Born To Die

Capítulo Único


Elisabeth acordara tarde para o passeio com o pretendente que seu pai escolhera. A vida era dura quando não se podia escolher quem beijar, namorar e viver. Mas esse é o preço que a filha do homem mais rico do país paga para ser um pouco normal. O passeio seria em um parque ecológico, onde eles fariam um piquenique casual. O cara era um candidato para o senado, então os fotógrafos estariam à espreita. Tudo fora minimamente ensaiado para que tivessem um dia livre de capas de tabloides.

Ela levantou-se e tomou um banho demorado em sua banheira. Antes que terminasse, a empregada a chamara para um pequeno café. O dia estava nublado e apesar da previsão do tempo favorável para o sol, Elisa torcia para que uma tempestade atrapalhasse o seu passeio. Seu pai, Bill Di Lenni, estava em seu escritório onde orientava os funcionários de seu banco em uma reunião pela internet. Terminando o café foi para o seu quarto e colocou um vestido florido e fez uma trança em seu longo cabelo.

O motorista de Gale Pretes, o pretendente, estava à espera na entrada da mansão. Elisa entrou no carro e encontrou Gale com um buquê de flores na mão.

—Para você! — ele disse estendendo as flores. Elisa sorriu sem jeito, mas aceitou. As flores eram lindas, o colorido delas combinava com o vestido.

— Obrigada... Eu adorei! — ela disse finalmente. Gale percebeu que Elisa estava envergonhada então ficou em silêncio até a metade do caminho.

— Você vai adorar esse parque. Vinha muito aqui quando era criança — ele disse empolgado.

— Que bom! — Elisa disse. Por mais que ela tentasse, não dava para ficar feliz com Gale, mesmo ele sendo um homem muito bonito e inteligente.

— Eu sei que é chato, mas vamos tentar ser amigos — ele disse para quebrar o gelo — Não quero te obrigar a nada.

— Sinto muito — Elisa disse sentindo pena do rapaz — Mas você conhece a fama do Sr. Di Lenni, o homem controlador que não deixa a filha fazer suas escolhas.

— Eu sei, mas os pais encolhem o melhor para os filhos — ele disse como se isso fosse normal.

Gale também era um filho de família tradicional, mas para ele ter uma vida controlada não interferia em nada. Após alguns minutos estavam no parque. O céu estava escuro e uma chuva com certeza se aproximava, mas Gale parecia não se importar com isso. Pegou uma cesta no porta-malas e colocou a toalha no lugar mais descoberto como se quisesse desafiar a natureza. Elisa se sentou em uma das pontas da toalha e esperou Gale abri a cesta. Estava cheia de sanduíches e biscoitos caseiros, além de uma jarra pela metade de suco de uva. Antes que Elisa pudesse dizer algo, Gale tirou do fundo da cesta uma garrafa de vodca.

— Para nos alegrar — ele abriu a garrafa e batizou o suco de uva. Elisa riu. Como um futuro senador poderia levar bebida alcóolica para um passeio no parque? — É estranho, mas é a única forma dos repórteres não falarem de nossas bebidas.

— Nunca pensei que você bebesse — ela disse pegando uma taça e se servindo da bebida — Pensei que fosse a única.

— Não costumo beber em primeiros encontros, mas acho que você não se importa — ele tomava um gole do falso suco.

Os dois brindaram, enquanto os fotógrafos tiravam fotos de suas risadas histéricas. Pareciam duas crianças rindo de tudo, o efeito da vodca era rápido. Em um instante já estava chovendo, a água encharcava as roupas de Elisa e ela correu para se proteger. Gale estava muito bêbado, mesmo com algumas taças ele se comportava como alguém que nunca havia bebido, ele também tentou se proteger, mas Elisa o perdeu de vista enquanto corria por uma floresta. Uma floresta? Ela estava perdida, correu por bastante tempo e sua cabeça girava. Elisa perdeu os sentidos. Desmaiada no meio de uma floresta desconhecida.

(...)

O barulho de uma xícara se quebrando a acordou. Ela abriu os olhos e viu que estava deitada em um sofá vermelho desbotado, suas roupas estavam molhadas e sua cabeça confusa. Como foi parar naquele lugar? Imediatamente viu alguém se aproximar, a pessoa se aproximou e logo ela constatou que era um homem. Ele lhe oferecia uma xícara.

— Quem é você? — ela perguntou ainda grogue — Que lugar é esse?

