Baz

Chegando ao segundo andar, após subir quatro lances de escada (o prédio não possuía elevador), eu passei a mão no cabelo para me certificar que estava tudo no lugar. Ajeitei a gola de meu blazer verde escuro e espanei com as mãos qualquer pozinho que pudesse ter caído nas minhas calças jeans. Eu estava estonteante. Esperava que Simon Snow achasse isso também.

Toquei a campainha e respirei fundo, tentando parecer o mais cool possível. Conhecera Simon há apenas três dias na floricultura em que ele trabalha, havíamos conversado bastante por celular e aplicativos de mensagem e agora eu estava em sua porta, esperando para buscá-lo em nosso primeiro encontro.

Eu sorri enquanto a porta se abria, mas logo minha expressão passou de sedutora a confusa quando percebi que a pessoa na minha frente era ninguém mais, ninguém menos que Penelope Bunce, minha maior rival acadêmica. Ela estava de pijama, com o cabelo embaraçado em um coque mal feito e com uma expressão tão perdida quanto a minha.

—O quê... –Ela começou, mas foi interrompida por uma voz vinda de trás dela:

—Baz! Oi!

Após alguns segundos, preenchidos por barulhos de passos, Simon (que estava maravilhoso em uma camiseta rosa, roxa e azul e jeans rasgados) apareceu na porta, todo animado e completamente alheio à esquisitice da situação.

—Baz, essa é a Penny, minha melhor amiga e colega de quarto. –Simon fez um gesto com as mãos apontado para Bunce. Depois, se voltou para Penelope e continuou. -Penny, esse é o...

—O Basilton Pitch é o seu novo namoradinho da floricultura?! –Ela cortou Simon em descrença.

—Nossa, Bunce, quanto carinho e receptividade. –Respondi, sarcástico.

Ela revirou os olhos para mim.

—Vocês... Já se conhecem? –Perguntou Simon.

Ele pareceu pensar por alguns segundos e, antes que alguém pudesse responder, entendeu:

—Ah! Aquele curso de escrita criativa que você tinha falado –e apontou para mim- é o mesmo curso de escrita criativa da Penny— e apontou para Bunce. Simon parecia bem orgulhoso das próprias conclusões.

Snow sorria, animado, enquanto eu e Bunce nos entreolhávamos, incertos sobre como proceder. Simon pareceu finalmente se dar conta do silêncio constrangedor e nos perguntou:

—Que foi?

O olhar de Penelope se amaciou ao se voltar para o amigo e ela respondeu com cautela:

—Simon, eu e Basil não somos exatamente... Amigos. Nós temos uma certa rixa acadêmica.

O garoto arregalou um pouco os olhos, como se ele e Penelope já tivessem conversado sobre o assunto antes. Mas que ótimo! Bunce já reclamara sobre mim para o Simon! Comecei a me preparar para o pé na bunda que com certeza viria agora que Simon estava relacionando a minha pessoa a quaisquer que fossem as queixas da Bunce. Que humilhação!

O meu olhar já estava frio e sarcástico quando Snow abriu um grande sorriso e, mais uma vez, ele pareceu ser feito de Sol. Seus olhos azuis estavam esperançosos quando declarou:

—Agora que eu estou aqui, vocês podem transformar essa rivalidade em uma amistosidade competitiva saudável!

Eu e Penelope simplesmente olhamos para ele como se estivéssemos perguntando "Que porra foi essa, Simon?"; ao que ele repetiu resoluto:

—Agora que eu estou aqui, vocês podem transformar essa rivalidade em uma amistosidade competitiva saudável.

Era como se ele estivesse tentando repetir isso até que se tornasse verdade. Foi adorável e ridículo na mesma proporção. Eu continuei assistindo, esperando para ver onde aquilo tudo daria.

Penelope começou a rir.

Quando a risada parou, ela revirou os olhos para Simon com afeto e começou:

—Está levando casaco?

Snow apontou para o casaco amarrado em sua cintura:

—Estou.

—Dinheiro?

Ele tocou no bolso de trás de sua calça:

—Estou.

—Chaves?

Simon arregalou os olhos novamente, procurou nos bolsos da calça e depois nos do casaco para então suspirar com alivio:

—Estou.

Penelope sorriu para ele.

—Basilton, -Ela se voltou para mim- estou te dando um voto de confiança e acreditando que você não será um idiota com o Simon.

—Não me insulte, Bunce. Eu não saí de casa e subi quatro lances de escada em um sábado só para magoar o Simon.

Ela pareceu satisfeita o bastante com a minha resposta. Olhou para nós dois e declarou:

—Então estou voltando para In The Flesh.

Ela se virou, passou pela sala, e sumiu em um corredor do apartamento deles.

Snow sorriu para mim e perguntou:

—Vamos?

Ao invés de responder, eu perguntei:

—Espera, o que foi isso?

—In The Flesh? É uma série que ela gosta.

—Não, tipo, apesar de tudo que a Bunce deve ter dito de mim a gente ainda vai sair e tudo bem?

Eu estava genuinamente confuso.

—É. -Ele respondeu simplesmente.

—Ah.

—Vamos? -Simon voltou a me perguntar, desta vez, estendendo a mão.

Eu a peguei.

—Vamos. -Respondi, com um carinho que eu não estava acostumado a demonstrar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.