Boys Also Lie

Capítulo 1 - That Night


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O vento frio da noite balançava o topo das árvores acima de Jesse, o barulho fez com que ele olhasse pra cima e fitasse o céu nublado e sem estrelas, ele estava caminhando em uma estrada esburacada perto da divisa de Greensboro e Elroy, o barulho dos arbustos ao seu lado e os cantos das corujas ao fundo já o tinham feito acelerar os passos, até teria corrido se aquilo não o fizesse se sentir um completo idiota. Mas por mais que a noite estivesse fria e obscura, ele não podia hesitar, já havia adiado aquele momento por tempo demais e aquilo já havia alcançado o limite de sua sanidade.

O gorro cinza em sua cabeça protegia suas orelhas, que sempre ficavam vermelhas quando estavam em contato com vento, mas ele sentia que estava mal agasalhado usando apenas sua camisa xadrez verde escura, ele fitou seu tênis all star enquanto uma música do 30 escondas too mar começava a tocar em seu aparelho de MP3, e aquele som aliado ao clima do lugar o fazia pensar no que tinha acontecido a duas noites atrás.

Uma sucessão de acontecimentos atingia sua mente, como uma cascata de informações e fatos desconexos, a bebida tinha esse efeito sobre ele, por isso ele sempre evitava beber na frente de estranhos, Sebastian costumava dizer que ele bebia como uma garotinha, mas quem ligava pro que ele pensava? Certamente Jesse não.

Depois de uma longa caminhada ele já podia ouvir a música alta vindo do celeiro abandonado, onde estava ocorrendo a noite do dia das bruxas da escola de Greensboro, não era uma festa promovida pela escola, era promovida por Sebastian Hale, o garoto mais rico da região, e apenas ser convidado demonstrava que você era descolado o suficiente.Os carros estacionados na frente daquele lugar assustador fizeram ele se lembrar porque estava evitando dirigir.

Logo ele reconheceu o BMW de Sebastian estacionado perto da entrada, a moto de Hunter e a caminhonete de Nathan, a pessoa que ele esperava encontrar. Em frente ao celeiro um grupo de garotos bebiam e riam alto, ao mesmo tempo em que uma garota vestida de coelhinha corria atrás de um cara vestido de saleiro, exigindo aos berros que ele lhe devolvesse a sua calcinha. O e-mail da festa dizia que a fantasia era opcional, por isso lá dentro Jesse esperava encontrar mais pessoas vestidas como ele para não se sentir tão deslocado.

De qualquer forma ele não pretendia ficar lá muito tempo, seu plano era único e simples, encontrar Nathan, dizer o que tinha que dizer e sair a francesa. Ele subiu os degraus que davam acesso a enorme porta dupla de madeira e entrou no lugar, as luzes estroboscópicas pulsaram em seus olhos, e por um momento ele se sentiu tonto.

Uma música da Kesha vinha dos autofalantes, ‘’como alguém consegue ouvir isso?’’ Ele pensou. Aquilo sem duvida acabaria mal se as pessoas continuassem a beber daquele jeito, para qualquer canto que Jesse olhava ele via adolescentes se pegando, brigando, se drogando. De longe ele viu Sarah Castle fantasiada de chapeuzinho vermelho, a namorada de Nathan, mas não estava acompanhada dele, parecia inclusive procurar por ele.

– Vai! Vai! Vai! – Gritavam os garotos alguns metros a sua frente, no meio deles Jesse pode reconhecer Nico Vega, em sua boca havia um cano, ligado a um funil onde era despejada a cerveja.

Os jovens gritavam eufóricos a medida que Nico bebia, poucos conseguiam fazer aquilo sem derramar uma gota no chão ou em sua camisa. Nico era o único com tal capacidade. Jesse continuou olhando para aquilo admirado, até sentir alguém tocar em seu ombro.

– Parker... – Disse Hunter Stiles, segurando seu ombro, Jesse se virou para olhar para ele – Estávamos quase indo te buscar em casa.