— Meu nome é James — ele disse enquanto se sentava no sofá — E essa é minha casa.

Elisa levantou-se. Deu uma espiada ao redor e viu que ela estava em uma casa feita, exclusivamente, de madeira. Olhou para o homem e se sentiu perdida. Sentou-se no sofá e pegou a xícara.

— Como vim parar aqui? — ela perguntou, depois bebericou o conteúdo da xícara, um chá, para não parecer que estava fazendo desfeita.

— Encontrei você desmaiada na floresta — ele disse. Elisa começou então a reparar em James. Ele era muito atraente, os olhos eram escuros, seus cabelos batiam no pescoço, e, além disso, possuía tatuagens espalhadas pelo corpo. Ela sentiu vontade de saber se existia significado para cada uma delas — O que foi? — ele perguntou depois de perceber que Elisa o encarava.

— Nada — ela desviou o olhar — Preciso ir embora.

— A tempestade cortou todos os telefones e eu não tenho carro — ele falou — E já está tarde.

— Devem estar me procurando — ela disse desesperada. O que seu pai pensaria? E será que Gale estava bem? Ela ficou preocupada.

— Sim, mas se estiverem te procurando com certeza baterão aqui — ele disse. Ditas essas palavras, o silêncio reinou. James observava Elisa e ela sentia arrepio pelo corpo, mas não era ruim. Ele se levantou e pegou uma toalha — Acho melhor você tomar um banho quente.

Elisa pegou a toalha, colocou a xícara em cima da mesa e foi até o banheiro. Sobre a pia estavam uma camisa e um short masculinos que certamente James separara para ela vestir. Trancou a porta e se apressou para tomar o banho. A água quente fez tudo ficar mais tranquilo. Assim que terminou, vestiu a roupa e voltou para a sala. James estava parado olhando pela janela. Elisa se aproximou e viu que ainda chovia.

— Pelo jeito a chuva não vai dar trégua — ela disse. James se assustou. Ele olhou para as roupas que ela vestia e disse:

— Roupas masculinas fazem as mulheres ficarem mais lindas — ele sorriu.

— Obrigada — Elisa respondeu — Mas eu ainda prefiro minhas próprias roupas.

Ele sorriu e foi até a cozinha. A casa era pequena, a cozinha e a sala eram divididas por uma meia parede e havia uma escada estreita que Elisa supôs levar para os quartos, além do banheiro no primeiro andar. Ela seguiu James e viu que ele preparava um macarrão.

—Espero que goste de uma boa massa — ele falou — Não cozinho, mas como tenho visitas...

— Na verdade, é meu prato favorito — ela sorriu. Existia algo ali, Elisa sentia na sua pele. A atração que ela sentia por aquele homem a fez imaginar como seria não ter que servir os caprichos de seu pai.

— A propósito, qual o seu nome? — ele perguntou.

— Elisabeth, mas pode me chamar de Elisa.

— É um prazer te conhecer, Elisa — ele estendeu a mão. Elisa apertou a mão dele e os dois sorriram.

(...)

A chuva insistia em permanecer por longas horas. Não existia um espaço no céu escuro que não estivesse tampado por nuvens carregadas. Elisa havia terminado de jantar quando James também sentou a mesa. Ele estava fazendo alguma coisa na cozinha e deixou a garota sozinha, enquanto ela devorava o macarrão.

— Obrigada pelo macarrão! — ela disse.

— Não foi nada. Não é todo dia que a filha do homem mais rico país vem jantar em minha casa — ele sorria, mas Elisa não gostou do que ouviu. Sua expressão enrijeceu — O que foi?

— Estou cansada disso — ela levantou da mesa — Não aguento mais ser sempre associada ao meu pai.

— Desculpe — ele também estava de pé — Mas pensei que você soubesse que eu te conhecia. Bom, você foi notícia nas redondezas.

—Vou embora — Elisa pegou um guarda-chuva que estava no chão e foi em direção à porta.

— Você vai se perder — ele falou, mas em nenhum momento tentou impedir que ela saísse.

Elisa abriu a porta e saiu. O guarda-chuva não era forte o suficiente para a tempestade. Após alguns minutos de caminhada ela já estava encharcada e suja da lama vermelha que compunha a estrada. Não existia nada por perto. Era tudo deserto. Com muito desespero Elisa sentou-se no chão lamacento e começou a chorar, chorou como criança e sentiu que seu mundo estava acabando. Ela, Elisa Di Lenni, estava no meio da madrugada chorando, enquanto uma tempestade acontecia ao seu redor.

