Fazia tempo que eu não desmaiava, desde o treino com o Deadpool.

– Merda, minha cabeça... - eu me sentei na cama, estava em um lugar diferente, não estou na chuva e... O grito - Merda, o que você quer?

– Ih... Isso é jeito de tratar seu sensei? - Deadpool estava do outro lado da linha, já podia imaginá-lo comendo uma pizza só de cueca na sua bela casa imunda - Eu ouvi barulho de tiro e seu silêncio, fiquei preocupado.

– Conta outra - desci da cama - Mas já que ligou, você consegue me dizer onde estou? - ouvi ele ligar o computador, tentei abrir a porta daquele comodo, trancada, peguei distância e a chutei, caiu. Comecei a caminhar pelos corredores, tinha uma caracteristica oriental.

– Wow! - ele exclamou, ouvi sua pizza cair - Minha querida, você está onde você queria estar. - eu olhei para a tela a foto dele me fez rir.

– E isso é...?

– Na casa do Snake - eu parei, podia ter esperado mais dois segundos e saberia pela arma na minha testa onde eu estava. - Ei, Agnes! - eu abaixei o celular, Snake tomou da minha mão, ainda podia ouvir os gritos do Deadpool, até ele me xingar e desligar.

– Snake... - eu ofeguei, ele destravou a arma - Snake, deixa eu te falar algo - ele balançou o corpo - Sou Agnes - ele confirmou - Acho que você sabe disse, bem, eu te persegui durante vários dias, isso não é algo bom para dizer, mas então eu vim até aqui para ser treinada por você - ele abaixou a arma, respirei aliviada, um tiro - Filho da puta! - eu urrei caindo sentada.

Ele abaixou na frente do meu pé que acabara de receber um tiro e ficou o observando em silêncio. Eu contorci e puxei meu pé para mim, tentei me levantar, ele segurou meu ombro e me fez sentar novamente.

– Já estou arrependida de ter vindo até aqui, o Deadpool pelo menos me deixava sofrer quieta - ele me olhou - Não, você não é barulhento, longe disso só que... Ai! - urrei com ele arrancando a bala - Você gosta de ver as pessoas sofrendo, não é? - ele me olhou, meu pé se curava, ele preparou a arma e a mirou no meu joelho - Ah, não, cara - eu o chutei e me levantei, mancando comecei a correr pelo corredor depois de pegar a arma que ele deixara cair - Isso dói! - eu gritei, queria que o Deadpool ainda estivesse na linha, ele tentaria me ajudar.

Passos atrás de mim, abaixei, Snake saltou sobre a minha cabeça, eu parei, ele tentou me acertar eu desviei manca, ele me acertou um soco, eu desviei de outro, mirei em seu tronco, corri até ele e acertei uma cabeçada no peito, ele grunhiu, corri com ele preso em minha cabeça o acertei contra a parede, me levantei e mirei com a arma, não pretendia atirar nele, Snake me encarou, não sei se assustado ou o quê, atirei em seus ombros e depois em seu joelho, ele urrou, me afastei dele, suas katanas ainda poderiam me atingir. Eu estava assustada, eu acabara de nocautear o homem que eu escolhi para ser meu sensei.

Depois de algumas horas sangrando ele apagou, coloquei sua arma presa em minha calça, fui até ele e o apoiei em meus ombros, o deitei no quarto que eu estava antes, é nada de recuperação rápida, eu tinha uma vantagem. O deitei na cama, encontrei depois de muito procurar um kit de primeiros socorros, arranquei as balas dele.

– Eu me odeio por ter feito isso com você - eu não sabia se ele tinha acordado ou não - Eu vim aqui pedir sua ajuda e te enchi de bala, eu sou uma desgraça mesmo, eu realmente só carrego a morte. - falei depois de terminar os curativos. - Pronto - falei me sentando em uma poltrona que só agora eu vi - Desculpa, eu não sei se você ainda está acordado ou não.

Silêncio.

Depois de alguns minutos mergulhados em silêncio e ao certificar que o tiro no pé estava completamente curado fui andar pela casa, encontrei a cozinha que era no estilo americana contrastando com o resto da casa, peguei algumas coisas na geladeira, encontrei o que me pareceu ser um frange, legumes, graças ao Deadpool eu aprendi a cozinhar muita coisa, não que ele tivesse me ensinado, mas porque me deixava passar fome. Arrumei tudo em uma panela de pressão, a coloquei para cozinhar, procurei algo mais e encontrei arroz em uma lata no armário, preparei um pouco. Com tudo pronto eu comi, servi um pouco do frango com legumes em uma tigela, voltei para o quarto e me surpreendi ao encontrá-lo vazio, olhei no corredor de onde eu tinha vindo, voltei para a cozinha, andei por outros quartos e finalmente fui para o jardim onde uma mancha de sangue me denunciou que Snake estava por ali.

Segui a marca do corpo dele que se arrastara por ali. O encontrei no meio do jardim embaixo de uma árvore apoiado, ele parecia cansado, quando me aproximei ele me ameaçou.

