“There are always little looks between us…Everything is conveyed by communication beyond words” David Duchovny."

- Só mais cinco minutos… - peço ao sentir o quinto cutucão da manhã. Abro ligeiramente os olhos quando não ouço resposta nenhuma e a vejo com os braços cruzados, uma escova de dentes na mão e um olhar que me faz pular da cama num segundo. Só então ela se virou e voltou ao banheiro para continuar a se preparar para o dia.

Já bem acordado, tiro as roupas e vou para o banho. Olho-a com malícia quando passo por ela, ainda de toalha, mas ela apenas balança a cabeça, termina de escovar os dentes e sai do banheiro. Minutos depois a ouço se trocar no quarto e descer para preparar o café.

Tomamos nosso café tranquilamente, conversando sobre nossos planos para o dia. Quando ela se levanta e passa por mim, subitamente a puxo pelo braço e a faço sentar em meu colo, a segurando firmemente. Nem precisaria, pois ela apenas sorri e me beija, passando os braços pelo meu pescoço enquanto eu passo minha mão por seus cabelos e aprofundo o beijo.

Logo a mão que estava em seus cabelos começa a descer pelas costas, a fazendo arquear o corpo e gemer em minha boca. Sei que devo parar, que nenhum de nós tem tempo para isso agora, mas não consigo. Mesmo depois de tanto tempo continuo querendo Scully da mesma forma que a quis na primeira vez que a vi, recém saída da academia, ainda inocente para o que o FBI realmente era e para o que sua vida se tornaria, mandada ali para me espionar sem saber que se tornaria minha maior aliada mesmo não acreditando nas mesmas coisas que eu.

Estou tão distraído com os gemidos que não percebo quando ela tira a minha mão de seu corpo. Apenas ao sentí-la se levantar e se distanciar de mim é que olho para cima, ofegante. Ela também está, uma mão na cintura e a outra tentando arrumar o cabelo, querendo se recompor. Obviamente não entendo o motivo de suas ações, ela estava gostando, certo? Estava pronto para perguntar justamente isso quando ela me interrompe, como se lendo meus pensamentos.

- Já estamos atrasados, Mulder. – Ela só fala isso. Quem se importa com horários? Então continua, novamente lendo meus pensamentos. Acho que ela é um Arquivo X de fato. – Não quero chegar atrasada de novo! – Tento os olhos de cachorro carente que normalmente a convencem a fazer qualquer coisa. Ênfase no normalmente. – Não adianta me olhar assim, Mulder. – Tento de novo, quem sabe? – Mais tarde o compenso, ok? – Quase. Contudo, o sorriso que ela deu me fez querer acelerar o tempo.

Já eram mais de quatro da tarde e a única coisa que conseguia pensar era na promessa dela. Não falamos mais no assunto, nos concentrando no caso em mãos. Ok, ela se concentrando no caso atual e eu apenas tentando. Mesmo porque quando eu parecia que estava conseguindo focar na investigação ela me olhava de soslaio e me desconcentrava de novo. Tentei fazer com que fôssemos almoçar em algum lugar, mas ela negou terminantemente dizendo que precisava terminar de preencher algumas coisas antes dos interrogatórios que faríamos a tarde. Quando tentei insistir no assunto ela apenas olhou para mim e soube que tentar novamente seria uma batalha perdida. Então me resignei a esticar as pernas indo buscar o almoço enquanto ela preenchia o que tivesse que preencher.

Olhando para ela agora pude ver claramente quão tensa ela estava. Não que o caso fosse intrigante, na verdade foi um bem sem graça – ou, como ela mesma disse, com uma explicação simples e plausível para variar um pouco – mas ainda assim tivemos uma montanha de papelada para preencher. Sempre achei a papelada a pior parte. Nós temos que capturar os bandidos e ainda somos castigados com montes e montes de papel para preencher. Totalmente injusto. E digo isso para ela, que apenas me dá um olhar incrédulo e levanta uma das sobrancelhas. Depois dessa apenas abaixo a cabeça e continuo preenchendo meus relatórios. Para que piorar o que já não está indo muito bem, certo?

Quando o relógio indicou seis horas da tarde comecei a me alongar, até me levantei para pegar um arquivo e me alonguei mais um pouco no processo, tendo certeza de estar bem na frente dela. Não funcionou e percebi que teria que ser mais insistente. O que tem de tão interessante nesses relatórios que não poderiam ser deixados para amanhã? Fui descobrir. Parei atrás dela e me inclinei para ler o que estava escrevendo. Por um momento ela parou, mas logo continuou como se eu não existisse. Então coloquei uma mão em seu ombro e a outra sobre a mesa, fazendo nossos rostos ficarem quase colados e percebi que sua mão tremeu um pouco. Entretanto, ela continuou me ignorando. Decidi que era hora de medidas mais drásticas. Comecei afastando o cabelo dela para o lado, deixando o pescoço a mostra. Ela continuou escrevendo. Sussurrei observações sobre o caso no ouvido dela. Ela passou a escrever o que eu estava falando. Trouxe a mão que estava na mesa para seu outro ombro e comecei a massageá-la. Agora sim a fiz parar de escrever e voltar os olhos para mim. Era um olhar meio desaprovador e meio provocativo. Como ela conseguia fazer isso eu não tenho ideia e nem me importo. Continuei com a massagem por mais alguns minutos e a senti relaxar aos poucos. Quando ela estava relaxada o bastante comecei a beijar seu pescoço levemente e deslizei minhas mãos por seus braços até chegar as dela, as intrelaçando e as repousando sobre os braços da cadeira. A ouvi sussurrar meu nome, sorri contra sua pele e girei a cadeira dela para que ficássemos cara a cara. Novamente não precisamos de palavras, apenas o olhar dela me disse que eu tinha conseguido o que queria.

Ainda sem dizer nada, ela desligou o computador, juntou todos os papéis em uma pilha só, se levantou, pegou suas coisas, foi até a porta e parou ali, olhando para mim com a sobrancelha levantada. Não pensei duas vezes e fiz o mesmo – de forma muito mais afobada e desesperada, mas dá para me culpar?

Horas mais tarde estávamos deitados na cama um de frente para o outro, abraçados e satisfeitos. Mais uma vez as palavras não eram necessárias, os braços e pernas entrelaçados, o sorriso nos lábios e os olhos fixos um no outro eram tudo o que precisávamos saber.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.