— Elisa — alguém gritou bem atrás dela. Não era uma voz desconhecida para a garota. Em pouco tempo James estava do lado dela, também sentado no chão.

— Desculpe — ele falou — Juro que não queria te magoar.

Elisa observou o homem ao seu lado. Como ele podia se preocupar tanto com ela, se se conheciam há apenas algumas horas?

— A culpa não é sua — ela disse — Como poderia ser? Eu nem te conheço direito.

James se aproximou de Elisa, uma das mãos dele estava na nuca dela e a outra cariciando seu rosto. A garota olhava para os olhos dele e naquele momento não existia tempestade.

— Eu sinto que te conheço há anos — James disse e antes que Elisa pudesse fala algo ele a beijou. Os lábios dos dois se movimentavam em uma sincronia perfeita e tudo acontecia com tanta naturalidade que, realmente, parecia que eles se conheciam há anos.

James a conduziu até sua casa. Lá cederam ao desejo. Os dois se enrolavam e apreciavam cada centímetro de seus respectivos corpos. Nada era suficiente, cada toque e cada sensação eram ansiados. E mesmo sabendo que estaria em uma grande confusão, James possuiu aquela mulher. Uma hora depois, estavam abraçados na cama como dois velhos amantes. Elisa brincava com o colar de James e ele acariciava sua cabeça.

— Você não me disse o que faz — Elisa diz depois de um silêncio que poderia ser constrangedor em outras situações, mas não naquela.

— Trabalho com bancos — ele disse.

— Só isso?

— Acho que falar de banco pode acabar com o clima, principalmente você sendo filha de quem é — ele concluiu.

— Ok — ela disse.

— E você? — James perguntou interessado.

— Nada de importante além de ser a isca do meu pai — ela disse — Uma vida entediante.

— Ah! Vamos lá... Tenho certeza que você faz alguma coisa além de “ser a isca de seu pai”.

— Bom, eu componho e canto. Nada relevante, apenas um hobbie.

— Isso é fantástico! — ele sorriu — Nunca conheci uma compositora. Quem sabe algum dia você compõe algo pra mim.

— Sim, quem sabe.

(...)

A chuva tinha acabado e segundo o relógio na parede era quase seis da manhã. Elisa viu que James estava na cozinha preparando algo pra comer. A casa estava com cheiro de desodorante de homem, aquele cheiro que faz qualquer mulher se sentir excitada. Elisa levantou e viu que ele acabara de tomar banho.

— Bom dia dorminhoca! — ele falou e lhe ofereceu uma xícara de café.

— Preciso voltar — ela disse urgentemente — Se descobrirem que estou aqui, vou estar ferrada.

— Não se preocupe — ele se aproximou e a beijou, o perfume invadiu as narinas de Elisa e suas pernas ficaram bambas — Para todos os efeitos você está perdida.

— Eu sei — ela se afastou um pouco, não podia ceder de novo — Mas preciso voltar. Meu pai deve estar preocupado e tem o...

Elisa parou de falar assim que se lembrou de Gale. E se ele também estivesse perdido?

— O seu noivo? — James cuspia as palavras — Ele está bem.

— Como você sabe? — ela perguntou mais que desconfiada.

— Não é difícil saber, a TV só fala disso! — ele pegou o controle e ligou o aparelho. O jornal local falava do seu desaparecimento.

— Precisamos ir — ela disse com mais urgência na voz — Você não conhece meu pai, ele...

— Então é assim? — James perguntou com uma cara de desapontamento — Você vai embora e esquecemos tudo?

Elisa sentiu o estômago dá uma reviravolta. Ela sabia que depois que cruzasse a porta seria quase impossível rever aquele homem.

— Nós sabíamos que seria quase impossível — Elisa suspirou — Talvez se você quisesse algo a mais... Você trabalha em banco, meu pai pode gostar de você! — ela disse com um pingo de esperança.

Ele riu, não chegou a ser uma gargalhada, mas não ficava para trás. Tudo que Elisa sentia se transformou em um pesadelo, ele estava rindo da cara dela.

— Não — ele parou de rir — Seu pai nunca me aceitaria. Meu trabalho não é exatamente algo legal.

— Do quê você está falando? — ela perguntou confusa.

