Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02)

Bons Momentos - Em defesa da honra


Uma lembrança tornou-se especial para Kiba e Kaoru, ainda que não fosse algo grandioso, mas simples como muitos dos momentos preciosos daquela família.

O casal vinha notando que o filho do meio andava amuado, cabisbaixo e pensativo. Era um adolescente de apenas catorze anos. E o fato pontual de mudança era o novo namoro de Masako, a irmã mais velha.

Desde que Shinta começou a frequentar a casa com mais frequência, Kaoru tornou-se taciturno.

E Kiba logo associou a atitude a algum complexo de irmão, acertando quase em cheio a problemática. Tomou para si a missão de conversar com o filho, garantindo a Shino que dava conta do recado. Afinal, Kaoru era macho e traria assuntos nada constrangedores para lidar. Hikaru era uma jovenzinha de quatro anos. Estava longe de testar o pobre coração de Inuzuka Kiba.

Escolheu um ótimo fim de tarde para ter a conversa. Shino chegou em casa e logo pegou a filha caçula. Masako estava na escola, treinando com o time. Kiba foi ao quarto de Kaoru e o chamou para comerem um lamen.

— Só nós dois? — O jovem Beta ficou desconfiado. — Por quê?! Eu não fiz nada de errado!

Kiba girou os olhos e respirou fundo. Entendia cada vez mais porque sua mãe cedia fácil aos tabefes na orelha. Era uma tentação!

— Quero conversar com você, moleque. Não dar bronca! Isso eu faço em casa.

— Ah... — Kaoru não baixou a guarda.

— “Ah”! — Kiba arremedou com uma careta. — Anda logo!

Depois dessa ordem o garoto obedeceu! Saltou da cama onde estava deitado lendo um mangá e seguiu o pai Ômega sem sequer se preocupar em trocar de roupa. Provavelmente iriam na casa de lamen do bairro. A comida do Naruto-ji era mais gostosa, mas também ficava mais longe do bairro onde moravam!

E assim a dupla caminhou até o restaurante, poucos quarteirões dali. Para quem olhasse, seria como se passado e futuro se reunissem no presente. Pai e filho eram muito parecidos, a constituição física como um todo: cabelos castanhos bagunçados, olhos exóticos e selvagens, pele que queimava fácil do sol. O jeito de mexer as mãos, até o andar era quase o mesmo, com passos meio pesados. Kiba ainda era mais alto do que o garoto e tinha esperanças de que ao menos aquele moleque fosse herdar algo dos seus genes referente à altura. Além do resto que já recebeu, claro... Mas isso eram ponderações internas meio invejosas de alguém que nunca se conformou com a estatura que, por pouco, raspava a mediana.

As semelhanças não ficavam por ali. O Beta herdou o gosto por estilo de roupas do pai. Naquele instante vestiam as camisetas favoritas em estilo simplista, as bermudas escuras e chinelos confortáveis.

— Escolhe uma mesa que eu vou fazer o pedido. — Kiba deu as orientações.

Em poucos minutos sentava-se em frente ao filho, com duas tigelas grandes de lamen com o dobro de carne, para ter a tal conversa.

— Parece bom!! — Kaoru sentiu a boca salivar só pelo cheirinho apetitoso.

Durante vários minutos apenas degustaram a comida, respeitando a refeição bem preparada e gostosa. Porém, a certa altura, o Ômega abordou o assunto que causou a reunião.

— O que está acontecendo, Kaoru? — Lançou assim que engoliu um pouco de macarrão. — Por que você parece tão chateado desde que a Masako começou a namorar?

O rapazinho desviou os olhos para a tigela, mexendo a comida com o par de hashi.

— Não é nada, Kiba-tou...

— Você viu alguma coisa errada? Ou teve alguma intuição? — Kiba era um Ômega, muito ligado ao lado sentimental de todas as castas. Possuía uma intuição afiada. Que não deu sinal a respeito de Shinta. Ficou surpreso? Sim. Sentiu ciúmes da filha? Um pouco. Relutou em entregá-la a um punk de cabelo colorido? MUITO! Conquanto não tivesse nenhum instinto de preservação alertando para o risco, que o deixasse preocupado ou fizesse pensar seriamente em proibir a relação.

— Não, não vi. — Kaoru devolveu a mirada, sem hesitar.

— Caralho, moleque. Eu tava preocupado com isso. Que propaganda enganosa, nunca que esse lamen tem o dobro de carne! — Kiba fingiu não se importar mais com o assunto. Conhecia bem o filho, ele era o tipo de pessoa que não adiantava pressionar. Quanto mais exigisse respostas, mais ele fugiria do assunto. Às vezes se perguntava de quem o menino herdou tanto rodeio!

Por algum tempo apenas aproveitaram a comida, que era boa, mas não era tão gostosa quanto a preferida feita por Uzumaki Naruto (nem tinha tanta carne, embora não soubessem que Naruto apenas caprichava mais para a família). Kaoru pediu um chá verde e Kiba optou por suco de tomate para finalizar a refeição.

E só então Kaoru expôs os sentimentos.

— Eu... Me sinto mal, Kiba-tou! — Explicou. — Sou irmão da Masako, mas não consegui defender a honra dela.