Jesse o encarou por meio segundo, ele era o sonho de todas as garotas, era loiro, tinha olhos azuis e fazia o estilo bad-boy com seu piercing na orelha e sua jaqueta de couro.

– O que aconteceu? – Hunter apontou para o rosto de Jesse, que levou a mão aos lábios rapidamente.

– Ah isso? – Disse ele sorrindo – Não foi nada, eu me cortei fazendo a barba, só isso – Jesse mentiu, mas não tinha outra escolha, estava com vergonha de dizer que apanhou do pai. - Você viu o Nathan por ai? Preciso falar com ele.

– Nós estamos em outro lugar, trouxe sua câmera? - Perguntou Hunter.

– Sim, por que queriam que eu trouxesse a câmera?

– Acredite, você vai querer ter isso filmado - Hunter sorriu maliciosamente - Cara, me ajuda a levar o Nico – Hunter foi em direção aos garotos, todos se afastaram quando ele se aproximou, ele tinha esse efeito nas pessoas por ser grande, era o típico valentão.

– Vocês são meus amigos!!! – Nico gritou bêbado, pondo a língua pra fora e soltando um bafo de bebida em Jesse, que virou o rosto pro lado odiando aquilo.

Jesse pegou Nico pelo braço esquerdo, e Hunter o pegou pelo braço direito, ambos o ajudaram a caminhar por entre as pessoas na festa, o celeiro abandonado era um lugar bem grande, serviu de moradia para os trabalhadores que viviam naquelas terras há anos atrás. Todos continuaram dançando enquanto eles saiam.

Jesse conhecia bem o lugar, ficava em uma das propriedades do pai de Sebastian, ele já tinha ido lá enumeras vezes com seus amigos para fazer algazarra, com dificuldade eles empurraram a porta dos fundos para sair do celeiro. Eles carregavam Nico com cuidado, ele era pesado e só falava besteira quando estava bêbado. Ao fim da propriedade tinha uma espécie de carreira, que seguia até um morro, onde havia um moinho abandonado.

Então a irmandade estava toda reunida naquele momento no moinho, o que será que Sebastian estava tramando? Jesse preferiu não pensar. Sua mãe sempre disse que seus amigos não tinham futuro, e após o que tinha acontecido com ela, Jesse sabia que ela tinha razão. Há algum tempo Jesse vinha tentando se desvencilhar daquele ambiente, fazer novos amigos, mas era difícil se afastar completamente.

Ao se aproximarem, ele pode ver Sebastian do lado de fora, usando uma camisa azul social e jeans de lavagem escura, roupas de grife que usava só pra mostrar que podia, ele usava o seu cabelo castanho arrepiado de sempre e óculos escuros presos a gola da camisa.

– Olha quem apareceu, Jesse Parker... não passou da hora de ir pra cama? Papai vai ficar zangado – Sebastian sorriu com desdém, adorava bancar o superior só porque era rico, na maioria das vezes Jesse não o suportava, só lhe dirigia a palavra por que eram amigos de infância, caso contrário já o teria mandado pro inferno.

– Não enche o meu saco Sebastian – Jesse e Hunter jogaram Nico sobre uma carroça velha que havia ao lado, ele caiu de braços abertos e rindo igual um maluco, bem ao seu lado estava Nathan, ele e Jesse trocaram um olhar tenso, Jesse sentiu uma corrente elétrica passar pelo seu corpo, eles precisavam conversar sobre o que tinha acontecido, mas não podia ser ali na frente de todos.

Nathan era o garoto mais bonito da escola, e nem mesmo se esforçava pra isso, tinha um olhar preguiçoso e cabelos castanhos, seus olhos eram verdes como o de Jesse, mas de um verde escuro quase castanho.