— O caso é que... — ele hesitou — Eu sou um... Digamos, um criminoso.

Elisa ficou assustada. Um criminoso? Um bandido? Ladrão? Sabe lá o quê. Como ela explicaria isso para o mundo?

— Eu sou um ladrão internacional — ele falou olhando para o chão — Só posso te dizer isso, mas tenho certeza que homens como seu pai apenas querem me matar.

— Meu Deus! O que eu fiz? — ela ficou dando voltas pela pequena sala — Transei com um ladrão e ainda pensei que ele se importava comigo.

— Eu me importo — ele respondeu — Por isso que não te contei.

Ficaram em silêncio. Na televisão uma jornalista dizia que a polícia acreditava que a filha do bilionário havia sido sequestrada. Elisa quebrou o silêncio.

— Me leve embora, não quero que você seja preso por causa disso — ela pegou seu vestido que estava seco no sofá, foi até o banheiro e o vestiu.

(...)

James tinha uma moto. Elisa montou na garupa enquanto ele conduzia até o parque. Quando estavam quase chegando, ele parou e desceu. Ela foi atrás.

— O que foi? — ela perguntou um pouco irritada — Já não basta você ferrar com minha vida, agora vai me deixar no meio da estrada?

— Só precisava esclarecer algumas coisas — ele disse — O que aconteceu foi importante pra mim. Sinto muito se você não sente o mesmo. Só pensei que não podia te deixar partir sem dizer que você mexeu comigo. Juro que nunca mais te procurarei, mas precisava falar isso.

Ela se aproximou dele e deu um beijo leve e sincero. Depois o abraçou forte e sentiu mais uma vez aquele perfume tentador.

— Podemos nos ver novamente? — ela perguntou. Ele sorriu e assentiu.

(...)

A volta de Elisa movimentou a imprensa. Assim que apareceu centenas de repórteres a cercaram. James a deixou alguns metros antes da concentração de jornalistas. Ela chegou caminhando e fingindo estar se sentindo mal. Os advogados da família a escoltaram até o carro. Lá dentro seu pai estava à espera.

— Você não parece estar tão cansada — ele falou mais do que sério.

— Papai, eu estou bem — ela tentou desconversar — Não é isso que importa?

— Elisabeth, estamos sofrendo chacotas na TV. Gale perdeu pontos nas pesquisas de intensão de voto justamente porque encontraram bebidas na sua cesta de piquenique. Você aparece bem, depois de uma noite perdida numa floresta. E o pior... — ele pegou o tablet e mostrou uma foto em que ela e James se beijavam, minutos antes — Quem é esse homem?

— Papai, eu... — ela não sabia o que dizer.

— Você sabe o que isso significa? Anos e anos lutando para que você se encaixasse na sociedade e você vem com isso. A família de Gale não quer que ele se case com você.

— Eu não vou me casar com nenhum dos homens que você quer — ela o desafiou — Quero tomar as decisões a partir de agora.

— Vamos para casa — ele ordenou ao motorista.

Em casa, Elisa foi proibida de cruzar a porta da rua. Ela estava de castigo pelo resto da vida ou até todos esquecerem o acontecido. Mas Elisa nunca se esqueceria. Durante as noites, ela se lembrava do corpo de James junto ao dela, do calor e da paixão que sentiam. Seu pai nunca poderia a fazer esquecer-se desse momento.

Duas semanas se passaram. Elisa estava em casa esse tempo todo, a única coisa que podia fazer era mexer em seu celular, vasculhando cada função desconhecida. Às vezes ela lia algum livro e compunha algo. Depois do jantar nada agradável com seu pai, ela voltou para o quarto e percebeu que seu celular estava tocando. Ela estranhou, já que fazia dias que ninguém falava com ela.

— alô? — ela atendeu.

— Oi— era James. Elisa sorriu como uma garota insana.

— Como descobriu meu número? — ela perguntou.

— Não é difícil para um homem que decifra senhas de cofres — ele disse — Precisava ouvir sua voz!

— Eu preciso te ver. Não consigo mais ficar presa nessa casa.

— Estou em frente a sua casa, venha me ver — ele disse. Elisa foi até a janela e viu que não seria difícil descer até o jardim. Quando criança ela fazia isso direto. Ela desligou o celular e deu um jeito de sair do quarto. Quando chegou ao jardim, foi engatinhando até a saída dos fundos, não podia deixar os seguranças a verem. Não foi difícil. Na rua ela viu um carro estacionar a poucos metros de sua casa, era James. Ela correu ao seu encontro. Ele sorria e assim que ficaram de frente um para o outro se abraçaram e deram um longo e apaixonado beijo.

