Blazel

Ás apresentações


POV- CHARLIE

Depois que Charlie disse aquilo, ela pareceu chocada, como se não tivesse pensado naquilo antes e ele se arrependeu de ter comentado, ele não entendia muito bem o que estava acontecendo com ela, mas com certeza não era fácil. Ela recostou-se na rocha na qual se escondera de Lenna instantes atrás. Charlie sentou-se ao seu lado. Ele pôs uma mão na nuca, daquele jeito que as pessoas fazem ou quando estão com vergonha ou desconfortáveis com algo.

- Eu sei que podemos achar um modo de você sair daqui. O que eu quis dizer foi... Ninguém na verdade nunca procurou. Não recebemos muitas visitas de fora... – ele tentava, em vão, tranqüilizá-la - Mas, espere! Como foi que você entrou aqui?

- Na verdade, eu não sei. – Ela fez uma pequena pausa para respirar e processar as informações e Charlie esperou olhando nos olhos dela, que desviava como que tentando acreditar que ele fosse real – Eu desci umas escadas e apareci aqui.

Charlie riu e olhou para baixo.

- O que foi? – ela perguntou.

- Está com preguiça de me explicar ou o que?

Dessa vez, ela também riu.

- Tá, eu me mudei faz pouco tempo, e estava andando de bicicleta, sabe o que é, né?

Charlie riu de novo.

- O que você acha que eu sou? Um homem das cavernas?

Ela sorriu constrangida e corou, mas estava muito escuro para Charlie perceber.

- Desculpe, eu só...

- Tudo bem. – Charlie sorriu.

- Eu não conheço esse lugar, eu pensei que... Bom, desculpe.- Ela balançou a cabeça- Então eu vi essa floresta, que eu nunca havia notado – Charlie fez cara de confuso e pareceu de repente muito mais interessado – Ela estava aqui... embaixo... quer dizer, tinha uma escada. Era muito apertadinha, sabe? – Charlie fez que sim com a cabeça – Eu não podia trazer a bicicleta. Eu a deixei encostada em um poste de luz. Então eu desci, mas só desci. Eu nem me aproximei da floresta. E de repente...

Ela parou de falar e ficou imóvel, meio confusa consigo mesma.

- E de repente... – Disse Charlie com cara de curiosidade

- Eu não sei. Eu não consigo me lembrar direito. De repente estava aqui. Bom, não aqui, mais lá para frente – Ela apontou para o norte- Até seu animalzinho começar a me perseguir. – Ela fez cara de emburrada.

- Ela não quis te machucar.

Ela lançou a Charlie um olhar descrente.

- Sabe, - Charlie falou como se acabasse de se lembrar de algo muito importante – ainda nem me disse seu nome.

- Nicoly – Ela disse como se fosse uma coisa insignificante – Mas me chamam de Nicky.

- Você não tem cara de Nicky.

Ela riu.

- É, já me disseram isso. – falou irônica.

- É um nome bonito.

Ela sorriu

- Charlie também é.

Houve um silêncio momentâneo.

- Então... - Nicky começou a falar – O que é essa coisa? – Ela apontou para Lenna que rosnou ofendida.

Charlie a olhou espantado.

- Lenna? Como assim? É um dragão.

- Depois do que me aconteceu eu não duvido mais de nada.

- E porque duvidaria? – Ele olhou para Lenna, mas ela lançou um olhar indiferente do tipo “Quem liga para o que ela pensa?”

Nicky pareceu por um momento, não saber o que dizer.

- Nada. Não duvido. – Mas, de repente, pareceu cair a ficha – Meu deus, um dragão! Que incrível! – Ela falou empolgada.

‘Que bipolar’, Charlie pensou. Lenna também a olhou espantada e Charlie quase pode ler seus pensamentos. “Ela não me odiava cinco segundos atrás?”, e ele riu. Nicky pareceu perceber o espanto e tentou explicar.

- É que... De onde eu venho não se vê muitos dragões.

- Sem dragões? Que sem graça. Mas se você quiser, eu posso te arranjar um.

- Tá brincando. Tá brincando, né? Ai, eu não acredito! É sério? – Ela pareceu a pessoa mais feliz do mundo.

Ele riu e levantou-se do chão. Estendeu a mão e ajudou Nicky a se levantar.

- Vem, quero te levar a um lugar. – Ela o olhou, curiosa.

Lenna não gostou muito da idéia. Mas logo Charlie e Nicky estavam montados nela, voando por aí. No começo, Charlie percebeu que Nicky ficou com um pouco de medo, mas ele a tranqüilizou dizendo que Lenna ia se comportar e não iriam voar muito alto. Nicky olhava para o céu azul-escuro estrelado, deslumbrada como se pensasse que estava sonhando. Ela segurava na cintura de Charlie de leve, como se estivesse com medo de tocá-lo. Isso o deixou um pouco envergonhado, ele não sabia por quê.

Charlie sabia que não devia falar com estranhos. Muito menos levar estranhos em seu dragão, o que era inaceitável para ele até aquele dia. Era muito perigoso. E Nicky era uma estranha. Mas era uma estranha desarmada, que não sabia lidar com dragões, indefesa, e estava com muito medo. De Lenna e, no começo, de Charlie também. Ele podia perceber. Ele queria saber sua historia. Ele havia simpatizado com aquela estranha, sabia que ela falava a verdade e iria ajudá-la a voltar para casa.