Prólogo

Fazia exatamente três meses que elas haviam feito o teste e era de se esperar que já tivessem recebido uma resposta depois de tanto tempo. Todas as cinco estavam nervosas, era da Coréia de quem estavam falando afinal...

Por incrível que pareça elas compartilhavam um amor mutuo pela Coréia do Sul desde que a avó de Vanessa começou a compartilhar as várias histórias que tinha sobre quando morava naquele país, anos depois da segunda guerra mundial. Era uma das coisas que a velha senhora amava fazer, contar histórias sobre o lugar em que viveu durante seus anos de juventude e era justamente por causa dessas histórias que aquelas cinco garotas ficaram obcecadas em saber mais e mais sobre o lugar, o que as levou ao momento em que estavam agora, a espera de uma resposta...

Vanessa estava deitada de bruços em sua cama, apoiava a cabeça em uma das mãos enquanto a outra estava ocupada segurando o celular junto ao seu ouvido. Usava apenas seu pijama florido e estava pronta para dormir, na verdade, seria exatamente isso que estaria fazendo se Beatriz não tivesse ligado.

— Por que ainda não chegou? – resmungou Vanessa para a garota do outro lado da linha.

— Eu não sei...— resmungou Bia bufando – Eu estou tão ansiosa...

— E você acha que eu não estou? – murmurou a mais nova suspirando – Sempre quis conhecer a Coreia do Sul, você sabe, tenho esse sonho desde pequena por causa da vovó... Mas com certeza vai ser ainda melhor conhecer o meu "país dos sonhos" se eu tiver vocês quatro ao meu lado para compartilhar de um dos momentos mais importantes da minha vida...

— Oh, meu Deus, que Kawaii! — disse uma Bia risonha fazendo a mais nova revirar os olhos enquanto ria também – Eu sei Nessa, eu também estou ansiosa. Eu estava muito inquieta nessa última semana e acho que até deu para você perceber isso... Minha mãe disse que se eu não parasse quieta em algum lugar ela compraria uma camisa de força e um par de sapatos de chumbo pra mim.

Nessa concordou com a cabeça apesar de saber que Bia não poder vê-la. Ela havia percebido sim a inquietação da amiga; a mais velha realmente não parecia conseguir ficar muito tempo parada mas últimas semanas, estava sempre com seus fones de ouvido treinando ou criando alguma coreografia de uma de suas músicas favoritas. Não que Vanessa estivesse muito diferente, mas tentava ao máximo manter seus passos longe dos holofotes, bem diferente de Bia que agora se juntava com a irmã mais velha de Nessa, Ádrian, em suas costumeiras danças sem motivo aparente no meio da rua. Mas a mais nova ao menos compreendia o motivo de toda aquela agitação, sabia que o resultado do teste que haviam feito poderia mudar a vida de todas elas para sempre.

A escola em que elas inscreveram era a faculdade de artes mais renomada da Coreia e também era a única para a qual se candidataram por meio do concurso de bolsas, a única que poderia aceita-las ou mesmo rejeitá-las.

Foi muito difícil para Vanessa fazer aquela inscrição, apesar de ser muito talentosa – coisa que suas amigas gostavam de lhe lembrar quase que o tempo inteiro –, ela sentia um medo descomunal do palco, tanto que passara mal inúmeras vezes antes de as meninas decidirem que, ao invés de irem fazer teste pessoal – que precisaria ser feito na própria empresa de intercâmbio com jurados e testemunhas –, elas fariam suas inscrições por meio de vídeos que enviaram para a empresa. Primeiro enviaram um vídeo em grupo onde todas participaram com música e coreografia mostrando seu trabalho em equipe, depois fizeram vídeos individuais com músicas diferentes para mostrar o talento pessoal de cada uma. Vanessa quase desistira de última hora, mas suas amigas garantiram que o seu vídeo chegasse às mãos da empresa.

Nessa temia muito o resultado do teste porque, apesar de realmente querer entrar na faculdade Seoul's Artistic University, ela tinha medo do que teria que fazer caso passasse no teste. Em quantos palcos ainda teria que pisar para conseguir boas notas no primeiro ano? Quantas apresentações ainda teria que fazer na frente de outras pessoas? Quantas pessoas iriam querer vê-la dançando e cantando naquele lugar?

Merda!

— Bom, de qualquer forma... – começou Vanessa afastando seus pensamentos pessimistas de sua mente balançando a cabeça, mas logo foi interrompida pelo longo bocejo que escapou de seus próprios lábios –... Eu acho que vou dormir... Boa noite, Bia.

— Boa noite Child — disse a outra antes de desligar fazendo Nessa revirar os olhos. Ela achava irritante quando a chamavam de criança, coisa que acontecia quase que a todo o momento; tudo bem que ser a Maknae do grupo era algo bom de vez em quando, por exemplo, era bem mais fácil convencer suas unnies a fazerem um favor para ela quando a mesma, além de fofa, era também a mais nova do grupo – além do fato de que ela podia ser bem persuasiva quando lhe convinha – mas Nessa não era tão mais nova assim, tinham menos de cinco meses de diferença entre ela e Bia – apesar de terem nascido em anos diferentes –, então achava completamente injusto ser tratada como um bebê enquanto Beatriz era tratada como adulta por suas amigas.