— Vamos sair daqui — ela disse num tom quase desesperado.

Entraram no carro sem falar nada, a felicidade já respondia por cada um deles. Após minutos dirigindo, ele parou em um bar para comerem algo.

— Eu só pensava em você — ele disse enquanto esperava o pedido chegar — Até peguei isso — ele abriu a carteira e mostrou a foto em que estavam se beijando — A única prova de que você era real.

— Que loucura! — ela sorria — Eu passei pela mesma situação, mas a diferença é que meu pai me mostrava essa foto a cada jantar — ela riu e fingiu ser seu pai falando — “quem é esse, Elisabeth?” ou “Vou te deserdar caso você não me diga quem é ele”. Uma grande chatice!

Eles riram. O pedido estava pronto. Dois hambúrgueres, uma lata de refrigerante e uma dose de uísque. O uísque era para James, não que fosse adequado, já que ele dirigia, mas ele disse que precisava disso para relaxar. No bar havia uma espécie de palco improvisado, alguns artistas cantavam, mas nenhum dos clientes estavam gostando, alguns gritavam para que parassem de cantar. Elisa se lembrou da música que estava trabalhando para James, não era grande coisa, mas talvez fosse o momento de mostrar. Ela pegou seu hambúrguer e deu uma mordida para ver se tomava coragem, só de imaginar subir num palco para cantar já sentia um frio na barriga, mas venceu o medo e foi. James não entendeu a súbita reação da garota e apenas observou ela conversar com o gerente e subir no palco.

—Com licença — ela disse no microfone para chamar atenção dos poucos clientes que estavam no bar — Vou cantar uma música que compus para o homem da minha vida. O nome é born to die. Não está totalmente pronta, mas espero que gostem — ela riu nervosamente.

Elisa pegou o violão e começou a tocar os primeiros acordes. Quando começou a cantar todos a observaram curiosamente e James a fitava com um olhar que significava muito mais que paixão, existia amor ali.

—Feet don’t fail me now… — Elisa começou cantando baixinho, talvez por vergonha, mas aquilo deu um charme à composição. No violão ela fazia um dedilhado lento e do outro lado um pianista tentou acompanhá-la, o que deu um efeito maravilhoso — Don’t make me sad, don’t make cry... — a música saía naturalmente — We were born to die…

Terminando a música ela respirou fundo e ouviu que todos a aplaudiam, alguns gritavam por mais uma e outros cantarolavam partes de sua música. Ela desceu do palco e foi até James que a aplaudia de pé.

— Meu Deus! — ele falou — Você é maravilhosa!

Os clientes começaram a gritar “beija” e eles tiveram que atender aos pedidos. Elisa estava tão feliz que tinha até esquecido de todos os problemas que estava envolvida.

— Espera — um cliente gritou — Você não é aquela garota do jornal? — ele se aproximou dos dois — É você mesma e esse aí é o cara que te beijou...

Elisa se assustou, se seu pai descobrisse que não estava em casa à situação seria a pior possível. Ela olhou para James e ele entendeu o recado. Saíram do bar sem nem pagar a conta, o gerente gritava por eles, mas nada faria com que eles voltassem. No carro, Elisa cantou parte da música para James.

— Sua voz é a mais doce que já ouvi — ele disse — Estou apaixonado por você.

— Obrigada — Elisa respondeu — Eu estou perdidamente apaixonada por você!

(...)

Elisa acordou com um grande sorriso no rosto. A sua noite com James tinha feito ela se sentir livre como um pássaro. Levantou e foi tomar banho, assim que terminou desceu para o café com o pai. Bill estava terrivelmente mal humorado aquela manhã. Ele lia o jornal enquanto tomava uma xicara de café. Elisa estava do seu lado e ficou lendo as manchetes que estavam na capa do jornal que o pai lia. Nada muito interessante, até que seu olho se arregalou.