Todos eles podiam se considerar bonitos, Nico com sua beleza latina já tinha transado com uma garota punk e uma líder de torcida, na mesma noite e ao mesmo tempo. Hunter se orgulhava de ter transado com a professora da turma de cálculo, famosa por ser a cara da Jeniffer Lopez.

Sebastian tinha qualquer garota que quisesse, era só estalar os dedos ou abrir a carteira e já teriam filas de garotas interessadas em seus olhos castanhos. Jesse também era bonito, nada além do comum, cabelos loiros escuros, olhos verdes profundos e corpo esguio.

O único garoto da irmandade que não era tão bonito era Robbie Bennett, o nerd de cabelos encaracolados e óculos de grau, alguns diriam que ele havia repetido o ano no quesito puberdade, e por isso não fazia sucesso como seus amigos, todos se conheciam da infância, mas mesmo a amizade de Jesse sendo sincera, Robbie sabia que só tinha amigos porque fazia os deveres e dava cola nos testes pra todos eles.

– E o Robbie? – Perguntou Jesse, notando que faltava um membro do grupo naquele lugar.

– Ah meu caro Jesse, hoje é um dia especial pra todos da nossa irmandade – Disse Sebastian, passando por ele indo em direção a janela.

– Do que você esta falando? – Questionou Jesse, estava apático só em ouvir a voz de Sebastian, que sempre soava superior, não importava a situação.

– Prepare sua câmera, pois vou te mostrar algo que vai virar clássico do pornotube.

Jesse entregou a câmera a Sebastian que a posicionou na janela para filmar alguma coisa, todos se endireitaram em frente a ela, inclusive Nico que estava tão curioso quanto bêbado.

Apesar da pouca iluminação era possível ver Robbie, ele estava por cima de uma garota de cabelos loiros, ele beijava os lábios dela e passava a mão em suas pernas, as paredes de madeira no moinho tinham enormes frestas por onde entram pequenos focos de luz.

– Hoje nosso amigo Robbie vai finalmente perder a virgindade com uma garota – Disse Sebastian, rindo debochadamente.

– Quem é ela? – Perguntou Jesse, analisando o desempenho de Robbie, era evidente que não sabia o que estava fazendo

– É a Heather, não esta reconhecendo? – Sebastian fez sinal para ficarem em silêncio, queria ouvir o que Robbie dizia.

Heather morava na Rua de Jesse, sua família era evangélica, então para ele era estranho ver ela deitada embaixo de Robbie, não fazia o estilo dela. Ela costumava ser a garota tímida que sempre evitava abrir a boca nas aulas com medo de dizer alguma besteira, garotas como Heather não transavam com qualquer um.

– Você vai filmar a transa? Que sacanagem – Disse Nathan, abrindo a boca pela primeira vez desde que Jesse tinha chegado.

– Vão me dizer que vocês não estão curiosos pra saber se os boatos do Robbie ser hermafrodita são verdadeiros – Sebastian riu mais uma vez de suas próprias palavras, Jesse franziu o nariz, pelo que ele se lembrava tinha sido o próprio Sebastian que tinha levantado o boato.

– Há qual é? Tira o cacete pra fora e fode essa vaca de uma vez – Gritou Nico, dizendo a coisa mais cafajeste que conseguia pensar.

– Cala a boca imbecil, quer que ela perceba que esta sendo filmada? - Repreendeu Sebastian.

– Parece que ela esta dormindo – Jesse olhou a tela com mais atenção.

– Demos uma coisa pro Robbie por na bebida dela – Disse Hunter, fitando a janela atento a cada detalhe.

– Espera, ela esta drogada? Vocês enlouqueceram?

– Calma Jesse, é só um dos comprimidos de insônia da minha mãe – Sebastian tirou do bolso um plástico com algumas pílulas e sorriu.

– Não é tão ruim quanto parece, ela vai acordar amanhã e achar que fez uma besteira – Hunter se justificou, o olhar reprovador de Jesse o incomodava, era sempre ele que protestava quando todos estavam prestes a se divertir.

