Blood Kiss

Um Pedaço do meu Passado


Ainda perdida nos próprios pensamentos, lá estava eu, deitada em minha cama, pensando no meu mais novo amigo. Bem, se é que o que tínhamos poderia se chamar de amizade. Eu saí até o corredor e me certifiquei de que não havia ninguém.

Para começar, era um dia de sábado e nós não tínhamos aula nos finais de semana. Eram 5:00 da manhã e todos, obviamente, ainda estavam dormindo. Estava usando uma saia típica das escolas japonesas na cor preta, uma camisa roxa, botas beges e o cabelo solto como sempre.

Andei até o elevador mais próximo e esperei ele subir. Quando finalmente entrei nele, apertei o número referente ao andar da cantina, o 65.

- “O Akira e eu lutamos contra aqueles dois. Um fugiu, mas o outro... Será que continua solto? Temo que eu esteja certa, ele pode ferir o Akira.” – pensei enquanto o elevador descia.

Entrei na cantina e mal dei um passo e lá estava ele, o garoto estátua, me encarando.

- Ah, você não. – disse em desânimo.

- Preciso falar com você. – ele disse me puxando pelo braço.

- O que quer comigo? – disse me soltando.

- Onde estava com a cabeça? Apoiando um lobo! – ele disse com nojo.

- Eu vou dizer duas coisas: 1ª: eu não sei quem você é; 2ª: o Akira é meu amigo, e se tentar fazer alguma coisa contra ele, eu te mato! – falei com ignorância.

- O que te aconteceu, Luna? – ele disse me fitando.

- Como sabe meu nome? – eu o olhei espantada.

- Isso não vem ao caso. – ele virou para o outro lado, como se fosse sair.

- Espera! – eu gritei.

- O que é? – ele perguntou se virando.

- Como você se chama? - perguntei.

- Kaoro. – ele disse, e em um instante estava ao meu lado.

- Quem é você? – eu sussurrei em seu ouvido.

- Sou um amigo distante. – ele disse sorrindo.

- Ou apenas um sonho. – eu disse fechando os olhos.

- Garanto que sou bem real. – ele disse pondo uma coisa em minha mão.

- Sabe algo sobre mim? – eu disse abrindo os olhos.

- Eu sou parte de você. – ele disse pondo as mãos em minha cabeça.

- Parte de mim? – eu falei tremendo.

- Se quer respostas, me procure. – ele disse se afastando.

- Mas Kaoro, onde eu posso te encontrar? – gritei.

- Fique bem. – ele disse sumindo, evaporando.

- KAORO! – gritei ajoelhada no chão.

Já era de manhã quando entrei no meu quarto. Sato já estava vestida, com seu vestido rosa claro, as sapatilhas pretas e o cabelo preso em uma trança.

- Aonde foi hoje de manhã? – ela disse exibindo um enorme sorriso.

- Eu fui á cantina para... Comer algo. – mentia muito ruim.

- Que bom. Eu vou descer você vem? – ela disse já na porta.

- Pode ir na frente. Eu vou depois. – eu falei entrando no closet.

- Ok. – ela disse saindo.

Abri a mão e vi o objeto que Kaoro me dera. Um colar com um símbolo de uma fênix que se abria no meio e mostrava de um lado uma foto de uma família feliz, minha família. Minha mãe, uma mulher bonita, de cabelos cacheados nas pontas e castanhos, assim como os meus, um vestido clássico vermelho, pérolas e a aliança de diamantes que meu pai dera á ela no dia em que pediu em casamento; meu pai, um homem forte de cabelos loiros e barba e um terno e por último, eu, a garotinha de cabelos iguais os da mãe, com um vestido rosa e sorrindo. Do outro lado, outra fotografia, a de dois jovens, Kaoro e eu, mas já aparentando ter a minha idade.

- “O que eu sou?” – perguntei á mim mesma, mas uma pergunta que somente Kaoro poderia me responder.

- Oi, Luna! – Akira disse encostado na porta.

- Não fala com essa idiota, Akira! – Akimi disse o empurrando.

- Oi Akira, oi Akimi. – disse sorrindo.

- Não diga “oi” sua imbecil! – Akimi gritou.

- Tudo bem, que tal essa: bom dia sua va – fui interrompida por Akira, que pôs a mão na minha boca.

- Calma gente! Não precisam brigar por mim! – Akira disse cheio de si.

- NÃO ESTAMOS BRIGANDO POR VOCÊ! – eu e Akimi gritamos, saindo até o corredor.

Akimi estava com uma saia xadrez, blusa branca, um bolero de renda por cima e uma bota preta de salto alto. O cabelo, repicado e mediano, estava solto.

Ao entrar no elevador, nós três ficamos nos fuzilando com o olhar.

- E então, eu soube que descobriu nosso segredo. – Akimi sacou a indireta.

- O Akira não pode ser chamado de “senhor descrição”, né? – eu dei um sorriso malicioso.

- Ora sua... – Akira resmungou morrendo de raiva.

- Você feche a sua boca pra falar do Akira! – Akimi gritou.

- “Espera aí... Quando eu falo mal do Akira ela fica vermelha de raiva, então quer dizer que... – me virei - ... ela o ama.

- Ei, o que está olhando? – Akimi me fitou com a cara fechada.

- Oh, não é nada. – me virei e comecei a olhar para o chão.

- Luna, há algo errado? – Akira disse sorrindo.

- Não é nada. – falei trêmula.

- Sei que tem algo te perturbando! O que foi? – ele pegou em minha mão.

- Não é nada! – disse sumindo do elevador.

- Cadê ela? – Akimi disse perplexa.

- LUNA! – Akira gritou desesperado.

Eu estava inconsciente. O único barulho que se ouvia eram a das gotas caindo no chão, um lugar vazio e frio, e eu deitada, encolhida no chão.