– Calma - falei tomando o braço que se apoiava na árvore - Não vou te fazer nenhum mal - ele me olhou - Se eu quisesse poderia ter te matado quando você estava desmaiado - falei o levando de volta para casa - Preparei isso para você - falei o sentando na cama, ele olhou a tigela e depois me olhou, dobrou a parte debaixo da mascara até o nariz, pude ver a cicatriz que cortava a sua boca, senti falta do Wade me irritando por encarar suas cicatrizes.

Snake tomou a tigela da minha mão, mas logo me devolveu quando não conseguiu levar a comida até a boca.

– Eu posso te ajudar? - ele confirmou, sorri para ele. - Deve estar muito quente, vou esfriar e... - ele colocou a colher inteira na boca - ... acho que você está com fome. - ele confirmou - Mas toma cuidado - eu assoprei um pouco - Você pode se machucar.

Em minutos ele terminou de comer, coloquei sua tigela de lado, ele me analisou.

– Bom - falei retomando a postura - Eu já me apresentei e acho que você se lembra - ele confirmou - Sobre os tiros, me desculpa, mas você não pararia se eu não fizesse nada - ele confirmou - É bom saber que estou certa, você aceita ser meu sensei? - ele não respondeu - Desculpa, eu não sei o que você quer dizer ficando sem mexer nenhum músculo.

Ele continuou parado, mas tentou se levantar, fui até ele e o ajudei a ficar de pé, pedi para me guiar pela casa, ele me levou até um quarto que imaginei ser o dele, era organizado, mas tinha apenas uma cama japonesa e um guarda-roupa, o que achei estranho, já que ele nunca usa outras roupas. O deitei na cama, ele apontou para par ao guarda-roupa, abri as portas e procurei por algo, encontrei uma caixinha, ele confirmou que era aquilo o que queria, levei até ele que tirou uma seringa enorme ali de dentro, a mirou na perna e aplicou a substancia nele, o assisti cair no sono quase que instantaneamente. Retirei a seringa, a joguei no lixo e guardei a caixa.

Ouvi o grito, meu celular. Procurei pelo quarto e percebi que ainda estava com o Snake, tentei encontrar e quando finalmente o achei o homem acordou e segurou minha mão, eu o olhei assustada.

– Meu celular - falei, ele olhou para a tela acesa - Alguém está me ligando. - ele me entregou o aparelho - Alô?

– Não me deixe falando sozinho novamente - Deadpool.

– Desculpa, eu levei um tiro. - ele riu - Não, é sério, ele deu um tiro no meu pé. - Snake me observava - E agora está me encarando.

– Deixa eu falar com esse otário. - passei par ao lutador a minha frente.

– Ele quer falar com você.

Ele pegou o celular, eu podia ouvir tudo o que Deadpool gritava para ele até que no momento de uma resposta Snake ficou em silêncio, Dead pediu para ele me passar o telefone e me gritou tudo novamente.

– Eu já tinha ouvido - falei - Deadpool, não se preocupe, acho que estamos começando a nos entender - Snake me analisou - Sim, eu atirei nele de volta, não se preocupe, vou me cuidar. - desligamos. - Me desculpe por isso, ele é muito protetor. - Snake se levantou sem ajuda - Você já está bem! - exclamei sorrindo - Foi a injeção, não foi? - ele confirmou, abriu o guarda-roupa e tirou um uniforme nova lá de dentro.

Analisei minha roupa, eu tinha dois furos na camiseta que já era velha e suja, já estava com ela há dias, olhei minha calça cheia de sangue e meu tênis com um furo, eu estou acabada.

Snake me olhou e começou a sair do quarto, deduzi que ele queria que eu o seguisse, foi o que eu fiz, ele andou pelos corredores que eu já conhecia, abriu uma porta japonesa que parecia ser uma divisoria de comodo, abriu um baú e tirou de dentro dele uma camisa enorme branca, e peças intimas femininas que imaginei que ele guardara de alguma namorada antiga ou sei lá o quê. Ele me levou até um banheiro, me entregou uma toalha.

– Obrigada! - gritei quando ele se afastou.

Fechei a porta, liguei o chuveiro, tirei minha roupa destruida, guardei o que ainda dava para aproveitar o que resumia na cueca do Deadpool e só. Meu cabelo era um grude onde sangue e terra eram a mesma coisa, estava bem mais comprido, Wade adoraria vê-lo finalmente maior, ele dizia gostar de cabelos compridos. Coloquei a camisa branca que me batia até os joelhos, a manga era muito comprida, as dobrei. Saí do banheiro e o encontrei na cozinha, ele guardava a comida.

– Obrigada pela roupa - ele me olhou por cima do ombro - Seu pacto de silêncio é para valer, não é? - ele confirmou - Legal - bati os dedos no balcão - O que você fica fazendo aqui sozinho? Porque sua casa é no meio do nada, eu já rastreei, e bem, você não tem empregadas, logo fica sozinho, aparentemente não tem namorada, então não tem muita diversão, o que você faz aqui?

Ele terminou de guardar tudo, fiquei o observando, ele andou pela casa, podou árvores, ajeitou moitas, plantou flores, eu o seguia para todos os lados, por fim o sol se punha e ele voltava para casa, ele foi até o quarto me fez parar, apontou para dentro e fez um sinal negativo, confirmei eme afastei um passo, ele fechou a porta, eu queria mais, queria saber mais sobre ele, então sentei ao lado da porta trancada, abracei as pernas na esperança de que pudesse sair logo.