– E afinal de contas, de que outra forma ela transaria com o Robbie?

Jesse e Nathan trocaram um olhar cauteloso após ouvir as palavras de Sebastian, eles sabiam que aquilo estava errado, uma coisa era sair pela cidade fazendo farra e mau pra eles mesmos, outra coisa era drogar uma garota e faze-la transar com alguém, aquilo não podia acabar bem.

– Isso é estupro presumido, precisamos fazer parar agora.

– O Nathan tem razão – Jesse tentou pegar a câmera de Sebastian – O Robbie vai se ferrar, precisamos parar com essa palhaçada agora.

– Cala a boca eu quero ver os peitos dela! – Gritou Nico, Jesse revirou os olhos com aquela atitude, Nico já era um cachorro com a cara limpa, mas ficava muito pior quando estava de porre.

– Quanta consciência moral, vai me dizer que nunca fez isso? Ah é... você agora é bonzinho. – Disse Sebastian com sarcasmo.

– Eu posso ter feito muita bobagem, mas nunca obriguei ninguém a transar comigo, muito menos usei o dinheiro do meu pai pra isso.

– Sabe Jesse, sempre achei você um idiota, mais agora esta me irritando mais que o normal – Sebastian o encarou, enterrando o dedo indicador no peito de Jesse, aquilo fez seu sangue ferver.

– Sabe Sebastian, não ligo se o seu pai manda em toda a cidade, vou quebrar sua cara agora mesmo.

– Gente tem alguma coisa errada! – O grito de Nathan fez aquele embate parar, Heather tinha começado a se debater, derrubando Robbie de cima do monte de feno, já com a cueca pelo joelho. Robbie se levantou desesperado, na mesma hora os garotos invadiram o moinho onde eles estavam.

– O que esta acontecendo? – Jesse foi em direção ao monte de feno seguido pelos outros, Heather se debatia como se algo quisesse sair de seu corpo, suas mãos se entortavam e seus pés não paravam de se mexer descontroladamente.

– Eu não sei! Estava tudo bem até que ela mordeu minha boca e começou a tremer, acho que ela esta tento convulsões. – Robbie colocou as mãos na cabeça em desespero, seus olhos se encheram de lágrimas.

– O que você fez com ela Robbie? – Sebastian grudou em seus braços, olhando fundo nos olhos de Robbie.

– Nada! Eu dei os comprimidos que você mandou...

– Era pra ter dado apenas um seu filho da puta!

– Eu dei dois pra garantir, minha mãe toma as vezes três pra fazer efeito, eu não imaginei que ela fosse...

– Ela esta tendo um ataque epilético, Nathan segura a língua dela, ela não pode morder – Seguindo as palavras de Jesse, mais que depressa Nathan segurou a língua de Heather, Jesse segurava as pernas para ela parar de se bater.

– Precisamos ligar pra emergência – Robbie correu em direção as suas calças que estavam jogadas em um canto, tirou do bolso seu celular e começou a discar, mas com um tapa Sebastian jogou o aparelho no chão. Ele o prensou contra a parede apontando o dedo em seu rosto.

– Ta ficando maluco, não pode chamar a emergência aqui, tem menores consumindo bebidas, gênio!

– Larga ele Sebastian, essa situação já ta fora de controle.

– Cala a boca Jesse, eu preciso pensar... – Sebastian começou a andar pelo quarto de um lado pro outro, sabia que ele não estava no controle da situação, mas odiava escutar isso de alguém que se considerava bom demais pra continuarem amigos.

– Eu vou facilitar as coisas pra você, Hunter pega a minha caminhonete – Nathan jogou as chaves para Hunter – Vai com calma pra ninguém desconfiar, estaciona em frente ao moinho.

– O que a gente vai fazer?

– Vamos levar ela pro hospital mais próximo, damos uma desculpa e saímos antes que peçam nossas identidades – Nathan estava tremendo quase tanto quanto Heather, ele olhou para Jesse que o olhou de volta, seja o que fosse a conversa entre eles, teria que esperar.

