Blazel

As maçãs


POV- NICKY

Nicky acordou de manhã na sua cama macia, esfregou os olhos e desceu as escadas. Encontrou sua mãe sentada em uma cadeira na cabeceira da mesa central. Sua cabeça estava meio abaixada.

-Mãe? – Nicky perguntou confusa.

Ela esperou uma resposta, mas a mãe nada disse. Continuou olhando fixamente para o nada, com aquele olhar vazio, sem expressão.

- Mãe! – Ela continuou parada – MÃE!

Nicky sentiu um calafrio. Decidiu colocar as mãos nos ombros de sua mãe e dar uma sacudida nela pra ela voltar á realidade.

Porém, ela viu suas mãos atravessando a carne da mãe, como se fosse um fantasma. Nicky olhou assustada para suas mãos, pareciam normais, mas... Ela não conseguia tocá-la.

A mãe continuou olhando fixamente para o chão. Ela piscou os olhos e puxou uma mecha dos seus macios cabelos dourado-alaranjados para trás da orelha. E nesse gesto, Nicky viu uma lágrima escorrendo de seus olhos castanhos.”

Nicky acordou gritando e chorando desesperadamente. Eram cinco horas da manhã. Ela abraçou o travesseiro e ficou sentada na cama tentando controlar as lágrimas que teimavam em escorrer pelas suas bochechas rosadas. Ela soluçava.

A porta se abriu com um estrondo. Charlie parecia confuso. Olhou para os olhos azuis de Nicky que marejavam. Charlie se aproximou dela e a envolveu com seus braços. Nicky retribuiu o abraço e terminou seu choro no ombro de Charlie.

Depois que percebeu que ela tinha se controlado e não ia mais chorar, Charlie a soltou.

- Você quer beber alguma coisa? Quer que eu te traga uma água?- Ele perguntou atencioso e claramente preocupado.

- Não. – Ela disse, ainda com a voz meio chorosa, e prendeu o cabelo em um rabo-de-cavalo alto- Eu vou tomar um banho, ok?

- Certo. – Charlie respondeu, levantando-se para sair do quarto. - Se você precisar de alguma coisa...

- Não. Eu tô bem agora.

Embora Charlie achasse que ela não estava com cara de “bem”, ele saiu do quarto.

Nicky se olhou no espelho. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar.

É. Estava com saudades da sua mamãe. E ficou pior ainda com aquele sonho estranho em que a mãe sofria por sua causa.

Ficou feliz que Charlie não tenha perguntado o motivo de desespero. Gostava dele por isso. Parecia sempre saber o que fazer.

Depois que tomou um banho, se lembrou de que tinha que tirar o ovinho de dragão da tenda e deixar no sol das 7:00 ás 7:30. Nem um minuto a mais. Jake tinha sido bem claro.

Vestiu um short daqueles que o bolso meio que “pula” para o lado de fora. Nunca havia pensado em comprá-lo, mas depois que Leah te mostrou achou legalzinho e Leah comprou pra ela.

Vestiu uma camisa branca folgada, com um casaquinho xadrez azul marinho e preto por cima, e pôs seu tênis all star branco.

Desceu e deu um sorrisinho para Charlie como se dissesse ‘Olha, estou bem’.

Tomaram café, Nicky botou o ovinho no sol, e percebeu que ele estava com mais machas vermelhas do que nos outros dias.

Será que isso era ruim?

Charlie aceitou ajudá-la a cuidar dele e explicou que isso não era ruim, as manchas da casca do ovo definem a cor do dragão.

Nicky ficou feliz com a expectativa de ter um dragão vermelho. Era sua cor favorita.

--- 3 dias depois ---

Jake havia examinado o ovo e disse que iria chocar amanhã, com toda a certeza.

Mas ele disse uma coisa que Nicky estranhou.

- Maçãs? Tem certeza? –Ela ergueu a sobrancelha.

- É o que os dragões comem nas primeiras semanas de vida! – Jake fez uma cara de “dããã”

Jake foi cuidar de alguns preparativos que Nicky não sabia quais eram, e ela e Charlie foram pegar maçãs na floresta. Lenna havia sumido. Charlie disse que deveria ter ido caçar.

Então foram á pé.

Nicky foi para um lado e ele para o outro.

- Aposta que eu pego mais maçãs que você?- Charlie disse rindo.

- Veremos. – Nicky desafiou.

Jake disse que só precisam de uma dez, mas Nicky queria mostrar que podia pegar mais que Charlie. – Ela adorava desafios.

Chegou um ponto em que realmente, Nicky não conseguia mais pegar nenhuma maçã. Se ela se abaixasse para pegar mais alguma, ia desabar tudinho e ia ser horrível, porque além de perder tempo, algumas poderiam sujar.

Por isso mesmo que ficou olhando para baixo o tempo todo, certificando-se de que não iria tropeçar em nenhuma pedra.

Sinceramente, foi uma má idéia, pois se esqueceu de olhar para frente.

Quando menos esperava, ela já tinha esbarrado, caiu no chão com as maças voando e batendo em sua cabeça, bagunçando seu cabelo todo.

Ela viu as maças que estavam no braço de Charlie caírem também, todas de vez, fazendo um barulho estranho.

O que aconteceu foi que Charlie olhava para cima, procurando as maças mais vermelhas no topo das árvores, e nem viu Nicky se aproximando. Ela que também, distraída, olhava para baixo, dera de cara com ele, batendo a cabeça em seu peito e caiu de vez no chão.

Eles começaram a rir instantaneamente. Nicky levantou-se e começou a catar as maçãs. Mas percebeu que Charlie estava parado. Levantou-se e encarou seus olhos castanhos escuros.

Ele pegou uma mecha do cabelo de Nicky que estava bem em cima do seu olho esquerdo, e a colocou atrás da sua orelha.

Ele olhava pra ela de um jeito tão estranho, que ela sentiu seu rosto corar.

De repente, ele pôs as mãos em sua cintura. Involuntariamente, Nicky sentiu seus braços amolecerem e todas as maças caíram de novo.

Quando Charlie aproximou-se do seu rosto e a beijou, Nicky sentiu como se o mundo inteiro estivesse girando.