Angela não hesitou e logo foi abraçar Zack. Mesmo ele não gostando de muito contato haviam se passado uns seis anos, e quando ela o viu não conseguiu esconder a saudade há muito tempo reprimida. A expressão de Zack era de surpresa. Ele não esperava por abraços mesmo de Angela, que sempre foi a mais afetiva. Ele previa algo como medo ou olhares de decepção.

– Achei que nunca mais fosse te ver- disse Angela

– Eu também - balbuciou Zack

– Ele não é só seu, Angela- disse Cam, já esticando os braços.

Zack não costumava receber abraços daquele jeito desde que tinha saído de Michigan.

– Como tem passado? - perguntou Sweets enquanto apertava sua mão. A mão dele estava suada, o que indicava um leve nervosismo.

Hodgins estava radiante naquele momento. Tudo estava dando certo, seus amigos se reencontrando... mas Brennan ainda continuava parada na porta admirando seus sapatos para não ter que olhar Zack nos olhos. Zack estava um pouco incomodado com toda aquela situação, pois para aquelas pessoas ele ainda era um assassino frio e perigoso e não estava entendendo o motivo de tanta atenção. A menos que Sweets resolvesse falar alguma coisa... as mãos suadas, o sorriso forçado, como Zack não havia percebido antes? Estava mais do que obvio que Sweets contara.

– Estou indo muito bem trancado aqui – brincou Zack forçando um sorriso. Ele não fazia ideia do quão mal era naquilo.

– Que bom – disse Sweets, olhando para baixo.

– Mas eu estou muito feliz por vocês terem vindo, não é todo dia que um assassino recebe visitas tão calorosas.

Todos olharam para baixo.

– Sobre isso, Zack, há certas coisas que não podemos guardar conosco por muito tempo. Há verdades que precisam ser ditas, como a sua inocência no assassinato - disse Sweets.

– Eu já imaginava que você tivesse contado.

Zack sabia que eles não iriam vê-lo sem saber que ele não representava mais uma ameaça para a sociedade. Ele aprendeu na prática que se deve desconfiar quando as coisas estavam indo bem demais. Brennan ainda continuava parada na porta, seu primeiro impulso foi sair correndo e abraçar Zack, mas em seguida já teve vontade de esbofeteá-lo, seus amigos já haviam falado que em alguma hora ela iria ter que enfrentar a situação, então tomou coragem e seguiu em frente. Suas botas de salto alto faziam um barulho estranho quando batiam no piso de concreto, passo a passo, bem devagar, até parar defronte a Zack. Um aperto de mão seria o suficiente. Simples e formal, o que representaria o que sempre foi a amizade de Brennan e Zack. No fundo ela sabia que não era assim. Ele era como seu irmão mais novo que naquele momento estava voltando para casa e era sua obrigação recebê-lo bem. Outro abraço. Zack já estava ficando um pouco cansado daquilo.

– Vai ser bom ter você de volta na equipe, Zack- disse Brennan.

– Eu posso ter saído dela, mas vocês nunca saíram de mim- respondeu Zack.

Aquilo seria um sonho? Se fosse, Hodgins não queria acordar tão cedo.

O tempo de visitas já havia se esgotado e todos já haviam ido embora, deixando Zack mais uma vez sozinho em seu quarto.

– Está na hora de tomar seus remédios - disse uma enfermeira que entrou no quarto.

Zack logo havia parado de tomar a medicação pesada, mas ainda tomava pequenas doses de um calmante à noite. A enfermeira saiu e as luzes foram apagadas restando apenas a pouca luz da lua que ainda passava por sua janela. O calmante começava a fazer efeito. Zack odiava mais que tudo aquela hora. Sempre tinha pesadelos que faziam sua cabeça doer no dia seguinte. Suas pálpebras foram ficando pesadas e sua energia foi indo embora como o ar de uma bexiga. Ele tentava resistir, mas era inútil, sempre acabava dormindo rápido. Naquela noite uma casa de madeira pegava fogo com uma pessoa dentro. Ela pedia por ajuda, mas Zack não conseguia se mover. Os pedidos de socorro, os gritos e a fumaça entravam na cabeça de Zack e o deixavam tonto e ele tinha que ver a casa ser consumida pelas chamas sem poder fazer nada.

Hodgins acordou com uma mensagem de Caroline dizendo para ele encontrá-la na sala de reuniões do FBI. Na ultima semana Hodgins havia pedido para que ela reabrisse o caso e tentasse fazer com que Zack fosse solto. O cérebro de Hodgins estava muito ocupado com lama, insetos e teorias da conspiração para pensar em leis. Tomou café com Angela e o filho e já saiu. Chegando lá se sentou e esperou Caroline.

