Começou há dois meses, você sabe. Você lembra exatamente de como começou, era apenas uma pequena irritação na garganta, algo tão pequeno, tão insignificante que você ignorou. No dia seguinte, evoluiu para uma tosse esporádica, logo você estava tendo acessos de tosses contínuos. E agora você estava aqui, sozinha, em uma casa segura, longe daqueles que um dia você chamou de família. Você sabe que deveria ter ficado com eles, estar juntos depois de tudo que vocês passaram, mas exatamente pelas tantas coisas que vocês passaram que você precisava sair.

A tosse afligiu seu corpo tão fortemente fazendo-o convulsionar. Uma mão subiu para seu peito como se isso aliviasse a dor que queimava intensamente dentro de seu peito, a outra tampou a boca como se isso impedisse que as pétalas escapassem.

Há dois meses, você lembra, e só foi há um mês que as pétalas começaram a vir. E você sabe o que isso significa, você sabe o que acontecerá, mas ainda assim você se recusa a ceder, você sabe quais são suas opções, afinal, você já viu isso antes. Você lembra, apesar da sua pouca idade na época, oito anos, sim, era sua décima segunda casa, você já tinha aprendido que ninguém iria te querer e você só estava tentando sobreviver mais um dia, para quê você não sabia, mas você foi seguindo.

A casa não era ruim, eles lhe davam comida, não lhe batiam, o casal era simpático e eles pareciam realmente a querer. Você lembra que estava com eles apenas há algumas semanas, por isso não manteve a esperança, continuou esperando tudo desmoronar a qualquer momento e aconteceu. Em uma noite, você não conseguiu dormir, só estava você e a mulher em casa, o marido estava em uma viagem de negócio, você se levantara por um copo de água e quando voltava da cozinha ouvira um barulho no banheiro, sabia que deveria voltar para o quarto, não era da sua conta o que estava acontecendo, mas você não conseguiu conter a curiosidade, e o mais silenciosamente que podia espiou pela fresta da porta do banheiro e viu como a mãe adotiva estava curvada sobre o vaso e tossia convulsivamente, vomitando não só sangue como também pétalas de flores. Você não lembra de fazer um som, entretanto deve ter sido isso que aconteceu porque em um momento ela te avistou e entre tosses mandou que fosse para o quarto, assustada você lembra de obedecer, você lembra também que na manhã seguinte você foi mandada de volta para o orfanato.

E agora, aqui estava você, sofrendo da mesma doença, Doença de Hanahaki, a doença do amor não correspondido, popularmente conhecida como a doença das flores, não, a ironia não está perdida para você. Uma flor sofrendo da doença das flores, você ri, porém se transforma em tosse tão forte que faz seu corpo se curvar, a garganta parece em brasas quando as pétalas de tulipas amarelas misturadas com jacinto – amor sem esperança e tristeza profunda, respectivamente - foram cuspidas em sua mão todas manchada com sangue.

Você tosse, e tenta respirar, mas apenas consegue chiar em agonia, seus pulmões estão inundados em sangue, seu peito está constrangido pelas videiras que cresceram internamente, você abre a boca em agonia, porém tudo que sai é mais tosse acompanhado de pétalas e sangue. Você sabe que é o fim da linha para você e é patético, Daisy Johnson, Quake, a Destruidora de Mundos vai morrer, sozinha, por um amor que desde sempre soube que estava fadado a não lhe corresponder. Mas houve esperança e você esperou que fosse suficiente, contudo não foi, nunca é.

Você não consegue respirar, boca aberta procurando ar, mas não há nada além de sangue inundam seus pulmões e sobem enchendo sua boca, suas mãos agarram seu peito e garganta, arranhando, como se isso fosse suficiente, e sozinha nessa casa segura você agoniza sabendo que o objeto de suas feições nunca saberá que quando você disse “Eu não posso deixar você”, você quis dizer “Eu te amo”, e com um gorgolejar você deixa escapa sua última respiração, a última coisa que pensa é:

Eu te amo, Jemma Simmmons.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.