– Cara eu vou acabar me ferrando, ela esta em uma festa que eu organizei, essa propriedade é do meu pai.

– Que se foda você e o seu pai Sebastian – Gritou Jesse, as veias em seu pescoço estavam saltadas, o nervosismo já o tinha possuído por completo – Ela vai acabar morrendo se não corrermos logo.


A chuva na estrada dificultava a visão de Nathan, mesmo com o limpador de para-brisa acionado e os faróis altos, ele mal podia ver um palmo a sua frente, no banco detrás estavam Sebastian, Nico, Robbie e Hunter, Heather estava deitada em cima deles, alternando momentos de total inconsciência com momentos de convulsão. Com a manga da camisa Jesse tentava remover o vapor dos vidros do lado de dentro do carro, uma tentativa inútil de facilitar a visão da estrada. Robbie chorava descontroladamente no banco detrás, por mais que fosse irritante, Jesse podia ver a culpa no rosto dele, Robbie sempre fora inseguro e volúvel, por isso foi convencido a drogar Heather.

– Ela esta gelada gente – Disse Robbie entre soluços, ele passava a mão sobre o rosto de Heather – Ela esta morrendo...

– Cala a boca Robbie, cala a boca droga... Meu pai vai acabar me matando, não vai me deixar ir pro Spring Breaker em Cancun no verão, vai cortar minha mesada, me fazer trabalhar na empresa.

– Nossa, isso seria terrível não é verdade? Ela podia ter escolhido outro dia pra ter sido drogada não é verdade? Ah espera... Ela não teve escolha, mas tenho certeza que não foi intenção dela atrapalhar sua vida – As lamentações de Sebastian tinham atingido em cheio a paciência de Jesse, ele não conseguiu segurar o sarcasmo.

– Calem a boca vocês dois! Se estão irritados imaginem eu que estou dirigindo – Nathan cerrou os olhos atento a cada detalhe, um único deslize e eles poderiam sair da estrada, a tempestade havia começado antes mesmo de saírem do celeiro abandonado, com muita dificuldade eles saíram ser vistos por ninguém.

– Porque estamos saindo de Greensboro? – Questionou Hunter ao mesmo tempo que o clarão de um relâmpago iluminou o céu do lado fora.

– De acordo com o meu GPS o hospital mais próximo fica em Elroy, e fica mais fácil não sermos reconhecidos em outra cidade.

A estrada estava vazia, ninguém se atreveu a sair de casa após o inicio da tempestade, o GPS indicava que ainda estavam a cinco quilômetros do hospital na cidade vizinha, eles sabiam que estavam correndo contra o tempo, mas pensar nas consequências da morte de uma garota por culpa deles era difícil e aquilo poderia vir a ser o pior erro de suas vidas.

– Como ela esta? – Jesse se virou voltando a atenção para Heather, Robbie continuava a passar a mão em seu rosto, ele estava um trapo.

– Ela parou de se mexer, nem sei se ela ainda esta respirando

.– Fica tranquilo Robbie, vai dar tudo certo, ela vai ficar bem – Jesse esperava com suas palavras acalmar o amigo.

– Isso não teria acontecido se o Robbie tivesse dado apenas um comprimido a ela... –As palavras de Sebastian foram interrompidas por Heather, que começou a se debater novamente, com muito mais violência do que antes, os garotos tentaram contê-la no banco de trás, mas ela começou a cuspir sangue pela boca e pelo nariz.

– Segurem ela! – Nathan gritou, tinha perdido o controle do volante apenas com o susto.

– Ela esta sangrando.

– O que?

– Nathan cuidado!!! – Jesse gritou mas já era tarde, um lobo tinha invadido a estrada naquele momento, Nathan virou o volante com todas as forças para a esquerda pra não atropelar o animal, a chuva na estrada fez com que ele perdesse o controle e quando conseguiu focar que estava em sua frente, já havia saído da estrada.