Filha de bilionário dos bancos é vista cantando em bar do subúrbio

E logo embaixo um foto dela e James correndo do gerente. Até o momento Bill não havia visto a notícia, mas não demoraria muito até ele descobrir. Elisa ficou tentando fazer o pai largar o jornal, porém não adiantava. Cedo ou tarde ele chegaria à parte de fofocas e Elisa estaria ferrada. E ele chegou. E nesse momento a xícara de café voou até a roupa de Elisa. Seu pai levantou da mesa e praticamente esfregou a capa da sessão de fofocas no rosto da filha. Logo após, ele jogou o jornal no chão e deu um tapa em Elisa. Ela caiu no chão e ficou lá, morrendo de raiva.

— Você sabe quem é esse homem? — Bill perguntou — VOCÊ SABE? — ele estava com o rosto vermelho e tremia de ódio — Esse homem está sendo procurado em 50 países, esse homem já foi preso quatro vezes e esse homem rouba o dinheiro de milhares de pessoas, inclusive o nosso — Bill segurou Elisa pelo braço e fez ela levantar — Seja mulher, Elisabeth, e assuma seu erro.

— Eu sei quem é esse homem, pai — ela disse — E não é nada disso que você disse!

— Vou te mandar para fora do país — ele se afastou dela — Você vai pra longe disso aqui. E quanto a James Labour, vou mandá-lo para prisão e não vou descansar até ele ser condenado a pena de morte.

— Pode me mandar para o inferno, mas o amor que sinto nunca vai acabar — ela desafiou o pai — Pode me matar, me bater, me deserdar. Eu sempre o amarei! — Bill não aguentou e deu outro tapa na garota a sua frente, ele não podia mais chamá-la de filha.

— SUA VAGABUNDA! — ele disse e saiu apressado.

Elisa caiu desesperada no chão. Os empregados da casa estavam a sua volta. Sra. Martin, a cozinheira, correu para abraçar a pobre menina. Ela ajudou Elisa a levantar e a levou até o quarto, colocando-a na cama.

— Não chore — ela disse — Tudo vai voltar o normal.

Mas o ponto era esse, Elisa não queria que tudo voltasse ao normal, ela só queria ser livre. A empregada ficou no quarto até a garota se acalmar. Assim que ficou sozinha Elisa correu e ligou para James. No primeiro toque ele atendeu.

— Não sei o que fazer — Elisa dizia ao telefone chorando.

— O que aconteceu? — James perguntou aflito.

— Meu pai descobriu tudo — ela disse — Descobriu sobre você. Ele mandou um detetive te investigar...

— Porra! — ele gritou do outro lado — Isso não podia ter acontecido.

— Não posso mais ficar aqui — ela parava de chorar — Ele quer me mandar para fora do país.

—Não vou deixar isso acontecer — James parecia preocupado — Fuja comigo — ele propôs.

— Fugir? — ela repetiu — Como?

— Às 8 da noite eu estarei a 20 metros de sua casa. Se quiser viver comigo venha!

Ele desligou. Elisa sentou em sua cama e pensou se conseguiria deixar tudo para trás por causa de um homem. E ela percebeu que sim. Se ficasse naquela casa acabaria se matando. Foi até o armário e pegou uma mochila. Escolheu algumas roupas, pegou uma foto de sua mãe, o dinheiro que estava no seu cofre e colocou dentro dela. Eram oito horas e Elisa estava se equilibrando na janela do quarto. Chegou à rua e caminhou os 20 metros. Viu um pouco a frente o carro estacionado. E ai começou a correr. James se preparou para abraçá-la, seus braços estavam abertos. Elisa correu mais rápido e pulou no colo dele. Ele a levou até o capô do carro e começaram a se beijar. Saíram dali e entraram no veículo. Ele sentou no banco do motorista e ela no colo dele, com as pernas em volta do seu corpo. O beijo ficou mais quente e em poucos minutos ele estava sem camisa. James colocou a mão no porta-luvas e pegou um cigarro. Colocou na boca e acendeu. Enquanto ele fumava, Elisa beijava o seu pescoço. Não estavam nem ai para o fato de estarem a poucos metros da mansão. James jogava a fumaça na boca de Elisa e ela achava que aquilo era a coisa mais excitante do mundo.

Ele passou o cigarro para ela e ela fumou pela primeira vez na vida. Já não se importava com nada, só queria ser daquele homem pelo resto da vida. E queria que ele fosse seu. Ele a ajudou a tirar o short e ela o ajudou a abrir a calça. James invadiu o corpo de Elisa e nesse momento ela sentiu que nunca mais voltaria a ser a garota de antes.

(...)