- Mãe, pai... – falei chorando, ainda desacordada.

Estava em um sonho muito bonito, onde havia uma floresta bela e cheia de sol. Andei muito até encontrar uma mansão, a antiga casa que um dia chamei de lar, e que agora virara pó.

- Mãe? – disse ao ver a bela mulher sentada em um balanço.

- Ah, você chegou, Luna. – ela disse me abraçando.

- Eu... Estou morta? – disse sorrindo, estar morta era o que eu mais queria.

- Não minha pequena. Isso é apenas um sonho. – ela disse beijando minha cabeça.

- Mãe, eu sinto sua falta. – disse chorando, sentindo mais uma vez o perfume de rosas que ela costumava usar.

- Luna, você me odeia? – ela disse me abraçando mais forte, e quando dei por mim, eu tinha virado uma garotinha de cinco anos novamente.

- Não mamãe! Eu te amo! – falei a abraçando mais forte.

- Eu estou tão orgulhosa de você querida! Queria poder ter passado mais tempo com você e seu irmão. Sinto muito. – ela disse me soltando.

- Irmão? – eu me virei para ela.

- Sim, seu irmão mais velho, não se lembra? – ela disse sorrindo.

- Eric. – eu falei lembrando imagens embaralhadas de nós dois, duas crianças fazendo os outros ficarem malucos.

- Sim, você tem de achá-lo. Já passaram muito tempo separados, e ele está a sua procura! – ela disse seguindo uma luz.

- Mas mãe... – eu disse acordando.

- Porque eu só te encontro nas horas erradas? – Kaoro disse me puxando delicadamente pela mão.

- Kaoro. – eu disse sorrindo.

- Parece que sua impressão sobre mim mudou. – ele falou me analisando.

- Pare de vasculhar minha cabeça! – eu disse vermelha.

- Desculpe. – ele riu.

- Que lugar é esse? – eu disse me levantando.

- O subterrâneo do colégio. – ele falou andando.

- Onde você vai? – disse pegando em seu ombro.

- Resolver certas coisas. – ele disse com os olhos nos meus.

- Vai encontrar seus primos para se matricular no colégio, depois vai atrás de mim para me contar a verdade. – falei com os olhos fechados.

- Não é educado entrar na cabeça dos outros, sabia? – ele disse furioso.

- Você fez isso comigo uma vez, então creio que posso fazer mesmo. – falei sarcasticamente.

- Já ouviu a expressão “faça o que eu diga, mas não faça o que eu faça”? – ele disse furioso.

- É você me pegou. – disse rindo.

- Bem, preciso ir mesmo. – ele disse se virando.

- Posso te perguntar uma coisa? – falei pegando o colar. – Eu te conheço de algum lugar?

- Sim. Você costumava ser tudo para mim, embora não se lembre. E eu era tudo para você. Mas acho que não consegui te salvar. – ele falou se virando.

- Mas eu não me lembro de nada. – falei com uma cara de “que saco”.

- Eu não posso te contar nada agora, mas eu um dia lhe contarei tudo. Quando esse dia chegar, espero que olhe da mesma forma que eu costumava te olhar.

- Kaoro, eu quero saber meu passado. – falei com certa calma.

- No tempo certo saberá. – ele disse seriamente.

- EU JÁ ESPEREI TEMPO DEMAIS! JÁ FAZ QUASE 10 ANOS! – gritei desesperada.

- Tudo seria bem mais fácil se você não fosse tão burra! – Kaoro gritou.

- Quer saber?Não volte á me procurar! Saberei a verdade por mim mesma! – gritei em fúria.

- ÓTIMO! – ele esbravejou.

- ÓTIMO! – gritei.

Kaoro desapareceu da mesma forma de antes, com algo que evapora. N//A:[É , eu realmente estava louca para saber fazer aquilo]. Passei alguns minutos procurando uma saída daquele lugar, e por fim acabei encontrando, uma escadaria enorme.

- Putz... – exclamei ¬¬

Subi a escadaria por um bom tempo, e cada degrau que eu pisava aumentava meu ódio. Kaoro ainda iria me pagar, ele sabia de coisas pelas quais daria a vida para saber, e mesmo assim, não me contava. Quando finalmente terminei a escalada, dei de cara com uma sala vazia com uma porta no final. Abri ela e entrei, morrendo de cansaço. N//A : [ Mais de 90 degraus, e eu contei, viu?]

- Ah. – suspirei de raiva.

E quando entrei, vi que havia ali um dos elevadores, por onde fui até chegar ao refeitório. Olhei no relógio e faltavam exatamente vinte minutos para o jantar.

- “Nossa, por quanto tempo eu fiquei apagada?” – pensei enquanto olhava o relógio meu pulso.

- Luna! – Sato gritou. – Onde você estava?

- Bem, estudando na biblioteca, temos prova surpresa amanhã. – falei com minha cara de sempre.

- Como sabe que tem prova surpresa amanhã? – ela deu um olhar mortal.

- Deduzi, que naturalmente, se o professor finalizou a matéria referente aos capítulos da avaliação mensal, seria viável que ele passasse um teste surpresa para seus alunos. – dei um sorriso cínico no final.

- Tá, eu não entendi pacas do que você falou. – ela me olhou confusa.

- Você é muito burra. – saí andando.

- Ei, onde você vai? – ela gritou.

- Vou no quarto tomar um banho bem gostoso na banheira para vir jantar. Aliás devia parar de encher meu saco, ou sofrerá terríveis lesões físicas e psicológicas. - dei uma virada, e a olhei como uma psicopata.

- Ahhhhh! – ela gritou do susto.

- Hum! – exclamei saindo até o elevador mais próximo.

- Luna!

- “Esse ano promete!” – pensei.