas próprias coisas.

— Que porra que você tava pensando? - Connor sussurrou quando se virou para o irmão, com indignação clara em seu rosto. - Ele podia ter descido o murro em você por isso!

Theo não estava pensando nisso naquele momento, no entanto, seus pensamentos em outro lugar. - Eu preciso ir atrás do Rich.

— Não, você precisa ir para casa, vamos!

— Mas Connor... - Theo tentou protestar, mas Connor já havia começado a puxá-lo para fora do fliperama.

Por um momento Theo pensou que seu irmão tentaria arrastá-lo para a casa do tio. Teria sido uma viagem longa e cansativa; o fliperama não era exatamente perto da casa e Theo ficaria se debatendo o tempo todo. Para sua surpresa, no entanto, Connor parou na esquina mais próxima antes de soltá-lo, verificando a área ao redor deles antes de se voltar para o irmão mais novo com uma cara séria.

— Você está confundindo as coisas de novo, não é? Como aquela vez com o Steve. - Theo nem precisou responder a pergunta; no momento em que abaixou seu olhar para o chão, Connor já sabia a resposta exata. - Porra Theo, você não devia...

— No ponto em que estamos, acho que não estou mais confuso. - ele interrompeu o irmão mais velho, falando em voz baixa. – É quem eu sou, Connor, e...

Ele balançou sua cabeça. - Você não pode ter certeza disso.

— Eu tenho. Sinto muito, mas eu tenho. - Theo disse com firmeza. Ele não sabia dizer o que era aquele sentimento nos olhos de Connor; ele não parecia zangado, como Henry ficaria, mas estava longe de estar feliz. Era tristeza? Pena? Isso não importava. - Tenho que procurar Richie.

Connor bufou. - O que vocês dois têm, de qualquer maneira? Vocês estão...

Theo balançou a cabeça. - Somos apenas amigos. Você acertou nisso.

— Não é o que parece. - Connor murmurou, recebendo um olhar confuso de seu irmão mais novo. - Porra Theo, o cara tava tentando se mostrar pra você com aquele jogo estúpido. Até eu notei.

— Depois do que aconteceu, acho que ele não vai mais fazer isso. - Theo olhou para o chão novamente, sentindo-se envergonhado; ele desejava poder ter feito algo para interromper toda a cena que acontecera minutos atrás. - Eu ficaria surpreso se ele aparecesse nesse fliperama de novo.

Embora Connor estivesse se sentindo um pouco mal pelo que havia feito com Richie, essa era uma de suas últimas preocupações. Ele se inclinou para mais perto de seu irmão, um olhar sério nos olhos. – Não vou poder estar sempre aqui para te proteger.

— E eu não preciso que você esteja. - Theo também disse sério. - Eu vou ficar bem.

Connor olhou para ele por alguns segundos, como se o estivesse analisando; e isso trouxe a mente de Theo de volta para Richie, em como Rich havia feito a mesma coisa no dia em que se conheceram. Depois de alguns segundos, o irmão mais velho assentiu.

— Vá então. - Theo hesitou por um momento olhando para seu irmão, se perguntando se ele estava falando sério. – Vai, porra.

Connor não precisou repetir; Theo não hesitou por mais um segundo e correu na direção em que vira Richie indo ao sair do fliperama.

Encontrá-lo seria um problema porque, em primeiro lugar, Theo havia passado apenas algumas semanas naquela cidade e não conhecia o lugar muito bem; mas ele decidiu que queria tentar pelo menos.

Ele tentou ir a qualquer lugar que já esteve com Richie. O garoto checara todas as lanchonetes de que se lembrava, que eram apenas duas delas; ele geralmente contava com o outro garoto para guiá-lo pela cidade. Richie não estava em nenhum desses lugares, mas isso não surpreendeu o garoto Bowers, por que diabos ele iria a um restaurante logo após aquela cena? Afogar seus sentimentos em um milk-shake?

Portanto, havia apenas um lugar para ele ir, um local que ele esteve apenas uma vez durante sua estadia em Derry; a praça com o grande Paul Bunyan. O lugar estava estranhamente vazio quando ele chegou e estava prestes a dar as costas e aceitar que não veria Richie tão cedo. Mas então ele viu algo... Bem, alguém deitado na grama.

— Richie? – Theo murmurou baixinho, reconhecendo que era seu amigo deitado ali, antes de correr em sua direção. - Richie! - ele gritou enquanto se aproximava, fazendo o outro garoto se sentar na grama rapidamente, parecendo um pouco assustado. Rich olhou atentamente ao seu redor até que avistou Theo, que se agachou ao lado dele. - Ei, você está bem?

Richie não disse nada, o que era estranho, seus olhos rapidamente se voltando para outra coisa. Seguindo seu olhar, Theo viu que ele estava olhando para o grande Paul Bunyan. Ele estava prestes a perguntar novamente sobre como o garoto estava se sentindo quando percebeu que seu rosto estava um pouco avermelhado e um pouco molhado; com marcas de lágrimas.