– Bom dia, “cherie”, andei analisando o caso e o melhor que podemos fazer é isso aqui - disse apontando para um envelope de papel pardo.

– Isso seria exatamente o quê? - perguntou Hodgins, o efeito da cafeína ainda não havia aparecido.

– Podemos primeiro fazer Zack passar por um teste que o declarará mentalmente capaz e em seguida mudar a acusação dele para conspiração de assassinato e assim conseguirmos a redução da pena e o direito da liberdade condicional e, futuramente, a liberdade total.

– Muito obrigado, Caroline, você está ajudando muito.

– Levarei isso para o juiz depois de amanhã. Certo?

– Pra mim está ótimo! - exclamou Hodgins.

Ao sair da sala Hodgins deu de cara com Booth.

– Bom dia, Hodgins - disse Booth

– Bom dia, Booth - respondeu Hodgins.

– Temperence me contou sobre a visita de vocês e suas ideias para tirar Zack do Hospício - falou Booth em um tom levemente intimidador.

Depois de tantos anos juntos, Hodgins tinha se acostumado com o jeito agressivo de Booth, principalmente quando o assunto envolvia Brennan.

– Estava falando com Caroline sobre isso - disse Hodgins

– A ideia de tirar Zack daquele lugar foi sua, então, se alguma coisa, qualquer coisa acontecer ou magoar a Temperence, a culpa será toda sua e você vai sofrer as consequências.

– Eu sei que você está com medo, mas não precisa descontar isso em mim.

– Eu não estou com medo – disse Booth um pouco irritado.

– Claro que você está. Dá para ver nos seus olhos - retrucou Hodgins

– É melhor você parar por aí, Hodgins. Se eu não estivesse no meu trabalho você já teria levado um soco.

– Está bem. Diga a Brennan que eu mando notícias - despediu-se Hodgins.

Hodgins era uma pessoa legal, mas as vezes cansava Booth com aquele jeito de dono da verdade. Ele estava sim preocupado com que Brennan se apegasse novamente a Zack e este fizesse alguma coisa idiota e Brennan acabasse triste, mas não gostava de aparentar a sua preocupação. Havia um leve tempo que ele não tinha nenhum caso importante. “Quando uma pessoa vai ser assassinada brutalmente de novo?” pensava Booth, até perceber que pensar assim era meio doentio.

Hodgins estava nervoso e angustiado com as possibilidades que o cercavam: e se Zack não passasse no exame? E se o caso não fosse reaberto? E se eles perdessem a causa e Zack ficasse preso para sempre? Por mais que tentasse os “e se” continuavam rodeando-o como os planetas ao redor do sol. Avisaria para o restante da equipe que logo os papeis estariam nas mãos do Juiz. Só faltava conversar com Zack sobre seu pequeno exame de sanidade mental mas antes ele ia para a casa ficar um pouco com sua família. As últimas semanas haviam sido muito movimentadas e ele mal tinha parado em casa.

Zack estava lendo um livro sobre engenharia química, nada que ele já não soubesse, era só para passar o tempo. Ele tinha gostado de reencontrar seus velhos amigos, mas por dentro ele estava com raiva. Antigamente, para ele, a raiva era algo extremamente irracional e ele raramente perdia o controle, mas estar em um hospital psiquiátrico e tomar altas doses de remédios pesados durante um tempo mexeu um pouco com a sua cabeça. Seus amigos só foram o visitar quando tiveram certeza de que ele não era um assassino e ainda diziam que sempre acreditaram nele durante todos aqueles anos. Um enfermeiro passou pelo seu quarto depositando um pequeno copo com um líquido amarelado e outro maior com água. A primeira dose de remédios do dia. Logo pela manhã. Sempre acordava com muita dor na cabeça devido aos seus pesadelos e, apesar de no começo ser contra as medicações, a dor era tanta que acabou cedendo; agora ele esperava ansiosamente pelo liquido amargo. O remédio o fazia se sentir muito melhor, mas tirava sua fome. Não era a toa que tinha emagrecido tanto, e antes o uniforme branco que ficava apertado agora era bem largo, como se uma criança tivesse pegado as roupas do pai. Às vezes era assim que se sentia. Como uma criança sozinha que queria carinho e atenção. “Não” – logo pensava ele. Ele estava bravo e queria ver até aonde ia a lealdade de seus colegas.

Brennan recebeu uma mensagem de Hodgins dizendo que Caroline ia entregar os papeis da reabertura do caso do Zack para o juiz. Estava tudo bem. Ela estava calma e feliz, certo? Mas porque que no fundo ela sentia que alguma coisa estava errada?