Kiba quase engasgou com o suco. Como assim?!

— Defender a honra...? — Perguntou um tanto fraco.

— Sim! Tipo chamar o Shinta e ter uma conversa de homem pra homem! Deixar claro que se ele magoar a Masako eu quebro a cara dele e que a minha irmã é muito importante!

O alívio de Kiba foi imensurável, para disfarçar bebeu um longo gole do suco.

— Caralho! — Resmungou.

— Mas me sinto mal de ameaçar um Ômega! — Kaoru baixou os olhos, girando o copo sobre a mesa.

Havia um ponto cultural muito forte, que foi trabalhado e educado tanto por Shino quanto por Kiba. As diferenças entre as castas eram contundentes e reais, mesmo nos tempos modernos. Kaoru sabia que apesar de ser quatro anos mais novo, ser mais baixo e outras características; era mais forte que Shinta. E lutava judô! Como iria ameaçar alguém mais fraco, com menos chances de defesa?

Além disso, havia o segundo ponto, que não era cultural: quando Kaoru era criança sentiu o sofrimento de um Ômega, angústia, tristeza, medo insegurança... Tantos sentimentos ruins e negativos, que atingiram seu coração e o fizeram desconstruir seu comportamento irrequieto. E era o sofrimento de seu pai. Quando Shino e Kiba tiveram um dos piores desentendimentos da relação, Kaoru presenciou cada segundo através do vínculo. E isso o marcou para a vida toda.

Queria chamar Shinta, impor condições e defender a honra de sua onee-chan. Mas só de pensar em ameaçar, ainda que levemente, um Ômega, seu lado animal relutava, hesitava. Acabou desistindo dessa conversa “de homem para homem”. E passou a se frustrar no papel de irmão protetor.

Kiba leu os sentimentos conflitantes na face do adolescente, sabendo que Kaoru tinha esse receio desde a infância. Nunca chegaram a comentar sobre o ocorrido, apenas notou como a atitude dele com a casta mudou. Kaoru passou a ser mais cuidadoso, até com o próprio pai.

— É válido. — Começou a dizer sem saber bem as palavras certas para ajudar na situação. Era um Ômega, mas nascido com mínima delicadeza! Shino que era um Alpha agia com percepção impressionante! — Me dá orgulho que respeite tanto as diferenças entre as castas e os princípios das Artes Marciais. Mas ficar dividido é um caralho. Você pode seguir mais esses instintos e medir o que eles lhe dizem sobre Shinta.

— Meus instintos? — Kaoru se interessou.

— Sim, o nosso instinto é muito forte. Se ele te alertar contra o Shinta, procure um jeito de dialogar sem ameaçar. Para proteger não precisa agredir! — Kiba soou impressionado consigo mesmo pela sabedoria expressada. O passar dos anos fazia muito bem para sua mentalidade!

— Acho que não senti nada disso não. Ele parece um cara legal. É divertido conversar com o Shinta.

Kiba lutou com uma vontade enorme de acertar um tabefe na nuca do filho. Quanto drama por nada! Que adolescente terrível! Seria a fase rebelde?!

— Ótimo. — Disse apenas. — Masako também tem um instinto afiadíssimo. Vamos confiar um pouco nela. E dar uma chance pro Shinta.

— Eu posso fazer isso. — Kaoru sorriu.

O Ômega estufou o peito, muito orgulhoso do laço entre os filhos, de ver como um irmão queria bem ao outro, provando a solidez do amor que os ligava.

— E temos a Hikaru, claro. — Lembrou-se da filhotinha caçula. — Ela é muito carinhosa, gentil e inocente. Temos que ficar de olho pra nenhum assanhado se aproveitar disso.

— Oh! — O jovem ficou muito atento.

— Se ela namorar um Beta ou um Alpha você pode usar todo o sermão acumulado! E pode intimidar sem pensar duas vezes!! Mas não intimide tanto o Alpha, porque eles têm uns instintos territoriais e podem rosnar de volta. — Kiba hesitou. — O que é ótimo! Se o namorado Alpha da Hikaru rosnar pra você fica provado que ele é mau caráter e será chutado!

Que excelente plano criou para se livrar do namorado Alpha inexistente da filha que mal chegou aos quatro aninhos!

— Combinado!! — Kaoru esfregou as mãos, empolgadíssimo! — Tomara que ela cresça logo e arrume um namorado.

— Oe, devagar aí, caralho! — Kiba fechou a cara. — Nada de apressar as coisas, moleque. Só relaxa. Você tá melhor agora? — A pergunta foi retórica. Conseguia ver o rosto relaxado e mais animado do menino.

Queria curtir bem a infância da filha, pois quando Masako e Kaoru nasceram, Kiba trabalhava na clínica em dedicação total. Agora ia de modo mais informal, passava mais tempo com Hikaru, curtia os dias de descoberta infantil e encanto inocente. Para que pressa?

— Sim!! Sobremesa?!

O Ômega sorriu de volta, também passando a esfregar as mãos:

— Sobremesa!

Uma ótima forma de coroar a conversa que foi produtiva para ambos. E da qual Kiba se gabaria de vez em quando para Shino, por ter resolvido com maestria um dos problemas dos filhos. Que excelente pai se tornou!