Assim que terminaram, James arrancou com o carro. Saíram do bairro luxuoso e foram para o subúrbio. Ele estava bem mais relaxado e ela também. Chegaram em uma rua deserta quando ele parou.

— Vou ali pegar minhas coisas — ele disse fazendo carinho na perna dela.

— Você não precisa de nada — ela disse o segurando para que ficasse dentro do carro.

—Preciso de arma, dinheiro e milhares de coisa para te proteger— ele parecia, pela primeira vez, estar irritado. Não esperou muito e saiu do carro. Elisa foi atrás.

— Quero ir com você — ela disse indo atrás dele.

— Não — ele falou firme e a segurou forte pelo braço — Não é seguro. Aqueles homens podem pegar uma arma — ele pegou dois dedos e pressionou na cabeça dela — e dar um tiro na sua cabeça.

— Pensei que não fôssemos nos separar — ela ficou assustada.

— Volte para o carro e ficaremos bem, se descobrirem de quem você é filha estaremos fodidos — ele disse — Agora me dá um beijo.

Ela não queria o beijar, mas ele segurou o rosto da garota e selou os lábios nos dela. Ele a largou e seguiu pelas ruas perigosas, enquanto Elisa voltava para o carro.

Aproximadamente uma hora depois, James estava de volta ao carro. Ele carregava uma mochila lotada de dinheiro, arma e munição e na mão trazia uma garrafa de uísque importado. Elisa estava dormindo quando o ouviu abrir a porta.

— Demorou — ela disse.

— Não é fácil negociar — ele respondeu ironicamente e Elisa percebeu que ele cheirava a álcool.

— Você estava bebendo? — ela perguntou irritada — Sério? Enquanto eu estava aqui entediada, você estava curtindo?

— Trouxe pra você — ele mostrou a garrafa e riu.

Elisa virou o rosto para janela e passou a ignorá-lo. Ele ligou o carro e saiu. Naquele momento começou a chover e a água fazia com que os vidros ficassem embaçados. James dirigia um pouco acima da velocidade, mas isso não importava para ele. Os minutos passavam e eles não falavam nada, até que James disse:

— Não podemos começar nossas vidas brigando — ele falou prestando atenção na estrada — Me desculpe por ter sido um idiota.

— Tudo bem — ela falou — Podemos esquecer isso.

— Eu te amo — James disse olhando nos olhos de Elisa.

— Eu te amarei até o fim dos tempos — ela falou. James se aproximou para beijá-la, ignorando a estrada e a chuva. Quando olharam para frente viram que não havia mais tempo. O carro rodou na pista e bateu em um paredão. Elisa, que estava sem cinto, foi lançada para fora do carro e James bateu a cabeça no volante e desmaiou.

(...)

James abriu os olhos e viu que seu carro pegava fogo. Apressou-se para se soltar do cinto e saiu. Sua cabeça estava sangrando e se sentia tonto, mas no meio daquilo tudo ele não via Elisa. Andou um pouco e a encontrou a poucos metros do local do acidente. Correu até ela. O corpo da garota estava ensanguentado, seus cabelos estavam grudados pelo líquido vermelho. Ele colocou a mão no pescoço dela e constatou que ela estava morta.

— Não faz isso comigo — ele falou, lágrimas saiam dos seus olhos — Não me deixa... NÃO!

Mas não adiantava, tudo era em vão. Ele pegou o corpo dela e a abraçou. Aos poucos ambulâncias e viaturas chegavam ao local. James pegou Elisa e a carregou no colo, esperando as ambulâncias chegarem. Os paramédicos tentaram reanimá-la, no entanto não deu certo. James também foi levado para uma ambulância, onde foi examinado. Com o corpo dele estava tudo bem, mas sua mente não parava de se culpar por aquilo. Ele foi para o hospital, onde recebeu os devidos cuidados.

Estava amanhecendo quando um policial entrou no quarto onde James estava.

— Eu sou o policial Jones — ele disse — Vim aqui só pra te fazer algumas perguntas.

— Pode fazer — James falou indiferente.

— Era você que dirigia o carro em que a jovem Elisabeth Di Lenni estava? — O policial perguntou e a única coisa que James fez foi confirmar com a cabeça — O exame toxicológico constatou que você havia feito consumo de bebida alcóolica e drogas. Isso procede? — ele novamente concordou — Então meu caro, sinto em lhe dizer, mas você está numa fria!