O carro invadiu uma cerca de arame farpado, chocando-se contra uma árvore logo em seguida, o Air bag duplo da caminhonete havia protegido Nathan e Jesse, mas algo atrás deles havia atravessado o para-brisa, um cheiro de pneu queimado e gasolina tomou conta do ambiente, Nathan sentiu um gosto de ferro em sua boca, sua vista foi escurecendo e aos poucos ele apagou completamente.


Jesse acordou com a água da chuva em seu rosto, ele não sabia por quanto tempo havia apagado, sua cabeça estava doendo, com dificuldade ele retirou o cinto de segurança, aquilo tinha provocado uma dor estranha, como se ele tivesse entrado em seu corpo. Ao seu lado estava Nico, praticamente jogado por cima do freio de mão, lá fora ele pode ver que os outros garotos já tinham saído do carro.

– Nico... – Jesse tocou em seu ombro, o fazendo pular – Nós batemos em alguma coisa...

– Minha cabeça vai explodir... – Nico levou as mãos no rosto, havia um hematoma em seu queixo, ele se levantou com dificuldade, segurando o braço direito em frente ao peito.

Jesse empurrou a porta e caiu com os braços no chão, quase teve que se arrastar pra conseguir sair do carro, Nico tinha saído primeiro, pois sua porta já estava aberta, alguns metros a frente estavam os outros, todos pareciam muito espantados com o que tinha acontecido, foi quando Jesse finalmente viu o que os outros já tinham visto a algum tempo, em frente a eles e sob o chão de barro estava o corpo de Heather, completamente imóvel, o rosto dela estava ensanguentado.

Jesse demorou pra assimilar que com o impacto, o corpo já debilitado de Heather havia atravessado o para-brisa, era um milagre eles mesmos estarem vivos e sem maiores machucados, mas a situação não estava melhor por causa disso, era evidente que a garota que tinha sido drogada, agora estava morta. E o que era pior, eles eram os responsáveis.

– Ela esta morta... – Foi o que Nathan disse, logo após ter tido coragem de se aproximar e sentir a pulsação no pescoço dela.

– Não!!! – Robbie correu em direção ao corpo sem vida de Heather, mas foi contido por Hunter, que o segurou contra seu peito em um abraço, contendo seu desespero

– Ela ta morta, Robbie ela ta morta!!! – Hunter o apertou o mais forte que pode enquanto ele se debatia, mas não conseguia segurar as próprias lágrimas, sabia a besteira que tinham feito.

– Não acredito nisso, estamos perdidos!!!!! – Nathan gritou e chutou a lataria da caminhonete, batendo suas mãos no teto em um surto de raiva que tomou conta de seu corpo, mas era inútil, o que esta feito esta feito.

Nico caiu de joelhos no chão, chorava tanto quanto Robbie, mas não era possível distinguir nenhuma palavra naquele pranto de tão bêbado que estava. Sebastian parecia chocado demais para dizer qualquer coisa, seus olhos castanhos antes tão persuasivos, agora apontavam medo e duvida.

– Não vou me ferrar por sua culpa! Esta me ouvindo? Eu não vou me ferrar por uma de suas armações! – Nathan avançou pra cima de Sebastian com tanta raiva que o fez cambalear pra trás.

– Nathan não! Deixa ele, não precisamos disso agora – Jesse se pôs entre os dois, partilhava da mesma opinião de Nathan, mas socar a cara de Sebastian não ajudaria a resolver o problema.

– Eu não... não imaginava – Sebastian pôs as mãos na cabeça – Mas podemos resolver isso, não podemos? Quero dizer, ninguém nos viu com ela, não há testemunhas.

– Só pode estar brincando, não podemos fingir que não aconteceu Sebastian.