Theo suspirou pesadamente, chamando a atenção de Richie de volta para ele. – Me desculpa Rich, pelo meu primo. E pelo meu irmão. Às vezes ele pode ser um cuzão.

Aquele terror no rosto de Richie diminuiu levemente quando ele ergueu as sobrancelhas para o garoto. - Uau, você acabou de dizer “cuzão”? Caramba, talvez eu realmente esteja sendo uma influência ruim pra você.

Theo soltou uma risada. - Sim, eu aprendi com o melhor. - Richie deu um sorriso fraco, seus olhos involuntariamente encontrando a forma de Paul Bunyan novamente. Seus olhos pareciam tão focados naquilo, como se ele estivesse esperando que aquilo começasse a se mover a qualquer momento. - Você tá bem, Rich?

O garoto Tozier voltou o olhar para o amigo antes de baixá-lo para a grama embaixo deles. – Talvez a gente não devesse sair mais juntos.

Theo franziu o cenho. - Você não quis dizer isso.

Richie olhou para ele e Theo pôde ver um pouco de hesitação em seus olhos, mas desapareceu após alguns segundos quando Richie deu de ombros levemente. - Não, não quis.

O garoto Bowers sorriu com a resposta antes de um olhar triste voltar aos seus olhos. Ele se sentia muito mal pelo que sua família havia feito com ele e teve um pouco de medo de que as coisas entre eles nunca mais fossem as mesmas depois daquele dia. Seria uma pena, Theo realmente gostava de passar tempo com Richie; mesmo que ele tivesse uma boca suja e tudo mais.

— Sinto muito, Rich. - Theo se aproximou um pouco mais, deixando a sua mão em cima da de Richie. Era para ser um gesto de conforto, mas ele não sabia como o amigo reagiria a isso; e por um momento ele jurou que Richie se afastaria, mas ele não fez isso. Ele apenas olhou para as mãos deles juntas e não disse nada, voltando o olhar para a grama. - Só para você saber - Theo continuou. - Eu teria ficado para jogar outra rodada com você.

Richie bufou. - Essa porra de fliperama está morta para mim. Pelo menos por hoje.

Theo assentiu, entendendo completamente. - E amanhã?

— Não posso parar de treinar, meus fãs dependem disso.

— Eles dependem mesmo. Eu dependo mesmo. - ele viu um pequeno sorriso se alargar no rosto de Richie, fazendo-o sorrir também. - Seria uma pena se o Mestre Tozier desistisse do Street Fighter.

Richie ajeitou os óculos com a mão livre. - Mestre Tozier nunca desistiria de Street Fighter, tá bom?

— Isso é bom porque ele me ensinou tudo o que sei. - ele apertou a mão do outro garoto. - Antes de vir para Derry, meu irmão era o melhor jogador de Street Fighter que eu conhecia. E você é melhor que ele, então...

Richie soltou um suspiro falsamente cansado e arrogante. - Não é fácil. É difícil ser tão bom assim, mas você sabe, é um dom. - Theo riu disso, meio que feliz por ver que o garoto não o estava tratando de maneira diferente. Richie sorriu com essa vista. – Vamos. - o garoto Tozier tirou a mão de baixo da de Theo, logo pegando na mão do garoto, puxando os dois para ficarem de pé. - Vamos dar o fora daqui.

Os dois garotos hesitaram em soltar as mãos por alguns segundos, desviando o olhar quando finalmente o fizeram. E honestamente, naquele momento, tudo o que eles queriam era segurar a mão do outro novamente; já sentindo falta do toque, do calor.

Theo pigarreou após um momento. - Se você não quiser ir ao fliperama, poderíamos fazer outra coisa. Quero dizer, podemos tomar um sorvete ou algo assim.

Richie levantou uma sobrancelha para ele. - Você quer ir tomar sorvete comigo? - ele balançou a cabeça em falsa decepção quando Theo disse que sim. - Isso é tão gay, cara.

Talvez porque eu seja, cara. Theo riu, empurrando-o de brincadeira. - Cala a boca.

Richie riu, um sorriso aparecendo em seu rosto quando ele começou a se afastar. - Não sei por que seu primo estava me atacando quando você obviamente é o-

Theo esbarrou nele, soltando outra risada. - Para com isso!

— Tá bem, tá bem. - Richie levantou as mãos em sinal de rendição.

Ele não deixou de notar que, depois de Theo esbarrar nele, eles estavam andando com os ombros quase tocando no outro. Ele não mentiria para si mesmo, ele gostava dessa proximidade entre eles. Embora que ele tenha desviado o olhar de Theo numa tentativa de não tornar isso tão óbvio, Richie pôde sentir o sorriso em seu rosto apenas aumentando. - Vamos lá pegar a porra do seu sorvete.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.