Com um suspiro Vanessa se levantou da cama para pegar o carregador de seu celular encontrando-o em cima da escrivaninha segundos depois soltando um pequeno sorriso ao vê-lo, feliz por tê-lo encontrado tão rápido. Ela então desligou a luz do quarto antes de voltar para a cama, colocou o celular para carregar na tomada ao lado da cama e o pôs de baixo do travesseiro; cobriu-se com o lençol e puxou seu coelhinho azul, Neath, de cima da cômoda que ficava ao lado da cama, abraçou-se a ele e lhe deu um beijo nas orelhas como fazia todas as noites antes de dormir desde seus oito anos. Nessa não se importava se os outros considerassem aquele ato muito infantil, Neath era muito especial para ela já que era um presente dado por sua avó; a mais velha havia morrido meses antes de ataque fulminante, sendo assim, aquele coelhinho era a coisa mais preciosa que Nessa possuía, já que era uma das poucas lembranças que tinha de uma das pessoas mais importantes de sua vida...

Sua avó fora uma das poucas pessoas que a incentivaram a seguir seus sonhos independente de qualquer coisa ou pessoa. Nessa lembrava bem de quando ainda estava em duvida sobre a escolha de sua faculdade, seus pais lhe pressionavam para tentar áreas mais requisitadas e – em sua opinião – chatas, como medicina ou direito, mas a única coisa que Vanessa queria era trabalhar em sua música, era algo importante para ela que fosse assim,. Porém, com seus pais lhe pressionando e dizendo que aquele sonho estava distante de mais, era quase impossível para ela ver que aquela ideia poderia dar certo, até que sua avó interveio e lhe aconselhou da melhor forma possível. Mesmo que Vanessa quisesse – e ela não queria –, seria impossível esquecer das palavras da mais velha naquela ocasião:

"— Esse é seu sonho? – disse sua avó enquanto a encarava nos olhos com um sorriso maternal estampado no rosto que, mesmo já marcado pela idade avançada, ainda era muito agradável — Então vá e faça-o se tornar realidade! Não quero você voltando aqui daqui a 20 anos com marido e filhos falando que deveria ter tentado seguir esse sonho quando ainda tinha tempo; viva uma vida sem muitos arrependimentos... Apenas seja feliz!"

Era um conselho que Vanessa prezava, um conselho que ela estava empenhada em seguir...

— Boa noite Neath – sussurrou a garota dando um segundo beijo no coelhinho de pelúcia antes de finalmente fechar os olhos para dormir, olhos esses que menos de um minuto depois tornaram a se abrir quando Nessa ouviu seu celular apitar avisando sobre uma nova notificação.

Ela puxou o aparelho de debaixo do travesseiro e apertou os olhos por causa da claridade que a cegou por poucos segundos antes de conseguir ler a nova notificação.

"Um novo e-mail"

Nessa tocou em cima da frase para abrir o e-mail e esperou pacientemente a tela carregar. Quando finalmente conseguiu ler o conteúdo do tal e-mail seu sorriso não pode ser maior.

“Cara Srta. Vanessa Figueiredo,

Ficamos felizes em informar que a senhorita foi aceita na escola terciária "Seoul's Artistic University" por meio do Programa de Bolsas de Estudo e Intercâmbio (P.B.E.I) com destino a Seul, Coreia do Sul.

Abaixo estão anexados seus testes, tanto em grupo quanto o individual e o local onde você deverá pegar seus formulários de aceitação, e todos os itens necessários para sua viagem.

Esperamos sua resposta até o dia 5 de Novembro, no mais tardar.

Atenciosamente,

Equipe de Direção da PBEI"

Um grito de felicidade um tanto estridente escapou de seus lábios quando ela pulou da cama puxando o celular do fio do carregador com violência enquanto relia diversas vezes o e-mail com medo que tivesse entendido errado; mas não, estava escrito ali, preto no branco na tela de seu celular!

Ela rapidamente abriu seu Whats App e acessou o grupo em que ela e suas amigas haviam criado para conversarem nos momentos vagos.

“Abram seus e-mails, vacas” escreveu “, porque eu vou para a Coreia!” e enviou, esperando com ansiedade as respostas das outras quatro quando, minutos depois, sua irmã entrou no seu quarto como um furacão fazendo-a se assustar dando um pulo na cama.

— Eu passei! – gritava Ádrian com um grande sorriso nos lábios. Ela era cerca de um ano mais velha que Vanessa, tendo apenas 11 meses de diferenças entre as duas. Elas, apesar dos muitos conflitos que tinham tanto dentro quanto fora de casa, eram muito amigas e tinham muitas coisas em comum, o que facilitou a integração das duas num mesmo grupo de amigos.

As duas se abraçaram e começaram a pular pelo quarto da Maknae comemorando um pouco entre elas antes de se jogarem na cama de Vanessa esperando pelas respostas de suas outras amigas, as quais, uma por uma, mandavam mensagens de alegria e ansiedade por terem recebido a resposta que confirmava sua ida...

Sim, todas elas haviam passado nos testes e, por mais incrível que parecesse, elas de fato iriam para a Coreia!

E aquele era apenas o começo de um novo capitulo de suas vidas...

"Acredito que a minha voz um dia vai se espalhar
Mesmo que eu já tenha momentos
Em que eu questione meu sonho
Ou a minha própria existência
Eu nunca questionei minha voz, tão real"

I Believe - Rap Monster