Blazel

Luna e o dragãozinho


POV-NICKY

Perdida em seus pensamentos, Nicky só acordou de seu momento hipnótico quando Jake cutucou seu ombro.

- Nicky, olha! – Ele disse apontando para o ovo.

Havia uma pequena rachadura que estava se alargando aos poucos. Jake se levantou e chegou mais perto para ver melhor. Depois Nicky e Charlie fizeram o mesmo. Jake apoiou as mãos nos joelhos e chegou mais perto.

O ovo se debatia agonizantemente como se estivesse desesperado para sair.

De repente começou a sair uma fumaça que parecia vir da casca do ovo. Suas manchas vermelhas pareciam se ressaltar agora.

Jake fez uma cara de confuso.

- Mas o que é isso? – Ele perguntou com uma sobrancelha erguida.

De repente o ovo pareceu explodir. Ele literalmente pegou fogo. As chamas o envolveram completamente.

Jake deu um pulo pra trás. Charlie se afastou rapidamente puxando Nicky pelo braço, evitando por pouco que ela fosse queimada.

“Pronto. Acabou. Agora o bichinho que eu fiquei tanto tempo esperando morreu queimado. Ótimo.” Nicky pensou.

Mas para a surpresa de todos, do meio das chamas pulou uma miniatura de dragão. Sua cabeça era redondinha e seu corpo era comprido, com uma cauda enorme, com três grandes espinhos na ponta. Seus olhos eram grandes e verdes, o que Nicky achou muito fofo.

Sua cor era de um vermelho escuro. Parecia que tinha alguma coisa entalada na garganta. Então ele cuspiu fogo.

Jake e Charlie se entreolharam com uma cara estranha.

Tá, primeiro: Charlie e Jake se entreolhando? Eles nunca olharam um na cara do outro e agora pareciam se comunicar telepaticamente através da mente?

E, segundo, que caras eram aquelas?

- O que foi? – Nicky perguntou olhando de um pra outro sem entender nada.

O pequeno dragãozinho abocanhou o cadarço do tênis de Nicky e o puxou, desamarrando-o. Nicky achou uma fofura.

- Isso é o que eu estou pensando?- Charlie falou a primeira frase depois de um tempão em silêncio.

- Parece que é. Temos que levá-lo pra Luna agora!- Jake disse.

- Opa! Opa! – Nicky exclamou interrompendo- Vocês não vão levar ele pra lugar nenhum até me explicar o que está acontecendo. Ele tem alguma deficiência? E quem é Luna?

Jake começou a falar:

- Te explico no caminho. – E puxou Nicky pelo braço.

Jake havia colocado o dragão em sua mochila só com a cabecinha pra fora. Parecia que seus olhos grandes e verdes olhavam assustados pra todos os cantos.

- Tá, pode ir me explicando. – Nicky falou olhando pra Jake.

- Nicky, dragões normais não cospem fogo.

- Claro que cospem!- Nicky se lembrou de vários filmes que ela tinha visto sobre dragões, e eles cuspiam fogo.

- Existe apenas um tipo de dragão que cospe fogo. É o Dragão de Fogo. Mas não nasce um a mais de mil anos!

- Por quê?

- Eles foram extintos e nunca se soube a razão. Mas o seu dragão é um deles! – Ele falou isso com uma cara meio empolgada, meio assustada.

- Que legal!

Charlie não falou uma palavra o caminho inteiro. E Nicky achou isso muito estranho.

Chegaram a uma mansão, a maior casa que Nicky já tinha visto, e a mais bonita. Era toda branca e seus detalhes eram perfeitos. Na frente havia um lago cercando a casa dos dois lados e uma ponte de pedra que dava acesso a casa. Havia várias estátuas de pedra no lago. E várias árvores na frente com flores cor-de-rosa. Era muito lindo.

- Que incrível! – Nicky exclamou.

- Não é? – Jake concordou. – Espere aqui que eu vou chamar a Luna.

- Não podemos ir com você?

- O pai dela não é muito receptivo. Ele não gosta nem que eu venha aqui.

Então ele entrou ainda com o dragãozinho na mochila.

Charlie se sentou no degrau da ponte.

- O que deu em você?- Nicky perguntou.

- Hã? – Ele fez um olhar de confuso.

- Você não fala uma palavra e fica com essa cara!

- Que cara?

- Charlie, para. Você sabe do que eu estou falando.

Ele suspirou.

- É que...

Mas quando ele ia falar Jake chegou com uma menina que segurava o dragão nos braços.

Seus olhos eram bonitos e azuis. Mas não eram azuis iguais os de Nicky. Os de Nicky eram escuros, como o céu de uma noite sem estrelas. Os dela eram de um azul claro que passava um sentimento de tranqüilidade.