O policial saiu e deixou James sozinho no quarto. Ele voltou a dormir e só acordou quando a enfermeira foi levar seu almoço. A comida não era exatamente ruim, mas ele não conseguia engolir nada. Assim que a enfermeira veio recolher o que sobrara ele perguntou:

— Quando terei alta? — ele perguntou a mulher de meia-idade.

— Hoje, mas você não voltará pra casa — ela parecia ter pena — A polícia está lá fora e a imprensa também.

Ele sabia o que o esperava. James sempre esperou o dia em que seria preso, isso parece doentio, mas ele sabia que esse dia iria chegar. Só que ele sempre achou que seria preso por roubar um banco ou extorquir dinheiro de milionários, não que seria pela morte da única mulher que amou na vida. O médico apareceu no quarto duas horas depois para lhe dar a alta, entregou-lhe um conjunto de roupas e foi embora. Na porta do quarto estavam dois policiais. Não houve tempo, James saiu e foi algemado.

A entrada do hospital estava lotada de repórteres, policiais e curiosos. A cada canto ouvia-se: “foi esse que matou a filha do Bill Di Lenni?”. James olhava para o chão e tentava esquecer-se disso tudo. Na delegacia ele foi interrogado e quando puxaram sua ficha viram que ele era um dos homens mais procurados do planeta. Com aquele perfil ele seria condenado a centenas de anos na prisão.

Não demorou muito para que o grande Bill Di Lenni aparecesse na delegacia. O homem trajava um terno e vinha acompanhado de um advogado. Pediu para conversar com o suposto assassino de sua filha. James estava algemado. Bill entrou na sala de visitas e olhou diretamente para os olhos do homem.

— Prazer em te conhecer — Bill disse. Apesar das palavras cordiais ele estava exalando ódio e desejo de vingança.

— Não posso dizer o mesmo — James falou.

— Que pena — Bill respondeu — Sabe qual foi à última coisa que eu disse pra minha filha? — ele chegou mais perto de James — Que ela era uma vagabunda. Mas olhando pra você eu vejo que ela realmente era!

— Não fale dela — James disse imponente — Você não é nem metade do que ela foi.

— Você está certo, não sou mesmo — Bill continuou — Sou melhor. Mas não é por isso que vim aqui, James Labour. Vim aqui pra te dizer que você está morto. Eu conheço o juiz, conheço o promotor, conheço todos que vão decidir seu destino. E isso significa que EU decido seu destino e ele não será bom.

— Vai se foder — James falou.

— Nos vemos no seu julgamento — Bill chamou o guarda e saiu da sala.

(...)

30 dias após a fatídica conversa, James estava sentado em um tribunal. Olhava diretamente para o juiz, suposto amigo de Bill, e também percebia que estava sendo encarado pelo banqueiro. O seu advogado tentava fazer a defesa, mas como James já sabia, a decisão já estava tomada antes mesmo dele adentrar aquele prédio. Às catorze horas daquele dia o juiz leu a sentença:

— O réu fique de pé — o juiz falou e James obedeceu — O réu, James Labour, foi sentenciado a pena de morte. Caso encerrado! — a sentença foi proferida rapidamente.

Antes de ser levado pelos policiais, ele olhou para trás e viu que Bill sorria. Teve o instinto de mostrar o dedo do meio, mas estava com as mãos presas.

(...)

Chegou o dia da execução. Não era nada como na medieval em que a cidade toda se reunia para ver o espetáculo, tudo era discreto. Ele foi levado a uma sala no próprio presídio e preso a uma cadeira. Um médico/policial estava manejando a seringa para colocar o veneno que seria injetado nas veias de James. Quando terminou ele olhou para o homem e disse:

— Últimas palavras...

James fechou os olhos e imaginou Elisa em um vestido branco cantando um trecho de sua música... Choose your last words, this is the last time...

— Nascemos para morrer — e dito isso o médico injetou o veneno em James. Ele se contorceu e sentiu seus sentidos acabarem. A dor era excruciante e o vazio também. Estava acabado.

(...)

Em algum lugar do universo James acordou. O lugar não tinha aparência, era vazio e cheio ao mesmo tempo, quente e frio. Ao longe ele viu alguém se aproximando, uma mulher usando um vestido branco e uma coroa de flores na cabeça. Era ela, Elisa. Ela chegou perto dele e disse:

— Bem vindo, meu amor — ela sussurrou no ouvido dele.

E foi ali que ele entendeu o que significava amor eterno.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.