[Billie's POV]

Glória Haushinka, não posso acreditar. Eu reconheceria esse rosto em qualquer lugar. As olheiras de noites mal-dormidas, o nariz vermelho por conta de tanto chorar, o cabelo em um rabo-de-cavalo feito ás pressas, os braços finos de quem não se alimenta como deveria... que saudades dessa menina.

- Billie? Me deixa em paz, por favor, não se preocupe comigo. - ela disse, tentando limpar as lágrimas

- Ei, ei. Calma garota, que tipo de pessoa você acha que eu sou pra te deixar aqui largada? Não é a primeira vez que eu te resgato na rua. - eu ri e a ajudei a se levantar

- Eu sei, mas eu moro logo ali, eu posso ir sozinha. - ela disse

- Glória. Faz mais de 5 anos que eu não te vejo, mas eu te conheço muito bem. Posso ao menos saber por que você estava chorando aqui? - perguntei

- Ok, vem comigo. - ela disse e me puxou pra casa dela

Entramos. Era a mesma casa em que ela morava 5 anos atrás. Eu não podia esquecer minhas prioridades, que era voltar pra minha família, mas eu não podia ficar sem saber o que aconteceu com a Glória durante todo esse tempo. Aliás, sinto até um alívio de finalmente lembrar o nome dela.

- Billie, é tudo uma longa história. Você nem imagina. - ela começou

- Comece do princípio e não deixe de fora nenhum detalhe. - eu disse

- Eu estava morando com minha mãe quando percebi que não era aquele tipo de vida que eu queria pra mim. Quando ela morreu de cancêr resolvi voltar pra minha querida Bay Area. Mas, com minha reputação manchada, como eu poderia ser a maior garota punk de todas? Resolvi me disfarçar, mudar completamente de visual, ao ponto que nem você conseguiu me reconhecer. - ela disse

- Pera ai... então você quer dizer que... você estava em Berkeley? E eu também? E nos encontramos por lá? E VOCÊ ME RECONHECEU? - eu perguntei, tentando acompanhar o raciocínio

- Exatamente, St. Jimmy. Eu era a Whatsername, mas só descobri quem você era quando você cantou She's A Rebel pra mim. - ela revelou

Senti uma tontura agora. Todas as minhas memórias ao lado da Whatsername vieram a mente. A reunião na TPWW, a festa, a noite que passamos juntos, a música, a Letterbomb... todas as peças se encaixam agora.

- Você descobriu que o St. Jimmy era eu, e por isso sumiu daquele jeito. - conclui

- A história não para por ai. O único que sabia quem eu era desde que eu voltei era o Tré Cool, ele reconheceu minha voz. Um dia, na casa dele... nós meio que ficamos. Passei uma noite com ele, e amanheci enjoada no dia seguinte, então eu fui na farmácia... - ela foi dizendo

- VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA DELE? VOCÊ ESTÁ NAMORANDO O TRÉ? - perguntei

- Calma. O resultado do teste de gravidez que eu fiz deu positivo, então Tré me pediu em namoro e eu aceitei sem pensar. Quando fomos ao médico ver a saúde do suposto bebê, a doutora me disse que o teste estava errado. Não estou, nem nunca estive grávida. Confesso que fiquei aliviada, e o Tré ficou conformado. - ela disse

- E a parte em que você acaba chorando em um ponto de ônibus? - perguntei

- Hoje na casa dele, eu terminei com ele. Nós brigamos, mas espero que ele entenda, porque eu não estou pronta pra ter uma relação e porque pra mim é só meu melhor-amigo. E talvez por causa desse meu jeito de fazer as coisas sem pensar, ele nunca mais fale comigo. Por isso eu estou chorando! Porque a burra aqui está sozinha DE NOVO! - ela disse, com lágrimas nos olhos

- Glória. - eu disse, abraçando-a

É muita informação. Essa garota, como ela pode me fazer tão mal e tão bem ao mesmo tempo? Não posso deixá-la sozinha de novo.

- Lembra da minha promessa? - perguntei

- Pro...messa? - ela perguntou, limpando as lágrimas

- "Eu lhe prometo amizade para sempre, independente de qualquer coisa." - eu disse

- Nós eramos tão jovens naquela época. - ela sorriu

- E faziamos tantas besteiras. Pensando bem, continuamos fazendo muitas besteiras, né? - eu ri

- Desculpa por tudo que eu te fiz passar. - ela disse

Eu a abracei e ficamos sentados no sofá dela, abraçados, durante um bom tempo. Ela pediu licença para ir ao banheiro e eu aproveitei para rabiscar uma letra de uma música dedicada a ela, chamada Extraordinary Girl:

"She's an extraordinary girl

In an ordinary world

And she can't seem to get away


He lacks the courage in his mind

Like a child left behind

Like a pet left in the rain


She's all alone again

Wiping the tears from her eyes

Some days he feels like dying

She gets so sick of crying


She sees the mirror of herself

An image she wants to sell

To anyone willing to buy


He steals the image in her kiss

From her hearts apocalypse

From the one called whatsername


She's all alone again

Wiping the tears from her eyes

Some days he feels like dying

She gets so sick of crying


She's all alone again

Wiping the tears from her eyes

Some days he feels like dying

Some days he's not worth trying

Now that they both are finding,

She gets so sick of crying


She's an extraordinary girl

An extraordinary girl

An extraordinary girl

An extraordinary girl"

[Glória's POV]

Votei para a sala e me sentei de volta no sofá. Tinha até me esquecido o quanto a presença dele me faz bem. É como se tudo tivesse voltado a ser como era antes.

- Glória. - ele chamou, me puxando para a realidade

- Diga. - eu disse

- Você me ama? Tipo, entraria em um relacionamento comigo de novo? Eu sendo o Billie Joe Armstrong? - ele perguntou

- É estranho responder essa pergunta, porque eu tenho certeza absoluta que eu te amo, mas eu de jeito nenhum teria algum tipo de relacionamento de novo com você. Eu penso na Adrienne, nos seus filhos, no Tré... e aliás, meu próprio coração diz que eu não quero mais embarcar nessa loucura de amor contigo de novo. Tudo o que eu mais desejo agora é que você esteja ao meu lado, como amigo. Quero poder participar de uma festa de natal com a sua família, quero poder estar presente em seu aniversário, quero poder opinar na banda. Quero fazer parte da sua vida, sem estragá-la. - eu disse, sincera

- Ótimo, é isso que eu quero. Preciso da sua presença de novo, mas quero dar a minha esposa Adrienne o amor e segurança que ela merece. Sabe o que isso significa, né? - ele perguntou

- Que somos amigos de novo e nada mais que amigos? - perguntei

- Exatamente, apenas amigos e nada mais que amigos. - ele sorriu

(...) - silêncio, momento tenso.

- Último beijo? - ele perguntou, indiferente

- Último, ok? Definitivamente último. - eu ri

Olhei no fundo dos olhos dele, buscando aquela imensidão verde que tanto me deixava apaixonada. Só pude ver os olhos de alguém muito especial para mim. Pra onde foi todo aquele amor incontrolável? Talvez ele tenha sido finalmente controlado por nossos corações.

- Último. - ele sussurou e me beijou