O retorno

Havia uma ladeira de terra que parecia prestes a desmoronar. Havia uma escada comprida e fina, com aparência velha. Alguns degraus estavam quebrados e desgastados.

Mais ao longe, havia uma floresta com muitas árvores de copas altas. Não dava realmente para ver onde a floresta terminava. Era apenas a escada, uns cinco metros de grama e meio mundo de árvores e mais árvores.

Nicky olhou para trás. Uma pista, com carros passando pra lá e pra cá. Estava parada extamente no ponto em que a pista fazia uma curva.

Á sua direita, um poste, onde estava encostada sua bicicleta. Exatamente onde tinha deixado. Ela estava com uma bola na mão. Não se lembrava realmente o porquê de estar segurando isso.

Mas se lembrava daquele lugar. É claro que lembrava.

Pela primeira vez em sua vida, Nicky não tinha a menor ideia do que deveria fazer.

Quando havia entrado nessa floresta pela primeira vez, um dragão louco havia perseguido ela, mas ela sabia o que fazer: correr.

E mesmo quando Charlie havia te beijado, era seu primeiro beijo, mas ela sabia o que fazer: beijá-lo também.

Até quando Harry havia morrido, ela entrou em pânico, mas ela sabia o que fazer: chorar.

Mas agora? Agora ela realmente não fazia a menor ideia do que deveria fazer.

Não sabia ao menos se estava feliz por poder ver sua mãe de novo ou se queria desesperadamente voltar.

Não sabia de nada.

Sendo que a única coisa que ela fez foi ficar ali parada segurando a bola e olhando para a floresta.

Isso até que viu o sol se pondo.

Não que Nicky tivesse necessariamente medo de escuro ou medo de ficar sozinha, mas ela tinha medo de ficar no escuro sozinha.

Então, pegou sua bicicleta e foi pedalando. Não sabia pra onde.

E de repente, como um flash , veio tudo em sua cabeça.

Ela saiu de casa quando a mãe estava dormindo. Pegou sua bicicleta e foi dar uma volta na cidade. No meio do caminho, quase atropelou um menininho loiro, que se assustou e deixou a bola cair - ah, a bola! - mas ela não o encontrou de novo, sendo que pegou a bola e guardou. Parou para tentar se lembrar o caminho de volta e encontrou a floresta. E então ela desceu as escadas. E então ela entrou na floresta.

Quase caiu da bicicleta quando veio tudo de vez assim na sua cabeça.

Se não se lembrava o caminho de casa naquele dia, iria se lembrar agora?

Não se lembrou, na verdade. Por pura sorte, passou pela rua e parou quando reconheceu sua casa.

Se passaram muitos meses lá, mas aqui não. Aqui não tinha se passado tempo algum. Segundos, talvez. Nada significativo.

Por esse motivo, a casa ainda estava bagunçada e sua mãe ainda estava dormindo.

Quando Nicky começou a voltar á realidade, começou a se perguntar se tinha sido mesmo real.

Quer dizer, estava meio vago em sua mente, como se não passasse de uma lembrança distante.

Teria sonhado? Mas estava em pé!

Sentou-se no sofá se sentindo mais cansada que nunca. Mas uma coisa chamou sua antenção.

Não. 'Chamar sua atenção' é pouco. Uma coisa fez seu queixo cair.

Olhou para uma mesa de centro, e viu um buquê de flores. Pensando lógicamente, sua mãe o teria colocado ali para enfeitar a casa.

Pena que o pensamento de Nicky era muito além do lógico.

Um lindo buquê de tulipas, cuidadosamente amarrado com um laço lilás.

Era exatamente assim.

O dia em que conheceu Jake, ele tinha dado pra ela um igualzinho.

Igualzinho.

Não. Não foi um sonho.

Ela pegou o buquê e sorriu.

Pegou suas coisas e subiu para arrumar seu quarto novo de sua casa nova.

Verdade, era sua casa.

Mas não era seu verdadeiro lar.