– E porque não Jesse? – Hunter se levantou, deixando Robbie de lado – O que o Sebastian falou é verdade, ninguém nos viu com ela, acho que é algo que devemos discutir.

– Não importa o que aconteceu, não vou pagar por um erro de vocês, não fui eu que a droguei, e não fui eu que a filmei – Disse Nathan apontando o dedo no rosto de Sebastian, era irônico as posições terem se invertido e Sebastian estivesse acoado.

– Não aponte o dedo pra mim, ela estava na sua caminhonete e você estava dirigindo, pode não ter começado isso Nathan, mas esta tão envolvido nisso quanto todos nós.

– Espera, ‘’nós’’? – Jesse deu de risos – eu nem sabia o que estava acontecendo, eu só fui lá porque o Hunter pediu ajuda pra subir o Nico, eu nem devia ter ido aquela festa.

– Mas foi, e agora estamos todos aqui, envolvidos direta e indiretamente na morte de uma pessoa, e isso vai acabar com a nossas vidas a menos que a gente impeça.

– Sei o que esta tentando fazer Sebastian, esta nos manipulando, sempre nos manipula.

– Eu não sou esse monstro Jesse – Sebastian o olhou nos olhos, parecia querer mostrar que estava dizendo a verdade – Claro que eu não quero me ferrar, mas não tem como dizer a verdade e omitir que vocês estavam presentes, existe a verdade e a mentira, não existe meia verdade ou meia mentira. Pelo menos não nesse caso... não pra policia.

– Foi um acidente, não tivemos a intenção, a policia vai intender.

– Não viaja Jesse, acha mesmo vão aliviar pra gente? – Hunter se levantou fazendo que toda a atenção se voltasse a ele – Acho que precisamos votar, se um se ferrar todos se ferram, simples assim.

– Vocês enlouqueceram.

– Nem todo mundo aqui tem dinheiro, ou um pai que trabalha na policia – Hunter olhou para Sebastian e depois para Nathan. – Se formos presos por um assassinato, isso vai acabar com nossas vidas.

– Não há testemunhas, podemos esconder o corpo – Disse Sebastian, estava com os braços cruzados e um olhar fixo.

– Se fizermos isso e a policia descobrir, vai ser muito pior, podemos fazer a coisa certa dessa vez.

– Não é tão fácil como você disse Sebastian – Nathan ignorou completamente as palavras de Jesse - Olha o estado da minha caminhonete, tem sangue no vidro da frente, eu bati em uma árvore.

– Eu pago! – Sebastian de um passo a frente chegando bem perto de seu rosto – Você disse que seu pai esta viajando e vai ficar uma semana fora, limpamos o sangue, levamos a um mecânico em uma semana ela estará nova, eu tenho dinheiro... eu tenho dinheiro.

– Jesse... – Sebastian se aproximou dele, usando o tom de voz mais gentil que podia – Somos os seus amigos desde o ensino fundamental, não é só por nós, mas por você também, esta disposto a sacrificar tudo o que sempre quis só pra fazer a coisa certa?

– Acho que todos já decidimos, só falta você. – Hunter o olhou, aquele olhar parecia avalia-lo, seja qual fosse a sua escolha.

Jesse olhou todos ao seu redor, Robbie o olhou, mas baixou o olhar logo em seguida, Nico continuava no chão, com os braços em torno das pernas e visivelmente perturbado, ele já sabia a opinião de Hunter e Sebastian, mas precisava saber a decisão de Nathan, por isso ele olhou fundo nos olhos do amigo, esperando algo que ele dissesse.

– Não posso, apenas... não consigo Jesse – Foram as palavras de Nathan, e naquele momento Jesse soube que era voto vencido.

Sebastian se virou e deu alguns passos a frente, estava olhando o pântano próximo onde eles estavam, o silencio ensurdecedor que havia se formado, logo fora quebrado pelas palavras dele.

– Vamos logo com isso. – Disse ele, se virando para olhá-los – Não podem sentir nossa falta na festa.