Seus cabelos eram enormes, batiam no começo da coxa dela. E eram prateados, um pouco azulados nas pontas, quase brancos. Mas isso não diminuía sua beleza.

Ela vestia uma espécie de vestido que mais parecia uma camisola. Andava descalça, e parecia que quando ela passava uma espécie de ‘aura’ prateada a envolvia, como se ela fosse um anjo.

Chegou perto de Nicky com um sorriso meigo e simpático e disse:

- Será que eu poderia falar a sós com você, Nicoly?

Nicky balançou positivamente a cabeça, estranhando alguém chamá-la pelo nome verdadeiro.

Elas entraram em uma sala, e Nicky se sentou em um sofá branco. De frente pra ela, a garota estava em uma poltrona também branca. A maioria das coisas lá eram brancas.

- Eu sou Luna. – Ela sorriu. Ainda segurava o dragão nos braços. – O ovo que deu origem ao seu dragão pertencia a mim, e eu cedi para o seu amigo, que queria presenteá-la com uma coisa especial. – Sua voz era suave e ela falava como se fosse uma adulta, apesar de parecer ser da mesma idade de Nicky. – Você sempre pode confiar no Jake. Ele é uma das pessoas de coração mais puro que eu já conheci.

Nicky não sabia onde ela queria chegar com essa conversa, então continuou calada.

- Ouça, Nicoly, desde que um dragão nasce ele já sabe a quem é destinado e já nasce com fidelidade total ao seu dono. Seu dragão nunca iria te machucar, mesmo que você mandasse. – Com uma expressão mais séria ela prosseguiu-Mas ele pode machucar seus amigos.

Nicky olhou para o dragãozinho que parecia incapaz de fazer isso.

- Eu não quero que ele os machuque.

Luna acariciou a cabeça do dragãozinho.

- Posso te contar uma história? – Luna perguntou sorrindo.

Nicky não esperava essa pergunta.

- Anh... Claro. – Respondeu hesitante.

- Há dois mil anos atrás, aproximadamente, existia um morador aqui na vila que se chamava Bill. Ele era lenhador. –Nicky ouvia com atenção- E ele tinha um dragão de fogo, assim, que nem o seu. Bill confiava muito em seu dragão. Todos os dias, Bill saía de casa com seu machado e deixava o dragão em casa com seus dois filhos. Eles ficavam sozinhos em casa com o dragão de fogo. Todo dia que Bill saía de casa, seu vizinho aparecia e dizia: “Vizinho, vizinho! Um dia esse dragão vai ficar com fome e vai comer seus filhos!”. E como sempre, Bill voltava para casa, o dragão ia alegremente e pulava em seus braços e ele encontrava seus filhos sãos e salvos. No outro dia, acontecia a mesma coisa. Bill saía de casa, seu vizinho lhe dizia que seu dragão iria comer seus filhos, voltava pra casa, e tudo estava bem.- Luna fez uma pequena pausa.- Até que um dia, Bill se atrasou umas duas horas para voltar pra casa. Bill chegou e seu dragão foi recebê-lo na porta, alegre, pulando em seus braços. Mas quando Bill reparou, a boca do dragão estava toda suja de sangue - Nicky soltou um gemidinho- Bill ficou furioso por não ter dado ouvidos ao seu vizinho. Seu dragão tinha mesmo comido seus filhos! Furioso, pegou seu machado e golpeou a garganta do dragão, que se debateu até morrer. Ele foi para o quarto completamente deprimido, realmente não queria ver os corpos de seus filhos estripados, mas não se conteve. Abriu a porta e ficou completamente chocado. Seus filhos estavam lá, sãos e salvos. Olhou para o lado e viu uma enorme cobra, altamente venenosa, completamente dilacerada e ensangüentada. A realidade o atingiu muito bruscamente, mas Bill já não podia fazer nada.

Nicky estava chocada. Era uma história muito triste e deprimente. Foi horrível.

- Que horror!- Nicky falou.

- O que estou tentando te dizer, - Luna prosseguiu- É que você sempre vai cometer erros, e a vida nos prega muitas peças. Mas, - Ela se aproximou mais de Nicky- você tem que saber em quem confiar.

Nicky assentiu.

- E um dragão vai sempre ser fiel a você. Não cometa o mesmo erro que muitos outros. Não se deixe influenciar por pessoas erradas.

- Mas você disse que ele era perigoso.

- E ele é.

- E me manda confiar nele?

- Que bom que entendeu! – Luna sorriu e levantou. – Vamos lá pra fora.

Na verdade Nicky não tinha entendido nada. Apesar de Luna transpirar sabedoria, como podia confiar em algo que poderia matar seus amigos?